sábado, 7 de maio de 2016

Rubem Braga

            POR 
                                                                                                                                                      Rubem Braga (1913-1990)

         foi cronista, correspondente de guerra, apaixonado por passarinhos e mulheres. Foi ainda morador de uma cobertura em Ipanema famosa pelo pomar e pelos amigos que a frequentavam, onde se bebia bem e se conversava melhor ainda. Todas essas facetas estão reunidas na exposição “Rubem Braga — O fazendeiro do ar”, que será aberta neste domingo ao público no Galpão das Artes do Jardim Botânico, depois de ter passado pelo Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo, no ano passado.
Com uso de recursos multimídia, a mostra que chega ao Rio tem curadoria do jornalista Joaquim Ferreira dos Santos, colunista do GLOBO, que se apaixonou pelo estilo de Braga quando era adolescente.
— Eu o conheci lendo a “Manchete”, onde ele, Paulo Mendes Campos e Fernando Sabino escreviam. Na época se estudavam coisas muito pesadas de literatura na escola, e eles falavam da cidade, das mulheres, de comportamento, moda. Quando comecei a escrever em jornal, eu os citava muito, eles andavam meio à margem então.
Convidado por Luciana Vellozo Santos e Robson Outeiro, idealizadores da mostra, Joaquim mergulhou nos arquivos do escritor, dividindo-se entre a Casa de Rui Barbosa — onde está a maior parte do acervo, como os cadernos de anotações que produziu como correspondente de guerra —, e a mítica cobertura, onde Roberto Braga, filho único do escritor e hoje morador do local, abriu-lhe as portas.
A partir daí, organizou a mostra em seis módulos: “Retratos”, “Capital secreta do mundo”, “Redação”, “Guerra”, “Passarinhos” e “Cobertura”. “Retratos” recebe o visitante com uma série de imagens de Braga, nas quais, comenta o jornalista, pode-se observar como o cronista teve desde pequeno o semblante taciturno. Em seguida, o módulo sobre Cachoeiro de Itapemirim, cidade natal do autor, tem caixas suspensas que, abertas, revelam textos, documentos e fotos.
As salas “Redação” e “Guerra” são revestidas com reproduções de jornais de época, como o “Correio da Manhã”, o “Diário de Notícias” e o “Diário Carioca” — do qual ele foi correspondente durante a Segunda Guerra. A primeira reúne dez mesas de madeira, com referências às passagens, por exemplo, pela revista “Manchete”. Na exposição, as folhas nas máquinas de escrever são tablets, nos quais o público pode descobrir mais sobre o autor.

Projeção de passarinhos
Em “Guerra”, telefones dos anos 1940, tirados do gancho, revelam gravações de jingles, músicas e notícias de rádio da época. Responsável pelo projeto cenográfico, Felipe Tassari pendurou no teto da sala aviõezinhos de origami, que vão se transformando em passarinhos, tema do módulo seguinte, em que a a exposição ganha mais poesia.
Na instalação “O conde e o passarinho”, título de uma crônica do autor, pássaros voando são projetados na parede. Quando o visitante se aproxima, uma câmera capta e projeta sua imagem, e os passarinhos “pousam” em suas mãos e braços. Já o espaço “Cobertura” reproduz a vista do apartamento, e um vídeo de André Weller exibe depoimentos de amigos como Zuenir Ventura, Ziraldo, Ana Maria Machado e Danuza Leão.
— Ele tinha textos muito politizados, mas não eram panfletários, tinham elegância e leveza que os textos políticos não costumam ter — diz Joaquim, para quem Braga é “o inventor da moderna crônica brasileira”.


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A utopia da melhor idade -- Leandro Karnal

"O DESAFIO DA MUDANÇA" ● Leandro Karnal ● Palestra

Public Invisibility: Fernando Braga at TEDxBeloHorizonte

quinta-feira, 5 de maio de 2016

O amor filosófico e o puro prazer

O amor filosófico e o puro prazer


Segundo Platão, o amor é a busca da beleza, da elevação em todos os níveis, o que não exclui a dimensão do corpo. No entanto, será que essa concepção ainda faz sentido em tempos de exagerado culto à coisificação do prazer?


por Marcio Salgado*

Parece estranho e contraditório falar do amor filosófico em uma época desapaixonada, como esta em que vivemos. Na verdade, esta nossa época carece tanto de sentimento quanto de razão, pois ela pretende ser apenas a encarnação de um tempo hedonista, extravagante, dominado pelos sentidos.
Conforme Platão (427 a.C. - 347 a.C.), o amor é a busca da beleza. Embora tenha início da realidade física, deve alcançar a sua forma universal, não permanecendo prisioneiro da matéria. É lugarcomum confundir o amor platônico com o amor não correspondido ou desprovido de interesse sexual. Na realidade, o filósofo não exclui o amor carnal, porém o vê como um primeiro degrau que pode levar a outros mais elevados.
 Agáton
Poeta ateniense, Agáton (447 a.C.- 401 a.C.) aparece em obras de Aristóteles (Anteu), Aristófanes (As Convocadas) e Platão (O Banquete).
As várias faces de Eros revelamse nos discursos que ilustram O Banquete, obraprima da literatura ocidental. O livro narra um encontro em casa do poeta  Agáton, do qual tomam parte Sócrates, Fedro, Alcebíades e outras figuras atenienses. O encontro tem como objetivo comemorar a premiação de uma peça teatral do anfitrião, e os presentes escolheram Eros como tema inspirador dos discursos da noite.
No prólogo do livro, utilizandose de um artifício literário, o narrador esclarece que não tomou parte, propriamente, daqueles acontecimentos, mas ouviu detalhes da sua história em colóquio com outro personagem. Após os convivas concordarem que deviam beber com moderação, pois haviam se excedido na noite anterior, dáse então início aos discursos sobre o amor.
No relato de Pausânias aparecem duas formas de amor, geradas por Afrodite, deusa grega da fecundidade e da beleza. Afrodite tem dupla face, ou, de acordo com os estudiosos da mitologia, são duas Afrodites: a Celestial, filha de Urano; e a Popular, filha de Zeus e Dione.
 Aristófanes
Embora tenhamos poucas informações sobre a vida do dramaturgo Aristófanes (448/447 a.C. - 385-380 a.C.), sabe-se que ele foi um grande mestre da comédia antiga, autor de diversas peças com sátiras políticas e sociais, sendo uma de suas mais conhecidas Assembleia de Mulheres.
 Diotima de Mantineia
Escreve Zygmunt Bauman no livro Amor Líquido: Sobre a Fragilidade dos Laços Humanos (Zahar, 2004, pg. 21): "No Banquete de Platão, a profetisa Diotima de Mantineia ressaltou para Sócrates, com a sincera aprovação deste, que 'o amor não se dirige ao belo, como você pensa: dirige-se à geração e ao nascimento do belo'. (...) Em outras palavras, não é ansiando por coisas prontas, completas e concluídas que o amor encontra seu significado, mas no estímulo a participar da gênese dessas coisas. O amor é, enfim, à transcendência".
 Aristófanes,personagem conhecido entre os atenienses pela sua dramaturgia, defende que o amor é a busca da outra metade que se perdeu por castigo dos deuses. Havia no mundo três tipos de seres humanos: um formado só de duplos elementos masculinos, outro só de duplos femininos e por último um misto de elementos masculino e feminino. Esta era uma figura andrógina. Os seres duplos transgrediram a ordenação dos deuses e foram divididos ao meio. Por isso, o amor é a busca da outra metade que se perdera, o que revela a incompletude humana.
Como acontece em outras narrativas platônicas, Sócrates surge como o personagem que realiza a síntese das ideias e sentimentos do autor. N'O banquete ele inspira-se em  Diotima de Mantineia , sacerdotisa do amor, para ilustrar o seu discurso. Não se sabe ao certo se ela é uma criação de Platão ou personagem da mitologia, mas deste entrelaçamento surgem as mais belas páginas da literatura grega.
Eros é aí descrito como um daimon, intermediário entre os homens e as coisas divinas. "Ao gênio cabe interpretar e transmitir aos deuses o que vem dos homens, e aos homens o que vem dos deuses; de uns, as súplicas e os sacrifícios, e dos outros as ordens e as recompensas pelos sacrifícios; e como está no meio de ambos, ele os completa, de modo que o todo fica ligado todo ele a si mesmo. (...) E esses gênios, é certo, são muitos e diversos, e um deles é justamente o Amor."
RUMO AO AMOR ESSENCIAL
Na escalada rumo ao amor essencial, outros estágios se fazem necessários. Do amor às formas físicas belas à própria beleza, independente da forma. Há ainda o amor ao conhecimento e às boas práticas, o que pode ser interpretado como uma adesão aos princípios éticos. A sacerdotisa Diotima associa o amor à imortalidade e afirma, no diálogo com Sócrates, que o amor é o "desejo de procriação no belo".
Apesar da visão fulgurante contida nessa narrativa, o idealismo platônico deprecia o corpo e o mundo real. Ele concebe os seres humanos como se estes fossem anjos caídos em um mundo degradado.
A dívida da Filosofia para com Sócrates/ Platão é enorme. Para Sócrates, especialmente, o diálogo levava ao conhecimento da verdade. Ele contava com um método próprio para analisar os variados assuntos que lhe eram apresentados: adialética (arte do diálogo), que se juntava a outro artifício intelectual criado por ele, amaiêutica (parto das ideias).

Adriana Pinto - Love of My Life!...