Domingo passado, por exemplo, um brasileiro de 58 anos teve morte súbita logo depois de completar a Maratona de Nova York.
Às vezes, a busca pela superação acaba ultrapassando os limites do corpo. E isso pode ser fatal.
A autópsia revelou que o brasileiro morto na Maratona de Nova York teve um enfarte. E que ele já sofria de uma doença cardíaca.
O corredor pode ter ignorado os sinais do corpo. A morte subida muitas vezes manda avisos.
“Vários trabalhos feitos mostraram que, uma semana antes, entre 70% a 80% das pessoas que tiveram morte súbita tiveram tontura, azia, palpitações fora do ritmo cardíaco, cansaço fora do habitual. O corpo avisa. É que as pessoas não dão valor a isso”, explica o cardiologista e médico do esporte, Nabil Ghorayeb.
Correr virou moda, só que muita gente não está tomando os devidos cuidados. Foi o que mostrou uma pesquisa da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia (SBOT), obtida com exclusividade pelo Fantástico. Foram ouvidos mais de 7 mil atletas amadores em todo o Brasil. “Cerca de 60% dos atletas que praticam corrida sem supervisão de um técnico especializado”, afirma o ortopedista Rogério Teixeira, da SBOT.
Falta também orientação médica. Provas de rua como as maratonas exigem até três anos de treino, dizem os médicos. “Não é simples como andar no shopping”, alerta Ghorayeb.
O grande problema é que provas como uma maratona despertam nos atletas, sejam eles profissionais ou amadores, exatamente o mesmo espírito de superar os limites. Só que, ao mesmo tempo, desrespeitar os limites do corpo pode ser fatal.
Mas como saber o seu limite?
O Fantástico convidou um atleta profissional e um amador para um teste. O empresário Luciano Silva começou a correr há três anos para perder peso e tomou gosto pelo esporte. “Daqui a pouco, eu vou estar treinando para maratona”, conta o empresário.
Vanderlei Cordeiro de Lima foi medalha de bronze nas Olimpíadas de Atenas, mesmo depois de ser agarrado por um maluco no meio do campinho.
Vanderlei e Luciano passaram por exames cardiológicos e provas de esforço. “Eu arranquei a máscara porque estava faltando ar”, contou Luciano. Já Vanderlei mesmo sem treinar há três meses e prestes a se aposentar completou o teste sem problemas.
Veja os resultados:
- Luciano percorreu 1.170 metros em oito minutos;
- Vanderlei correu mais do que o dobro da distância praticamente no mesmo tempo; atingiu quase que o dobro da velocidade. Chegou a 24kmh enquanto que Luciano não passou de 13kmh.
- O atleta amador chegou a uma freqüência cardíaca máxima de 173 batimentos por minuto, 95% do que ele poderia atingir. Vanderlei foi a 180 batimentos: 99% do nível máximo;
- E quando comparamos o consumo de oxigênio, o atleta profissional também leva vantagem: Luciano teve apenas metade do aproveitamento de Vanderlei.
“O Luciano está abaixo das condições, e precisa melhorar”, ressaltou Ghorayeb.
Embora o teste não tenha diagnosticado problema cardíaco em Luciano, o empresário ficou rapidamente sem fôlego. Foi um sinal importante: falta de ar, tontura, palpitações, são sinais importantes. “Se sentir qualquer coisa durante uma atividade física, pare. Não espere para ver se vai passar”, alerta Ghorayeb.
Durante a atividade física, monitore seus batimentos cardíacos e para saber o seu limite. A conta é simples: diminua sua idade de 195. Por exemplo: se você tem 30 anos, não passe de 165 batimentos cardíacos durante os exercícios.
Beba água de dez em dez minutos.
Nos dias frios, como na Maratona de Nova York, que estava fazendo 6ºC. “O frio pode ser o gatilho de uma situação grave: uma angina ou um infarto”, explica Ghorayeb. O frio provoca uma descarga de adrenalina no corpo. Os vasos sangüíneos se estreitam, a pressão arterial sobe e o coração pode sofrer alterações no ritmo dos batimentos.
Qualquer pessoa, mesmo com acompanhamento médico, pode ter morte súbita? Sim. Mas as chances são muito menores. Por isso, procure um cardiologista antes de começar a correr. “Infarto do miocárdio acontece em pessoas que tinham os chamados fatores de risco não controlados. Um pouquinho de colesterol, um pouquinho de pressão alta traz risco se não for controlado”, orienta Ghorayeb. “Por mais que você esteja preparado fisicamente, eu acho que é importante você saber do seu corpo”, finaliza Vanderlei Cordeiro.
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