Depressão: quando a
tristeza se torna patológica
O que é Depressão?
A depressão é um transtorno que ultimamente
está sendo considerado como uma epidemia entre as desordens psiquiátricas, tal a
freqüência com que tem sido observado atualmente. Estima-se que aproximadamente
8% da população geral sofrerá de algum tipo de transtorno depressivo em algum
momento de sua vida, o que nos dá uma idéia da gravidade ao problema. No
entanto, é importante ressaltar que a depressão é um quadro muito mais complexo
do que costumeiramente é referido, o que é diferente daqueles simples casos de
tristeza que por vezes são considerados episódios depressivos.
A tristeza que observamos nos quadros
depressivos é bem mais intensa, é uma tristeza patológica, que vem acompanhada por vários outros sintomas. Estes sintomas
incluem uma redução no nível de motivação do indivíduo, retardo psicomotor,
lentificação do pensamento, pessimismo extremo, baixa auto-estima e sentimentos
de desvalorização, tudo isso contribuindo para que ele cada vez menos participe
de atividades que antes lhe proporcionavam prazer. Essa redução no nível de
atividade faz com que o sujeito depressivo passe grande parte do seu tempo num
estado de semiletargia, com pensamentos negativos acerca de si mesmo, dos outros
e do futuro, o que contribui para que o quadro seja mantido. Idéias recorrentes
de suicídio são freqüentemente observadas. Além desses sintomas de ordem
cognitiva (ao nível do pensamento), motora e motivacional, alguns sintomas de
ordem somática também podem estar presentes, como perda de apetite, alterações
no padrão de sono e perda do interesse sexual, sendo a gravidade desses sintomas
um indicador confiável do grau de comprometimento geral do indivíduo.
A origem dos quadros depressivos pode se
encontrar tanto em eventos do meio ambiente (depressão exógena), quanto em
fatores de ordem orgânica (depressão endógena), como um desequilíbrio no
funcionamento de alguns sistemas de neurotransmissores. Entre as causas externas
que mais comumente desencadeiam episódios depressivos (depressão reativa) estão
perdas de pessoas afetivamente próximas, prejuízos financeiros graves e finais
de relacionamentos. Mais uma vez é bom lembrar que em tais situações é
perfeitamente normal que as pessoas experimentem estados de tristeza e apatia. A
caracterização do quadro depressivo só se confirma quando essa tristeza atinge
um nível extremamente elevado, incapacitando o indivíduo de retornar à sua vida
normal, paralelamente ao aparecimento de outros dos sintomas acima
descritos.
O tipo mais severo de transtorno depressivo é um tipo de
depressão endógena denominada Depressão Maior. Os critérios para o diagnóstico
desse quadro descritos no DSM-IV(Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos
Mentais) são:
Cinco (ou mais) dos seguintes sintomas estiveram presentes
durante o mesmo período de 2 semanas e representam uma alteração a partir do
funcionamento anterior. Pelo menos um dos sintomas é:
(1) humor deprimido ou; (2) perda do interesse ou prazer. Nota: Não incluir sintomas nitidamente devidos a uma condição médica geral ou alucinações ou delírios incongruentes com o humor. (1) humor deprimido na maior parte do dia, quase todos os dias, indicado por relato subjetivo (por ex., sente-se triste ou vazio) ou observação feita por outros (por ex., chora muito). Nota: Em crianças e adolescentes, pode ser humor irritável (2) interesse ou prazer acentuadamente diminuídos por todas ou quase todas as atividades na maior parte do dia, quase todos os dias (indicado por relato subjetivo ou observação feita por outros) (3) perda ou ganho significativo de peso sem estar em dieta (por ex., mais de 5% do peso corporal em 1 mês), ou diminuição ou aumento do apetite quase todos os dias. Nota: Em crianças, considerar falha em apresentar os ganhos de peso esperados (4) insônia ou hipersonia quase todos os dias (5) agitação ou retardo psicomotor quase todos os dias (observáveis por outros, não meramente sensações subjetivas de inquietação ou de estar mais lento) (6) fadiga ou perda de energia quase todos os dias (7) sentimento de inutilidade ou culpa excessiva ou inadequada (que pode ser delirante), quase todos os dias (não meramente auto-recriminação ou culpa por estar doente) (8) capacidade diminuída de pensar ou concentrar-se, ou indecisão, quase todos os dias (por relato subjetivo ou observação feita por outros) (9) pensamentos de morte recorrentes (não apenas medo de morrer), ideação suicida recorrente sem um plano específico, tentativa de suicídio ou plano específico para cometer suicídio B. Os sintomas causam sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo no funcionamento social ou ocupacional ou em outras áreas importantes da vida do indivíduo. C. Os sintomas não se devem aos efeitos fisiológicos diretos de uma substância (por ex., droga de abuso ou medicamento) ou de uma condição médica geral (por ex., hipotiroidismo). D. Os sintomas não são melhor explicados por Luto, ou seja, após a perda de um ente querido, os sintomas persistem por mais de 2 meses ou são caracterizados por acentuado prejuízo funcional, preocupação mórbida com desvalia, ideação suicida, sintomas psicóticos ou retardo psicomotor.
Além desses tipos mais freqüentes de
depressão, existe outros quadros que são determinados por eventos específicos ou
por determinadas fases do desenvolvimento humano, como a maternidade (depressão
pós-parto), chegada da terceira idade (depressão involutiva), ou o final do
período de fertilidade nas mulheres (depressão do climatério). Também existe uma
outra forma mais branda de transtorno depressivo, em que os sintomas
característicos são experienciados de uma forma menos acentuada, mas que
persistem por um período de pelo menos dois anos. Esse quadro é denominado de
transtorno distímico.
Embora existam variações de tipo e
intensidade, em todos os casos existe um comprometimento significativo na vida
do sujeito, com efeitos psicológicos que são muitas vezes dramáticos. Esses
efeitos são em grande parte determinados pela forma tendenciosa com que o
indivíduo depressivo interpreta o mundo e se comporta perante ele. Normalmente,
pessoas que se tornam deprimidas tendem a enxergar as diversas situações com que
se deparam de uma forma um tanto quanto “catastrófica”, ignorando evidências
positivas e recusando-se a admitir sua capacidade de reagir frente a tais
eventos. Por exemplo, uma pessoa que está passando por uma situação de
instabilidade financeira em virtude da perda de um emprego pode acreditar que
jamais terá forças para superar a crise, mesmo que possua um currículo muito bom
e tenha sido considerado por todos um profissional competente em sua área nas
empresas em que atuou. Evidentemente a perda de um emprego se constitui em algo
difícil de ser enfrentado, mas as pessoas podem reagir de uma forma diferenciada
em cada situação. Algumas imediatamente passam a buscar uma re-inserção na sua
área de trabalho. Outras buscam áreas que julgam oferecer melhores oportunidades
e outras podem até mesmo manifestar um certo pessimismo em relação à conquista
de um novo emprego, mas esse pessimismo não chega a interferir em outras esferas
de sua vida. No caso do nosso sujeito fictício, a perda do emprego pode ser
percebida também como uma evidência de que ele é um total fracasso como pai de
família e como pessoa de uma forma geral. Ele pode acreditar que por mais que se
esforce não será capaz de conseguir trabalho e que o futuro não lhe reserva nada
de bom. Pode interpretar outros fatos e situações como evidências para suas
crenças de incapacidade e impotência e, pensando dessa forma, poderá entregar-se
a um estado de apatia e desesperança que irá acabar contribuindo para que de
fato sua vida piore cada vez mais.
Nesse caso, acaba-se constituindo uma espécie
de “círculo vicioso”, em que as atitudes do sujeito deprimido contribuem para um
aumento na intensidade dos sintomas. Dessa forma, a recuperação só é possível
quando se trabalha simultaneamente sobre os padrões de comportamento do
indivíduo deprimido e dos pensamentos e interpretações negativistas que ele
constrói acerca da sua vida e do mundo, re-avaliando percepções que podem estar
equivocadas, mas que exercem uma forte - e prejudicial - influência sobre o seu
estado de humor geral. No caso de depressões endógenas, o tratamento
farmacológico também pode ser indicado, mas os achados mais recentes demonstram
que uma combinação desse tratamento com psicoterapia tem alcançado resultados
mais satisfatórios. Logo, algumas dicas importantes para lidar com o problema da
depressão incluiriam:
-
Estar atento para possíveis oscilações no estado de humor, sobretudo
quando essas alterações se tornarem mais intensas e recorrentes, ocasionando
sentimentos desagradáveis;
-
Ao experimentar sentimentos de tristeza ou desesperança em relação ao
futuro, investigar as razões que podem estar originando tais sentimentos,
deve-se perguntar: “o que estou pensando para me sentir tão mal”.
-
Procurar avaliar se seus pensamentos negativos são realmente verdadeiros,
e se questionar se apenas existe uma forma de perceber de pensar e perceber os
acontecimentos do dia-a-dia;
-
Procurar fazer atividades interessantes e prazerosas. Mesmo sendo a
tendência de quem está com humor deprimido de se deitar e esquecer do mundo, o
que se aconselha é sair do estado inerte, de ambientes fechados e escuros para
se praticar atividades que envolvam movimentos físicos.
Caso não consiga lidar com o problema
sozinho, buscar ajuda de profissionais capacitados. |
segunda-feira, 19 de novembro de 2012
Depressão: quando a tristeza se torna patológica
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