terça-feira, 27 de março de 2018

Aragão: Não querem justiça; querem Lula fora do páreo

Aragão: Não querem justiça; querem Lula fora do páreo
Aragão: Não querem justiça; querem Lula fora do páreo – Foto: Ricardo Stuckert/ Instituto Lula
Para Aragão, Moro e o MPF do Paraná “não querem provar nada”, mas sim colocar o ex-presidente Lula na cadeia “para tirá-lo do processo eleitoral”.
Do site da CUT:

O ex-ministro da Justiça, Eugênio Aragão, afirmou nesta quinta-feira (28) que o juiz Sérgio Moro e o Ministério Público Federal do Paraná “não querem provar nada”, mas sim colocar o ex-presidente Lula na cadeia “para tirá-lo do processo eleitoral”.
 O processo que levou Moro a condenar Lula no caso do tríplex do Guarujá é político, disse Aragão em entrevista ao Portal da CUT. Ele disse também esperar que o Tribunal Regional Federal da 4ª Região, em Porto Alegre, reconheça que “a história é muito mal contada”.
O julgamento do caso em segunda instância, marcado para 24 de janeiro, está mobilizando a militância cutista, petista e de vários movimentos populares. A CUT e os movimentos sociais estão organizando caravanas a Porto Alegre e atos públicos em todo o país em defesa de Lula e da democracia.
Eugênio Aragão destacou que não há prova nenhuma contra Lula e que “está faltando pudor ao Judiciário, como mostra todo o ‘auê’ em torno do caso”, reconhecendo, no entanto, que a pressa toda em agilizar o julgamento no TRF-4 pode não ser um bom sinal para a defesa do ex-presidente.
“A história é tão mal contada que só mostra que há má-fé do Ministério Público e de Sérgio Moro”, assegurou o jurista.
Segundo Aragão, “o caso baseado em um apartamento que sequer é de Lula mostra toda a politização do processo”.
O ex-ministro ressaltou também que, além de não ser motivo para nenhum processo, o caso sequer deveria estar em Curitiba, com Moro, porque não tem nenhuma relação com o escândalo da Petrobras. “É uma ilação dizer que o caso tríplex tem relação com o petrolão. Na hipótese de haver qualquer motivo para processo – e não há –, o caso deveria estar em São Paulo ou em Brasília. Isso não tem nada a ver com Moro. Onde há relação com a Petrobras?”, questionou.
Para reafirmar a inocência do ex-presidente, Eugênio Aragão resgatou toda a história do tríplex:
“Dona Marisa [esposa de Lula, falecida em fevereiro] comprou cota de um apartamento da Cooperativa dos Bancários [Bancoop]. Por dificuldades financeiras da Bancoop, a obra foi assumida pela construtora OAS. Ao saber que a esposa do presidente era cotista, a OAS resolveu dar ‘um trato’ numa cobertura, numa estratégia de marketing que qualquer empresa faz para servir de atrativo a outros compradores e empreendimentos. Dona Marisa visitou o imóvel, não gostou e resolveu devolver a sua cota para a empreiteira, que não aceitou. Então, a ex-primeira dama moveu um processo contra a OAS e a Bancoop para reaver o dinheiro investido. Esta é a história”.
O jurista disse que nem o MPF nem Sérgio Moro conseguiram provar que, em virtude desse episódio “tenha havido uso de prestígio para interferir em favor da OAS no governo”.
Aragão lembrou ainda que não há provas de que Lula tenha feito algum tipo de uso político do caso. “Daí a fazer ilação de que o apartamento embelezado era uma troca por eventual benefício… Qual a contrapartida obtida pela OAS? Em todo o processo contra o ex-presidente, não há nada que prove que houve lesão aos cofres públicos e à Petrobras”, reiterou o ex-ministro.
Comentando ainda o uso de teorias do direito de outros países nos processos conduzidos por Sérgio Moro, o ex-ministro da Justiça não perdeu a chance de alfinetar o juiz de Curitiba: “Ele adora usar a teoria anglo-saxônica, mas fora do contexto. Nos Estados Unidos e na Inglaterra as provas são coisas muito sérias. Sérgio Moro deveria compreender melhor a teoria do direito comparado. Mas parece que não abriu um livro sequer sobre isso”.
Mal-estar com sucesso de Lula
Em artigo veiculado no portal Brasil 247, o ex-ministro Eugênio Aragão já havia questionado o falso moralismo do juiz Sérgio Moro e toda a gana que tem para condenar Lula, cujos índices de popularidade são crescentes, como indicam todas as pesquisas eleitorais. Já a popularidade de Moro, apontam as mesmas pesquisas, está caindo vertiginosamente.
“Na sua cegueira, não consegue o juizinho de província disfarçar seu profundo mal-estar com o sucesso de Lula, que, como governante,  mudou o quadro de exclusão social no país. Deve ter se contorcido de bronca ao saber, pelo Datafolha, que seu índice de rejeição foi para as nuvens, prestes a superar ao daquele que elegeu seu réu-inimigo”, escreveu o jurista em seu artigo.
No mesmo texto, Aragão foi além e assinalou: “Moro se tornou, com seu moralismo punitivista, a principal fonte do ódio político que se disseminou na sociedade. Um juiz que, ao invés de pacificar conflitos, os acirra e direciona contra seu inimigo eleito.Falar em imparcialidade desse indivíduo seria piada de mau gosto, pois a cada discursinho mequetrefe pelos palcos da direita política mundo afora, faz questão de pré-julgar e conjecturar sobre feitos por decidir. Adora ingressar na seara reservada à política, para desfiar suas opiniões de lege ferenda sobre o que pretende serem debilidades sistêmicas para o ‘combate à corrupção’, sua obstinação compulsiva”.
E mais, atacou Aragão no texto: “o Sr. Moro, ao se lançar sem trégua contra o réu que elegeu ser seu inimigo, se tornou cego para o estrago que causou à paisagem econômica e social do Brasil”.

terça-feira, 20 de março de 2018

A polícia mata

A polícia mata


                          (JORNALISTA)
policia_mata
A história de uma polícia que tem um alvo certo. Uma polícia que em cada ronda traz as heranças de uma ditadura que executava seus inimigos. A ditadura terminou, as guerrilhas inimigas do estado saíram das ruas, porém, o livro do jornalista Caco Barcellos apresenta a história de uma divisão das Rondas Ostensivas Tobias Aguiar, a Rota, uma divisão da polícia militar que mata mais do que bandidos. Mata, na maioria das vezes, inocentes. O livro-reportagem Rota 66 é resultado de cinco anos de investigação de Caco Barcellos acerca da atuação da polícia militar da cidade de São Paulo. Desde a criação da polícia militar, o período investigado é de 1970 a 1992.
A obra inicia com uma apresentação escrita por Narciso Kalili. O jornalista explicita que o autor do livro, Caco Barcellos, tem um lado na profissão. Um lado que segundo Narciso acompanha Caco desde o início da profissão no Rio Grande do Sul, o lado dos mais fracos, das vítimas. Esta breve apresentação de Caco evidencia características que marcaram a trajetória profissional do jornalista e são trabalhados no enredo desde livro. Caco se especializou em Jornalismo Investigativo e grandes reportagens, sobretudo, dedicado a tratar temas relacionados à injustiça social e a violência.
O livro de Caco Barcellos consegue aliar duas premissas do Jornalismo Literário, a fluência e a eficiência. Informa com profundidade através de um texto rico em detalhes, descrições e narrativas que transportam o leitor para dentro das inúmeras histórias de jovens mortos pela polícia militar em São Paulo. Além de descrever ambientes e situações de morte com riqueza de palavras e profundidade de emoções, o livro traz descrições densas dos personagens envolvidos. A personalidade, a rotina, os medos, anseios e principais características físicas e psicológicas, tanto das vítimas quanto dos matadores da rota. A narrativa de 274 páginas humaniza os números e contextos apresentados pela denúncia.
Além das descrições, Rota 66 contextualiza a situação de fundação da polícia militar e da rota em São Paulo. Muitos polícias militares que aparecem como personagem do livro eram parte do pelotão que combatia as guerrilhas no período da ditadura militar. O contexto de crescimento da criminalidade e dos crimes também foi tema do livro. Caco apresentou dados sobre os principais conflitos em que o Brasil se envolveu, mostrando que nenhum deles havia matado tantos civis quanto os matadores da rota. Também são apresentados dados que comparam o número de militares mortos e o número de civis assassinados pela polícia.
A história é narrada em primeira pessoa, pelo autor do livro. Caco narra além da denúncia, o cotidiano do jornalismo investigativo, as dificuldades, emoções e desafios de uma investigação. O livro é dividido em 23 capítulos, organizados em três partes: Rota 66, Os Matadores e os Inocentes.
Já no primeiro capítulo, o autor faz uma descrição detalhada do fato que torna-se o fio condutor do livro: o caso Rota 66. Caco narra a perseguição de três jovens em um fusca azul que, para a Rota, seriam suspeitos de cometer um furto e estar em um carro roubado. Na madrugada de abril de 1975, a história se desenrola envolvendo jovens que não são vítimas habituais dos policiais. Por um engano fatal da Rota, jovens de classe alta da cidade foram mortos brutalmente, sem ter cometido nenhum crime. A história de Noronha, Pancho e Augusto, os três jovens do fusca azul, chocou e impulsionou uma longa investigação apresentada no decorrer das outras duas partes do livro. No segundo capítulo do livro Caco mostra o envolvimento que possui com o tema. Descreve o personagem real do delegado Doutor Barriga, de quem ele e seus amigos ainda adolescentes precisavam fugir e provar não ser “vagabundo” para não ser preso.
A partir da investigação, Caco começa a delinear o perfil dos assassinatos. A polícia, assim como no caso Rota 66, geralmente alegava que o “bandido” teria reagido, disparado contra os militares, que agiriam em legítima defesa. O local do crime era violado para incriminar as vítimas. Mesmo atingidos por inúmeros tiros e visivelmente sem vida as vítimas eram levadas para o hospital e os médicos e enfermeiros coagidos a recebê-los antes de encaminharem os corpos para o IML.
Na segunda parte do livro, Os Matadores, é traçado o perfil dos maiores matadores da polícia militar da cidade de São Paulo. Estes policias faziam parte de um ranking construído através das investigações, tendo como ponto de partida os matadores do caso Rota 66, dos jovens do fusca azul. Caco demonstra uma das características implícitas no cotidiano da polícia: o prestígio de trabalhar na Rota e o apoio dos superiores aos matadores, através muitas vezes de menções honrosas transcritas no livro.
Além do perfil dos matadores, Caco conta histórias detalhadas e aprofundadas das vítimas desses matadores. A investigação para chegar aos dados do livro foi desenvolvida através de duas principais parcerias, Sidiney Galina – jovem que chamou a atenção de Caco pelo empenho na busca pelos pais – e do jovem jornalista Daniel Annenberg. Os dados do estudo de caso foram coletados incialmente nos boletins com tiroteio veiculados no jornal diário Notícias Populares, no Instituto Médico Legal, relato de familiares e arquivos da polícia e da Justiça Civil.
Nesta segunda parte do livro, Caco apresenta a maioria dos dados coletados na investigação. O autor percebe que são 265 mortos para cada ferido, 1300 vítimas foram encontradas sem documentação, porém, através do trabalho dele e de Daniel conseguem identificar 833 pessoas. Até abril de 1992, quando termina a pesquisa, foram identificados e perfilados 4179 mortos. O perfil dos mortos é Homem jovem, 20 anos. Negro ou pardo. Migrante baiano. Pobre. Renda inferior a 100 dólares mensais. Morador da periferia da cidade. Baixa instrução, primeiro grau incompleto. O contexto socioeconômico é criticado e demonstrado no livro.
A terceira parte do livro, Os inocentes, traz uma das descobertas mais chocantes do livro: a maioria dos mortos por policias da rota eram inocentes. De 3523 vítimas identificadas, somente 1496 tinham passagem pela polícia, 65% eram inocentes. A justificativa mais comum dos líderes da polícia militar paulista era que os militares matavam bandidos, sobretudo, homicidas e estupradores. Porém, a maioria não eram estupradores e autores de crimes com morte como alegavam as autoridades. Os assaltantes e ladrões ocupam as duas primeiras posições dos mortos pela polícia com passagem pela polícia, apenas 157 cometeram homicídio e dez eram estupradores. Outra questão levantada pelo livro é a morte de vítimas pela cor. De 3944 vítimas, 2012 eram negras ou pardas. No último capítulo, quando parece que haverá um fechamento, Barcellos continua a narrar histórias de vítimas da polícia e termina o livro descrevendo uma cobertura policial quando ele já era repórter da TV Globo.
Caco consegue contar uma história com profundidade, clareza, riqueza de detalhes e vocabulário. Expressa no livro uma das suas principais características, a busca por ouvir o lado da vítima, do injustiçado. Esse fio condutor fica claro durante a narrativa, os personagens não são apenas mortos, são histórias de vida. A contextualização histórica, política e social presente no livro aprofunda a problemática e levanta reflexões e questionamentos. Caco demonstra sinceridade ao descrever a rotina de investigação. Isto provoca um sentimento de credibilidade nas informações apresentadas pelo livro.
Caco Barcellos é gaúcho de Porto Alegre. Formou-se em jornalismo pela PUC-RS. Além de uma trajetória como repórter de impresso e Televisão, Caco é escritor de outra obra conhecida, O Abusado. Sua primeira obra publicada foi em agosto de 1982, intitulada Nicarágua, a Revolução das Crianças, sobre sua experiência com a revolução sandinista. Com o livro Rota 66, Barcellos recebeu o prêmio Jabuti de Literatura e suas matérias mereceram vários prêmios Esso de Reportagem e outros na área dos Direitos Humanos. Hoje, Caco Barcellos trabalha no programa Profissão Repórter da TV Globo.
A leitura do livro instiga a reflexão acerca do papel da polícia e de quem instiga a polícia. Diante de dados tão alarmantes, fica clara a necessidade de uma polícia que possa investigar, porém, que também seja investigada quando há indícios de abuso de poder. Mesmo com tantos números, que são bem mais do que números, são histórias de vida, milhares mortos sem nunca se quer ter cometido um mínimo delito, a polícia continua cometendo desmandos. O poder continua ditando de quem é a culpa, e infelizmente a cor da pele ou o saldo da conta bancária, para a polícia – e para a sociedade -, quer dizer mais do que o caráter.

Rota 66 – A história da Polícia que mata – Caco Barcellos

Rota 66 – A história da Polícia que mata – Caco Barcellos


O livro Rota 66 do jornalista Caco Barcellos conta a história sobre a ROTA, órgão da Polícia Militar (PM). Publicado pela Editora Globo, com 274 páginas de uma leitura fascinante, surpreendente e reveladora. Capaz de prender sua atenção em cada página.
A ROTA 66 surgiu com a fusão da Polícia Civil e a Militar, na década de 70. Diversos crimes bárbaros foram cometidos após esse período por policiais militares com armas pesadas, e atirando definitivamente para matar.
A ROTA específica do livro ficou conhecida pelo 1º assassinato de jovens de classe alta. Sendo que a maioria foram cometidos contra jovens, pardos e pobres. Depois do assassinato desses jovens. Os policiais desse caso começaram a ser observados por Caco Barcellos por ter uma mesma sequência de fatos em diversos crimes.
Perseguem. Atiram sem fazer perguntas, matam, levam o corpo para o Pronto Socorro ou hospital mais próximo, alegando prestação de socorro, alteram a cena do crime. Nenhuma testemunha aparece para contar outra versão do fato do que a dos próprios policiais.
Diversos assassinatos são cometidos dessa forma brutal, tendo sempre um policial do crime da ROTA 66 envolvido. São esses que fazem parte da lista dos 10 maiores assassinos da Polícia Militar.
Caco Barcelos nasceu em Porto Alegre, onde iniciou sua carreira jornalística na Folha da Manhã. Durante a ditadura militar, trabalhou em veículos de imprensa alternativa. Nos seus quase 30 anos de profissão, com passagens pelas revistas Repórter, Isto É e Veja, já cobriu guerras, catástrofes naturais, guerrilhas e se dedicou a grandes reportagens investigativas, entre elas a que deu origem a esse livro. Em 1985, foi trabalhar na Rede Globo, como repórter do Jornal Nacional, do Fantástico, do Globo Repórter e do quadro “Profissão Repórter”.
Fernanda Santos – RGM: 59395
2º período de Jornalismo

quarta-feira, 14 de março de 2018

Antônio Frederico de Castro Alves - O Ceceu!


Castro Alves

RESUMO DA BIOGRAFIA DE CASTRO ALVES

OcupaçãoPoeta brasileiro
Data do Nascimento14/03/1847
Data da Morte06/07/1871 (aos 24 anos)








Castro Alves

Poeta brasileiro

Biografia de Castro Alves

Castro Alves (1847-1871) foi um poeta brasileiro. O último grande poeta da Terceira Geração Romântica no Brasil. "O Poeta dos Escravos". Expressou em suas poesias a indignação aos graves problemas sociais de seu tempo. Denunciou a crueldade da escravidão e clamou pela liberdade, dando ao romantismo um sentido social e revolucionário que o aproximava do realismo. Foi também o poeta do amor, sua poesia amorosa descreve a beleza e a sedução do corpo da mulher. É patrono da cadeira nº 7 da Academia Brasileira de Letras.
Castro Alves (1847-1871) nasceu na vila de Curralinho, hoje cidade de Castro Alves, Bahia, em 14 de março de 1847. Filho de Antônio José Alves, médico e também professor da Faculdade de Medicina de Salvador, e de Clélia Brasília da Silva Castro. No ano de 1853, foi com sua família morar em Salvador. Estudou no Ginásio Baiano onde era colega de Rui Barbosa. Demonstrou vocação apaixonada e precoce pela poesia. Em 1859 perdeu sua mãe. Em 24 de janeiro de 1862 perdeu seu pai. Casou com Maria Rosário Guimarães e nesse mesmo ano foi morar no Recife. A capital pernambucana efervescia com os ideais abolicionistas e republicanos e Castro Alves recebeu influências do líder estudantil Tobias Barreto.
Em 1863, Castro Alves publicou seu primeiro poema contra a escravidão, intitulado "A Primavera". Nesse mesmo ano conhece a atriz portuguesa Eugênia Câmara que se apresentava no Teatro Santa Isabel no Recife. Em 1864 ingressou na Faculdade de Direito do Recife, onde participou ativamente da vida estudantil e literária, mas voltou para a Bahia no mesmo ano e só retornou ao Recife em 1865, na companhia de Fagundes Varela, seu grande amigo.
Em 1866, Castro Alves iniciou um intenso caso de amor com Eugênia Câmara, dez anos mais velha que ele, e em 1867 partem para a Bahia, onde ela iria representar um drama em prosa, escrito por ele "O Gonzaga ou a Revolução de Minas". Em seguida Castro Alves partiu para o Rio de Janeiro onde conheceu Machado de Assis, que o ajuda a ingressar nos meios literários. Em seguida, foi para São Paulo e conclui o Curso de Direito na Faculdade de Direito do Largo do São Francisco.
Em 1868 rompe com Eugênia. De férias, numa caçada nos bosques da Lapa fere o pé esquerdo, com um tiro de espingarda, resultando na amputação do pé. Em 1870 voltou para Salvador onde publicou "Espumas Flutuantes", único livro editado em vida.
Na sua poesia lírico-amorosa a mulher não aparece distante, sonhadora e intocada como nos outros românticos, mas uma mulher real e sedutora. Na poesia social, Castro Alves é sensível aos graves problemas de seu tempo. Seu poema abolicionista mais famoso, “O Navio Negreiro”, é um poema épico-dramático que faz parte da obra “Os escravos”, onde denuncia a crueldade da escravidão e faz uma recriação poética das cenas dramáticas do transporte de escravos no porão dos navios negreiros.
A linguagem usada por Castro Alves para defender seus ideais liberais é grandiosa, seu estilo é eloquente e faz uso acentuado de hipérboles e de espaços amplos como o mar, o céu, o infinito, o deserto etc. Apesar disso, é uma linguagem essencialmente romântica.
Antônio Frederico de Castro Alves morreu em Salvador, Bahia, no dia 6 de julho de 1871, vitimado pela tuberculose.

Poesias de Castro Alves

A Canção do Africano
A Cachoeira de Paulo Afonso
A Cruz da Estrada
Adormecida
Amar e Ser Amado
Amemos! Dama Negra
As Duas Flores
Espumas Flutuantes
Hinos do Equador
Minhas Saudades
O "Adeus" de Teresa
O Coração
O Laço de Fita
O Navio Negreiro
Ode ao Dois de Julho
Os Anjos da Meia Noite
Vozes d'África
Veja também as biografias de:
Última atualização: 10/10/2017

Antônio Frederico de Castro Alves, - O vate dos escravos. Salve o Poeta!







Navio Negreiro

I

'Stamos em pleno mar... Doudo no espaço 
Brinca o luar — dourada borboleta; 
E as vagas após ele correm... cansam 
Como turba de infantes inquieta. 

'Stamos em pleno mar... Do firmamento 
Os astros saltam como espumas de ouro... 
O mar em troca acende as ardentias, 
— Constelações do líquido tesouro... 

'Stamos em pleno mar... Dois infinitos 
Ali se estreitam num abraço insano, 
Azuis, dourados, plácidos, sublimes... 
Qual dos dous é o céu? qual o oceano?... 

'Stamos em pleno mar. . . Abrindo as velas 
Ao quente arfar das virações marinhas, 
Veleiro brigue corre à flor dos mares, 
Como roçam na vaga as andorinhas... 

Donde vem? onde vai? Das naus errantes 
Quem sabe o rumo se é tão grande o espaço? 
Neste saara os corcéis o pó levantam, 
Galopam, voam, mas não deixam traço. 

Bem feliz quem ali pode nest'hora 
Sentir deste painel a majestade! 
Embaixo — o mar em cima — o firmamento... 
E no mar e no céu — a imensidade! 

Oh! que doce harmonia traz-me a brisa! 
Que música suave ao longe soa! 
Meu Deus! como é sublime um canto ardente 
Pelas vagas sem fim boiando à toa! 

Homens do mar! ó rudes marinheiros, 
Tostados pelo sol dos quatro mundos! 
Crianças que a procela acalentara 
No berço destes pélagos profundos! 

Esperai! esperai! deixai que eu beba 
Esta selvagem, livre poesia 
Orquestra — é o mar, que ruge pela proa, 
E o vento, que nas cordas assobia... 
.......................................................... 

Por que foges assim, barco ligeiro? 
Por que foges do pávido poeta? 
Oh! quem me dera acompanhar-te a esteira 
Que semelha no mar — doudo cometa! 

Albatroz! Albatroz! águia do oceano, 
Tu que dormes das nuvens entre as gazas, 
Sacode as penas, Leviathan do espaço, 
Albatroz! Albatroz! dá-me estas asas. 

II

Que importa do nauta o berço, 
Donde é filho, qual seu lar? 
Ama a cadência do verso 
Que lhe ensina o velho mar! 
Cantai! que a morte é divina! 
Resvala o brigue à bolina 
Como golfinho veloz. 
Presa ao mastro da mezena 
Saudosa bandeira acena 
As vagas que deixa após. 

Do Espanhol as cantilenas 
Requebradas de langor, 
Lembram as moças morenas, 
As andaluzas em flor! 
Da Itália o filho indolente 
Canta Veneza dormente, 
— Terra de amor e traição, 
Ou do golfo no regaço 
Relembra os versos de Tasso, 
Junto às lavas do vulcão! 

O Inglês — marinheiro frio, 
Que ao nascer no mar se achou, 
(Porque a Inglaterra é um navio, 
Que Deus na Mancha ancorou), 
Rijo entoa pátrias glórias, 
Lembrando, orgulhoso, histórias 
De Nelson e de Aboukir.. . 
O Francês — predestinado — 
Canta os louros do passado 
E os loureiros do porvir! 

Os marinheiros Helenos, 
Que a vaga jônia criou, 
Belos piratas morenos 
Do mar que Ulisses cortou, 
Homens que Fídias talhara, 
Vão cantando em noite clara 
Versos que Homero gemeu ... 
Nautas de todas as plagas, 
Vós sabeis achar nas vagas 
As melodias do céu! ... 

III

Desce do espaço imenso, ó águia do oceano! 
Desce mais ... inda mais... não pode olhar humano 
Como o teu mergulhar no brigue voador! 
Mas que vejo eu aí... Que quadro d'amarguras! 
É canto funeral! ... Que tétricas figuras! ... 
Que cena infame e vil... Meu Deus! Meu Deus! Que horror! 

IV

Era um sonho dantesco... o tombadilho 
Que das luzernas avermelha o brilho. 
Em sangue a se banhar. 
Tinir de ferros... estalar de açoite... 
Legiões de homens negros como a noite, 
Horrendos a dançar... 

Negras mulheres, suspendendo às tetas 
Magras crianças, cujas bocas pretas 
Rega o sangue das mães: 
Outras moças, mas nuas e espantadas, 
No turbilhão de espectros arrastadas, 
Em ânsia e mágoa vãs! 

E ri-se a orquestra irônica, estridente... 
E da ronda fantástica a serpente 
Faz doudas espirais ... 
Se o velho arqueja, se no chão resvala, 
Ouvem-se gritos... o chicote estala. 
E voam mais e mais... 

Presa nos elos de uma só cadeia, 
A multidão faminta cambaleia, 
E chora e dança ali! 
Um de raiva delira, outro enlouquece, 
Outro, que martírios embrutece, 
Cantando, geme e ri! 

No entanto o capitão manda a manobra, 
E após fitando o céu que se desdobra, 
Tão puro sobre o mar, 
Diz do fumo entre os densos nevoeiros: 
"Vibrai rijo o chicote, marinheiros! 
Fazei-os mais dançar!..." 

E ri-se a orquestra irônica, estridente. . . 
E da ronda fantástica a serpente 
Faz doudas espirais... 
Qual um sonho dantesco as sombras voam!... 
Gritos, ais, maldições, preces ressoam! 
E ri-se Satanás!... 

V

Senhor Deus dos desgraçados! 
Dizei-me vós, Senhor Deus! 
Se é loucura... se é verdade 
Tanto horror perante os céus?! 
Ó mar, por que não apagas 
Co'a esponja de tuas vagas 
De teu manto este borrão?... 
Astros! noites! tempestades! 
Rolai das imensidades! 
Varrei os mares, tufão! 

Quem são estes desgraçados 
Que não encontram em vós 
Mais que o rir calmo da turba 
Que excita a fúria do algoz? 
Quem são? Se a estrela se cala, 
Se a vaga à pressa resvala 
Como um cúmplice fugaz, 
Perante a noite confusa... 
Dize-o tu, severa Musa, 
Musa libérrima, audaz!... 

São os filhos do deserto, 
Onde a terra esposa a luz. 
Onde vive em campo aberto 
A tribo dos homens nus... 
São os guerreiros ousados 
Que com os tigres mosqueados 
Combatem na solidão. 
Ontem simples, fortes, bravos. 
Hoje míseros escravos, 
Sem luz, sem ar, sem razão. . . 

São mulheres desgraçadas, 
Como Agar o foi também. 
Que sedentas, alquebradas, 
De longe... bem longe vêm... 
Trazendo com tíbios passos, 
Filhos e algemas nos braços, 
N'alma — lágrimas e fel... 
Como Agar sofrendo tanto, 
Que nem o leite de pranto 
Têm que dar para Ismael. 

Lá nas areias infindas, 
Das palmeiras no país, 
Nasceram crianças lindas, 
Viveram moças gentis... 
Passa um dia a caravana, 
Quando a virgem na cabana 
Cisma da noite nos véus ... 
... Adeus, ó choça do monte, 
... Adeus, palmeiras da fonte!... 
... Adeus, amores... adeus!... 

Depois, o areal extenso... 
Depois, o oceano de pó. 
Depois no horizonte imenso 
Desertos... desertos só... 
E a fome, o cansaço, a sede... 
Ai! quanto infeliz que cede, 
E cai p'ra não mais s'erguer!... 
Vaga um lugar na cadeia, 
Mas o chacal sobre a areia 
Acha um corpo que roer. 

Ontem a Serra Leoa, 
A guerra, a caça ao leão, 
O sono dormido à toa 
Sob as tendas d'amplidão! 
Hoje... o porão negro, fundo, 
Infecto, apertado, imundo, 
Tendo a peste por jaguar... 
E o sono sempre cortado 
Pelo arranco de um finado, 
E o baque de um corpo ao mar... 

Ontem plena liberdade, 
A vontade por poder... 
Hoje... cúm'lo de maldade, 
Nem são livres p'ra morrer. . 
Prende-os a mesma corrente 
— Férrea, lúgubre serpente — 
Nas roscas da escravidão. 
E assim zombando da morte, 
Dança a lúgubre coorte 
Ao som do açoute... Irrisão!... 

Senhor Deus dos desgraçados! 
Dizei-me vós, Senhor Deus, 
Se eu deliro... ou se é verdade 
Tanto horror perante os céus?!... 
Ó mar, por que não apagas 
Co'a esponja de tuas vagas 
Do teu manto este borrão? 
Astros! noites! tempestades! 
Rolai das imensidades! 
Varrei os mares, tufão! ... 

VI

Existe um povo que a bandeira empresta 
P'ra cobrir tanta infâmia e cobardia!... 
E deixa-a transformar-se nessa festa 
Em manto impuro de bacante fria!... 
Meu Deus! meu Deus! mas que bandeira é esta, 
Que impudente na gávea tripudia? 
Silêncio. Musa... chora, e chora tanto 
Que o pavilhão se lave no teu pranto! ... 

Auriverde pendão de minha terra, 
Que a brisa do Brasil beija e balança, 
Estandarte que a luz do sol encerra 
E as promessas divinas da esperança... 
Tu que, da liberdade após a guerra, 
Foste hasteado dos heróis na lança 
Antes te houvessem roto na batalha, 
Que servires a um povo de mortalha!... 

Fatalidade atroz que a mente esmaga! 
Extingue nesta hora o brigue imundo 
O trilho que Colombo abriu nas vagas, 
Como um íris no pélago profundo! 
Mas é infâmia demais! ... Da etérea plaga 
Levantai-vos, heróis do Novo Mundo! 
Andrada! arranca esse pendão dos ares! 
Colombo! fecha a porta dos teus mares!

Castro Alves