sábado, 23 de novembro de 2019

Cuidados com o coração | Entrevista

Cuidados com o coração | Entrevista



Um pequeno deslize no uso diário do coração pode acarretar em problemas sérios que poderiam ser evitados com um pouco de atenção e cuidado. Veja entrevista sobre cuidados com o coração. 

O coração é uma bomba que tem a grande responsabilidade de fazer o sangue circular por todo o organismo, de levar oxigênio e nutrientes para as células e sangue carregado de gás carbônico para os pulmões a fim de oxigená-lo. Qualquer desajuste nessa bomba que deve funcionar com grande precisão pode provocar problemas sérios e, muitas vezes, morte súbita, especialmente em homens e mulheres acima dos 40 anos. São raras as pessoas que têm complicações cardíacas antes dessa idade.
Entretanto, às vezes, um pequeno deslize no uso diário desse órgão, uma sobrecarga que a repetição de determinados erros cometidos dia após dia acabam provocando problemas sérios que poderiam ser evitados com um pouco de atenção e cuidado. Tratado adequadamente e mantendo alguns cuidados com o coração, o órgão funciona melhor, com mais eficiência e dura muito.

IMPORTÂNCIA DE HÁBITOS SAUDÁVEIS


Drauzio – Como a pessoa deve portar-se no dia a dia para manter o coração funcionando bem?
Adib Jatene – O primeiro cuidado é manter a atividade física. É o cuidado mais importante, porque ela previne a atrofia muscular. Ninguém precisa ser um atleta. Basta que a pessoa ande 30 minutos ou 40 minutos por dia. Não precisa ser de uma vez só. Esse tempo pode ser distribuído em períodos mais curtos, mas o ritmo deve possibilitar percorrer 1 km em 10 minutos. Tem gente que corre ou anda uma hora. Isso representa um ganho a mais, mas é suficiente caminhar durante 30 ou 40 minutos. Pessoas com mais idade devem evitar esportes violentos que exijam bom condicionamento e preparo físico.
O segundo ponto é controlar o peso. As pessoas engordam, porque consomem menos e ingerem mais calorias. O terceiro é não fumar e eliminar a ingestão excessiva de doces e refrigerantes, alimentos que não trazem benefícios para o organismo. Brinco sempre com quem gosta de chope e cerveja que o problema maior para o ganho de peso está nos salgadinhos que são servidos como acompanhamento dessas bebidas.

ÁLCOOL E CORAÇÃO 


Drauzio – Atualmente, um assunto palpitante em medicina é o possível benefício que o álcool pode trazer para o coração.
Adib Jatene – Essa é uma discussão que tem despertado grande interesse. Hoje, a tendência é considerar que está mais protegido quem ingere bebida alcoólica moderadamente. Principalmente se a bebida for vinho tinto. Existem algumas demonstrações indiretas desse benefício. Por exemplo, os franceses ingerem muita gordura, mas bebem vinho e apresentam baixo índice de infarto.
A respeito desse assunto, no Incor, prof. Protásio Lemos da Luz realizou um trabalho com coelhos alimentados com dieta hipercolesterolêmica. Dividiu-os em dois grupos e somente a um deles deu vinho tinto. Depois, observou o que aconteceu na aorta desses animais. Os que não tomaram vinho tinham índice de aterosclerose muito maior do que os que aqueles que tinham ingerido essa bebida.

Drauzio – O que o senhor considera beber moderadamente?
Adib Jatene – Beber moderadamente é tomar um copo de vinho no almoço e outro no jantar, ou uma ou duas doses de uísque. Se o indivíduo tomar várias doses de uísque ou muito vinho, vai ter cirrose, pressão alta e uma série de outros distúrbios que complicarão a qualidade e a extensão de sua vida e também terá perdido a oportunidade de usufruir os possíveis benefícios do álcool para o coração.

Drauzio – Nesse caso, a situação dos médicos é delicada, porque se sabe que, mesmo indicando dois copos de vinho por dia, existem pessoas que vão perder o controle e beberão exageradamente.
Adib Jatene – Esse é um problema que exige a intervenção de psiquiatras e psicólogos. No que se refere, porém, aos benefícios e malefícios da bebida para o coração, beber moderadamente não é prejudicial.

PRESSÃO ARTERIAL E ESTRESSE


Drauzio – Que outras medidas a pessoa deve observar em relação aos cuidados com o coração?
Adib Jatene – É preciso medir a pressão arterial com regularidade e aprender a lidar com o estresse. Tensão faz parte da vida moderna. As pessoas se preocupam demais e gastam o sistema nervoso inutilmente. Fazem conjecturas que geralmente não se concretizam.
Todos precisamos aprender a reagir aos contratempos de forma equilibrada. De nada adianta pedir afastamento do trabalho, se as preocupações vão junto conosco por toda parte.
Considero, ainda, que alguns vícios de comportamento estão envolvidos no processo do estresse. Dr. Dante Pazzanezi sempre se referia a dois sentimentos que prejudicam extraordinariamente a vida das pessoas e contribuem para o aumento da tensão: inveja e vaidade.
A inveja faz as pessoas sofrerem com o sucesso alheio. O carro novo do vizinho é motivo para ficarem remoendo porque elas não têm um igual ou melhor. Infelizmente, as pessoas são educadas para comportarem-se assim. Eu sempre digo: não é preciso ser o melhor. Basta ser bom no meio de gente boa. O importante é procurar fazer bem feito tudo o que se faz sem a preocupação de que alguém possa fazer melhor, pois sempre existirá alguém mais capaz e mais hábil do que nós.
A vaidade é outro sentimento traiçoeiro. A preocupação com o que os outros pensam a nosso respeito gera tensão brutal e permanente. Portanto, quem conseguir, não digo eliminar, mas controlar esses sentimentos, terá atingido o equilíbrio necessário para contornar os problemas e reduzir os níveis de estresse.

Drauzio  E como o senhor vê o papel do exercício como anti-estressante nesse contexto de cuidados com o coração?
Adib Jatene – O exercício também ajuda, mas é um conjunto de medidas que protege o coração. No entanto, sempre há a possibilidade de aparecerem alterações porque existem fatores desencadeantes das doenças cardíacas que ainda não são bem conhecidos. Atualmente, por exemplo, estão identificando certas inflamações como um dos fatores na formação das placas de ateroma.


COMO VAI SEU CORAÇÃO? 


Drauzio – O que pode ser feito para avaliar as condições em que se encontra o coração de uma pessoa?
Adib Jatene – Existem alguns exames que facilitam essa avaliação. O eletrocardiograma, por exemplo. Embora com o indivíduo em repouso o resultado possa ser normal, é preciso verificar se apresenta alterações sob esforço.
O teste de esforço pode ser realizado na bicicleta ou na esteira ergométrica e deve ser feito anualmente ou a cada dois anos depois dos 40 anos de idade. Se o eletrocardiograma sob esforço não se altera, é sinal de que há vasodilatação necessária para fornecer mais sangue para o coração que, naquele momento, está exigindo quantidade maior de nutrientes. Caso contrário, é preciso identificar corretamente o tipo de lesão que o paciente apresenta.

Drauzio  Quando uma pessoa que nunca sentiu nada deve começar a fazer esse tipo de avaliação? 
Adib Jatene – Depois dos 40 anos, especialmente se tiver histórico familiar de doenças cardíacas, estiver com excesso de peso ou apresentar outros fatores de risco. Além do teste ergométrico, podemos contar com recursos da medicina nuclear. O exame consiste em injetar no paciente uma substância radiativa que pode ser detectada pelos colimadores, a fim de verificar como ela se distribui pelo coração durante o período de repouso e de exercício. Se sob esforço aparecer uma área que capte menos essa substância e em repouso ela se apresentar normal, estamos diante de um sinal extraordinariamente valioso de que a circulação sanguínea está prejudicada nessa região.

Drauzio – Esse tipo de teste está disponível pelo SUS?
Adib Jatene – Está disponível na rede pública. No Incor, 80% dos exames são realizados pela clientela do SUS. Os 20% restantes, em geral, são feitos em pessoas que pertencem a convênios médicos.

Drauzio – Que outros exames ajudam no diagnóstico de alterações cardíacas?
Adib Jatene – Outro exame importante para detectar alterações cardíacas é o ecocardiograma, que possibilita avaliar o funcionamento das válvulas, do músculo e a presença de comunicações intercavitárias. No entanto, o teste de esforço permite identificar situações que o ecocardiograma não registra a não ser que se faça um eco de esforço. Esses exames todos fornecem elementos para orientar o diagnóstico e o tratamento que pode ser clínico ou cirúrgico.
Além desses, são fundamentais o exame de sangue para saber se o indivíduo tem hipercolesterolemia e o exame clínico para descobrir se ele é hipertenso ou tem um sopro cardíaco. Pode-se recorrer também à ressonância nuclear magnética e à tomografia de alta velocidade que mostram as artérias coronárias dispensando a realização de exames mais invasivos.
Quando se constatam alterações nesses exames preliminares, o paciente é encaminhado para a cinecoronariografia ou cateterismo, ou seja, um cateter é introduzido na artéria da perna ou do braço e atinge a raiz da aorta. A seguir, canula-se cada artéria coronária isoladamente e injeta-se contraste para verificar se existem obstruções. Se houver, conforme o caráter, o local e a posição, é possível colocar um stent, isto é, uma malha metálica que esmaga a placa de ateroma e mantém a artéria aberta. É a angioplastia hemodinâmica intervencionista. Lesões não adequadas para esse tipo de tratamento recebem indicação cirúrgica.

TRATAMENTOS INDIVIDUALIZADOS


Drauzio – Esses métodos para diagnóstico e tratamento são aquisições relativamente recentes no campo da cardiologia?
Adib Jatene – Todos esses elementos de auxílio ao diagnóstico apareceram não faz muito tempo, como não faz muito tempo que a cirurgia das coronárias era feita com circulação extracorpórea. No final da década de 1970, por exemplo, surgiu a angioplastia que evoluiu com a criação dos stents e hoje representa uma alternativa importante de tratamento.
Por outro lado, o desenvolvimento da terapêutica medicamentosa permitiu que o doente seja tratado clinicamente. Nossa posição é que o médico precisa conhecer bem o tipo de lesão coronária que o paciente apresenta para indicar o tratamento adequado e acompanhar a evolução da enfermidade. Dessa maneira, ganhamos muito em segurança e em possibilidades de solução.
Há quem julgue que tanto avanço complicou o tratamento. Eu, ao contrário, acredito que isso representa uma vantagem, uma vez que o médico pode escolher o que melhor se adapta ao psiquismo do doente e à sua condição socioeconômica. Por exemplo, existem dois tipos de válvulas cardíacas: a biológica feita com pericárdio de boi ou de porco preservado com glutaraldeído e montada num suporte e a mecânica, que hoje é de carvão pirolítico. A válvula mecânica pode durar 40/50 anos, mas requer que o paciente tome anticoagulante a vida toda. A válvula biológica tem durabilidade menor, de 10 a 12 anos em média, todavia não demanda o uso de anticoagulantes.
Considerando esses dados, numa criança de 10 ou 12 anos não se deve usar a válvula biológica por causa das trocas que se fazem necessárias com o correr dos anos. Já se a paciente é uma mulher em idade fértil, não se deve indicar a válvula mecânica porque, no caso de uma gravidez, é desaconselhado o uso de anticoagulante. Num homem de 50 anos, que more na zona rural e tenha dificuldade para tomar a medicação, a colocação da válvula mecânica também não é indicada, porque a anticoagulação mal controlada é muito pior do que a perspectiva de outra cirurgia.

Veja também: A malfadada carne

CARNE VERMELHA FAZ MAL? 


Drauzio – Qual é sua posição a respeito da carne vermelha como fator de risco na dieta das pessoas? 
Adib Jatene – Certa vez fui convidado para dar uma palestra sobre o consumo de carne vermelha em Uberaba, na Sociedade ABCZ e decidi estudar o assunto na Biblioteca da Faculdade de Saúde Pública. Procurei levantar a história da alimentação desde que o homem, há 10 mil anos, começou a lidar com a agricultura e a domesticar os animais.
Com isso, pretendia identificar como surgiu esse conceito de que a carne vermelha faz mal, uma vez que ela é vermelha porque contém ferro, um mineral que as pessoas precisam ingerir para refazer os glóbulos vermelhos do sangue.
Na verdade, o indesejável na ingestão de carne vermelha é a gordura que nela existe. Sem essa gordura, seria igual a qualquer outra carne. Se o indivíduo não apresenta dislipidemia, seu colesterol e triglicérides estão em níveis normais, pode comer carne vermelha sem nenhum problema. Precisa de controle e deve evitar o consumo dessa carne quem tem esses níveis alterados.

Drauzio  Um estudo feito no Japão mostrou que pessoas com colesterol total abaixo de 160 ml correm risco maior de apresentar acidente vascular cerebral, derrames hemorrágicos e alguns tipos de câncer.
Adib Jatene – Tudo na vida precisa ser feito com equilíbrio. Ninguém deve comer todos os dias uma picanha cheia de gordura, nem deve abolir o churrasco definitivamente de sua dieta. Além disso, a carne vermelha não só é adequada como é necessária para a alimentação de crianças e jovens em fase de crescimento.

Drauzio – Na literatura não existe nenhum estudo mostrando que quem come carne vermelha está mais sujeito a infartos do miocárdio. Trabalho publicado na revista Science deixa bem claro que não há respaldo científico para essa afirmação. 
Adib Jatene – Não existe mesmo. Procurei na literatura cuidadosamente e nada encontrei. Trata-se de uma afirmativa feita sabe-se lá por quem e que foi aceita sem muita discussão. Radicalismos são sempre inadequados em qualquer atividade ou ramo do conhecimento. Por exemplo, hoje muitas cirurgias de pontes de safena estão sendo feitas sem utilizar circulação extracorpórea, com o coração batendo, o que representa uma vantagem. No entanto, não se trata de uma técnica que pode ser usada em todos os doentes. Radicalizar numa situação dessas tem sempre inúmeros inconvenientes.

Cirurgia do coração e sua relação com o consumo de álcool

Cirurgia do coração e sua relação com o consumo de álcool 

Álcool pode fazer bem para cardíacos, diz pesquisa

 

Álcool pode fazer bem para cardíacos, diz pesquisa

domingo, 17 de novembro de 2019

O amor é mais falado do que vivido e por isso vivemos um tempo de secreta angústia

O amor é mais falado do que vivido e por isso vivemos um tempo de secreta angústia

Pensar Contemporâneo

Por Luciana Chardelli


O sociólogo polonês Zygmunt Bauman declara que vivemos em um tempo que escorre pelas mãos, um tempo líquido em que nada é para persistir. Não há nada tão intenso que consiga permanecer e se tornar verdadeiramente necessário. Tudo é transitório. Não há a observação pausada daquilo que experimentamos, é preciso fotografar, filmar, comentar, curtir, mostrar, comprar e comparar.
O desejo habita a ansiedade e se perde no consumismo imediato. A sociedade está marcada pela ansiedade, reina uma inabilidade de experimentar profundamente o que nos chega, o que importa é poder descrever aos demais o que se está fazendo.
Em tempos de Facebook e Twitter não há desagrados, se não gosto de uma declaração ou um pensamento, deleto, desconecto, bloqueio. Perde-se a profundidade das relações; perde-se a conversa que possibilita a harmonia e também o destoar. Nas relações virtuais não existem discussões que terminem em abraços vivos, as discussões são mudas, distantes. As relações começam ou terminam sem contato algum. Analisamos o outro por suas fotos e frases de efeito. Não existe a troca vivida.
Ao mesmo tempo em que experimentamos um isolamento protetor, vivenciamos uma absoluta exposição. Não há o privado, tudo é desvendado: o que se come, o que se compra; o que nos atormenta e o que nos alegra.
O amor é mais falado do que vivido. Vivemos um tempo de secreta angústia. Filosoficamente a angústia é o sentimento do nada. O corpo se inquieta e a alma sufoca. Há uma vertigem permeando as relações, tudo se torna vacilante, tudo pode ser deletado: o amor e os amigos.

quarta-feira, 13 de novembro de 2019

Tráfico de drogas



Não há mais a obrigatoriedade de pessoas condenadas por crime de tráfico de drogas iniciarem o cumprimento da pena no regime fechado, ou seja, a execução da pena ser em estabelecimento de segurança máxima ou média.
Para melhor compreensão sobre o assunto, farei breve análise das legislações pertinentes, bem como dos tipos e regimes de pena.
A Lei que determina a obrigatoriedade do inicio do cumprimento da pena em regime fechado para estes crimes é a 8.072, de 25 de julho de 1990. O artigo 2º, parágrafo 1o  da referida lei afirma que os crimes hediondos, a prática da tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins e o terrorismo terão suas penas cumpridas inicialmente em regime fechado.
Já a Lei 11.343, de 23 de agosto de 2006, Institui o Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas (Sisnad); prescreve medidas para prevenção do uso indevido, atenção e reinserção social de usuários e dependentes de drogas; estabelece normas para repressão à produção não autorizada e ao tráfico ilícito de drogas; define crimes e dá outras providências.
O artigo 33 desta Lei, afirma que caberá pena de reclusão de cinco a 15 anos para quem importar, exportar, remeter, preparar, produzir, fabricar, adquirir, vender, expor à venda, oferecer, ter em depósito, transportar, trazer consigo, guardar, prescrever, ministrar, entregar a consumo ou fornecer drogas, ainda que gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar.
Quanto a pena de reclusão, a mesma é tratada no artigo 33 do Código Penal, o qual define que a esta pena será cumprida em regime fechado, semi-aberto ou aberto.
Quanto ao regimes fechado, semi-aberto e aberto:
Regime fechado é aquele pelo qual a execução da pena deverá ser cumprida em estabelecimento de segurança máxima ou média. Iniciará o cumprimento neste regime, o condenado a pena superior a oito anos.
O condenado fica sujeito a trabalho no período diurno e a isolamento durante o repouso noturno. O trabalho será em comum dentro do estabelecimento, na conformidade das aptidões ou ocupações anteriores do condenado, desde que compatíveis com a execução da pena.
O trabalho externo é admissível, em serviços ou obras públicas.
No regime semi-aberto a execução da pena será em colônia agrícola, industrial ou estabelecimento similar. O condenado fica sujeito a trabalho em comum durante o período diurno nestes locais.
O condenado não reincidente, cuja pena seja superior a quatro anos e não exceda a oito, poderá, desde o princípio, cumpri-la em regime semi-aberto.
Quanto ao trabalho externo, é admissível, bem como a frequência a cursos supletivos profissionalizantes, de instrução de segundo grau ou superior.
No regime aberto a execução da pena será em casa de albergado ou estabelecimento adequado. Poderá o condenado não reincidente, cuja pena seja igual ou inferior a quatro anos, desde o início, cumpri-la neste regime.
O regime aberto baseia-se na autodisciplina e senso de responsabilidade do condenado. O condenado deverá, fora do estabelecimento e sem vigilância, trabalhar, frequentar curso ou exercer outra atividade autorizada, permanecendo recolhido durante o período noturno e nos dias de folga.
O condenado será transferido do regime aberto, se praticar fato definido como crime doloso, se frustrar os fins da execução ou se, podendo, não pagar a multa cumulativamente aplicada. Ante o exporto, conforme determina a legislação, será o condenado por tráfico de drogas a pena de reclusão de 5 a 15 anos, sendo o seu cumprimento desde já em estabelecimento de segurança máxima ou média.
Ocorre, que na data de 27 de junho do corrente ano, por maioria de votos, o Plenário do Supremo Tribunal Federal concedeu, durante sessão extraordinária realizada, o Habeas Corpus 111840 e declarou incidentalmente a inconstitucionalidade do parágrafo 1º do artigo 2º da Lei 8.072 de 25 de julho de 1990.
Assim, com base no recente entendimento do Supremo Tribunal Federal, poderá o condenado, conforme o caso concreto, cumprir a pena desde o seu início em regime menos gravoso que o fechado.

quinta-feira, 10 de outubro de 2019

Estados Unidos, principal financiador mundial do terrorismo

Estados Unidos, principal financiador mundial do terrorismo


Numerosos autores puseram em evidência o papel dos Estados Unidos no financiamento do terrorismo internacional desde a guerra do Afeganistão contra os Soviéticos,. No entanto, até à atualidade, tratava-se sempre de ações secretas, nunca assumidas na altura por Washington. Um passo decisivo foi franqueado com a Síria: O Congresso votou o financiamento e armamento de duas organizações representando a Al-Qaida. Aquilo que era até aqui um segredo de polichinelo tornou- se agora a política oficial do «país da liberdade»: o terrorismo.
| Damasco (Síria)

JPEG - 35.1 kb
Em violação das resoluções 1267 e 1373 do Conselho de segurança, o Congresso dos Estados Unidos votou o financiamento e o armamento da Frente al-Nosra e do Emirado islâmico do Iraque e do Levante, duas organizações relevantes da Al-Qaida e classificadas como «terroristas» pelas Nações Unidas. Esta decisão é válida até a 30 de setembro de 2014.
A primeira semana da Conferência de paz de Genebra 2 terá sido plena de fatos com saliência. Infelizmente, o público ocidental não recebeu nenhuma informação a respeito, vítima da censura que o oprime.
É com efeito o principal paradoxo desta guerra : as imagens são o inverso da realidade. Segundo os media internacionais o conflito opõe, de um lado os Estados reunidos em torno de Washington e de Riad que pretendem aplicar a democracia e conduzir a luta mundial contra o terrorismo, do outro a Síria e os seus aliados russos, inibidos pela pressão de serem difamados como ditaduras manipulando o terrorismo.
Se toda a gente sabe que a Arábia Saudita não é uma democracia, mas sim uma monarquia absoluta, a tirania de uma família e de uma seita sobre todo um povo, os Estados Unidos gozam da imagem de uma democracia e mais ainda de serem o « país da liberdade ».
Ora, a principal informação da semana foi censurada no conjunto dos Estados membros da Otan : o Congresso norte-americano reuniu-se secretamente para votar o financiamento e o armamento dos « rebeldes na Síria », até a 30 de setembro de 2014. Sim, leram bem. O Congresso tem sessões secretas que a imprensa não está autorizada a noticiar. É por tal que a informação, originalmente publicada pela agência britânica Reuters [1], foi escrupulosamente ignorada por toda a imprensa impressa e audio-visual dos Estados Unidos, e da maior parte dos media na Europa ocidental e no Golfo. Apenas os habitantes do « resto do mundo » tiveram a possibilidade de conhecer a verdade.
Ora a liberdade de expressão e o direito dos cidadãos à informação são, no entanto, pré-requisitos da democracia. Eles são mais respeitados na Síria e na Rússia que no Ocidente.
Como ninguém pôde ler a lei adotada pelo Congresso, ignora-se o que ela estipula exatamente. No entanto, é claro que os « rebeldes » em questão não buscam derrubar o Estado sírio —eles renunciaram a tal—, mas sim « sangrá-lo ». É por isso que eles não se comportam como soldados (de um exército regular), mas mais como terroristas. Leram bem mais uma vez : os Estados Unidos, aparentemente vítimas da Al-Qaida no 11 de Setembro de 2001 e, após isso, líderes da « guerra global contra o terrorismo », financiam o principal foco de terrorismo internacional onde agem duas organizações oficialmente subordinadas à Al-Qaida (a Frente al-Nosra e o Emirado islâmico do Iraque e do Levante). Não se trata mais, aqui, de uma manobra obscura dos serviços secretos, mas de uma lei plenamente assumida, mesmo se foi adotada à porta fechada de modo a não contradizer a propaganda oficial.
Por outro lado vê-se mal como a imprensa ocidental, que afirma desde há 13 anos que a Al-Qaida é a autora dos atentados do 11-Setembro e ignora a destituição do presidente George W. Bush nesse dia pelos militares, poderia explicar esta decisão ao seu público. Efetivamente o procedimento norte-americano de « Continuidade do governo » (CoG) é ele, também, protegido pela censura. De tal modo que os Ocidentais nunca tiveram conhecimento que, nesse 11 de Setembro, o poder foi transferido dos civis para os militares, das 10h da manhã até à noite, que durante esse dia os Estados Unidos foram dirigidos por uma autoridade secreta, em violação das suas leis e da sua constituição.
Durante a Guerra fria a CIA financiou o escritor George Orwell, enquanto ele imaginava a ditadura do futuro. Washington cria, assim, acordar as consciências para o perigo soviético. Mas, na realidade, nunca a URSS se pareceu com o pesadelo de « 1984 », enquanto os Estados Unidos se tornaram a incarnação disso.
O discurso anual de Barack Obama sobre o estado da União transformou-se, assim, num excepcional exercício de mentira. Diante dos 538 membros do Congresso, aplaudindo-o de pé, o presidente declarou : « Uma coisa não mudará : a nossa determinação para que os terroristas não lancem outros ataques contra o nosso país ». E ainda : « Na Síria apoiaremos a oposição que rejeita o programa das redes terroristas ».
Ora, quando a delegação síria em Genebra 2 submeteu, aquela que é suposta representar a sua « oposição », uma moção, exclusivamente baseada nas resoluções 1267 e 1373 do Conselho de segurança, condenando o terrorismo, aquela rejeitou-o sem provocar a menor observação de Washington. E não é para menos : o terrorismo significa os Estados Unidos, e a delegação da « oposição » recebe as suas ordens diretamente do embaixador Robert S. Ford, presente no local.
Robert S. Ford antigo assistente de John Negroponte no Iraque. No início dos anos 80 Negroponte atacou a revolução nicaraguense alistando milhares de mercenários que, misturados com alguns colaboradores locais, formaram os « Contras ». O Tribunal internacional de Justiça, quer dizer o tribunal interno das Nações Unidas, condenou Washington por esta ingerência não declarada. Depois, nos anos 2000, Negroponte e Ford recriaram o mesmo cenário no Iraque. Desta vez, tratava-se de aniquilar a resistência nacionalista usando o ataque pela Al-Qaida.
Enquanto em Genebra os Sírios e a delegação da « oposição » discutiam, em Washington o presidente prosseguia o seu exercício de hipocrisia, e lançava ao Congresso que o aplaudia mecanicamente : « Nós lutamos contra o terrorismo não sómente com a ajuda das inteligência e das operações militares, mas também ao permanecer fieis aos ideais da nossa Constituição e dando nisso o exemplo ao mundo (…) E, nós, continuaremos a trabalhar com a comunidade internacional, para fazer surgir o futuro que o povo sírio merece – um futuro sem ditadura, sem terror e sem medo ».
A guerra fabricada pela Otan e pelo CCG na Síria, fez já mais de 130.000 mortos — segundo as estatísticas do MI6 difundidas pelo Observatório sírio dos Direitos do homem—, da qual os carrascos atribuem a responsabilidade ao povo que lhes ousa resistir e ao seu presidente, Bachar el-Assad.
Tradução
Alva

1] “Congress secretly approves U.S. weapons flow to ’moderate’ Syrian rebels” (em inglês- « Congresso aprova secretamente fornecimento de armas dos E.U. para os rebeldes Sírios ’moderados’ »-ndT), por Mark Hosenball, Reuters, 27 de janeiro de 2014.

Cultura Grega

Cultura

Cultura Grega

A cultura grega foi imensamente rica. Teve muita influência no resto do mundo ocidental. O uso intenso de mármore nas obras, o desenvolvimento das sensibilidades e da estética o uma arquitetura harmoniosa foram características das artes gregas. A arquitetura tinha aspectos monumentais, como mostram o Paternon de Atenas e grande estátua de Zeus e Olímpia.
O teatro era muito apreciado na Grécia Antiga. As apresentações duravam oito horas diárias, e se estendiam por dois ou três dias seguidos. Periodicamente, eram realizados concursos de peças. Esses torneios chegavam a reunir de 15 a 20 mil pessoas. A construção de locais para exibição das peças estavam muito adiantadas. O teatro de epidauro, por exemplo, tem uma acústica tão boa que um assistente sentado na última fila da arquibancada consegue ouvir até os sons mais baixos, como o crepitar de uma chama no palco. (Veja mais em Teatro Grego).
As filas para se entrar nesses locais começavam a se formar no dia anterior da exibição e atravessavam a noite. Foram registrados casos de mulheres que deram a luz enquanto esperavam para ver uma peça. As obras eram de dois tipos, a comédia e a tragédia. Essa divisão perdura até os nossos dias.
Paternon - cultura gregaA história começou a ser estudada como ciência pelos gregos. Heródotos, natural da Ásia menor, escreveu o primeiro livro da história com fundamentos científicos e baseado em pesquisa. Tucídides, de Atenas, um militar, redigiu um eficiente relato da Guerra de Peloponeso.
Xenofonte preparou as Helênicas, uma história dos gregos até o século IV a.C.
Os gregos se dedicavam também a oratório. Falar em público era muito importante na sociedade grega. Um dos oradores mais célebres foi Péricles. Outro foi Demóstenes, gago até a adolescência. Corrigiu seu problema falando com a boca cheia de sementes ou pedrinhas tentando discursar mais alto do que o barulho das ondas do mar. Demóstenes foi o autor das Filípicas, uma obra contra o rei Filipe a Macedônia, que invadiu a Grécia.
A filosofia foi o grande legado do pensamento grego. Inicialmente os gregos tentaram explicar os fenômenos da natureza com justificativas mitológicas, ou seja, atribuíam os acontecimentos a atos dos deuses, heróis e semi-deuses. Os pensadores dos primeiros tempos são chamados de pré-socráticos, isto é, os que vieram antes de Sócrates. Junto com Platão e Aristóteles, Sócrates foi um dos maiores filósofos gregos.
Com desenvolvimento da cultura e maior disponibilidade de bens materiais, os filósofos passaram a buscar explicações racionais e organizadas para os acontecimentos. Sócrates, que viveu de 470 a 399 a.C, foi o primeiro a proceder dessa forma. Ele abalou tanto a sociedade de seu tempo que foi forcado pelas autoridades a suicidar-se, bebendo um preparado de uma planta chamada Cicuta. Os filósofos que viveram depois são chamados de Póssocráticos.
Os gregos explicavam as origem das coisas por meio de mitos. Sua religião era Antropomórfica, ou seja, seus deuses tinha forma humana. A religião grega era uma fusão de divindades locais e orientais.
Posteriormente, os romanos tomaram emprestadas essas divindades e mudaram seus nomes gregos para os nomes latinos.
Para os gregos, esses deuses viviam no monte Olimpo e tinha sentimentos e paixões como os seres humanos. Era, porem, imortais. Os semideuses ou heróis estavam entre os deuses e os homens e eram filho de Deuses com humanos. Tinha natureza meio humana e meio divina e uma maior forca física e inteligência do que os humanos. Entre eles, estavam Hércules, que representava a forca e foi responsável pelos lendários doze trabalhos.
Entre os principais deuses estavam Zeus, o rei dos deuses do Olimpo. Ele seria chamado mais tarde de Júpiter pelos romanos.
Outros deuses importantes eram Hera, mulher de Zeus e Atena, sua filha e protetora de Atenas, das artes e do saber; Apolo, deus da luz; Artemísia, deusa da caça;  Dionísio, deus do vinho; Hermes, protetor do comércio e Afrodite, deusa do amor e da beleza. O mar, muito importante, era representado por Posseidon . Os gregos acreditavam que as terras boiavam sobre o corpo desses deus e se ele quisesse poderia acabar com o mundo de um momento para a outro. Pã era o deus dos pastores.

Veja também:

Roma e Grécia Antiga

História

Roma e Grécia Antiga

As civilizações clássicas que compõem a Antiguidade Ocidental – Roma e Grécia – formaram a base de nossa civilização, ou seja, as sociedades ocidentais modernas. Em muitos campos, elas se confundem e, por isso, se tornaram conhecidas como cultura greco-latina.
Se da Grécia Antiga adotamos os conceitos políticos como monarquia, tirania, democracia, hegemonia e conceitos filosóficos como antropocentrismo, idealismo e racionalismo, da Roma Antiga adotamos o conceito de cidadania e justiça, a língua latina e suas derivações e o cristianismo.

Roma Antiga

A cidade de Roma, situada entre colinas e em local estratégico para a comunicação, foi o berço da civilização romana. Com o tempo, os romanos iniciaram sua expansão por todo o Mediterrâneo, que chamaram de mare nostrum (“mar nosso’’).

As origens de Roma

Por volta do II milênio a.C., a península Itálica, situada no sul da Europa e avançando pelo mar Mediterrâneo, começou a ser habitada por diferentes povos, dentre eles os latinos.
Esses povos ocuparam uma planície próxima ao rio Tibre, onde fundaram aldeias e à qual deram o nome de Lácio. Aos poucos, eles foram se agrupando em volta de seu povoado mais importante, Roma, que se tornou uma das maiores cidades da Antiguidade.
A civilização romana desenvolveu-se em torno do mar Mediterrâneo. Os romanos dominaram territórios situados nos três continentes banhados por esse mar – Europa, Ásia e África -, construindo um poderoso império.

A divisão da história romana

A civilização romana se estendeu desde a fundação da cidade, em 753 a.C, até o fim do Império Romano do Ocidente, em 476 d.C.
A história política da Roma Antiga divide-se em três fases:
Mapa da Roma Antiga
O Império Romano em sua maior extensão (século II)

Sociedade Romana

Os descendentes dos primeiros habitantes da península itálica eram os senhores das terras e ficaram conhecidos como patrícios.
Populações latinas também se dirigiram para aquele sítio e foram bem recebidas pelos antigos habitantes, que precisavam de mais braços naquele local. Estes foram nomeados clientes e podiam se misturar às famílias mais tradicionais por meio do casamento.
Por último, chegaram outros grupos não tão bem recebidos, mas que poderiam ficar para trabalhar nas terras dos patrícios, sem, contudo, terem terras próprias para seu sustento. Estes eram os plebeus.
Ainda existiam homens na condição de escravos, obtidos em campanhas militares dos latinos contra outras populações. Aqueles que eram capturados tornavam-se escravos em Roma. Contudo, a maior parte do trabalho, na monarquia, não era escravo, pois era desempenhado pelos homens livres e pobres, os plebeus.

O Direito romano

A legislação romana e seu sistema judiciário eram complexos. Para se ter uma ideia dessa complexidade, podemos assinalar a divisão do Direito romano em três divisões.
  • Jus naturale: afirmava os direitos naturais do homem que deveriam ser observados pelo Estado,
  • Jus civile: assinalava a existência dos direitos de cidadania, ou seja, os direitos constituídos no seio da sociedade humana em suas variadas relações, aí se encontrava a vida política.
  • Jus gentium: correspondia ao reconhecimento das especificidades dos povos abrigados pelo império romano, garantindo as tradições e as comemorações que marcavam identidades no interior da unidade romana.

O latim

Sem dúvida alguma, a língua romana foi uma peça importante de seu imperialismo. Povos submetidos deveriam, para participar da vida política, aprender a língua romana. Assim, o latim foi elemento de romanização do Império.
Adiante, com as invasões bárbaras, o latim permaneceu como referência de língua sagrada, adotado pela Igreja Católica, e também misturado às línguas germânicas dos grupos invasores. O resultado foi a formação de línguas chamadas de neolatinas faladas até hoje, como o português, o espanhol, o francês e o italiano moderno.

Literatura

A literatura romana foi muito desenvolvida, com a produção de textos poéticos e em prosa, mas os discursos políticos são os mais impressionantes desse universo literário.
Tito Lívio, Ovídio, Virgílio, Horácio, Cícero, Sêneca, o imperador Marco Aurélio são alguns dos nomes importantes do mundo intelectual romano. História, poesia, sátiras, filosofia e política foram campos de grande produção literária.

Religião

No campo religioso, antes da adoção do monoteísmo cristão, os romanos eram politeístas e seus deuses foram tomados dos gregos, latinizando-se os nomes. Além desses deuses, havia os protetores domésticos e o culto aos ancestrais.

Arquitetura

Na arquitetura, a influência grega também esteve presente. Entretanto, o espírito prático dos romanos destacou-se na construção de estradas, esgotos, aquedutos, estádios, colunas e arcos do triunfo.

Grécia Antiga

A sociedade grega se fixou na península Balcânica, região que apresenta um relevo montanhoso, o que favoreceu a formação de comunidades independentes umas das outras nos aspectos político, militar e econômico.
Em comum havia a língua, a religião, os usos e costumes. A cultura grega foi o elemento de união e de identificação do antigo povo grego. A confraternização geral entre os gregos era realizada nas festividades religiosas, que também envolviam competições esportivas e literárias.
A Grécia foi também o berço da democracia, já que as medidas administrativas eram discutidas e aprovadas pelo conjunto de cidadãos.
Mapa da Grécia Antiga
A Península Balcânica

Origem

Os primeiros habitantes da Grécia foram os pelágios, ou pelasgos, que ocupavam o litoral e estavam organizados em comunidades. Eles acabaram assimilados por povos indo-europeus que invadiram a península Balcânica a partir de 2000 a.C, episódio que originou a formação do povo grego.

A divisão da história grega

Tradicionalmente, a história política da Grécia Antiga é dividida em cinco períodos, conforme podemos ver abaixo:
  1. Período Pré-Homérico: Do século XX ao século XII a.C. – Civilização creto-micênica
  2. Período Homérico: Do século XII ao século VIII a.C. – Sistema gentílico
  3. Período Arcaico: Do século VIII ao século V a.C. – Surgimento das Cidades-Estado como Esparta e Atenas.
  4. Período Clássico: Do século V ao século IV a. C. – Guerras de hegemonia
  5. Período Helenístico: Do século IV ao século III a. C. – Domínio macedônico e intensos contatos com o Oriente

Sociedade grega

A sociedade grega estava dividida em cidadãos e não-cidadãos.
Os cidadãos, entre os quais havia pessoas muito ricas e outras mais humildes, desfrutavam de todos os direitos políticos, participavam da vida pública e eram obrigados a pagar impostos. Em Atenas, elevavam-se à categoria de cidadãos apenas os homens adultos filhos de país atenienses. Em outras cidades, como Esparta, por exemplo, existia uma nobreza que tinha autoridade social e política.
A maioria da população da Grécia Antiga, entretanto, era de não-cidadãos, que não gozavam de direitos políticos, a exemplo das mulheres, dos escravos e dos estrangeiros (metecos). Contudo, a situação variava:
  • Os estrangeiros, considerados livres, dedicavam-se principalmente ao comércio e ao artesanato. Pagavam impostos e faziam parte do exército, mas não possuíam terras nem casas.
  • Os escravos eram propriedade de uma família, constituindo importante força de trabalho no serviço doméstico e na agricultura. Por vezes eram prisioneiros de guerra ou filhos de escravos.
Os homens livres, cidadãos ou não, podiam se tomar soldados.

Religião

Os gregos eram politeístas e adeptos do antropomorfismo, isto é, seus deuses eram representados sob a forma humana em sua absoluta perfeição.
De acordo com a mitologia, os deuses possuíam todas as qualidades e defeitos dos mortais e, por serem deuses, essas virtudes e defeitos eram também em proporções divinas. Os deuses eram guerreiros violentos e vingativos, sujeitos ao ciúme, à inveja, à soberba, ao amor e ao ódio.
A trindade máxima era composta por Zeus, senhor da Terra e do céu, Poseidon, senhor dos mares e dos ventos, e Hades, senhor do mundo inferior e dos mortos.
O Monte Olimpo era considerado a morada dos deuses sob a presidência de Zeus, o deus mais importante, o deus dos deuses.

Arquitetura

O estilo arquitetônico grego, pela sua harmonia, composição simétrica e elegância, tem servido de modelo e de inspiração, atravessando tempo e distâncias.
  • O estilo jônico apresenta a coluna canelada, e o capitel levemente trabalhado.
  •  O estilo coríntio apresenta o capitel mais ornamentado.
  • O estilo dórico se caracterizou por apresentar colunas simples e sóbrias com capitel liso.

Escultura

Os gregos alcançaram a perfeição, demonstrando grande conhecimento da anatomia humana e animal.
As esculturas também eram utilizadas para adornar os templos. Fídias, amigo de Péricles, foi o escultor mais famoso, responsável pelas obras da Acrópole ateniense.

Pintura

Foi muito utilizada para decorar cerâmicas e retratava cenas religiosas, desportivas, militares e cotidianas.

Teatro

Os teatros eram auditórios ao ar livre e o público se sentava em bancos de pedra. Os gregos eram incentivados a frequentar o teatro, considerado parte essencial de sua educação.
Os gregos criaram dois gêneros: a tragédia e a comédia.
A tragédia era tida como a expressão mais nobre do teatro e significava “canto do bode”. Ela esmiuçava a natureza do mal, das contradições humanas, enfatizava as paixões humanas, mostrando o homem como joguete nas mãos dos deuses. Personagens divinos e humanos faziam parte das peças, mostrando suas preferências e suas contradições.
A comédia satirizava a política e os costumes da época. As peças eram encenadas por atores que utilizavam máscaras que identificavam o personagem como velho ou moço, homem ou mulher, feliz ou triste.
Diferentes máscaras permitiam ao ator interpretar vários papéis na peça.

Filosofia

No início, os mitos explicavam a origem do mundo e a realidade à sua volta, portanto tudo era consequência da vontade e do capricho dos deuses.
Com o tempo, os gregos passaram a buscar explicações racionais para esses acontecimentos na tentativa de compreender e explicar as coisas ao seu redor, nascendo, assim, a filosofia, isto é, o “amor ao saber”.
O apogeu da filosofia grega deu-se com Sócrates, Platão e Aristóteles.
Bibliografia: 
FUNARI, Pedro Paulo. Grécia e Roma: vida pública e vida privada. São Paulo: Contexto, 2011.

Por: Wilson Teixeira Moutinho

Comunismo

História

Comunismo

O Comunismo é uma doutrina e sistema econômico e social baseado na propriedade coletiva dos meios de produção.
Sistema social, político e econômico desenvolvido teoricamente por Karl Marx, e proposto pelos partidos comunistas como etapa posterior ao socialismo. Tem como ideal a primazia do interesse comum da sociedade sobre o de indivíduos isolados.
Esta noção surge já na Antiguidade. Os ideais comunistas acompanham a civilização cristã na Idade Média e no Renascimento. As grandes utopias sobre o comunismo surgem nos séculos XVI e XVII.
Conceitos a partir do pensamento dos Marxistas e do próprio governo comunista:

Comunismo marxista

O Manifesto Comunista, escrito em 1848 pelos pensadores alemães Karl Marx (1818-1883) e Friedrich Engels (1820-1895), afirma que o comunismo seria o estágio final da organização político-econômica humana.
A sociedade viveria num coletivismo, sem divisão de classes nem a presença de um Estado coercitivo.
Para chegar ao comunismo, os marxistas preveem um estágio intermediário de organização, o socialismo, que instala uma ditadura do proletariado para garantir a transição.
Essa ditadura promove a destruição completa da burguesia, abole as classes sociais e desenvolve as forças de produção de modo que cada indivíduo dê sua contribuição segundo sua capacidade e receba segundo suas necessidades.
Para os marxistas, a construção de uma situação de abundância permitiria a supressão dos salários e a extinção total do Estado.

Governos comunistas

Em 1917, a Revolução Russa instala no poder os defensores do comunismo. Sob a liderança do russo Vladimir Lenin (1870-1924), é estabelecida a ditadura do proletariado e o Partido Comunista controla o governo com o objetivo de fazer a transição entre o capitalismo e o socialismo.
Os princípios e métodos adotados são conhecidos como leninismo. Com a morte de Lenin, assume o político Josef Stalin (1879-1953).
Ele suprime a oposição, promove a coletivização da terra, a industrialização acelerada, o planejamento centralizado e controla os partidos comunistas de todo o mundo. Sua política é chamada de stalinismo.
Governo comunista de Stalin
Josef Stalin
Após a 2ª Guerra Mundial (1939-1945), comunistas tomam o poder nos países do Leste Europeu libertados do nazismo pelo Exército soviético. Em 1949, os comunistas liderados por Mao Tsé-tung (1893-1976) tomam o poder na China.
O sistema se espalha por vários países do sudeste asiático e da África e em Cuba. Na década de 80, os governos chinês e soviético passam a adotar alguns princípios capitalistas, como a permissão para pequenas propriedades privadas.
Com a queda do Muro de Berlim, em 9 de novembro de 1989, a dissolução da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas e a formação da CEI (Comunidade de Estados Independentes), em 1991, os governos comunistas entram em crise. (Veja mais em: Fim da União Soviética e a CEI).

Por: Marina Pascon Capelas

Socialismo Científico – Marx e Engels

Política

Socialismo Científico – Marx e Engels

Destacou-se no período da Ordem da Revolução Industrial, preocupado em analisar o modo de produção capitalista, o alemão Karl Marx (1818-1883), que fundou a teoria do socialismo científico. Sua fama cresceu a partir da publicação da obra Manifesto do Partido Comunista, em 1848, escrita com Friedrich Engels (1820-1895).
Eles analisaram e criticaram o capitalismo, propondo uma nova forma de organização político-econômica da sociedade, pois consideravam que esse sistema de produção criava profundas injustiças sociais e que não bastava reformá-lo para alcançar a igualdade entre os homens. Seus principais pontos de análise eram:
  • O capitalismo é uma forma de produção histórica e social específica de uma época. Sua origem pode ser estabelecida e o seu fim histórico pode ser previsto.
  • A morte desse modo de produ­ção vai ocorrer quando a clas­se operária, por meio de um processo revolucionário, al­cançar o poder econômico e político (socialização dos meios de produção), instau­rando uma “ditadura” do pro­letariado.
  • Em sua fase de maturida­de, o capita­lismo apre­sentará uma tendência à concentração do capital, com a consequente e pro­gressiva eliminação da concorrência, gerando mono­pólios.
  • O sistema capitalista assenta-se na propriedade privada e na exploração do trabalho. A miséria dos trabalhadores é proporcional à concentração monopolista do capital.
Retrato de Marx e Engels, fundados do socialismo científico.Marx e Engels afirmaram que as transformações dos modos de produção são determinadas por leis históricas, fruto do desenvolvimento das forças produtivas. Dessa forma, defendiam a ideia de que a classe operária deveria se organizar e por meio de uma revolução introduzir uma nova forma de organização econômica e política. Esse processo revolucionário passaria por duas fases. Veja tabela abaixo.
Fase socialistaFase comunista
  • planejamento econômico
  • propriedade estatal e coletiva
  • ditadura revolucionária do proletariado
  • possível Estado burocrático
  • sistema mundial
  • propriedade social dos meios de produção
  • igualdade social (ausência de classes)
  • desaparecimento do Estado
“A cada um de acordo com seu trabalho.”“A cada um de acordo com suas necessidades.”
A fase socialista seria instalada imediatamente após o capitalismo, quando a classe trabalhadora tomasse o poder e criasse um Estado proletário. Nesse momento a cultura ainda estaria impregnada pelos valores da sociedade capitalista, e os trabalhadores receberiam um salário pelo seu trabalho, o que talvez não satisfizesse as suas necessidades.
Na fase comunista, o Estado desapareceria e o sistema político-econômico seria mundial. Novos valores culturais e sociais surgiriam, e o trabalho seria remunerado segundo as necessidades de cada um, criando uma sociedade igualitária, sem classes sociais e sem fronteiras.
Antes que o socialismo se tornasse uma prática, ou seja, um Estado passasse a utilizar essa teoria para se organizar (Revolução Russa de 1917), ele se tornou a fonte de inspiração de diversos movimentos sociais que passaram a ocorrer em muitos países do mundo, mas especialmente na Europa, dando força aos movimentos sindicais do século XIX e impulsionando a formação de partidos políticos que defendiam as classes trabalhadoras.
A teoria do socialismo científico foi baseada na filosofia alemã, a partir da qual Marx concebeu o materialismo dialético, no socialismo utópico francês, que fundamentou as suas bases humanistas, e na economia política inglesa, que deu subsídios para a análise crítica do capitalismo.
Mais tarde, durante o século XX, o sistema socialista de produção, com diferentes formas de organização, passou a ser praticado em muitos países, chegando a envolver uma elevada parcela da população mundial. Ainda hoje, mesmo após o desaparecimento de muitos países socialistas, algumas nações ainda mantêm sistemas político-econômicos que se afirmam socialistas.
Há, porém, muita controvér­sia sobre esse assunto, pois alguns estudiosos asseguram que o verdadeiro socialismo proposto por Marx jamais foi implantado. Outros destacam que não importa se o socialismo existiu ou não durante o século XX.
]O que importa, verdadeira­mente, é que as condições eco­nômicas e sociais na qual vive hoje a maior parte da população do mundo mostram claramente que o sistema capitalista não resolveu os problemas humanos básicos, cabendo, portanto, uma discussão sobre a sua reformu­lação e/ou sua eliminação e substituição por uma nova for­ma de organização da sociedade. Para os que acreditam nisso, o socialismo é ainda uma pro­posta a ser pensada e colocada em prática.

Por: Renan Bardine

Teoria Marxista – Marxismo

História

Teoria Marxista – Marxismo

Foi no estado alemão, agitado e cheio de problemas, que nasceu o marxismo. Essa teoria não foi concebida apenas por Karl Marx (1818 – 1883), ele teve uma colaboração ideológica e financeira de Friedrich Engels (1820 – 1895).
Eles escreveram em parceria o Manifesto Comunista (1848) e A ideologia alemã. Algumas das obras de Marx foram: O 18 Brumário de Luís Bonaparte, Contribuição à crítica da economia política, e a mais importante que foi O Capital. Já Engels escreveu Anti-Duhring, A dialética da natureza, A origem da família, da propriedade privada e do Estado e outras.
Eles formularam seu pensamento baseado na realidade social da sua época, que era de um grande avanço técnico e aumento do controle da natureza pelo homem mas por outro lado, a classe trabalhadora sofria mais opressão e ficava cada vez mais pobre. Sua doutrina partiu do estudo dos economistas ingleses Adam Smith e David Ricardo e da filosofia de Hegel.
Essa doutrina se compõe de uma teoria científica, o materialismo histórico, e de uma teoria filosófica, o materialismo dialético. Segundo o materialismo,  o mundo material é anterior ao espírito e este deriva daquele. Marx chama de infra-estrutura a estrutura material da sociedade, sua base econômica, que consiste nas formas pelas quais os homens produzem os bens necessários à sua vida.
Teoria MarxistaA superestrutura corresponde à estrutura jurídico-política e a estrutura ideológica. A posição do marxismo, é que a infra-estrutura determina a superestrutura, mas ao tomar conhecimento das contradições, o homem pode agir ativamente sobre aquilo que o determina. As manifestações da superestrutura passam a ser determinadas pelas alterações da infra-estrutura decorrentes da passagem econômica do  sistema feudal para o capitalista. O movimento dialético da história se faz por um motor, que é a luta de classes. Essa luta acontece porque as classes tem interesses antagônicos. No modo de produção capitalista essa relação de antagonismo se dá porque o capitalista detém o capital e o operário não possui nada, tendo que vender a sua força de trabalho.
A partir desse ponto, Marx formula uma de suas conceitos mais conhecidos que é a mais-valia. Esse mais-valia é concebida quando o trabalhador vende ao capitalista a sua força de trabalho por um valor estipulado num contrato. Acontece que ele produz mais do que esperado, e como ele fica com tempo disponível dentro da empresa ele produz um excedente que é a mais-valia. Essa mais-valia não é dividido com o trabalhador e fica nas mãos do capitalista que vai acumulando o capital. A mais-valia é portanto o valor que o trabalhador cria além de sua força de trabalho e é apropriado pelo capitalista.
Outro conceito que Marx constrói é o da alienação. O trabalhador quando vende a sua força de trabalho se torna estranho ao produto que concebeu. Essa perda do produto causa outras perdas para o trabalhador, como a separação da concepção e execução do trabalho, e ainda com o avanço tecnológico, ele fica sujeito ao ritmo da linha de montagem, não tendo controle sobre o seu ritmo normal de trabalho. Para que o trabalhador não se revolte, o capitalismo usa de mecanismos de introdução de ideologia na cabeça das pessoas, para que estas se conformem com a situação de desigualdade.

O Socialismo

Para Karl Marx, a classe operária, organizada em um partido revolucionário, deverá destruir o Estado burguês e organizar um novo Estado capaz de acabar com a propriedade privada nos meios de produção. Esse novo Estado, que ele chama de ditadura do proletariado, deverá liquidar a classe burguesa no mundo inteiro. Essa primeira fase é chamada de socialismo, precisa de um aparelho estatal burocrático, um aparelho repressivo e um aparelho jurídico. É nessa fase que se dará a luta contra a antiga classe dominante, para se evitar a contra-revolução. O princípio do socialismo é: “De cada um, segundo sua capacidade, a cada um segundo seu trabalho”.
A segunda fase, é chamada de comunismo, e se define pelo fim da luta de classes e consequentemente o fim do Estado. Haveria um desenvolvimento prodigioso das forças produtivas, que levaria a uma era de abundância, ao fim da divisão do trabalho em trabalho material e intelectual, e a ausência de contraste entre cidade e campo e entre indústria e agricultura. O princípio do comunismo é: “De cada um, segundo sua capacidade, a cada um, segundo suas necessidades”. Com a passagem para o comunismo, a luta de classes não mais seria entre dominantes e dominados, e sim entre as forças progressistas e as forças conservadoras.

Correntes marxistas contemporâneas e as aplicações do método marxista

Lênin ( 1870 – 1924 ), teórico do marxismo, cujo verdadeiro nome era Vladimir Ilitch Ulianov,  foi também um revolucionário. Quando os socialistas revolucionários, liderados pelos mencheviques, derrubaram os o czarismo em março de 1917, Lênin se encontrava exilado na Suíça. Retornando à Rússia, liderou a facção dos bolcheviques, que tomou o poder em outubro do mesmo ano. O seu propósito era restabelecer a verdadeira concepção de Marx e Engels, deformada pela Segunda Internacional ( 1889 – 1914 ), a partir da qual alemães e franceses apoiaram a guerra imperialista de 1914.
Ele também rompeu com o teórico alemão Kautsky, acusando-o de oportunismo e de adotar posições não revolucionárias, além de imprimir interpretações positivistas e não dialéticas ao pensamento marxista. Propunha a quebra do Estado burguês pela violência e instaurar a ditadura do proletariado, e foi contra os anarquistas que achavam necessário abolir o Estado imediatamente. Sob o seu comando, a Rússia se tornou União Soviética, onde acabou com a propriedade privada, planificou a economia, fez reformas agrárias, nacionalizou bancos e fábricas.
Leon Trótski (1879 – 1940) foi companheiro de Lênin nas lutas de 1917, e defendia revolução permanente, que significa o prolongamento da luta de classes em nível nacional e internacional, que gerará a guerra civil interna e a guerra revolucionária externa. Trótski foi muito perseguido pelo seu maior inimigo, Stálin, e refugiou-se no México, onde foi assassinado por um stalinista.
Joseph Stálin (1879 – 1953), foi o sucessor de Lênin no poder da URSS e fortaleceu o Estado ao ponto de transformá-lo num regime totalitário. Imprimiu ao socialismo um caráter fortemente nacionalista, fortaleceu a polícia e o exército e desenvolveu o culto à personalidade. Esteve menos preocupado com a teoria e mais com a formulação de máximas de ação. Após sua morte, Kruchev assumiu o poder e promoveu o processo de desestalinização.
Rosa Luxemburg (1871 – 1919), natural da Polônia, ajudou na formação da Liga Espartaquinista e fundou o Partido Comunista Alemão. Defendia a tese da espontaneidade das massas e criticava o partido único, cuja consequência é o governo ditadorial de uma minoria. Alertou severamente sobre os perigos da burocracia, que poderia levar à supressão da democracia.
Antônio Gramsci (1891 – 1937) foi um dos mais importantes teóricos italianos, preso durante catorze anos pela ditadura fascista. Mesmo no cárcere, onde ficou até a morte, escreveu muito, enfatizando a crítica ao dogmatismo do marxismo oficial, que ao petrificar a teoria, impedia a prática revolucionária.

Autoria: Cristiane Rubão

Materialismo Dialético

Filosofia

Materialismo Dialético

Baseado em Demócrito e Epicuro sobre o materialismo e em Heráclito sobre a dialética (do grego, dois lógos, duas opiniões divergentes), Marx defende o materialismo dialético, tentando superar o pensamento de Hegel e Feuerbach.
A dialética hegeliana era a dialética do idealismo (doutrina filosófica que nega a realidade individual das coisas distintas do “eu” e só lhes admite a ideia), e a dialética do materialismo é posição filosófica que considera a matéria como a única realidade e que nega a existência da alma, de outra vida e de Deus. Ambas sustentam que realidade e pensamento são a mesma coisa: as leis do pensamento são as leis da realidade. A realidade é contraditória, mas a contradição supera-se na síntese que é a “verdade” dos momentos superados. Hegel considerava ontologicamente (do grego onto + logos; parte da metafísica, que estuda o ser em geral e suas propriedades transcendentais ) a contradição (antítese) e a superação (síntese); Marx considerava historicamente como contradição de classes vinculada a certo tipo de organização social. Hegel apresentava uma filosofia que procurava demonstrar a perfeição do que existia (divinização da estrutura vigente); Marx apresentava uma filosofia revolucionária que procurava demonstrar as contradições internas da sociedade de classes e as exigências de superação.
Ludwig Feuerbach procurou introduzir a dialética materialista, combatendo a doutrina hegeliana, que, a par de seu método revolucionário concluía por uma doutrina eminentemente conservadora. Da crítica à dialética idealista, partiu Feuerbach à crítica da Religião e da essência do cristianismo.
Feuerbach pretendia trazer a religião do céu para a Terra. Ao invés de haver Deus criado o homem à sua imagem e semelhança, foi o homem quem criou Deus à sua imagem. Seu objetivo era conservar intactos os valores morais em uma religião da humanidade, na qual o homem seria Deus para o homem.
Adotando a dialética hegeliana, Marx, rejeita, como Feuerbach, o idealismo, mas, ao contrário, não procura preservar os valores do cristianismo. Se Hegel tinha identificado, no dizer de Radbruch, o ser e o deve-ser (o Sein e o Sollen) encarando a realidade como um desenvolvimento da razão e vendo no deve-ser o aspecto determinante e no ser o aspecto determinado dessa unidade.
A dialética marxista postula que as leis do pensamento correspondem às leis da realidade. A dialética não é só pensamento: é pensamento e realidade a um só tempo. Mas, a matéria e seu conteúdo histórico ditam a dialética do marxismo: a realidade é contraditória com o pensamento dialético. A contradição dialética não é apenas contradição externa, mas unidade das contradições, identidade: “a dialética é ciência que mostra como as contradições podem ser concretamente (isto é, vir-a-ser) idênticas, como passam uma na outra, mostrando também porque a razão não deve tomar essas contradições como coisas mortas, petrificadas, mas como coisas vivas, móveis, lutando uma contra a outra em e através de sua luta.” (Henri Lefebvre, Lógica formal/ Lógica dialética, trad. Carlos N. Coutinho, 1979, p. 192). Os momentos contraditórios são situados na história com sua parcela de verdade, mas também de erro; não se misturam, mas o conteúdo, considerado como unilateral é recaptado e elevado a nível superior.
Marx acusou Feuerbach, afirmando que seu humanismo e sua dialética eram estáticas: o homem de Feuerbach não tem dimensões, está fora da sociedade e da história, é pura abstração. É indispensável segundo Marx, compreender a realidade histórica em suas contradições, para tentar superá-las dialeticamente. A dialética apregoa os seguintes princípios: tudo relaciona-se (Lei da ação recíproca e da conexão universal); tudo se transforma (lei da transformação universal e do desenvolvimento incessante); as mudanças qualitativas são consequências de revoluções quantitativas; a contradição é interna, mas os contrários se unem num momento posterior: a luta dos contrários é o motor do pensamento e da realidade; a materialidade do mundo; a anterioridade da matéria em relação à consciência; a vida espiritual da sociedade como reflexo da vida material.
O materialismo dialético é uma constante no pensamento do marxismo-leninismo (surgido como superação do capitalismo, socialismo, ultrapassando os ensinamentos pioneiros de Feuerbach).

Estoicismo

Filosofia

Estoicismo

O estoicismo é uma das linhas mais fecundas da filosofia helenística. A doutrina estoica estende-se ao longo de seiscentos anos, entre os séculos IV a.C. e II d.C. Seu fundador foi Zenão de Cítio (c. 335-263 a.C.), que nasceu na ilha de Chipre.
O estoicismo pode ser dividido em três períodos: antigo, médio e romano. No antigo destacaram-se Zenão de Cítio (c. 335-263 a.C), Cleanto de Assos (c. 331-232 a.C.) e Crisipo de Solis (c. 280-207 a.C.). No médio, Panécio de Rodes (c. 185-109 a.C.) e Posidônio de Apameia (c. 135-51 a.C). Os nomes mais importantes da época romana foram Sêneca de Córdoba (c. 4-65), Epiteto de Hierápolis (c. 55-135) e Marco Aurélio (c. 121-180).

A lógica estoica

Ao lado do Organon, de Aristóteles, a lógica estoica é uma das contribuições de grande interesse no desenvolvimento da lógica contemporânea. A diferença é que, para Aristóteles, trata-se mais de uma lógica de termos, ao passo que os estoicos desenvolvem uma lógica proposicional, baseada não tanto em nomes, mas no modo de dizê-los nas proposições.
Eles diferenciavam o signo ou significante (semainon), a coisa significada (semainómenon), e o significado (lekton) ou aquilo que se diz. O significante e a coisa são materiais, mas o significado é imaterial, algo entre a realidade das coisas e a realidade das palavras.
Morte de Sêneca, pintura de Rubens.
Pintura Morte de Sêneca. Sêneca foi uma das figuras mais importantes do estoicismo romano.

A ética: eudaimonia

A ética estoica estabelece a felicidade ou eudaimonia como princípio fundamental.
A expressão maior da virtude é viver conforme a natureza e isso é motivo de felicidade. Essa concordância é racional e coincide com a razão ou logos da vida e da natureza, entendida como o universo inteiro, com sua harmonia e plenitude (Diógenes Laércio, VII, 87).
Esse ponto marca uma importante diferença entre estoicismo e epicurismo. Enquanto este último afirma o sentido da vida, aceitando exclusivamente as condições do “aqui e agora”, o estoicismo defende uma identificação com um logos que reside além da natureza humana. A concordância é feita envolvendo o indivíduo em uma harmonia universal.
A felicidade, assim, é estabelecida em níveis mais teóricos do que a concreta projeção nos limites do próprio corpo, como os epicuristas pretendiam. Ser feliz é, pois, ser virtuoso e entender o momento supremo do homem na adequação com o logos, a razão universal, isso proporciona autonomia. Quem a consegue é sábio. O homem independente entende o além das coisas e contrapõe-se ao ignorante.

A física estoica

Uma das ideias centrais do estoicismo é a unidade do real. A natureza e a razão são uma só coisa. O desenvolvimento da vida e da natureza está cheio de racionalidade e coerência, mas somente é real o que tem corpo, mesmo que haja um pneuma ou sopro universal que tudo preenche e que pode identificar-se com a divindade.

Períodos e nomes:

Estoicismo antigo

  • Zenão de Cítio (c. 335-263 a.C.)
  • Cleanto de Assos (c. 331-232 a.C.)
  • Crisipo de Solis (c. 280-207 a.C.)

Estoicismo médio

  • Panécio de Rodes (c. 185-109 a.C.)
  • Posidônio de Apameia (c. 135-51 a.C.)

Estoicismo romano

  • Sêneca de Córdoba (c. 4-65 d.C.)
  • Epiteto de Hierápolis (c. 50-135 d.C.)
  • Marco Aurélio (c. 121-180 d.C.)
Por: Roberto Braga Garcia

Immanuel Kant

Filosofia

Immanuel Kant

Biografia

Immanuel Kant nasceu em Königsberg, no ano de 1724. Königsberg, então, era uma cidade da Prússia Oriental que, a partir de 1871, integrou o Império Alemão. Após a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), essa região foi dominada pela União Soviética e atualmente pertence à Rússia.
Kant viveu solteiro e passou a maior parte de sua vida em sua cidade natal, onde se formou em filosofia e foi professor e reitor. Mantinha hábitos interessantes, como o de passear sempre no mesmo horário, a ponto de as pessoas acertarem seus relógios a partir de seus passeios.
Kant foi o primeiro filósofo a ser professor universitário, condição criticada por outros filósofos alemães como Schopenhauer – este argumentava que o filósofo perdia sua autonomia de pensamento quando se vinculava a uma instituição como a universidade.
Entre as obras mais importantes de Kant, destacam-se Crítica da razão pura, Princípios fundamentais da metafísica dos costumes, Crítica da razão prática e Crítica do juízo.

A filosofia de Kant

Não seria exagero afirmar que a importância de Kant para a filosofia universal é semelhante à de Platão. Sua filosofia tem como característica duas fases: a pré-crítica (1755-1780) e a crítica (1781-1800). Na fase pré-crítica, é marcante sua afinidade com o pensamento metafísico e racionalista predominante na pré-Alemanha. Mas, após a leitura de Hume, Kant “despertou de seu sono dogmático”, iniciando a fase crítica de sua obra. Por isso, a filosofia kantiana é conhecida como criticismo.
Retrato de Kant.
Immanuel Kant
Kant pretendeu superar a discussão entre racionalistas e empiristas, redefinindo os limites entre fé e razão. Também propôs as bases para a constituição da moral, como veremos mais adiante. Poderíamos resumir a filosofia kantiana em quatro questões básicas:
  • Como se pode conhecer?
  • Como agir?
  • O que esperar?
  • O que é o homem?
A primeira questão é respondida por Kant de uma forma tão revolucionária quanto foi a representação de Nicolau Copérnico (1473-1543) para a astronomia e para o Renascimento Científico em geral.
Enquanto Copérnico colocou o Sol no centro do universo (teoria heliocêntrica), em oposição aos gregos e aos medievais que afirmavam ser a Terra o centro do universo, enquanto o Sol se movimentava em torno dela – teoria geocêntrica – Kant colocou a razão no centro de suas análises, partindo do pressuposto de que era necessário perceber o que ela é, o que ela pode ou não conhecer, quais são os seus limites, quais são as suas relações com a experiência, e assim por diante. Não se trata de conhecer o mundo e as coisas que existem nele, seja por meio da razão, seja por meio da experiência: trata-se, primeiro, de conhecer a própria razão.
Em Kant, a dualidade “racionalismo-empirismo” é superada por uma harmonia entre os sentidos e a razão, a fim de que possamos conhecer melhor nós mesmos e o mundo. Ele afirma que não somos capazes de conhecer inteiramente os objetivos reais e que o nosso conhecimento sobre esses objetos reais é fruto do que somos capazes de pensar sobre eles. Nosso conhecimento é limitado pelas noções de espaço e de tempo inerentes à nossa razão e às quais estamos presos.
E há determinadas coisas que os seres humanos não podem conhecer de fato, no sentido filosófico. Um exemplo disso é Deus. Ao contrário de Descartes, que afirmava a existência de Deus por meio da razão, Kant afirma ser impossível essa afirmação, uma vez que a concepção de Deus está fora dos limites racionais.
Mas Kant não nega e existência de Deus (aliás, ele era bastante religioso). Sua preocupação é demonstrar que essa não deve ser uma preocupação da filosofia, já que esta deve limitar-se ao que realmente possa ser conhecido por meio de uma combinação da razão com os sentidos.
A filosofia kantiana acaba sendo uma terceira via, en­quanto resultado de uma síntese entre o racionalismo carte­siano e o empirismo britânico, sobretudo o de Hume.
Para Kant, o “ser em si” não existe, ou seja, não existe um mundo independente do sujeito. O objeto a ser conhecido só existe em função de um sujeito que o conhece. Voltando à comparação feita por vários autores entre Copérnico e Kant, enquanto o primeiro eliminou a crença do homem de que a Terra era o centro do universo, deixando o homem reduzido diante da imensidão universal, o segundo libertou o homem do universo ao qual se encontrava preso e deu a esse mesmo homem uma nova direção: o próprio homem. Assim, deu início também a uma nova concepção de metafísica.

Por: Wilson Teixeira Moutinho