terça-feira, 27 de novembro de 2012

MORTE SÚBITA DO CORAÇÃO, - TODOS NÓS ESTAMOS SUJEITOS



Fantástico
Esta quarta-feira é o Dia Nacional de Prevenção da Morte Súbita. Um perigo que pode atingir pessoas aparentemente saudáveis, e até atletas.

Domingo passado, por exemplo, um brasileiro de 58 anos teve morte súbita logo depois de completar a Maratona de Nova York.

Às vezes, a busca pela superação acaba ultrapassando os limites do corpo. E isso pode ser fatal.

A autópsia revelou que o brasileiro morto na Maratona de Nova York teve um enfarte. E que ele já sofria de uma doença cardíaca.

O corredor pode ter ignorado os sinais do corpo. A morte subida muitas vezes manda avisos.

“Vários trabalhos feitos mostraram que, uma semana antes, entre 70% a 80% das pessoas que tiveram morte súbita tiveram tontura, azia, palpitações fora do ritmo cardíaco, cansaço fora do habitual. O corpo avisa. É que as pessoas não dão valor a isso”, explica o cardiologista e médico do esporte, Nabil Ghorayeb.

Correr virou moda, só que muita gente não está tomando os devidos cuidados. Foi o que mostrou uma pesquisa da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia (SBOT), obtida com exclusividade pelo Fantástico. Foram ouvidos mais de 7 mil atletas amadores em todo o Brasil. “Cerca de 60% dos atletas que praticam corrida sem supervisão de um técnico especializado”, afirma o ortopedista Rogério Teixeira, da SBOT.

Falta também orientação médica. Provas de rua como as maratonas exigem até três anos de treino, dizem os médicos. “Não é simples como andar no shopping”, alerta Ghorayeb.

O grande problema é que provas como uma maratona despertam nos atletas, sejam eles profissionais ou amadores, exatamente o mesmo espírito de superar os limites. Só que, ao mesmo tempo, desrespeitar os limites do corpo pode ser fatal.

Mas como saber o seu limite?

O Fantástico convidou um atleta profissional e um amador para um teste. O empresário Luciano Silva começou a correr há três anos para perder peso e tomou gosto pelo esporte. “Daqui a pouco, eu vou estar treinando para maratona”, conta o empresário.

Vanderlei Cordeiro de Lima foi medalha de bronze nas Olimpíadas de Atenas, mesmo depois de ser agarrado por um maluco no meio do campinho.

Vanderlei e Luciano passaram por exames cardiológicos e provas de esforço. “Eu arranquei a máscara porque estava faltando ar”, contou Luciano. Já Vanderlei mesmo sem treinar há três meses e prestes a se aposentar completou o teste sem problemas.

Veja os resultados:

- Luciano percorreu 1.170 metros em oito minutos;

- Vanderlei correu mais do que o dobro da distância praticamente no mesmo tempo; atingiu quase que o dobro da velocidade. Chegou a 24kmh enquanto que Luciano não passou de 13kmh.

- O atleta amador chegou a uma freqüência cardíaca máxima de 173 batimentos por minuto, 95% do que ele poderia atingir. Vanderlei foi a 180 batimentos: 99% do nível máximo;

- E quando comparamos o consumo de oxigênio, o atleta profissional também leva vantagem: Luciano teve apenas metade do aproveitamento de Vanderlei.

“O Luciano está abaixo das condições, e precisa melhorar”, ressaltou Ghorayeb.

Embora o teste não tenha diagnosticado problema cardíaco em Luciano, o empresário ficou rapidamente sem fôlego. Foi um sinal importante: falta de ar, tontura, palpitações, são sinais importantes. “Se sentir qualquer coisa durante uma atividade física, pare. Não espere para ver se vai passar”, alerta Ghorayeb.

Durante a atividade física, monitore seus batimentos cardíacos e para saber o seu limite. A conta é simples: diminua sua idade de 195. Por exemplo: se você tem 30 anos, não passe de 165 batimentos cardíacos durante os exercícios.

Beba água de dez em dez minutos.

Nos dias frios, como na Maratona de Nova York, que estava fazendo 6ºC. “O frio pode ser o gatilho de uma situação grave: uma angina ou um infarto”, explica Ghorayeb. O frio provoca uma descarga de adrenalina no corpo. Os vasos sangüíneos se estreitam, a pressão arterial sobe e o coração pode sofrer alterações no ritmo dos batimentos.

Qualquer pessoa, mesmo com acompanhamento médico, pode ter morte súbita? Sim. Mas as chances são muito menores. Por isso, procure um cardiologista antes de começar a correr. “Infarto do miocárdio acontece em pessoas que tinham os chamados fatores de risco não controlados. Um pouquinho de colesterol, um pouquinho de pressão alta traz risco se não for controlado”, orienta Ghorayeb. “Por mais que você esteja preparado fisicamente, eu acho que é importante você saber do seu corpo”, finaliza Vanderlei Cordeiro.

domingo, 25 de novembro de 2012

Paulistanos selvagens

gilberto dimenstein

25/11/2012-09h14min

Paulistanos selvagens


Uma grande parte dos paulistanos ( 43%) aceita, sem problemas, o extermínio de marginais por policiais - o que significa, na prática, que não acredita na Justiça. Esse dado, encontrado pelo Datafolha, mostra nitidamente que a mais importante cidade brasileira vive na selvageria.
Estamos no século 21, depois de décadas de democracia, acreditando na justiça com as próprias mãos - o que estimula comportamentos violentos. Aceita-se, em suma, a ideia de que bandido bom é bandido morto.
A barbárie também é visível em outro dado da pesquisa: só 11% dos paulistanos se sentem muito seguros de andar à noite. Ou seja, é uma população que se sente abandonada.
Sempre houve apoio à barbárie ( aliás, um apoio comum entre determinados meios de comunicação), mas era de se esperar que, com o avanço da democracia, do crescimento econômico, da distribuição de renda e da educação, ficássemos mais civilizados.
Ficamos falando quase sozinhos quando defendemos ideias como a importância da educação pública de qualidade para reduzir de forma sustentável a violência. Sabemos como investir na primeira infância tem efeitos duradouros - além de trabalhos focados na juventude das periferias.
A população, amedrontada, quer sangue. Prefere-se mesmo o assassinato. E assim ficamos tão selvagens como os marginais.
Gilberto DimensteinGilberto Dimenstein ganhou os principais prêmios destinados a jornalistas e escritores. Integra uma incubadora de projetos de Harvard (Advanced Leadership Initiative). Desenvolve o Catraca Livre, eleito o melhor blog de cidadania em língua portuguesa pela Deutsche Welle. É morador da Vila Madalena

Astroteologia: breve introdução


marcelo gleiser

25/11/2012-03h57

Astroteologia: breve introdução


Nós, humanos, somos seres limitados. Criativos e inovadores, conseguimos ampliar em muito a nossa compreensão do mundo por meio da aplicação diligente da razão e, complementarmente, das artes.
Isso porque, se a ciência e as artes têm algo em comum, é justamente a tentativa de estender nossa visão de mundo, de ampliar as fronteiras do conhecimento, revelando aspectos inusitados do real. Um teorema e um poema são reflexões do possível, seja o concreto ou o onírico. A imaginação lança mão de todos os recursos à sua disposição para dar sentido à existência.
Talvez seja por isso que o teólogo americano Reinhold Niebuhr escreveu que "o homem é o seu maior problema". Nossas filosofias, ciências e religiões são tentativas de compreender a existência apesar de nossa miopia, isto é, de nossas limitações sobre o que vemos e entendemos.
Nessa busca, não é coincidência que a crença religiosa funcione como uma bússola para tantas pessoas. Como explicar a origem do Universo? Ou da vida? Ou por que temos uma mente capaz de refletir sobre essas questões complexas?
Tais questões são, hoje, parte da pesquisa científica de ponta. Vivemos numa época peculiar, em que o que antes era província exclusiva da religião faz parte do discurso rotineiro da ciência. Porém, por não termos ainda respostas, essas questões continuam nos assombrando.
Talvez um dos dilemas da humanidade seja a angústia de poder contemplar o divino sem sê-lo. Temos a capacidade de imaginar a perfeição, a ausência de dor, a imortalidade; mas, tirando a ficção e a fé, não temos como transcender nossa realidade carnal, os limites temporais e espaciais. Ou será que temos?
Considerando que a ciência moderna tem apenas quatro séculos (marcando seu início com Kepler e Galileu), e percebendo o quanto já fizemos em tão curto prazo, imagine o que nos espera em mil anos?
Ou 10 mil anos, se, claro, não nos destruirmos antes disso. A ciência nos permite já uma manipulação dos genes de criaturas, a ponto de podermos modificar o que comemos e mesmo alcançar curas diversas.
Extrapolando a expansão tecnológica para o futuro, alguns afirmam que, em algumas décadas, chegaremos a um ponto em que nossa hibridização com máquinas será tão profunda que não poderemos mais nos dissociar delas. Caso essas previsões se concretizem -e, a meu ver, já estão ocorrendo-, seremos, como escrevi aqui recentemente, uma nova espécie, além do humano.
Agora imagine que, tal como nós, outras criaturas inteligentes em algum canto da galáxia descobriram a ciência. Só que o fizeram, digamos, 1 milhão de anos antes de nós, o que em termos cósmicos não é nada.
Essas criaturas teriam se transformado completamente ao se hibridizar com máquinas. Seriam, talvez, apenas informação, existindo em campos energéticos no espaço.
Teriam o poder de criar vida, escolhendo suas propriedades. Poderiam, por exemplo, ter nos criado, ou a alguns de nossos antepassados, como parte de um experimento. Poderiam, por exemplo, estar nos observando, como nós observamos animais no zoológico ou no laboratório. Essas entidades imateriais, mas existentes, seriam nossos criadores. Seriam eles deuses, mesmo se não sobrenaturais?
Marcelo GleiserMarcelo Gleiser é professor de física e astronomia do Dartmouth College, em Hanover (EUA). É vencedor de dois prêmios Jabuti e autor, mais recentemente, de "Criação Imperfeita". Escreve aos domingos na versão impressa de "Ciência".

Um obituário do estádio do Maracanã



Um obituário do estádio do Maracanã

25/11/2012

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ALVARO COSTA E SILVA

COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

O estádio do Maracanã se impôs como um dos principais símbolos da cultura brasileira no século 20. Recentemente implodido para ser reconstruído para a Copa de 2014, apesar de tombado pelo Patrimônio Histórico, o estádio deixa marcas na memória de uma geração de esportistas, artistas, escritores e jornalistas.
*
O que haverá de sentir aquele --craque ou perna-de-pau-- que marcar o primeiro gol do novo Maracanã? Didi, que fez o gol inaugural do velho estádio, sentiu desconfiança. "Isso vem abaixo", profetizou. Era o dia 17 de junho de 1950, uma semana antes do início da Copa do Mundo, e enfrentavam-se as seleções de novos do Rio e São Paulo, com portões franqueados ao público e 3 a 1 para os paulistas.
Cerca de 200 mil pessoas viram Didi, aos 9 minutos do primeiro tempo, tabelar com Silas, seu companheiro no Fluminense, e, segundo os cronistas esportivos, "meter uma curvazinha na bola, que entrou na forquilha". A multidão explodiu: "Foi um urro, um eco tremendo. O Maracanã balançou e fiquei tonto", relembrou o craque.
Aquela vertigem, nunca mais. A reconstrução por que passa o estádio comporta um sistema de amortecimento que vai acabar com a sensação de que o Maracanã também vibra com os gols.
Fernando Donasci - 12.jul.07/Folhapress
Vista do estádio do Maracanã e do ginásio do Maracanãzinho, no Rio de Janeiro. Apesar de tombado pelo Patrimônio Histórico, o estádio foi implodido para ser reconstruído para a Copa de 2014
Vista do estádio do Maracanã e do ginásio do Maracanãzinho, no Rio de Janeiro. Apesar de tombado pelo Patrimônio Histórico, o estádio foi implodido para ser reconstruído para a Copa de 2014
Debaixo da estrutura principal das arquibancadas, os operários construíram um contraforte, camada de sustentação de cinco metros de largura por três de altura que suporta oscilações de até 6Hz (equivalentes as de um show de heavy metal). O curioso é que o sistema foi preenchido com os restos da marquise e das fundações que sobraram do antigo estádio.
O desaparecimento das marquises é um dos pontos mais polêmicos da obra. Desde 2000 o Estádio Mario Filho está inscrito no Livro do Tombo Arqueológico, Etnográfico e Paisagístico, o que lhe confere o status de único estádio de futebol tombado no Brasil.
Em reunião do conselho consultivo do Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), em agosto de 2011, um grupo de conselheiros classificou a reforma como "crime". O projeto havia sido aprovado pelo então superintendente do órgão no Rio, Carlos Fernando Andrade. Em agosto de 2010, timidamente, começaram as obras, com a retirada das cadeiras azuis do anel inferior.
O primeiro a falar no tombamento foi o ex-presidente da Academia Brasileira de Letras Marcos Vinicios Vilaça, em 1983, logo após um empate sem gols entre Brasil e Argentina no qual o lateral canarinho Júnior tropeçou no gramado ruim. Vilaça era secretário de cultura do MEC e propôs não só a preservação do Maracanã, "símbolo sociológico marcante no pluralismo cultural brasileiro", como também a do terreiro de candomblé da Mãe Teté, na Bahia. O terreiro foi tombado no ano seguinte; o estádio, só 17 anos depois.
"Houve muita resistência dentro do Iphan, que só se dobrou mais tarde", diz o imortal. "Não opino sobre a atual reforma, pois não conheço detalhes da planta. Mas acho que deveriam reformar sem alterar. E construir para a Copa um novo estádio na Barra."
Há cinco anos, desde que o Brasil foi escolhido como sede do Mundial de 2014, após a desistência da Colômbia, ficou óbvio que o Maracanã, durante anos o maior e mais famoso estádio de futebol do mundo, seria o cenário da entrega da taça. Era só cumprir com as (não poucas) exigências da Fifa. Acabar com a divisão entre arquibancadas e cadeiras foi a principal, criando um novo grau de inclinação que facilite a visibilidade e deixe o estádio com um único lance de assentos --todos individuais e numerados, com encosto de pelo menos 30 cm de altura.
Na cadeira mais próxima ao gramado, a distância para o campo terá 12 metros. Antes, a distância entre o público e o campo era mediada pelas chamadas gerais que, rebaixadas, ficavam quase ao nível do pé dos jogadores. Serão seis rampas de acesso --quatro novas e duas reformadas-- para que os quase 80 mil torcedores saiam em até oito minutos.
Autor de "Maracanã: Meio Século de Paixão" (DBA), o jornalista João Máximo considera que o estádio não é exatamente um monumento histórico: "Não se trata de uma torre Eiffel ou uma Estátua da Liberdade. O que me incomoda é elitização do espaço esportivo. Por que não poderíamos ter, ao menos, 130 mil lugares?".
"E nada garante que o torcedor verá o jogo melhor depois da reforma", assevera. "Não sou viúva do velho Maracanã. Sou viúva do tempo em que a seleção jogava e ganhava copas no exterior. Não se submetia à ganância da Fifa."
Assim que as obras iniciaram, os cariocas se assustaram com o ritmo da destruição.
"Foi com espanto que, da janela de um avião, me deparei com as ruínas do Maracanã. Protegido pelo Iphan, ele foi demolido para a construção de outro estádio, de mesmo nome e no mesmo lugar", lamenta o escritor João Paulo Cuenca. "Além do desrespeito ao patrimônio da cidade, a operação me parece ter sido feita às pressas e às escondidas. Não deu tempo nem para me despedir."
A pressa continua. No momento, os operários trabalham no processo de instalação dos cabos de aço que vão sustentar a nova cobertura. Os andaimes para apoiá-los estão sendo montados. Os cabos estão sendo erguidos, todos ao mesmo tempo, por 120 macacos hidráulicos.
Confeccionada em fibra de vidro e teflon, a cobertura terá 68,4 metros de comprimento --38,4 metros a mais que a antiga. O campo também começa a ganhar forma. Sua demarcação, terraplanagem e nivelamento já começaram. Segundo o governo no Rio, cerca de 70% do novo Maracanã está pronto. Na reta final, o número de trabalhadores será de 5.200.
A um custo que pode ultrapassar R$ 1 bilhão, a reforma está prevista para acabar em fevereiro, teoricamente podendo receber clássicos do Campeonato Carioca de 2013. O jogo de abertura, talvez em março, deverá ser um amistoso da seleção brasileira. A prova de fogo será a Copa das Confederações, prévia do Mundial, com abertura em 16 de junho do ano que vem.
FICHINHA
Apesar de enorme, a expectativa em torno da obra fica longe da comoção nacional que envolveu a construção do Maracanã para a Copa do Mundo de 1950. Erguê-lo não foi fichinha.
Quando a candidatura do Brasil para sediar a quarto mundial foi aceita, pensou-se logo na construção. A turma do contra reuniu-se em torno de Carlos Lacerda. Vereador, o futuro rival de Getúlio Vargas era partidário de que se fizesse um complexo esportivo em Jacarepaguá, no outro extremo da cidade. Na Câmara Municipal, Lacerda travou inflamados debates com o compositor Ary Barroso.
O maior defensor da construção no terreno do antigo Derby Club --"o centro geométrico da cidade"-- foi o jornalista Mario Filho. Seus artigos publicados no "Jornal dos Sports", a partir de maio de 1947, batizaram o movimento de "A Batalha do Estádio".
O jornal encomendou uma pesquisa, prática pouco comum à época, que ouviu mais de mil pessoas entre o público geral e os aficionados por futebol: 79,2% daqueles disseram-se favoráveis ao estádio; 95% destes aprovaram a construção. Em 20 de janeiro de 1948 lançou-se a pedra fundamental do Estádio Municipal do Maracanã (que só na década de 1960 passou oficialmente a Estádio Mario Filho, mas assim só chamado pelo irmão dele, Nelson Rodrigues).
Em menos de duas horas, mais de 200 operários se apresentaram. Calcula-se que uns 10 mil deles estiveram direta ou indiretamente ligados à obra, revolvendo 500 mil sacos de cimento (dois Pães de Açúcar), 10 milhões de quilos de ferro, três milhões de tijolos e outro tanto de madeira, terra e areia.
O "Gigante do Derby" ocuparia uma área de 200 mil metros quadrados, dos quais 130 mil pelo estádio propriamente dito, em sua ousada forma elíptica (317 metros no eixo maior, 279 no menor e um perímetro de 945) e a marquise sem pilastras internas, desobstruindo a visão do torcedor.
Aos 14 anos, João Máximo morava ali perto, em Vila Isabel, e tinha um programa sagrado aos sábados, no fim da tarde, após a pelada: espiar com os amigos o andamento da obra --hoje, com o estádio em transformação, se faz isso pela internet. "Tínhamos o maior Carnaval do mundo, acreditávamos ter o melhor futebol também", diz Máximo. "A conquista da Copa ia sacramentar essa certeza."
Para ficar quase pronto --há quem diga que jamais ficou--, o Maracanã levou um ano e dez meses, a um custo total de 350 milhões de cruzeiros da época (o equivalente a R$ 283 milhões). A capacidade total declarada era de 183.354 espectadores. Só as arquibancadas pegavam 120 mil; as gerais, 32 mil. (No Maracanã da Fifa caberão 78.639 pessoas.)
"MARACANAZO"
Mais de 200 mil espectadores estiveram na final da Copa de 50 --oficialmente, foram registrados 173.850. Depois de campanha convincente --um 2 a 2 com a Suíça e quatro vitórias, sendo o ponto alto a goleada imposta à Espanha na semifinal (6 a 1), numa tarde em que o público invadiu o estádio, atropelando catracas e parte da muralha externa-- o Brasil chegou à decisão com a vantagem do empate.
Àquela altura, duvidar do título, quem havia de? Pois aconteceu o que se sabe. A trave à direita das tribunas de honra ficou conhecida como Gol do Ghiggia, lembrando o placar adverso de 2 a 1. Cinquenta anos depois, Zizinho, o craque daquele time, reconheceria: "Os uruguaios eram melhores".
O "maracanazo" --que cevou nosso complexo de vira-lata diagnosticado por Nelson Rodrigues-- ganhou minuciosa reconstituição em "Anatomia de uma Derrota", de Paulo Perdigão, no fim da qual o jornalista, como que de mãos amarradas, valeu-se de uma ficção à H. G. Wells para explicar o inexplicável: o conto "O Dia em que o Brasil Perdeu a Copa", narrado pelos olhos de um menino, depois transformado no curta-metragem "Barbosa", por Jorge Furtado.
Expressão perfeita em si mesma, o futebol frequenta pouco a literatura brasileira. Entre os escassos exemplos, um se destaca e elege como tema o Mundial de 50: tragédia dentro da tragédia, o relato "Dia dos Mortos", de Sérgio Faraco, não mostra sequer um lance de bola rolando, nem uma batida de lateral. A ação decorre no entorno do Maracanã, na triste hora da saída: "Os dois jovens iam devagar, como todos, e em silêncio, como quase todos. Quem falava, fazia-o em voz baixa, cautelosa".
"Na Boca do Túnel", de Sérgio Sant'Anna, confere ao futebol e ao Maracanã o merecido tratamento, sofisticado, mas elitista --e que, nas nossas letras, esteve mais presente na pena dos cronistas esportivos: os irmãos Nelson e Mario, sobretudo. O conto flagra a angústia do técnico à beira do campo, impotente diante da goleada sofrida por um time pequeno --o bravo São Cristóvão, campeão de 1926.
Prêmio Casa de las Américas de 1980, "Maracanã, Adeus", de Edilberto Coutinho, é uma "avis rara": um livro de contos inteiramente dedicado ao futebol. São 11 histórias, como os 11 jogadores de um time, a primeira delas chamada "Preliminar". A última, que dá título à antologia, narra a trajetória de um atacante cuja carreira foi interrompida pelo alcoolismo.
Mais atual, impossível: "O sobretudo era porque sentia frio, mas estava servindo também para ocultar a garrafa de cachaça, que havia trocado pelo tico-tico Filó num botequim. O estádio vazio, eta mundão do Maraca. Tudo agora silencioso, cadê a galera gritando meu nome, eu ainda garoto, 19 anos se tanto".
Cantado e adaptado nas arquibancadas, "Samba Rubro-Negro", aquele que diz "Flamengo joga amanhã/ Eu vou pra lá/ Vai haver mais um baile/ No Maracanã", não deu sorte ao autor, Wilson Batista. Pelo menos no primeiro momento.
Numa inédita promoção, Wilson levou o cantor Roberto Silva no meio do campo para o lançamento do disco. Depois, viu seu time perder (2 a 1) o Fla-Flu de 1955.
CRAQUES
Três nomes se impõem na galeria de craques do Maracanã: o de Garrincha, que, embora atuando com a camisa 7 do Botafogo, conseguiu a proeza de levar torcedores de outros clubes ao estádio especialmente para vê-lo entortar joões. O de Zico, maior artilheiro da sua história, com 333 gols marcados em 435 partidas.
E, naturalmente, o de Pelé. Foi ali que, em março de 1961, ao driblar nove adversários antes de chutar para as redes e encarar a torcida do Fluminense que minutos antes o vaiava, surgiu a expressão "gol de placa", ou seja, merecedor de uma placa no estádio.
Também foi ali que o Rei marcou o milésimo gol da sua carreira, na noite de 19 de novembro de 1969, de pênalti, e venceu o goleiro argentino Andrada, do Vasco. No dia em que o número recorde de pagantes (183.342) teria sido registrado, Pelé deixou o dele --de bico-- contra o Paraguai, classificando a Seleção para a Copa de 70.
Se não há dúvida quanto ao gol, há quanto ao público: para o pesquisador Ivan Soter, autor da "Enciclopédia da Seleção", outro Brasil x Paraguai, em 1954, teria sido assistido no estádio por mais gente: 195.514 pessoas.
De acordo com os dados de Soter, foram 104 jogos da seleção no estádio: 75 vitórias, 22 empates e apenas sete derrotas. Estatística tão favorável periga não se repetir em 2014: o Brasil só jogará no Maracanã se chegar à final. Um tropeço nas oitavas, quartas e semifinais, e tchau. Salvo se houver mudanças na tabela, o que está em estudos.
Pelé (sempre ele) marcou mais gols com a camisa canarinho no Maracanã: 29. Depois, Zico (14). Seguem Rivelino, Jairzinho e Tostão (12), Ademir (9), Romário (8).
Mas cada torcedor tem o seu jogo e o seu gol inesquecível. O primeiro tricampeonato rubro-negro conquistado em 1955; os 6 a 2 do Botafogo no Fluminense na final de 1957, com cinco gols de Paulinho Valentim, um deles de bicicleta; a vaia, o gol de raiva e os aplausos para Julinho em 1959.
O último campeonato do América em 1960; o bi mundial do Santos (sem Pelé) em 1962; a vitória do Bangu (3 a 0) sobre o Flamengo no título de 1966, com pancadaria generalizada, que começou com Almir Pernambuquinho dentro de campo; os 6 a 0 do Botafogo em cima do Flamengo em 1972.
E a goleada de volta do Flamengo, pelo mesmo placar, em 1981. "Naquele ano, tive permissão de meus pais para ir sozinho ao Maracanã. E, deitado confortavelmente no duro degrau de cimento, vi Andrade, o camisa seis, marcar o sexto gol. Que forra!", conta o artista plástico Raul Mourão.
A polêmica vitória (3 a 2) do Flamengo sobre a Atlético-MG, na decisão do Campeonato Brasileiro de 1980, é a partida inolvidável do escritor Alberto Mussa: "Marquei com minha turma do Andaraí para ver o jogo. Um dos nossos parceiros de sueca [jogo de cartas], o saudoso Mamão, era bilheteiro e deixava a turma pular a roleta da geral".
"Só que naquele dia a confusão foi tanta que, primeiro, me perdi de todo mundo; depois perdi os chinelos. Nunca havia visto a geral tão cheia", relembra Mussa. "Acabei ficando encostado no ferro em frente ao fosso, torcendo sozinho. Eu estava na exata posição, com um ângulo de visão perfeito, para acompanhar um dos maiores momentos da história do Flamengo: vi todo o lance do gol do Nunes, o terceiro, como se ele estivesse jogando para mim, para aquele espectador descalço e solitário, no meio da massa. Quando o jogo acabou, comecei a chorar. Dois torcedores que estavam do meu lado, vendo minha emoção, me convidaram para tomar com eles a cerveja do título".
Ainda os gols de Rivelino em 1975 (com direito a elástico, drible em que o atacante conduz a bola para um lado e, rapidamente, a leva para o oposto enganando o defensor), de Roberto Dinamite em 1976 (com matada no peito e lençol, quando se passa a bola por cima do adversário, como se o envolvesse num lençol), de Romário em 1993 (com drible de corpo no goleiro uruguaio), de Renato Gaúcho (com a barriga) no Fla-Flu de 1995. Sem falar na invasão corintiana de 1976, nos shows de Frank Sinatra e Paul McCartney, na missa do papa João Paulo 2º. e na chegada do Papai Noel de helicóptero.
O Maracanã, tal como o conhecemos e curtimos, não existe mais. Inês é morta e agora é o futuro. Fica uma enorme saudade. Inclusive do churrasquinho de gato ou cutia, que será proibido na Copa.
"Se não me engano, ainda não chamávamos o Maracanã de Maracanã. Dizíamos, simplesmente, Estádio Municipal. Mais uma oportunidade para meu tio fazer-me torcedor do Vasco. Meu tio devia ter alguma importância porque fomos para a tribuna.
A subida era pelo elevador. Dei de cara com o conjunto do estádio. O que vi mudou minha vida: as cadeiras azuis combinando com o verde do gramado. Imediatamente me apaixonei pelo Maracanã, que passou a ser a minha casa", relembra Ivan Soter.
"Estaria aboletado, no restante da minha infância e juventude, na arquibancada junto à torcida do Flamengo, atrás da baliza, que chamavam, naquele tempo, de Gol do Friaça.
Do outro lado, ficava a torcida do Vasco, onde meu tio se esforçou para que eu ficasse, correspondendo ao Gol do Ghiggia. A minha presença naquele posto era tão indiscutível que eu chegava a marcar encontros no local, mesmo com o estádio apinhado. Todos sabiam onde me achar."

Putin’s Circle: Corruption, Connections, and Adultery?


November 24, 2012

Putin’s Circle: Corruption, Connections, and Adultery?

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Earlier this month, the Russian defense minister Anatoly Serdyukov was fired. The stated cause was allegations of corruption related to his agency, but this may not have been the only, or even the main factor. According to several Russian media reports, there may also have been a woman involved. The minister was reportedly estranged from his wife and had close relations with a female employee.

Adam Gopnik observed recently, in connection with the case of General David Petraeus, that American generals are also human. It shouldn’t be a surprise that the Russian defense minister, even without the benefit of military discipline—Serdyukov’s earlier background is in furniture trade—might also find it hard to resist desire.
But if the Russian and the American dismissals of high-ranking officials have something in common, there are divergences. For one thing, corruption has not been an issue in the Petraeus case. And as adulteries commonly go, Petraeus’s story is mostly about four people: the general, his wife, his mistress, and her husband, along with a supporting cast—the Tampa hostess, the shirtless F.B.I. agent, the e-mailing second general. But the rumor about the Russian minister’s adultery persistently mentions another central character: the minister’s father-in-law.
Serdyukov’s wife is the daughter of a former Prime Minister who used to be a colleague of Vladimir Putin in early nineties when both worked in the Saint Petersburg mayor’s office, and is believed to be a member of Putin’s current inner circle. Serdyukov’s father-in-law was arguably a key driving force in his career. As a Russian observer wrote this week, Serdyukov owes to his marriage “his dashing transformation from an owner of a furniture business to a cabinet minister.” As Putin appointed him in charge of the defense ministry, Serdyukov launched an ambitious reform of the armed forces; the reform encroached on important interests of the military establishment, but staunch support of the President enabled Serdyukov to move on. Serdyukov’s dismissal looked like a most unusual move for Putin, who has a reputation of a leader who “never gives in his own”, corrupt or not. A possible explanation that the Russian rumor mill is suggesting: in the adultery scenario, Putin’s loyalty would have been to the father-in-law.
In Russia we don’t have the American transparency, leaving these rumors only rumors; it’s inconceivable that the minister would make statements apologizing to his family for his “poor judgment,” or that the media would quote flirtatious email exchanges. (Boris Yeltsin’s Russia was much less discreet: in 1999 a state-run national TV network showed a man who “looked a lot like the prosecutor general” frolicking naked with two young women who also happened to be unclad. Nobody had the slightest doubt that it was indeed the prosecutor general, and his career was effectively over after the secretly filmed episode was broadcast.) Unlike the intimate affairs, allegations of corruption, however, can be public and formal; these days the state-controlled television savors stories about the luxurious life styles of arrested officials. One of those currently under prosecution is the same lady who is rumored to be the cause of the abrupt end of Serdyukov’s ministerial career. The Russian audience was informed that Evgenia Vasilieva lives in a 13-room apartment worth about ten million dollars filled with expensive jewelry and art masterpieces. She is currently under house arrest, an unusually soft pre-trial treatment for the Russian legal practices.
Putin didn’t give up on Serdyukov entirely, saying that he dismissed him in order “to ensure necessary conditions for an objective investigation.” But as the investigation unfolded the President strongly suggested that the minister was clean: the investigation, and the courts, “lay no claims on Serdyukov personally,” Putin said. Such statements can be decisive in an environment where the rulings of the judiciary are commonly bent in favor of the more powerful. Prior to the sentencing in the second trial of Mikhail Khodorkovsky, once Russia’s wealthiest tycoon, Putin said, “A thief belongs in jail.” The case against Khodorkovsky had the appearance of an egregious and absurd fabrication, but the judge ruled that he would be locked in a labor camp until 2017.
Corruption may be as human as adultery is, and in Russia it is easily no less common. Corruption is often described to have become the very texture of Russian life. (In 2011, according to the Transparency International Corruption Perceptions Index, Russia ranked a hundred and forty-third out of a hundred and eighty-two countries).
Yet the mechanisms and driving forces of the anti-corruption campaign recently launched by the government (In addition to the defense ministry, several other high-profile investigations of corruption are currently underway.) are hardly more transparent than the love life of the minister of defense.
Anti-corruption campaigns are generally a product of political competition: newly elected leadership come with clean hands to investigate the wrongdoings of their defeated predecessors. Yet in Russia we don’t have either political competition or a new leadership. The same leader in whose tenure graft and kickbacks have reached abominable proportions now sets out to expose corruption. It is speculated that the purpose of the current campaign is to boost Putin’s somewhat eroded popularity or to intimidate his elites into loyalty or both. Since the law-enforcement and the judiciary are under control it is up to the most powerful to decide who will be “sacrificed” so others be kept in fear. The choice of Serdyukov may have a special goal of tempering the discontent over the minister’s reforms caused among the military. And this choice was probably easier to make if the theory of the vengeful father-in-law is true.
But whatever the ultimate goal of the anti-corruption campaign, in the Russian political system built on informal client-patron ties, one should make sure that the investigations do not go in the “wrong ” direction so those who deserve to be covered up would not be affected.
In early November, the police announced a theft related to the development of GLONASS, a Russian-made equivalent of the G.P.S. navigation system; the stolen funds allegedly amounted to six-and-a-half-billion rubles, or over two hundred million dollars. The man who had been in charge of the GLONASS project is Sergey Ivanov, who is broadly seen as very close to Putin. The two men served together in the Soviet foreign intelligence in the nineteen-seventies; during Putin’s leadership Ivanov held a number of high-ranking government offices, and about a year ago he was appointed to the position of Putin’s chief of staff.
A couple of weeks ago, Ivanov was interviewed by a polite and sympathetic TV reporter about the corruption allegations related to GLONASS. Ivanov said that he had “a sense, suspicions that something was not right” as far back as two or three years ago. In the interview he presented himself as a shocked bystander.

“I worked in foreign intelligence most of my life. The worst thing that can happen there is betrayal. It’s the same here. For when you see that people whom you trusted, whom the government trusted after all and allocated huge funds for certain purposes, and they are used, mildly speaking, not for the purpose they were allocated for, well how can you treat such a person? How can you treat such people? But I endured. Endured. I didn’t show it because I understood that if I show it, this would simply drive these people wary and they will try to cover up their tracks.”

Apparently, this explanation was persuasive—at any rate, there are no reports that Sergey Ivanov’s role in GLONASS-related embezzlement is under scrutiny. Just as with the defense minister, the investigation will likely spare the person close to Putin.
Photograph by Platon. Read David Remnick on the resistance to Putin.


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quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Cristovam Buarque: “Cabe ao Estado realizar exame de proficiência, até substituir o TCC pelo exame da OAB”


Brasília, 21 de Novembro de 2012
Cristovam Buarque: “Cabe ao Estado realizar exame de proficiência, até substituir o TCC pelo exame da OAB”

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08/11/2012
Cristovam Buarque: “Cabe ao Estado realizar exame de proficiência, até substituir o TCC pelo exame da OAB”
Brasília - O site Justiça em Foco entrevistou o senador Cristovam Buarque(@Sen_Cristovam), que é a favor de exame de proficiência para algumas profissões (por exemplo, medicina ou engenharia), porém, destacou-se - no trato específico da hipótese que envolve a legalidade da aplicação do Exame de Ordem, atualmente regulamentado em provimento do Conselho Federal da OAB.
O site traz posição sobre o tema no final da entrevista: do presidente nacional da OAB, Dr. Ophir Cavalcante; Dra. Gisa Moura - Presidente da UNBA – União Nacional dos Bacharéis em Ação; Dr. Rubens Teixeira – Autor da Carta Aberta ao Congresso Nacional contra o Exame da OAB.
Leia a entrevista:
Justiça em Foco (Editor/Ronaldo Nóbrega Medeiros): O secretário de Educação Superior do Ministério da Educação (MEC), Amaro Henrique Lins, manifestou apoio à exigência de aprovação no exame da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) para o exercício da advocacia. Qual sua opinião sobre o assunto?
Cristovam Buarque: Há duas coisas diferentes. Primeiro é saber se um aluno formado deve ou não se submeter ao Exame de Proficiência, em casos separados. Segundo é quem deve aplicar o exame. Não sou contra exame de proficiência. Agora o nível de ensino que temos hoje em nossas faculdades é preciso criar um conceito de bacharel no Brasil, ao ponto que o mercado começa a exigir as especializações para qualquer pessoa. Eu defendo o exame de proficiência para todas as profissões, sobretudo para Medicina e Enfermagem.
Justiça em Foco: Então quem deve aplicar o exame?
Cristovam Buarque: Não pode ser uma entidade privada ou uma ONG. Exame de proficiência deve ser feito pelo Estado. Quem até aqui imaginou deixar a OAB fazer o Enem. Ora, a responsabilidade é do Estado Brasileiro a sua aplicação.
Justiça em Foco: Mas, a OAB aplica o exame para seleção de advogados. Como vê isso?
Cristovam Buarque: Sou totalmente contra, que a OAB seja encarregada da aplicação do Exame de Ordem. Até porque agente sabe que uma entidade de classe, tem interesses ou não de controlar o número possível de concorrentes. Um exemplo é a reação das entidades médicas na entrada no mercado de trabalho de médicos de outros países mesmo que alguns sejam mais competentes.
Justiça em Foco: Então instituir no país, o Exame de Proficiência para todas as profissões?
Cristovam Buarque: Sim, para todas as profissões que exigem algum cuidado, mas para as que não exigem o mercado resolve.
Justiça em Foco: Voltando para a questão mercado de trabalho, quer dizer que a OAB está realizando reserva de mercado?
Cristovam Buarque: Não estou dizendo que está, mas poderá vir a fazer. É uma entidade ”um Clube” que tem alguns associados. É uma entidade respeitabilíssima, o Brasil deve muito à OAB. O papel dela na sociedade brasileira é imenso. Mas, não é uma entidade capaz de dizer quem vai exercer ou não a profissão. Quem diz quem vai ou não exercer uma profissão, é o Estado e o Mercado.
Justiça em Foco: Então exame de proficiência para os operadores de direito?
Cristovam Buarque: Os operadores de direito acho que deveriam fazer um exame de proficiência pelo Estado. O exame é tão importante que não pode ser realizado pela própria entidade de classe.
Justiça em Foco: Mas, os bacharéis em direito são aprovados pelo Trabalho de Conclusão de Curso – TCC, com supervisão de professores. Não seria o caso de uma autorização do Estado para exercer profissão?
Cristovam Buarque: Pronto, o Estado pode dizer que o exame de proficiência é a tese aprovada na conclusão do curso. Porém, avaliado pelo Ministério da Educação. Veja o exame de proficiência, não precisa ser uma prova, quem vai decidir isso é o Estado. Estamos num Estado de direito, que representa a população. Na Idade Média você só teria uma profissão se o sindicato aceitasse mais um. Essas associações se chamavam “guildas”. Eu não vejo necessidade para entidade alguma fazer esse papel. Hoje, existe o Estado capaz de fazer esse papel, via uma entidade pública, prova disso é a realização do Enem, Exame Nacional do Ensino Médio.
Justiça em Foco: O professor Luiz Flávio Gomes em entrevista ao site Justiça em Foco defende o exame de ordem periódico para todos os Advogados, como garantia de que os profissionais estariam atualizados.
Cristovam Buarque: Eu defendo para todas as profissões. Acabou o tempo que você coloca só o diploma na parede. Eu defendo que o diploma tenha prazo de validade. Ninguém é doutor, você está doutor, ninguém é professor, você está professor, ou seja, quem estudou na faculdade se não continuar estudando, em breve deixará de ser doutor, já não é mais advogado, já não é mais engenheiro.
Justiça em Foco: Por falar em engenharia, o senhor é formado em engenharia.
Cristovam Buarque: Eu me formei em engenharia faz 40 anos. Eu não mereço ser chamado de engenheiro ou pelo menos exercer a profissão, diante da velocidade do avanço tecnológico e da inovação da engenharia. Teria que fazer um desafio para saber se estou preparado.
Justiça em Foco: Mas, o atual Presidente do Conselho Federal da OAB, não passou no desafio de realizar uma prova do Exame de Ordem para ser Advogado. O que o senhor acha?
Cristovam Buarque: Isso eu não sabia. Não gostaria de tocar nesse assunto agora.
Notas:
“O ensino jurídico tem um papel de alta relevância na sociedade. Os Cursos de Direito atraem o maior número de alunos no país, além de ser a área que oferece maior campo de trabalho, pela diversidade e amplitude das atividades que gera, abrangendo todos os setores, em se tratando do exercício da Advocacia. Um Estado democrático de Direito, por definição, pressupõe uma base legal que o sustente, e, portanto, deve esse Estado manter-se constantemente preocupado com o ensino de qualidade comprometido com a democracia e com a justiça social, num sentido mais amplo. Um ensino jurídico não qualificado compromete a formação dos operadores do Direito e um advogado preparado é sinônimo de uma Justiça melhor. Atualmente, há mais de mil Cursos de Direito no Brasil, e devemos reconhecer que o descompasso entre a qualidade do ensino contribui para desmerecimento das profissões jurídicas como um todo. Aqui reside a responsabilidade da Ordem dos Advogados do Brasil e a importância do Exame de Ordem”. Ophir Cavalcante, presidente nacional da OAB. (@OphirCavalcante)
“Temos apenas uma forma de lutar. Essa forma hoje é o PL 2154/2011 do deputado federal Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que em breve será aprovado revogando o inciso IV e § 1º do art. 8º da Lei nº 8.906, de 04 de julho de 1994, - Estatuto da Advocacia e a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). Se depois, o Estado decidir aplicar exame aos bacharéis em direito, isso será outra luta. Para o fim do exame de ordem é necessário estar pronto para encarar qualquer desafio. E nós estamos”. Gisa Moura – Presidente nacional da UNBA (@BachareisemAcao) - (@MouraGisa)
“A OAB não pode usar arbitrariamente as suas próprias razões e desqualificar faculdades autorizadas a funcionar pelo MEC. Isso fere o Direito, a ética, e diversos pilares da democracia. Profissionais ruins, aprovados ou não no Exame da OAB, serão identificados no mercado. Parece claro que a OAB não tem uma proposta de melhoria do ensino a ser apresentada ao MEC. Até porque, se tivesse, já teria implementado no que concerne a melhor seleção de advogados. O exame atualmente, além de não aferir várias qualidades relevantes de um bom advogado, possui grau de dificuldade e modelo que serve para cercear o ingresso de profissionais no mercado, o que é uma violência ao direito fundamental ao trabalho. É como se para cantar em um coral, precisasse saber tocar violino. É de se supor que o modelo apresentado pelo Exame da OAB é o que se conseguiu de melhor, embora não avalie habilidades relevantes de um advogado. Supor que nem mesmo as melhores faculdades do país, com alunos aprovados em seleções disputadíssimas e com professores do mais alto nível, conseguem ser boas o suficiente para formar próximo a totalidade de seus alunos profissionais minimamente preparados para a advocacia é uma mostra de que a prova, além de não testar requisitos importantes, está em desacordo com a razoabilidade, em especial porque muitos advogados militantes hoje não seriam aprovados nela. O Brasil precisa de melhorias em várias áreas, mas as instituições precisam ser respeitadas. Na área da educação, a responsabilidade é do MEC, todas as demais instituições são coadjuvantes. Se tem de haver um crivo das formações para o exercício das profissões, isto deve ser feito pelo MEC, e para todas as profissões. O Exame da OAB, por inúmeras razões apontadas na carta que escrevi ao Congresso Nacional, não tem conserto: é um natimorto”. Dr. Rubens Teixeira – Autor da Carta Aberta ao Congresso Nacional contra o Exame da OAB. (@RubensTeixeira)

terça-feira, 20 de novembro de 2012

A falácia do combate ao crime organizado


A falácia do combate ao crime organizado




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Nos tempos atuais, em que tanto se fala em "combate" ou "guerra" ao crime organizado, é necessário abrir os olhos da população brasileira para a histeria criada por certos setores em relação a esse tema. Será que esse discurso político-governamental não é apenas uma satisfação simbólica que visa esconder as verdadeiras causas da criminalidade urbana e mascarar a incompetência do Estado em combater a violência? Sem programas destinados a mitigar as graves desigualdades sociais e o crescente desemprego, a opção do crime será sempre atraente aos jovens dos grandes centros urbanos. É por isso que ilusória presença do Estado como garantidor da lei e da ordem não passa de uma falácia enquanto todo o sistema não for reestruturado, promovendo crescimento econômico, geração de empregos, investimentos em educação e melhoria das condições de vida da população. Todas as medidas que forem tomadas em termos de segurança pública só surtirão efeitos se acompanhadas de ações de alcance social. Em longo prazo, o investimento em políticas sociais trará mais resultados do que aquisições de viaturas e armamentos, criação de delegacias especializadas, promulgação de leis ineficazes, construção de novos presídios e discursos inflamados da lei e da ordem. Nesse sentido, JUAREZ CIRINO DOS SANTOS alerta que a resposta penal contra o chamado crime organizado é mais ou menos semelhante em toda parte: maior rigor repressivo, introdução de novas modalidades de prisões cautelares, instituição de "prêmio" ao acusado colaborador, criação de programas de proteção de testemunhas... A experiência mostra que essa resposta penal se situa no plano simbólico, como satisfação retórica à opinião pública pela estigmatização oficial do crime organizado, mas tem sua utilidade: cumpre o papel de evitar discussões sobre o modelo político neoliberaldominante nas sociedades contemporâneas, ocultando responsabilidades do capital financeiro internacional, aliado às elites conservadoras dos países do Terceiro Mundo, na criação de condições adequadas à expansão da criminalidade em geral e, eventualmente, de organizações locais de tipo mafioso ("Crime Organizado", in Direito Penal e Direito Processual Penal – Uma Visão Garantista, RJ, Editora Lumen Juris, 2001, p. 148).
A Lei n. 9.034/95 – instituída para combater o crime organizado no Brasil - sequer foi capaz de definir o que seria crime organizado e acabou aproximando esse conceito do crime de quadrilha ou bando. Nessa época, CARLOS ALBERTO MARCHI DE QUEIROZ afirmou que só resta lamentar que o legislador penal nacional não tenha colocado nas mãos dos operadores do Direito uma definição mais transparente de organizações criminosas" (Crime Organizado no Brasil, SP, Editora Iglu, 1998, pág. 18). Tal fato só reflete a falta de estudo empírico e criminológico para responder à indagação sobre a efetiva existência do fenômeno do crime organizado no Brasil. Esse dispositivo legal teve recente modificação ocasionada pela Lei n. 10.217/01 que tornou o conceito de crime organizado ainda mais confuso. Para LUIZ FLÁVIO GOMES, o advento do novo texto legal acabou eliminando a eficácia de inúmeros dispositivos legais contidos na Lei n. 9.034/95. E explica: "Se as leis do crime organizado no Brasil (Lei n. 9.034/95 e Lei 10.217/01), que existem para definir o que se entende por organização criminosa, não nos explicaram o que é isso, não cabe outra conclusão: desde 12.04.01 perderam a eficácia todos os dispositivos legais fundados nesse conceito que ninguém sabe o que é" (in "Crime Organizado: que se entende por isso depois da Lei n. 10.217, de 11.04.01?", disponível na Internet: http://www.ibccrim.org.br, 26.10.2001).
Debates doutrinários à parte, fato é que a política criminal contra o indefinível crime organizado está equivocada. Antes da propaganda política e da algazarra da mídia é preciso reestruturar as instituições que atuam na esfera da repressão à criminalidade. É necessário repensar a polícia e aparelhar a Justiça Criminal. Fácil é de constatar que a situação das polícias estaduais é caótica. Historicamente, as instituições policiais brasileiras foram sendo enfraquecidas, divididas e desacreditadas. É possível ver um objetivo por trás disso. Não se sabe até que ponto interessa aos detentores do poder a criação de uma polícia única, forte, autônoma, equipada e bem paga. Favores políticos não poderiam ser cobrados e até mesmo os "amigos do Rei" seriam punidos. A ingerência governamental e o sucateamento das forças policiais atende a interesses ocultos previamente definidos. Os diversos órgãos fiscalizadores do Poder Executivo também se encontram em situação penosa. Assim, a Receita Federal, o INSS e o Ministério do Trabalho têm funções importantíssimas no sentido de obter informações e coibir fraudes no seio do Estado brasileiro. A falta de pessoal, de estrutura e os entraves burocráticos atrapalham a atuação desses mecanismos de controle. O Poder Judiciário, por sua vez, encontra-se em avançado estado de falência. A prescrição alcança um número incontável de processos antes que sejam julgados. O descrédito da sociedade com o Poder Judiciário é refletido na demora com que a justiça é feita. Após a Constituição Federal de 1988, o Ministério Público foi visto como a tábua de salvação da sociedade brasileira. Cercado de garantias constitucionais, autonomia financeira e administrativa e longe das ingerências do Poder Executivo, o parquet deu importante contribuição na luta pela legalidade. Entretanto, sem controle externo e com amplos poderes, o Ministério Público acabou perdendo o rumo e exorbitou de suas atribuições, entrando em maléfica disputa com as polícias, o Poder Judiciário e outros órgãos fiscalizadores É preciso ter em mente que não é o atropelo de atribuições que fará a sociedade vencer a luta contra o crime. É preciso preservar todas as instituições, reestruturá-las e definir formas de atuação.
Em termos de resposta penal, o sistema jurídico brasileiro não traz soluções adequadas, apresentando diversos problemas estruturais. Nossa legislação penal parece sofrer de grave esquizofrenia. De um lado, temos uma constituição "cidadã" que nos oferece um extenso rol de direitos e garantias individuais. Por outro, uma legislação penal e processual deficiente e arcaica, oriunda de uma época de exceção, de um Estado totalitário. Além disso, o legislador atual anda furioso, legislando sem parar, atendendo aos anseios do movimento da lei e da ordem. Resultado disso é a ofensa direta aos fundamentos constitucionais do Estado Democrático do Direito. Se o descompasso entre o doutrina do direito penal mínimo e os anseios da sociedade são visíveis, há outros fatores que influenciam para que o clima de violência e insegurança predomine. Isso porque, independente de um direito penal mínimo ou máximo, as leis existentes devem ser rigorosamente aplicadas, a certeza da punição deve prevalecer e a eficiência dos órgãos estatais deve ser colocada em xeque. Nesse compasso, DAMÁSIO E. DE JESUS definiu bem a questão: "O Direito Penal desemboca na cadeia. Se ela não é segura, não adianta alterar um milhão de vezes a legislação penal. Nem agravar as penas. Nem instituir a prisão perpétua" (in"Aumento da violência e impunidade", disponível na Internet: http://www.damasio.com.br, fev. 2002).
Ilustrando esse caos legislativo, o art. 3.º da Lei n.º9.034/95 criou uma nova figura de juiz inquisidor em pleno processo penal acusatório. Tal lei teve como origem a vinda de juízes italianos para o Brasil para retratar a experiência da Justiça italiana contra as conhecidas máfias locais. Encantado, o legislador brasileiro resolveu simplesmente copiar o modelo italiano, sem se preocupar com a técnica processual e o vigente sistema de investigação criminal. Sobre isso, PERCIVAL DE SOUZA escreveu que nossos legisladores têm a cabeça no continente europeu e o resto do corpo em país de terceiro mundo, pois copiam ensinamentos de autores estrangeiros, vivem de citações e não demonstram preocupação em adequar a lei à realidade nacional.
Manifestando-se a respeito dos poderes instrutórios conferidos ao juiz pela Lei n.º 9.034/95 durante os debates promovidos pelo Instituto Brasileiro de Ciências Criminais, LUIZ FLÁVIO GOMES chegou a comentar que o poder político brasileiro, ao constatar a falência da Polícia e das Forças Armadas no combate ao crime organizado, buscou no juiz de Direito a figura necessária para esse combate, que poderá vir a ser realizado por magistrados sem qualquer tipo de experiência ou recursos, verdadeiros ‘delegados frustrados’ (sic). Nesse sentido, o Promotor de Justiça mineiro Thales Tácito Pontes Luz de Pádua Cerqueira condena a investigação levada a efeito pelo juiz, afirmando que a CF/88 vedou a prática de atos típicos de parte, procurando preservar sua imparcialidade" (in "Combate às Organizações Criminosas: A Sociedade em Perigo Virtual", disponível na Internet: http://www.ibccrim.org.br). O Delegado de Polícia paulista CARLOS ALBERTO MARCHI DE QUEIROZ ponderou no mesmo sentido, acrescentando que o combate ao crime organizado, em todo o mundo, é assunto para profissionais de Polícia, nunca para juízes de Direito, que, no Brasil, seriam alvos muito mais fáceis do que os históricos Chinnici, Livatino, Falcone e Borsellino, face à nossa geografia física, referindo-se aos célebres casos em que a Máfia italiana assassinou os principais agentes públicos empenhados no combate à criminalidade organizada naquele país (Crime Organizado no Brasil, Editora Iglu, SP, p. 83). Para LEONARDO SICA, "a falácia está em ‘importar’ o modelo italiano, fazendo crer que os sucessos lá obtidos estão ligados a provimentos legislativos, quando, em verdade, o sucesso na perseguição de alguns mafiosos deu-se mais pela decisão de colocar em funcionamento o sistema existente, acelerando inquéritos, aparelhando melhor as polícias, etc., enfim, com empenho político" (in "Medidas de Emergência, Violência e Crime Organizado", publicado no Boletim IBCCRIM n. 126, maio de 2003). O que o legislador brasileiro fez foi criar um "simulacro" de juizado de instrução, enquanto que a tendência moderna é exatamente oposta. Esse modelo está em descrédito e decadência, tendo sido abandonado na Itália e duramente questionado na Espanha.
Outra inovação perigosa surgiu com a Lei n.10.217/01 que introduziu na legislação processual pátria a infiltração de agentes de polícia ou "de inteligência" no crime organizado, com o objetivo de colher provas, mediante "circunstanciada" autorização judicial. A começar, o dispositivo é falho por não prever corretamente quempoderá ser infiltrado nas organizações criminosas. Deveria, sem dúvida, o legislador obedecer ao art. 144 da Constituição Federal, que prevê a tarefa de investigação às polícias judiciárias, isto é, à Polícia Federal e às polícias civis estaduais. Assim, fazendo-se uma interpretação literal e sem compromisso com o dispositivo constitucional, poderíamos ter o absurdo de ter policial militar infiltrado em organizações criminosas com o objetivo de colher provas (!). Esta tarefa é exclusiva da polícia judiciária que visa colher os elementos mínimos à propositura da ação penal pelo Ministério Público. É justamente por isso que o constituinte atribui o controle externo da polícia judiciária ao parquet, monitorando e fiscalizando ações policiais investigatórias no intuito de preservar o princípio da legalidade. Ações de infiltração em organizações criminosas são de alto risco, que devem ser bem planejadas e executadas a contento sob pena da inutilidade do dispositivo. Por força dos dispositivos constitucionais, as policiais judiciárias são as únicas capazes de executar tal tarefa. Também se critica a inclusão da expressão agentes "de inteligência" no dispositivo da lei. Ora, é sabido que as agências de inteligência não visam colher provas para o processo penal. Seu objetivo é subsidiar os governos com informações colhidas em diversas áreas com o fim de prevenir alterações no status quo vigente. Tanto é assim que as primeiras agências de inteligências começaram a surgir no seio das Forças Armadas. Portanto, se não visam colher provas, não há interesse do ponto de vista jurídico de se autorizar a infiltração de agentes "de inteligência" no crime organizado. Por último, a lei não autoriza os agentes infiltrados a praticar crimes e com isso cria um perigoso vácuo jurídico que pode inviabilizar a operação. Teria o legislador deixado essa tormentosa questão ao prudente arbítrio do juiz, ao escrever que a infiltração se fará mediante "circunstanciada" autorização judicial? Mas, por outro lado, como poderá o magistrado "autorizar" o agente infiltrado a praticar crimes? Do ponto de vista doutrinário, como ficará a situação desse agente infiltrado se tiver que cometer ilícitos para ser aceito na organização criminosa? Conforme demonstrado, as falhas e omissões do legislador tornaram esse dispositivo inócuo.
A falácia do combate ao crime organizado assume várias formas. Seja no engodo de fazer acreditar que toda a criminalidade violenta atual está ligada às organizações criminosas, seja no atropelo de atribuições praticado pelos órgãos de repressão do Estado. É necessário ter a sensibilidade para saber diferenciar a criminalidade comum dos atos praticados pelo chamado crime organizado. Em busca de notícias de primeira página, a imprensa procura em um simples homicídio passional a conexão inexistente com um grupo de extermínio. Da mesma forma, os crimes contra o patrimônio causados pelas graves distorções sociais e pelo crescimento da miséria podem transformar-se em obra arquitetada por sindicatos do crime de existência duvidosa. A conexão da criminalidade com o Poder Público é sempre buscada numa histeria desenfreada de provocar escândalo e atrair a atenção das classes A e B que não se interessam por notícias corriqueiras. Por outro lado, visando dar uma satisfação aos reclamos da mídia, os governantes anunciam a criação de "forças-tarefa" para combater o que nem sempre existe. Aliás, uma das maiores falácias da atualidade são essas "forças-tarefa" criadas a esmo, sem objetivo definido, muitas vezes instituídas para promover vaidades pessoais em detrimento das instituições. Nesse contexto, as disputas corporativas crescem e o atropelo de atribuições campeia. As investigações são sempre acompanhadas pela imprensa e o segredo tão pregado pela Lei n. 9.034/95 é esquecido para promover certos agentes públicos. Como resultado, a conclusão das "forças-tarefa" é quase sempre a mesma: não se chega a conclusão nenhuma. Mas a "fogueira das vaidades" também arde no Legislativo brasileiro. Ao invés de ocupar-se com sua atribuição fundamental de legislar corretamente, os representantes do povo criam CPI´s sob os mais desvairados pretextos. Investiga-se o que já foi investigado, não raramente convocam pessoas que não sabem dos fatos, compromissam investigados a dizer a verdade e com isso ofendem direitos e garantias fundamentais, perseguem inimigos políticos e proporcionam um belo e atraente espetáculo para a mídia.
Em meio a tudo isso ficam os operadores do direito e os agentes públicos, obviamente fadados a fracassar em sua missão de garantir à população o direito constitucional à segurança pública. Portanto, é fácil concluir que qualquer ação de combate ao crime organizado passa, obrigatoriamente, pela "organização" da sociedade dominante que deve procurar satisfazer as necessidades reais e a vontade política dos cidadãos.


Leia mais: http://jus.com.br/revista/texto/5214/a-falacia-do-combate-ao-crime-organizado#ixzz2CldwJQCy

TRANSTORNO DE PÂNICO


TRANSTORNO DE PÂNICO

TRANSTORNO DE PÂNICO
O que é?
O Transtorno de Pânico se caracteriza pela ocorrência espontânea de ataques de pânico. Os ataques de pânico duram quase sempre menos de uma hora com intensa ansiedade ou medo, junto com sintomas como palpitações, respiração ofegante e até mesmo medo de morrer. A pessoa pode ter múltiplos ataques durante um único dia até, apenas, alguns ataques durante um ano. Estes ataques podem ocorrer acompanhados por agorafobia, que é o medo de estar sozinho em locais públicos, especialmente, locais de onde uma rápida saída seria difícil em caso de ocorrer um ataque de pânico.
O que se sente?
O primeiro ataque de pânico muitas vezes é completamente espontâneo, embora os ataques de pânico, em geral, ocorram após excitação, esforço físico, atividade sexual ou trauma emocional. O ataque freqüentemente começa com um período de 10 minutos de sintomas que aumentam rapidamente. Pode se sentir extremo medo e uma sensação de morte e catástrofe iminente. As pessoas, em geral, são incapazes de indicar a fonte de seus medos. Pode haver dificuldade de concentração, confusão, aceleração do coração, palpitações, falta de ar, dificuldade para falar e um enorme medo de morrer. O ataque dura de 20 a 30 minutos, raramente mais de uma hora.
Como se faz o diagnóstico?
O médico diagnostica o transtorno de pânico através do relato contado pelo paciente, procurando diferenciar de outras doenças físicas ou psicológicas. Muitas vezes a pessoa procura ajuda quando nota que não está mais conseguindo sair sozinha de casa por medo que ocorra um ataque de pânico.
Como se trata?
A pessoa deve procurar um médico que provavelmente irá associar um modelo de psicoterapia com uma medicação. Os sintomas melhoram dramaticamente nas primeiras semanas de tratamento. Atualmente os medicamentos mais empregados são os antidepressivos. Os sintomas melhoram consideravelmente nas primeiras semanas de tratamento.

O Ocaso


TRANSTORNO OBSESSIVO-COMPULSIVO


TRANSTORNO OBSESSIVO-COMPULSIVO


O que é?

É uma doença em que o indivíduo apresenta obsessões e compulsões, ou seja, sofre de idéias e/ou comportamentos que podem parecer absurdos ou ridículos para a própria pessoa e para os outros e mesmo assim são incontroláveis, repetitivas e persistentes. A pessoa é dominada por pensamentos desagradáveis de natureza sexual, religiosa, agressiva entre outros, que são difíceis de afastar de sua mente, parecem sem sentido e são aliviados temporariamente por determinados comportamentos.
As obsessões são pensamentos recorrentes caracterizados por serem desagradáveis, repulsivos e contrários à índole do paciente. Tais pensamentos não são controláveis pelos próprios pacientes e causam significativa perda de tempo, sofrimento pessoal e queda no rendimento em atividades. Há perda do controle sobre os pensamentos, e às vezes ocorrem atitudes ou comportamentos que visam neutralizar a ansiedade causada por tais pensamentos. Assim, compulsões podem ocorrer secundariamente às obsessões.
As compulsões são comportamentos, gestos, rituais ou atitudes muitas vezes iguais e repetitivas, conscientes e quase sempre incontroláveis. Os pacientes mantêm a crítica sobre suas atitudes, percebem o fato como absurdo e não sabem ou não entendem o que está acontecendo. Têm medo de ficar loucos e sentem vergonha de contar a outras pessoas, ou até mesmo a um médico o que está acontecendo.
Acomete 2 a 3% da população geral. A idade média de início costuma ser por volta dos 20 anos, porém pode ter início ainda na infância, e acomete tanto homens como mulheres. Depressão Maior e Fobia Social são doenças que podem acometer os pacientes com Transtorno Obsessivo-Compulsivo ao longo da vida.
O que se sente?
Freqüentemente as pessoas acometidas por este transtorno escondem de amigos e familiares essas idéias e comportamentos, tanto por vergonha quanto por terem noção do absurdo das exigências auto-impostas. Muitas vezes desconhecem que esses problemas fazem parte de um quadro psiquiátrico tratável e cada vez mais responsivo à medicamentos específicos e à psicoterapia. As obsessões tendem a aumentar a ansiedade da pessoa ao passo que a execução de compulsões a reduz. Porém, se uma pessoa resiste a realizacão de uma compulsão ou é impedida de fazê-la surge intensa ansiedade. A pessoa percebe que a obsessão é irracional e a reconhece como um produto de sua mente, experimentando tanto a obsessão quanto a compulsão como algo fora de seu controle e desejo, o que causa muito sofrimento. Pode ser um problema incapacitante porque as obsessões podem consumir tempo (muitas horas do dia) e interferirem significativamente na rotina normal do indivíduo, no seu trabalho, em atividades sociais ou relacionamentos com amigos e familiares. Algumas vezes os sintomas obsessivos, dependendo da severidade, podem se confundir com sintomas psicóticos e delirantes, ou estarem associados a eles, o que torna o tratamento ainda mais difícil.
Como se faz o diagnóstico?
O diagnóstico é clínico, ou seja, baseado nos sintomas do paciente. Nenhum exame laboratorial ou de imagem é utilizado para o diagnóstico.
Como se trata?
O tratamento deve ser individualizado, dependendo das características e da gravidade dos sintomas que o paciente apresenta. Em linhas gerais, contudo, utiliza-se a psicoterapia de orientação dinâmica ou cognitivo-comportamental associada com tratamento farmacológico (antidepressivos) em doses bem elevadas. Em casos resistentes às terapias convencionais e naqueles em que há a concomitância com sintomas delirantes, a associação com medicações antipsicóticas pode ser feita com melhor resposta.

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

DISTIMIA - ESTADO CRÔNICO DE DEPRESSÃO




DISTIMIA - ESTADO CRÔNICO DE DEPRESSÃO


DISTIMIA - ESTADO CRÔNICO DE DEPRESSÃO
Sinônimos e nomes populares:
Transtorno distímico, neurose depressiva, depressão neurótica, neurastenia, transtorno depressivo de personalidade.
O que é?
A distimia é uma doença do humor, como a depressão, porém ocorrendo de uma forma crônica, com a persistência de tristeza por longo tempo (pelo menos dois anos), durando a maior parte do dia, na maioria dos dias.
O que se sente?
Além do humor triste de forma prolongada, a pessoa pode sentir o apetite aumentado ou diminuído, insônia ou muita sonolência, sensação de baixa energia e cansaço, baixa auto-estima, com pensamentos de não ter valor ou ser incapaz, apresentando ainda dificuldade em concentrar-se ou em tomar decisões, além de ter sentimentos de falta de esperança. Não necessariamente todos esses sintomas deverão estar presentes, mas muitos são comuns.
Diferentemente da depressão, a distimia pode deixar o indivíduo com a sensação de que este é o seu jeito normal de ser, com dizeres como "sempre fui desse jeito ". Há, portanto, uma perda de autocrítica quanto à doença, o que, somado ao baixo interesse em várias áreas da vida, pode levar ao isolamento ou a uma vida limitada, com poucos relacionamentos sociais, inclusive dificuldades profissionais e familiares. Normalmente não há um período mais agudo da doença, com os sintomas sendo mantidos de uma forma estável durante anos, porém é comum ocorrer a depressão propriamente dita em uma pessoa previamente com distimia, o que costuma ser chamado de depressão dupla. Em outros casos, pode ocorrer inicialmente um episódio depressivo, em que não ocorre remissão total dos sintomas, e que o quadro clínico residual caracteriza um episódio distímico.
Como se desenvolve?
A distimia freqüentemente começa cedo na vida, na infância, adolescência ou início da idade adulta, por isso facilmente confundindo-se com o jeito de ser da pessoa. Em crianças, muitas vezes expressa-se por irritabilidade e mau humor, ou então pode parecer “boazinha” demais, sendo uma criança que brinca e permanece quieta a maior parte do tempo, que não faz bagunça, não incomoda, e não raro, diz-se que esse é o “jeitinho” dela. Em adolescentes pode associar-se principalmente à rebeldia e irritabilidade, mas isolamento e abuso de drogas podem ocorrer.
Qual a importância de se tratar a distimia?
Comumente a pessoa com distimia não procura tratamento por esse problema. Porém, esta é uma doença freqüentemente associada a outras, como depressão, transtornos de ansiedade (principalmente transtorno do pânico), abuso de álcool e drogas e múltiplas queixas físicas (dores, por exemplo) de origem psicológica. Portanto, são pessoas que terminam por recorrer a vários tratamentos médicos, muitas vezes usando várias medicações, mas não tratando especificamente a distimia.
Como se trata?
A distimia em geral requer tratamento medicamentoso e psicoterápico. A medicação utilizada geralmente envolve antidepressivos, e nos casos em que há comorbidade com outras patologias, o tratamentos destas também se faz necessário. A psicoterapia é fundamental no tratamento desses pacientes, podendo ser cognitivo-comportamental, ou de orientação analítica. Em alguns casos, a terapia familiar pode auxiliar na melhora do paciente e de sua família, uma vez que eles vem há muitos anos com um padrão disfuncional de comportamento e relacionamento entre os membros.