Aspectos da Filosofia Contemporânea
Consideramos como
contemporânea a
filosofia que se estende, dentro da imprecisão cronológica própria das produções
culturais, ao longo da segunda metade do século XIX e da primeira metade do
século XX. A filosofia contemporânea, nas suas linhas mais fundamentais e características, só pode ser adequadamente compreendida em relação com a obra de
Hegel. Com efeito, a filosofia contemporânea constitui em grande medida uma reacção contra o sistema hegeliano, ao mesmo tempo que retoma poucas das suas análises e interrogações.A mais notável e radical reacção contra o sistema de Hegel é feita por
Marx, pelo
marxismo. O marxismo, entroncado originalmente na esquerda hegeliana, distingue e separa o sistema hegeliano (idealista) do método dialéctico. Aceitando e transformando este último, a filosofia marxista “inverte” o sistema de Hegel, propondo uma visão dialéctica-materialista da consciência, da sociedade e da história.Outra reação contra o hegelianismo – reação estreitamente vinculada à situação econômica, social e intelectual resultante da revolução industrial – é representada pelo
positivismo, especialmente o de
Comte. Neste caso, reage-se contra o “
racionalismo” hegeliano naquilo que possa ter de menosprezo da
experiência, com a pretensão de instaurar um saber positivo, capaz de fundamentar uma organização político-social nova. Como
Marx,
Comte conserva, no entanto, embora transformando-o, um momento importante do hegelianismo: a ideia de “espírito objectivo”.
Por que no inicio do século XX desapareceu o otimismo com relação ás ciências e as técnicas?
Ao final do século XIX, a filosofia se entusiasma com as ciências e técnicas (Segunda revolução industrial) passando a acreditar totalmente no saber cientifico e na tecnologia para controlar a Natureza, a sociedade e os indivíduos.
Com alguns fatos históricos ocorridos no inicio do século XX como, por exemplo: as duas guerras mundiais, o bombardeio de Hiroshima e Nagasaki, os campos de concentração nazistas, as guerras da Coréia, Vietnã, Oriente Médio, do Afeganistão, as invasões comunistas da Hungria e da Tchecoslováquia, as ditaduras sangrentas da América Latina, a devastação de mares, florestas e terras, a poluição do ar, os perigos cancerígenos de alimentos e remédios, o aumento de distúrbios e sofrimentos mentais, entre outros acontecimentos, os filósofos que acreditavam que o otimismo é designado pelo fato de se pensar que, na vida, tudo acaba por se resolver, porque tudo é regulado por uma lei que guia para o melhor e não para o pior, começam a desacreditar que as ciências e as técnicas descobertas pelos homens já não erão mais para o seu próprio bem, e sim para destruição dele.
Surge então a formação da Teoria Critica, na qual distingue duas formas da razão: a razão instrumental, na qual a ciência e as técnicas são meios de intimidação, terror, medo e desespero para o ser humano e a razão critica, que afirma que as mudanças sócias, políticas e culturais só serão realizadas com a intenção de emancipação do gênero humano e não para domínio técnico-científico.
Como os filósofos do século XX concebem a cultura?
No século XIX alguns filósofos acreditam em uma Cultura universal (criação coletiva de idéias, símbolos e valores pelos quais uma sociedade define para si mesma) em desenvolvimento, na qual as diferentes culturas seriam fases ou etapas, e os adeptos da Filosofia Romântica acreditavam que a cultura era nacional e era preciso conhecer o espírito da nação, conhecendo suas origens e raízes, porque a cultura se encontra no passado e não no futuro.
Na Filosofia do século XX, afirmando que a historia é descontinua já não existe essa idéia de cultura única e sim de várias culturas, e que elas não são desenvolvidas de acordo com a nação, porque a idéia de nação é um conceito cultural.
Para esses Filósofos, cada cultura tem seu modo de se relacionar, de linguagem, de elaboração dos mitos e crenças, de organizar o trabalho entre outras. A cultura de cada povo é influencias por aspectos geográficos, históricos e políticos.
Sendo assim os filósofos são a favor da idéia de que a cultura pode se modificar à medida que ela entra em contato com outras culturas tomando algumas características das mesmas.
Por que a descoberta da ideologia, por Marx e a do inconsciente por Freud, questionam o otimismo nacionalista do século XX?
No século XIX, a filosofia afirma que o otimismo filosófico poderia levar ao homem a sua certeza absoluta e que a razão seria desenvolvida para que o conhecimento completo da realidade e das ações humanas fossem atingidos.
Já no século XX Marx questiona essa razão citada pelos filósofos do século anterior. Marx voltado pra política e para a economia descobre que o homem não é tão livre quanto imagina ser.“O indivíduo é o ser social: O homem, isto é o mundo do homem: Estado, sociedade”.Essa natureza social constitui para Marx o ponto de partida. Marx descobre que o homem tem uma ilusão de ter controle sobre a sua consciência, sendo assim ele é capaz de agir e pensar do modo que ele quer, porém o homem desconhece uma força, que é denominada de ideologia, na qual o homem age de acordo com o social, sendo ela responsável por agirmos do modo que agimos e pensarmos do modo que pensamos. Assim deve-se entender a frase: “Não é a consciência do homem que determina seu ser, mas é seu ser social que determina sua consciência”.
Freud por sua vez afirma que os seres humanos têm a ilusão de que tudo que dizem, sentem, pensem, faze, desejem estaria sob o controle da sua consciência porque assim como Marx diz Freud também afirma que o homem desconhece o poder de uma força que controla essas atitudes. Porém ao contrário de Marx, Freud da o nome dessa força de psíquico-social e ele ainda diz que ela atua sobre a nossa consciência sem que ela o saiba. A esse poder que domina a nossa consciência Freud deu o nome de inconsciente.
Diante dessas duas descobertas, a Filosofia se viu forçada a reabrir a discussão sobre o que é e o que pode a razão, sobre o que é e o que pode a consciência reflexiva ou o sujeito do conhecimento, sobre o que são e o que podem as aparências e as ilusões.
Apresente alguns exemplos do interesse pelo finito ou pela finitude nas filosofias do século XX.
No século XIX a filosofia seguia uma tradição de pensamento cristão, no qual a idéia do infinito era a mais aceita, isto é achavam que a natureza era eterna (dos cristãos) e que Deus também era eterno (dos Gregos). Prevalecia ainda a idéia de totalidade.
Entretanto no século XX a filosofia começa a se interessar pela idéia de Finito, isto é ao que surge e desaparece ao que tem fronteira e limites. Esse interesse pelo finito aparece em algumas correntes filosóficas como, por exemplo:
Existencialismo: O existencialismo é um movimento filosófico unilateral, que coloca a ênfase no individual, no próprio, a experiência do indivíduo e na singularidade dele como a única realidade. Define o homem como “um ser para a morte”, ou seja, é aquele ser que sabe que termina e que por isso precisa encontrar em si mesmo o sentindo de sua existência. “O homem é condenado a ser livre”. Frente a essa liberdade, o ser humano se angustia porque a liberdade implica em escolha, que só o próprio indivíduo pode fazer.Muitos de nós paralisamos e, assim, achamos que não fomos obrigados a escolher. Mas a “não ação”, por si só, já é uma escolha. A escolha de adiar a existência, adiando os riscos para não errar e gerar culpa, é uma tônica na sociedade contemporânea. Arriscar-se, procurar a autenticidade, é uma tarefa árdua, uma jornada pessoal que o ser deve empreender em busca de si mesmo.
Filosofia da diferença: É a filosofia que se interessa menos pelas semelhanças e identidades e muito mais pela singularidade e particularidade. Inspirando-se nos trabalhos dos antropólogos, interessa-se pela diversidade, pluralidade, singularidade das diferentes culturas, em lugar de voltar-se para a idéia de uma cultura universal, que foi, no século XIX, uma das imagens do infinito, isto é, de uma totalidade que conteria dentro de si, como suas partes ou seus momentos, as diferentes culturas singulares.
Filosofia buscando outros meios: A Filosofia, em vez de buscar uma ciência universal que conteria dentro de si todas as ciências particulares, interessa-se pela multiplicidade e pela diferença entre as ciências, pelos limites de cada uma delas e, sobretudo por seus impasses e problemas insolúveis.
O que definia a modernidade no campo do conhecimento?
A Filosofia por existir a muito tempo, por ter uma história longa e por passar por vários períodos diferentes, vários temas, disciplina, campos de investigação filosóficos surgiram e desapareceram.
Antigamente a filosofia era representada como uma grande árvore frondosa, cujas raízes eram a metafísica e a teologia, cujo tronco era a lógica, cujos ramos principais eram a filosofia da Natureza, a ética e a política e cujos galhos extremos eram as técnicas, as artes e as invenções. A Filosofia vista como uma totalidade orgânica ou viva, era chamada de “rainha das ciências”. Isso desapareceu com o passar do tempo.
Pouco a pouco, as várias ciências particulares que antes era “dependente da filosofia” foram definindo seus objetivos, seus métodos e seus resultados próprios, e se desligaram da grande árvore. Cada ciência, ao se desligar, levou consigo os conhecimentos práticos ou aplicados de seu campo de investigação, isto é, as artes e as técnicas a ele ligadas. As últimas ciências a aparecer e a se desligar da árvore da Filosofia foram as ciências humanas (psicologia, sociologia, antropologia, história, lingüística, geografia, etc.). Outros campos de conhecimento e de ação abriram-se para a Filosofia, mas a idéia de uma totalidade de saberes que conteria em si todos os conhecimentos nunca mais reapareceu.
A Filosofia tornou-se uma teoria do conhecimento, ou uma teoria sobre a capacidade e a possibilidade humana de conhecer, e uma ética, ou estudo das condições de possibilidade da ação moral enquanto realizada por liberdade e por dever. Com isso, a Filosofia deixava de ser conhecimento do mundo em si e tornava-se apenas conhecimento do homem enquanto ser racional e moral, ou seja, começa a entrar em ação o “conheça-ti a ti mesmo”.
Quais as principais criticas pós-modernas á modernidade?
No final do século XX, um movimento filosófico, conhecido como desconstrutivismo ou pós-modernismo, vem ganhando preponderância. Seu alvo principal é a crítica de todos os conceitos e valores que, até hoje, sustentaram a Filosofia e o pensamento dito ocidental: razão, poder, sujeito, objeto, História, espaço, tempo, liberdade, necessidade, acaso, Natureza, homem, etc.
Pós-Modernidade nasce no processo de contestação das verdades dogmáticas na segunda metade do século XX. A Modernidade que surgi no final do século XIX e inicio do século XX é agora criticada em seus pilares fundamentais, como a crença na Verdade, alcançável pela Razão, e na linearidade histórica rumo ao progresso. Para substituir estes dogmas, são propostos novos valores, menos fechados e categorizantes. Uma vez adotados, eles serviriam de base para o período que se tenta anunciar no pensamento, na ciência e na tecnologia, de superação da Modernidade.
O que é Metafísica, depois de Kant?
Desde o final do século XVIII, o filósofo alemão Immanuel Kant, passou a considerar que a Filosofia, durante todos os séculos anteriores, tivera uma pretensão irrealizável. Esta pretensão seria a de que nossa razão pode conhecer as coisas tais como são em mesmas. Esse conhecimento da realidade em si, dos primeiros princípios e das primeiras causas de todas as coisas chama-se metafísica.
Para Kant, Metafísica é a filosofia baseada em princípios que não são revelados pela a experiência, mas pela própria razão, ou seja, princípios a priori, quer dizer, independentes da experiência, e por isto necessários e universais (pois não podem ser provados falsos pela experiência).
Kant negou que a razão humana tivesse tal poder de conhecimento e afirmou que só conhecemos as coisas tais como são organizadas pela estrutura interna e universal de nossa razão, mas nunca saberemos se tal organização corresponde ou não à organização em si da própria realidade. Deixando de ser metafísica, a Filosofia se tornou o conhecimento das condições de possibilidade do conhecimento verdadeiro enquanto conhecimento possível para os seres humanos racionais.
Metafísica é, para Kant, nesta acepção, a filosofia baseada em princípios que não são revelados pela a experiência, mas pela própria razão, ou seja, princípios a priori, quer dizer, independentes da experiência, e por isto necessários e universais (pois não podem ser provados falsos pela experiência).
Por que, com o positivismo de Augusto Comte, a filosofia se reduz a epistemologia?
Na elaboração da filosofia positiva, o primeiro passo de Comte, foi a classificação das ciências que, segundo ele, já haviam alcançado a positividade. São elas: a matemática, a astronomia, a física, a química, a biologia e a sociologia, (esta última que estava sendo formulada por Comte). Mais tarde, Comte acrescentou a moral. Esta série não representava todo conhecimento humano, mas sim todas as ciências puras. A ordenação e a classificação das ciências era o objetivo básico da filosofia positiva.
A epistemologia, também chamada teoria do conhecimento, é o ramo da filosofia interessado na investigação da natureza, fontes e validade do conhecimento. Estuda o conhecimento, teoriza sobre a própria ciência e de como seria possível a apreensão deste conhecimento.
Desde meados do século XIX, como conseqüência da filosofia de Augusto Comte – chamada de positivismo-, foi feita uma separação entre Filosofia e ciências positivas (matemática, física, química, biologia, astronomia, sociologia). As ciências, dizia Comte, estudam a realidade natural, social, psicológica e moral e são propriamente o conhecimento. Para ele, a Filosofia seria apenas reflexão sobre o significado do trabalho científico, isto é, uma análise e uma interpretação dos procedimentos ou das metodologias usadas pelas ciências e uma avaliação dos resultados científicos. A Filosofia tornou-se, assim, uma teoria das ciências ou epistemologia.
Como se caracteriza o pensamento pós-moderno?
As várias ciências particulares foram definindo seus objetivos, seus métodos e seus resultados próprios, e tornaram-se dependente da filosofia. Cada ciência, ao se desligar, levou consigo os conhecimentos práticos ou aplicados de seu campo de investigação, isto é, as artes e as técnicas a ele ligadas.
Desde a Segunda Guerra Mundial, com o fenômeno do totalitarismo – fascismo, nazismo, stalinismo -, com as guerras de libertação nacional contra os impérios coloniais e as revoluções socialistas em vários países; desde os anos 60, com as lutas contra ditaduras e com os movimentos por direitos (negros, índios, mulheres, idosos, homossexuais, loucos, crianças, os excluídos econômica e politicamente); e desde os anos 70, com a luta pela democracia em países submetidos a regimes autoritários, um grande interesse pela filosofia política ressurgiu e, com ele, as críticas de ideologias e uma nova discussão sobre as relações entre a ética e a política, além das discussões em torno da filosofia da História.
Quais os campos próprios da investigação filosófica?
Os campos próprios em que se desenvolve a reflexão filosófica nestes vinte e cinco séculos são:
Ontologia ou metafísica: que é o conhecimento dos princípios e fundamentos últimos de toda a realidade, de todos os seres;
Lógica: conhecimento das formas gerais e regras gerais do pensamento correto e verdadeiro, independentemente dos conteúdos pensados; regras para pensamentos não-científicos; regras sobre o modo de expor os conhecimentos; regras para verificação da verdade ou falsidade de um pensamento, etc.;
Epistemologia: análise crítica das ciências, tanto as ciências exatas ou matemáticas, quanto as naturais e as humanas; avaliação dos métodos e dos resultados das ciências; compatibilidades e incompatibilidades entre as ciências; formas de relações entre as ciências, etc.;
Teoria do conhecimento ou estudo das diferentes modalidades de conhecimento humano: o conhecimento sensorial ou sensação e percepção; a memória e a imaginação; o conhecimento intelectual; a idéia de verdade e falsidade; a idéia de ilusão e realidade; formas de conhecer o espaço e o tempo; formas de conhecer relações; conhecimento ingênuo e conhecimento científico; diferença entre conhecimento científico e filosófico, etc;
Ética: estudo dos valores morais (as virtudes), da relação entre vontade e paixão, vontade e razão; finalidades e valores da ação moral; idéias de liberdade, responsabilidade, dever, obrigação, etc.;
Filosofia política: estudo sobre a natureza do poder e da autoridade; idéias de direito, lei, justiça, dominação, violência; formas dos regimes políticos e suas fundamentações; nascimento e formas do Estado; idéias autoritárias, conservadoras, revolucionárias e libertárias; teorias da revolução e da reforma; análise e crítica das ideologias;
Filosofia da História: estudo sobre a dimensão temporal da existência humana como existência sócio-política e cultural; teorias do progresso, da evolução e teorias da descontinuidade histórica; significado das diferenças culturais e históricas, suas razões e conseqüências;
Filosofia da arte ou estética: estudo das formas de arte, do trabalho artístico; idéia de obra de arte e de criação; relação entre matéria e forma nas artes; relação entre arte e sociedade, arte e política, arte e ética;
Filosofia da linguagem: a linguagem como manifestação da humanidade do homem; signos, significações; a comunicação; passagem da linguagem oral à escrita, da linguagem cotidiana à filosofia, à literária, à científica; diferentes formas de expressão e de comunicação;
História da Filosofia: estudo dos diferentes períodos da Filosofia; de grupos de filósofos segundo os temas e problemas que abordam; de relações entre o pensamento filosófico e as condições econômicas, políticas, sociais e culturais de uma sociedade; mudanças ou transformações de conceitos filosóficos em diferentes épocas; mudanças na concepção do que seja a Filosofia e de seu papel ou finalidade.
Autor: Juliana Pimenta Ruas El Aouar