segunda-feira, 8 de março de 2021

EUGENIA

 

  • BIOLOGIA
  • GENÉTICA
  • Eugenia

    Lana Magalhães

    A eugenia é a seleção dos seres humanos com base em suas características hereditárias com objetivo de melhorar as gerações futuras.

    O termo foi criado pelo cientista inglês Francis Galton (1822 - 1911), em 1883.

    A palavra eugenia deriva do grego e significa "bom em sua origem ou bem nascido".

    A eugenia defende que raças superiores e de melhores estirpes conseguem prevalecer maneira mais adequada ao ambiente.

    Com isso, busca-se aplicar a teoria da seleção natural de Charles Darwin (1809 - 1882) à espécie humana.

    Histórico

    A prática da eugenia é antiga. Por exemplo, Platão, em "A República", defendia o método como forma de melhorar os seres humanos por meio da permissão seletiva à vida.

    Para o filósofo, a reprodução humana deveria ser controlada e monitorada pelo Estado.

    Antes da Primeira Guerra Mundial, essa teoria recebia apoio irrestrito de políticos e cientistas e compôs a legislação de 30 estados norte-americanos até metade do século 20.

    Os questionamentos só ocorreram ao fim da Segunda Guerra Mundial, em que os nazistas foram acusados de esterilizar 140 mil judeus compulsoriamente e matar 6 milhões nos campos de concentração.

    Estudos

    A eugenia foi objeto de estudo de muitos cientistas e pesadores.

    Como ciência, a eugenia ocupou o centro do debate e das pesquisas científicas no início de 1900. O objetivo era determinar como as características humanas eram herdadas e como influenciavam o meio social.

    Por exemplo, Francis Galton propõe um sistema de casamentos arranjados em que o resultado seria uma raça melhor dotada, uma ação denominada de eugenia positiva.

    Enquanto isso, a eugenia negativa consiste na eliminação do indivíduo inadequado.

    As ideias de perfeição genética se basearam nas teorias de Charles Darwin (1809 - 1882), sobre a origem e evolução das espécies e seleção natural pelo ambiente.

    Os estudos voltaram a ganharam força com a redescoberta dos trabalhos de Gregor Mendel (1822 - 1884), que conseguiu provar a transmissão das características entre as gerações.

    Outro entusiasta da eugenia era o matemático Karl Pearson (1857 - 1936), que criou a biometria e aperfeiçoou os estudos que embasam a estatística em biologia.

    Ele ainda acreditava que as elevadas taxas de natalidade de pessoas pobres era uma ameaça à civilização e, para evitar um colapso, as raças superiores deveriam suplantar as inferiores.

    Saiba mais, leia também:

    Eugenia nazista

    As ideias americanas seduziram os integrantes do Partido Nazista que a partir de 1930 iniciaram o trabalho para eliminar os indivíduos considerados inferiores e se utilizaram da esterilização.

    A higiene racial nazista ultrapassou a prevenção aos nascimentos e embasou a construção dos campos de concentração onde judeus eram eliminados industrialmente.

    Somente durante os julgamentos de Nuremberg a eugenia foi estigmatizada e os EUA retiraram a prática de sua política oficial, mudando nomes de institutos e condenando as atividades de esterilização.

    As leis que apoiavam a eugenia foram revogadas nos EUA a partir de 1973.

    Eugenia no Brasil

    O Brasil foi o primeiro país da América do Sul a adotar as ideias de eugenia.

    Ela baseava-se no racismo e na justificativa do fim à imigração como meio de garantir uma raça superior.

    Com esse pensamento, o Rio de Janeiro sediou em 1929 o Primeiro Congresso de Eugenia do Brasil e a discussão permeou questões biológicas e sociais.

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    Lana Magalhães
    Lana Magalhães
    Licenciada em Ciências Biológicas (2010) e Mestre em Biotecnologia e Recursos Naturais pela Universidade do Estado do Amazonas/UEA (2015). Doutoranda em Biodiversidade e Biotecnologia pela UEA.

    Causas e Efeitos






    Causas e Efeitos


    [evangelista da silva]


    Que mais doi em mim,

    não é não ter abraçado.

    É saber que, muitos que

    não tinham braços,

    Usaram do corpo

    e abraços.


    Santo Antônio de Jesus, 08 de março de 2021, às 19h21min.




    domingo, 7 de março de 2021

    Meditando



    Meditando


    [evangelhista da silva]


    Estou a observar artistas 

    alegres felizes a cantar.


    Ocorre que todos se foram.


    São estrelas que se apagaram

    mas que, certamete, todas brilham

    alegres felizes cantando.


    Infinitamente em outras plagas

    ainda que tristes infelizes cantam.


    Santo Antônio de Jesus, 07 de março de 2021, às 19h.


    quarta-feira, 3 de março de 2021

    O Sorrir







    O Sorrir



    [evangelhista da silva]



    A alegria que em mim existia não sei.

    Sequer encontro em outras pessoas.


    Eu sou o mundo perdido em mim mesmo.

    E nele, a morte sinfônica do amar.



    Santo Antônio de Jesus, 03 de março de 2021, às 20h 44min

    sábado, 20 de fevereiro de 2021

    Ela se Foi



    Ela se Foi



    [evangelhista da Silva]



    O vento da felicidade se foi

    impossível é alcancá-lo. 

                                                                                                                            

    Só nos resta tormento,

    e viver saudades mortas.


    Elas se vão alegres sempre

    se ao menos morressem...


    Valeria a pena.


    Santo Antônio de Jesus, 20 de fevereiro de 2021, às 11h 55min.


    domingo, 14 de fevereiro de 2021

    Ela


     

     Ela

     

     [evangelhista da silva]

     

     

    Imagine só

    você empresta sua vida a mulher

    com direito a possuí-la.

     

    E ela lho devolve 

    desgraçadamente humilhada

    destruída.


    Santo Antônio de Jesus, 14 de fevereiro de 2021, às 20h 11min.

     


    sábado, 13 de fevereiro de 2021

    Pesadelos



     Pesadelos

     

    [evangelhista da silva]

     

    Vivemos momentos de amor e amar. 

                                                                                                              

    Sequer imaginamos que imagens passam.

    E passamos.

     

    A morte seria única neste desenlace.

     

    Se, ainda, construíssemos outras imagens juntos

    Não seria ausência.

     

    Entretanto a luz do querer se apaga.

     

    A mulher tem sido uma estrela cadente,

    Inconsequente, fria e monstruosa.


    E quando as imagens passam resta-nos a dor

    Para sentir  irados com a mente mulher.

     

    Que zomba e ri afirmando que tudo acabou.

     

    Assim passamos.


    Infinitos pesadelos recordam imagens

    Que jamais deveriam desbotar com o tempo.

     

    Com as paixões e sacanagens de uma mulher

    Que merece dor e sofrimento.



    Santo Antônio de Jesus, 13 de fevereiro de 2021, às 20h.

     

    segunda-feira, 8 de fevereiro de 2021

    A Traição e A Vingança


     A Traição e A Vingança

      

    [evangelhista da silva]

     

    O amor adoeceu semeada a dor

    a mágoa cruel ocupa o coração

    desesperado e humilhado diante 

    gargalhadas de quem se ufana. 


    É desastre para a vingança 

    ira atroz deveria ser contida.


    É feminicídio

    a morte do amor.



    Santo Antônio de Jesus, 08/02/2021, às 18h50min.



    domingo, 7 de fevereiro de 2021

    Pessoas altamente sensíveis: características e como saber se sou


    Pessoas altamente sensíveis: características e como saber se sou

     
    Por Marissa Glover, Psicóloga. 20 janeiro 2021
     
    Pessoas altamente sensíveis: características e como saber se sou

    Na década de 90, a doutora Elaine Aron criou o termo de Pessoa Altamente Sensível (PAS), o qual explica de maneira detalhada em seu livro "O dom da sensibilidade". As pessoas altamente sensíveis são aquelas que podem captar emoções e sensações positivas e/ou negativas de forma intensa. Este tipo de pessoa, geralmente se guiam por seu instinto, mais do que pela razão, o qual possuem extremamente desenvolvido e o utilizam para tomar quase todo tipo de decisão em suas vidas. Estima-se que entre 15% e 20% das pessoas, sem distinção de sexo, possuem este tipo de personalidade, mas, como saber se sou uma pessoa altamente sensível? Quais fatores determinam este tipo de pessoa?

    Neste artigo de Psicologia-Online, te ajudaremos a entender as pessoas altamente sensíveis, suas características e como saber se você é uma. Vamos sanar todas as suas dúvidas sobre este tema para que você finalmente possa determinar se efetivamente é uma pessoa altamente sensível e/ou aprenda a identificar as pessoas que são.

    Características das pessoas altamente sensíveis

    As principais características que identificam as pessoas altamente sensíveis são as seguintes:

    • Processam a informação de maneira profunda: as pessoas altamente sensíveis tendem muito a refletir e a interiorizar seus pensamentos e emoções. São pessoas muito introspectivas que tendem a dar muitas voltas em seus assuntos e a analisar com detalhe cada situação para poder chegar a uma boa conclusão.
    • Tendência a se sentir super estimuladas: outra das características das pessoas altamente sensíveis é que processam muita informação sensitiva e emocional, e por isso tendem a se sentirem super estimuladas. Devido a isso, ficar em ambientes onde existem muitos estímulos provoca mal-estar e as faz perder seu equilíbrio mental e emocional. É por este motivo que as PAS preferem se encontrar em lugares tranquilos onde existem poucos estímulos.
    • São muito empáticas e emocionais: o sistema nervoso deste tipo de pessoas está programado para sentir com mais intensidade. É por isso que tanto os estímulos negativos, quanto os positivos, são experimentados com mais intensidade. A pessoa pode perceber e experimentar profundamente suas emoções e sensações, assim como também as das outras pessoas, o que a torna mais empática, já que se coloca na posição do outro com mais facilidade.
    • São sensíveis às sutilezas: possuem uma grande capacidade para perceber as mudanças que ocorrem em seu entorno, por menores que sejam. Assim como também são capazes de perceber mudanças no estado emocional das outras pessoas.
    Pessoas altamente sensíveis: características e como saber se sou - Características das pessoas altamente sensíveis

    Dificuldades das pessoas altamente sensíveis

    Quando uma pessoa altamente sensível não sabe gerir suas emoções de maneira saudável, é muito provável que enfrente diferentes tipos de dificuldades que podem ir aparecendo ao longo de sua vida.

    Entre as principais dificuldades que podem ser enfrentadas pelas pessoas que são altamente sensíveis são as seguintes:

    • Podem ter a sensação de não se adaptar com os outros devido a sua condição de altamente sensível. O que, no pior dos casos, pode fazer com que a pessoa se isole cada vez mais dos outros.
    • Por experimentarem as emoções positivas e negativas de maneira mais intensa, podem ser muito sensíveis às críticas, e se não saberem contornar bem, acaba por deteriorar a sua autoestima pouco a pouco.
    • Dificuldade para colocar limites aos outros por se sentirem rejeitadas e estarem com a autoestima baixa, buscam fazer todo o possível para tentar agradar aos outros.
    • Podem aparecer problemas no âmbito profissional devido à super estimulação que normalmente acontece nos trabalhos e a grande necessidade que possui de trabalhar de forma individual e com poucos estímulos.

    Entre outros problemas relacionados também com a falta de aceitação de sua própria personalidade, o não aprender a gerir suas próprias emoções e a deixar de lado as forças que possuem, dependendo de sua situação individual.

    Sinais para saber se você é uma pessoa altamente sensível

    A seguir há um pequeno teste que, mesmo não podendo te garantir com 100% de certeza que você é uma pessoa altamente sensível, responder positivamente a maioria das afirmações é um indicador de que possui uma maior probabilidade de ser uma delas.

    • Gosto muito mais do tempo que passo sozinho/a do que acompanhado/a.
    • Geralmente choro com facilidade.
    • Sou uma pessoa muito intuitiva.
    • Levo tudo muito a sério.
    • Sou uma pessoa muito introspectiva, e dessa forma conheço muito bem a mim mesmo/a.
    • Prefiro trabalhar sozinho/a do que em equipe.
    • Me considero uma pessoa muito intensa, geralmente vivo as emoções negativas e/ou positivas com muita intensidade.
    • As críticas que os outros fazem de minha pessoa me magoam muito.
    • Quando cometo um erro, não deixo de pensar nele o dia todo em minha cabeça.
    • Me estresso muito quando me encontro rodeado/a de muitas pessoas.
    • Me considero uma pessoa muito criativa.
    • Geralmente evito ver ou escutar as más notícias e não gosto de filmes onde existe algum tipo de violência.
    • Sou uma pessoa muito empática.

    Se você conhece pessoas sensíveis, sugerimos a leitura do post que explica como lidar com pessoas altamente sensíveis.

    Pessoas altamente sensíveis: características e como saber se sou - Sinais para saber se você é uma pessoa altamente sensível

    Este artigo é meramente informativo, em Psicologia-Online não temos a capacidade de fazer um diagnóstico ou indicar um tratamento. Recomendamos que você consulte um psicólogo para que ele te aconselhe sobre o seu caso em particular.

    Se pretende ler mais artigos parecidos a Pessoas altamente sensíveis: características e como saber se sou, recomendamos que entre na nossa categoria de Psicologia clínica.

    terça-feira, 2 de fevereiro de 2021

    Foi Assim

     


    Foi Assim



    [evangelhista da silva]

     


    Era inverno

    amanhecia tempestuosamente

    a dor, a tristeza e a solidão entorpeciam minh'alma

    mais um dia em que eu acordava sem esperança

    sem vontade; calado, desiludido e só

    a única certeza que eu tinha era não ter certeza alguma.

     

    Eis que uma turbulência sacode a terra

    troveja, e relampeja, e estrondos, e raios cortam os ceus.

     

    De repente brilha o sol iluminando a minha vida

    e você, menina, invade a porta do meu coração

    fechando as janelas.

     

    Tudo parecia crer que inverno jamais

    quando, abruptamente, o sol se apagou.

     

    E assim, menina, você se foi como um brinquedo

    de criança que se quebra deixando só saudades

    dor, tristeza e solidão.

     

    Entorpecera minh'alma como antes

    pior que antes.

     

     


    Poemas Incertos. 29 de julho de 2000.


    domingo, 31 de janeiro de 2021

    O Conceito de Angústia na Teoria Freudiana Inicial





    Natureza humana

    versão impressa ISSN 1517-2430

    Nat. hum. vol.17 no.1 São Paulo  2015

     

     

    O conceito de angústia na teoria freudiana inicial

     

    The concept of anxiety in Freud's early theory

     

     

    Fátima CaropresoI,*; Marina Bilig de AguiarII,**

    IDepartamento de Psicologia do programa de pós-graduação em psicologia da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF)
    IIPrograma de pós-graduação em psicologia da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF)

    Endereço para correspondência

     

     


    RESUMO

    Desde o início de sua teoria, Freud busca caracterizar a angústia. A hipótese mais difundida entre os intérpretes da obra freudiana é a de que ele formulou duas teorias sobre a angústia. Na primeira, ela é concebida como transformação da energia sexual que não pôde ser adequadamente descarregada, e, na segunda, ganha ênfase a ideia da angústia como reação a um perigo. Este artigo tem como objetivo analisar as primeiras formulações de Freud sobre o afeto e a angústia, bem como apontar a presença, já na etapa inicial da teoria, de uma antecipação das reflexões sobre as relações entre a memória, a sinalização de perigo e a angústia, que são claramente apresentadas em Inibição, sintomas e angústia (1926/1975).

    Palavras-chave: psicanálise; Freud; angústia; afeto; neurose.


    ABSTRACT

    From the very beginning of his career, Freud tried to define anxiety. The most widespread hypothesis among Freudian scholars is that he developed two theories of anxiety. In the first one, anxiety is conceived as resulting from the transformation of sexual energy that could not be properly discharged. In the second hypothesis, in turn, the concept of anxiety as a reaction to danger is emphasized. This paper sets out to discuss Freud's early views on affect and anxiety and argues that, even in the earliest stages of the development of his theory, there is an anticipation of the ideas about the relationship between memory and signs of danger, on one hand, and anxiety, on the other, that were to be more thoroughly developed in his 1926 book Inhibitions, Symptoms and Anxiety.

    Keywords: psychoanalysis; Freud; anxiety; affect; neurosis.


     

     

    1. Introdução

    Desde as correspondências de Freud a Fliess, há um esforço em caracterizar e conceituar a angústia. Já nos "Extratos dos documentos dirigidos a Fliess", redigidos entre 1892 e 1899, Freud busca delimitar o quadro psicopatológico denominado "neurose de angústia" e explicar sua etiologia.

    Ao examinar a obra freudiana, Laplanche (1980/1998) aponta a existência de duas teorias acerca da angústia. A primeira delas teve sua estruturação entre os anos de 1895 e 1900 e foi considerada uma teoria econômica, segundo a qual a angústia seria uma energia sexual não elaborada cuja descarga ocorreria de forma relativamente anárquica. Essa hipótese se encontrava ligada à concepção das neuroses atuais. Por outro lado, o autor aponta que, nesse momento inicial da teoria, também estava presente a hipótese de que a angústia consistiria em uma libido desligada de suas representações por meio da repressão, fenômeno este que ocorreria nas neuroses de transferência. Laplanche aponta ainda que Freud considerou inicialmente uma angústia rememorada, que seria puramente psicológica, compreendendo-a como uma crise, um estado ou expectativa. Sendo assim, a angústia consistiria somente na reprodução de algo vivido, seja um evento da vida adulta, seja da vida infantil. Após mais alguns estudos com seus pacientes, Freud teria abandonado essa hipótese e passado a considerar uma teoria puramente fisiológica, em que a angústia seria a descarga pela via somática de uma excitação sexual insatisfeita.

    A respeito da segunda teoria sobre a angústia, Laplanche comenta que a mesma é apresentada em Inibição, sintoma e angústia (1926/1975). Nesse momento, é enfatizada a ideia de perigo – ou seja, a angústia é concebida como uma reação ou preparação para o perigo – e também a noção de eu. Este último é considerado, ao mesmo tempo, a sede da angústia e o seu causador, no sentido de poder repeti-la como um sinal. Laplanche observa, contudo, que essa segunda teoria não extinguiu de fato a primeira, mas apenas veio a limitá-la, sendo conciliável com ela (Laplanche, 1980/1998).

    Nagera (1970/1990) aponta que, já no início da teoria freudiana, está presente, além da ideia de uma transformação do excedente de libido, a noção de uma liberação de desprazer atuando como um sinal para impedir a ocorrência de um desprazer ainda maior. Nesse artigo, pretendemos analisar as primeiras formulações de Freud sobre o afeto e a angústia e apontar a presença, nesse período inicial da teoria, de uma antecipação das reflexões sobre as relações entre a memória, a sinalização de perigo e a angústia que são claramente apresentadas em Inibição, sintomas e angústia (1926/1975).

     

    2. A angústia como transformação da energia sexual

    No "Rascunho A" dos "Extratos dos documentos dirigidos a Fliess", escrito entre 1892 e 18991, Freud levanta alguns problemas acerca da etiologia da neurose de angústia e, posteriormente, algumas teses, de modo a definir quatro fatores etiológicos para esse tipo de neurose: o esgotamento devido às formas de satisfação anormais; a inibição da função sexual; afetos concomitantes a essas práticas, e os traumas sexuais anteriores ao início da idade da compreensão. No "Rascunho E: como se origina a angústia", escrito no ano de 1894, Freud correlaciona a neurose de angústia à tensão sexual, como vinha fazendo até então. A neurose de angústia surgiria como consequência do acúmulo de excitação física sexual não descarregada. Ele argumenta que, quando essa tensão atingisse certo limiar, seria despertado o afeto psíquico. Entretanto, a conexão psíquica oferecida não se apresentaria como suficiente e, como consequência, não haveria a formação do afeto sexual, ficando, assim, a tensão sexual física sem uma ligação psíquica. Com isso, se daria a transformação dessa mesma tensão em angústia.

    No texto "Obsessões e fobias: seu mecanismo psíquico e sua etiologia" (1895/1976), Freud propõe a diferenciação entre as obsessões e as fobias, assim como a distinção de dois tipos de fobias quanto à natureza do objeto temido. Ele argumenta que, nas obsessões, seria possível encontrar dois elementos: uma representação que se imporia ao paciente e um estado emocional associado. Nas fobias, o estado emocional existente seria sempre o da angústia, o do medo, enquanto nas obsessões verdadeiras não só o indivíduo poderia ser acometido pelo estado emocional supracitado, como também poderia ser acometido pela dúvida, pelo remorso ou pela raiva. Freud afirma que as fobias são mais monótonas e típicas, ao passo que as obsessões são mais variadas e especializadas. A partir dessa descrição da fobia, pode-se perceber a correspondência estabelecida entre a angústia e o medo.

    Freud argumenta que as obsessões e as fobias não se encontram incluídas na neurastenia, além de não poderem ser compreendidas como degeneração mental. Considera, assim, as duas patologias como neuroses distintas, com mecanismo e etiologia específicos. Segundo ele, seria possível diferenciar dois tipos de fobias quanto à natureza do objeto temido: as fobias comuns e as fobias contingentes. As primeiras apresentariam um medo exagerado de coisas que geralmente e, em certa medida, são detestáveis ou temidas pelos indivíduos, como é o caso do medo da noite, da solidão, da morte, de doenças, de cobras, de perigos em geral etc. As fobias contingentes teriam como característica central o medo de condições especiais que não incitam medo no homem normal. A agorafobia e outras fobias de locomoção são exemplos de fobias contingentes (Freud, 1895/1976).

    O mecanismo das fobias se diferenciaria das obsessões na medida em que a substituição não seria um traço predominante no primeiro tipo de neurose. Assim, Freud explica que a análise psicológica não revela, nos fóbicos, nenhuma representação incompatível substituída, sendo que, nesses indivíduos, não é possível encontrar nada além da angústia. A esse tipo de emoção, ele atribui uma espécie de processo seletivo, pelo qual seria possível trazer à tona todas as representações adequadas para se tornarem alvo de uma fobia. Com relação ao exemplo da agorafobia, Freud menciona o fato de o paciente se recordar frequentemente de um ataque de angústia e temer sua ocorrência em determinadas situações, nas quais acredita não poder escapar (Freud, 1895/1976).

    Assim, em "Obsessões e fobias: seu mecanismo psíquico e sua etiologia" (1895/1976), Freud defende a hipótese de que as fobias fazem parte da neurose de angústia, cujo principal sintoma, por sua vez, seria a angústia. Quanto à origem da neurose de angústia, ele destaca que esta é sexual, mas que, no entanto, suas representações não são extraídas da vida sexual do paciente, não havendo nesse tipo de neurose qualquer mecanismo psíquico.

    Como esclarece James Strachey (1895/1976), no texto "Sobre os fundamentos para destacar da neurastenia uma síndrome específica denominada neurose de angústia", de 1895, Freud distingue a neurose de angústia da neurastenia, com a enumeração de muitos de seus sintomas, embora não apresente uma indicação da etiologia mais profunda dessa neurose. Nesse artigo, pela primeira vez em uma obra publicada, Freud comenta sobre uma deflexão da excitação sexual somática da esfera psíquica e o consequente emprego anormal dessa excitação. Strachey comenta ainda que a libido é vista, nesse artigo, como algo exclusivamente "psíquico", embora até então não pareça ter ocorrido uma diferenciação clara entre o que seria "psíquico" e "consciente" na produção freudiana. Ele destaca, contudo, que, na sinopse do texto, escrita pelo próprio Freud dois anos depois, a libido é pensada como potencialmente inconsciente, o que pode ser notado em sua asserção de que a angústia neurótica seria a libido sexual transformada.

    Ao comentar sobre os sintomas que o quadro clínico da neurose de angústia apresenta, Freud (1895/1976) destaca a irritabilidade geral, que seria um sintoma nervoso comum, aparecendo invariavelmente na neurose de angústia, na qual o acúmulo de excitação ou incapacidade de tolerar tal acúmulo – acúmulo absoluto ou relativo de estímulos – seriam características da irritabilidade aumentada; a expectativa angustiada, a qual, segundo Freud, poderia se transformar em angústia normal; e o ataque de angústia, cuja ocorrência se daria por uma irrupção de angústia, podendo ter ocorrido sem nem mesmo ter sido despertada por certa sequência de representações. Segundo Freud, o ataque de angústia poderia consistir apenas no sentimento de angústia, sem que houvesse uma representação associada. Poderia ainda vir acompanhado de uma representação que estivesse mais ao alcance do paciente, como uma representação de extinção da vida, de um acesso, de uma ameaça de loucura ou, ainda, de algum tipo de parestesia. Sobre a expectativa angustiada, ele afirma:

    A expectativa angustiada é o sintoma nuclear da neurose; nela, também, aflora livremente um fragmento da teoria desta última. Talvez seja possível dizer que aqui está presente um quantum de angústia em estado de livre flutuação, que, em vista da expectativa, rege a seleção das representações e está sempre pronto a ligar-se com qualquer conteúdo representativo adequado. (Freud, 1895/1976, p. 94)

    Freud também comenta sobre a deflexão da excitação sexual somática da esfera psíquica e sobre o consequente emprego anormal dessa excitação. Suas observações lhe permitiram perceber, segundo ele, que a neurose de angústia é acompanhada por um decréscimo extremamente acentuado da libido sexual ou desejo psíquico. A angústia corresponderia a um acúmulo de excitação somática de natureza sexual que seria acompanhada de um decréscimo da participação psíquica nos processos sexuais (Freud, 1895/1976).

    O autor distingue, então, a neurastenia genuína e a neurose de angústia no tocante aos processos sexuais. A neurastenia ocorreria sempre que uma descarga adequada (ação adequada) fosse substituída por uma menos adequada. Um exemplo seria quando o coito normal, praticado em condições favoráveis, fosse substituído pela masturbação ou emissão espontânea. A neurose de angústia, por sua vez, consistiria no resultado de todos os fatores que impedissem a excitação sexual somática de ser psiquicamente elaborada. Dessa forma, as manifestações somáticas da neurose de angústia apareceriam quando a excitação somática desviada da psique fosse subcorticalmente despendida em reações totalmente inadequadas (Freud, 1895/1976).

    Freud levanta o seguinte questionamento:

    Ainda se poderia perguntar: por que o sistema nervoso, sob essas circunstâncias de uma insuficiência psíquica para dominar a excitação sexual, cai em peculiar estado afetivo de angústia? Cabe responder, a modo de sugestão: a psique cai no afeto da angústia quando se sente incapaz de tramitar, mediante a reação correspondente, uma tarefa (um perigo) vinda de fora; cai na neurose de angústia quando se nota incapaz de reequilibrar a excitação (sexual) endógena. Se comporta então como se ela projetasse a excitação para fora. O afeto e a neurose a ela correspondente se situam em um estreito vínculo recíproco; o primeiro é uma reação ante uma excitação exógena, e a segunda, uma reação ante uma excitação endógena análoga. O afeto é um estado extremo passageiro, enquanto a neurose é crônica; isto se deve ao fato de que a excitação exógena atua como um só golpe, e a endógena, como uma força constante. O sistema nervoso reage na neurose ante uma força interna de excitação, como no afeto correspondente o faz ante uma força externa análoga. (Freud, 1895/1976, pp. 111-112)

    A partir dessa citação, é possível observar que Freud define o afeto de angústia como uma reação à sensação de incapacidade de lidar com um perigo externo. A neurose de angústia, por sua vez, surgiria como uma reação a uma excitação endógena. Diante da incapacidade de equilibrar essa excitação sexual vinda de dentro, ela seria projetada para fora. A partir das considerações anteriores de Freud, sabemos que essa excitação endógena, que produz a angústia, é a excitação sexual que não pôde ser adequadamente descarregada ou que não encontrou descarga no campo psíquico, como comenta Strachey (1895/1976) em suas notas preliminares ao texto em questão. Dessa maneira, a angústia neurótica é pensada como a libido sexual transformada.

    Na segunda parte do texto, Freud comenta que, tanto na neurose de angústia como na histeria, haveria um acúmulo de excitação, além de ocorrer em ambas uma espécie de insuficiência psíquica em consequência da qual surgiriam processos somáticos anormais. Assim, em virtude da não elaboração psíquica de tal excitação, ocorreria um desvio dela para o campo do somático. A diferença, a partir disso, estaria no fato de que a excitação em cujo deslocamento a neurose de angústia se expressaria seria puramente somática. Já na histeria, por sua vez, ela seria psíquica, provocada por um conflito (Freud, 1895/1976).

    Como comenta Uribe (2008), o acúmulo sexual físico seria a consequência de uma descarga impedida, de modo que a neurose de angústia consistiria em uma neurose de estase (paralisação). No entanto, a angústia não se encontraria nessa estase, mas surgiria por transformação da tensão sexual acumulada. A partir da consideração de que o acúmulo de excitação produziria a angústia, a qual não admitiria uma derivação psíquica, o autor afirma que a psique se encontraria sob o estado de neurose de angústia quando se percebesse incapaz de reequilibrar a excitação endógena gerada. Assim, a neurose de angústia seria o correspondente somático da histeria.

    Campos observa que o mecanismo da neurose de angústia constituirá um primeiro modelo de abordagem da angústia, "o qual pode ser sintetizado na articulação entre uma angústia inscrita no corpo e a insuficiência de elaboração psíquica" (Campos, 2004, p. 88). Esse modelo, segundo ele, parece incipiente do ponto de vista teórico e deixou ambiguidades no que se refere à diferenciação entre a angústia da neurose de angústia e a angústia das neuropsicoses de defesa. Também deixou dúvidas no que diz respeito ao mecanismo responsável pela impossibilidade de representação psíquica da excitação somática sexual das neuroses atuais.

    Como vimos em "Sobre os fundamentos para destacar da neurastenia uma síndrome específica denominada neurose de angústia" (1895/1976), o afeto de angústia é definido como uma reação à incapacidade do aparelho psíquico para lidar com um perigo externo, enquanto a neurose de angústia resultaria da incapacidade de tramitar adequadamente uma excitação endógena sexual. No "Projeto de uma psicologia" (1950/2003), a questão da reação psíquica a um aumento de estímulos de origem exógena – ao que Freud chama de "vivência de dor" – é tratada de forma mais detalhada.

     

    3. O afeto como resíduo de uma vivência dolorosa e como sinal

    No "Projeto de uma psicologia", redigido em 1895 e publicado apenas em 1950, Freud propõe uma psicologia científico-naturalista segundo a qual os processos psíquicos normais e patológicos seriam explicados a partir de dois postulados, denominados "quantidade" (Q) e "neurônio" (N). De acordo com Caropreso (2010), esse é o primeiro momento no qual é formulado um conceito de psiquismo inconsciente na teoria metapsicológica freudiana. Freud recorre à biologia para explicar o funcionamento dos processos psíquicos e desenvolve a ideia de um aparelho neuronal cujo funcionamento e estrutura seriam determinados inicialmente pelo princípio da inércia, que consistiria em uma tendência para a eliminação de toda quantidade (Q = 0) que atingisse o aparelho. Como explica Mezan: "o aparelho psíquico tende a manter tão baixo quanto possível o nível de estimulação, desenvolvendo para este fim o esquema do arco reflexo, que permite descarregar instantaneamente a excitação sensorial recebida do mundo exterior" (Mezan, 1998, p. 90).

    A tendência primária do psiquismo para descarregar toda excitação seria modificada, pois não poderia promover a descarga da excitação proveniente do interior do corpo, ao contrário do que ocorreria com a excitação exógena, cuja descarga poderia acontecer por meio de movimentos reflexos. Para cessar os estímulos endógenos, seria necessário uma "ação específica", que teria como condição a existência de certa quantidade no aparelho. Dessa forma, ocorreria uma modificação da tendência primária (inércia) para a "tendência à constância", considerada como a que mantém um nível de quantidade constante no aparelho (Freud, 1950/2003).

    Como mencionado anteriormente, Freud constrói suas hipóteses a partir de dois postulados no "Projeto de uma psicologia": a noção de quantidade e de neurônio. O primeiro postulado (Q) diz respeito a algo que distingue a atividade do repouso e está submetido à lei geral do movimento, não sendo, no entanto, especificada a natureza dessa quantidade. Já o segundo postulado (N) é conceituado como a unidade material e funcional do sistema nervoso. Ele propõe uma combinação do que havia sido descoberto sobre os neurônios na histologia recente com sua teoria sobre a quantidade. Os neurônios seriam estruturalmente idênticos entre si e independentes uns dos outros, sendo que o tecido não neuronal possibilitaria o contato entre eles. O recebimento de quantidades se daria por meio dos prolongamentos celulares, e a emissão seria feita pelos axônios. Dessa forma, partindo da consideração teórica da tendência fundamental do aparelho de eliminar todo o aumento de (Q), a estrutura descrita acima se encontraria de acordo com essa tendência na medida em que favoreceria a descarga da quantidade. A tendência primordial, que consistiria em manter o nível de quantidade igual a zero, pode ser compreendida também como uma tendência para evitar o desprazer, uma vez que, segundo as hipóteses do "Projeto...", o aumento da excitação produziria desprazer, enquanto sua diminuição produziria prazer (Freud, 1950/2003).

    Freud supõe a existência de três sistemas neuronais: os sistemas phi, psi e ômega. A função do primeiro seria receber a quantidade vinda do exterior do sistema nervoso e enviá-la ao sistema vizinho, que seria o psi. O sistema psi, por sua vez, corresponderia ao sistema de memória, no qual se formariam as representações. Esse sistema é dividido em "psi do manto" e "psi do núcleo", devido ao fato de que o modo de ação do sistema diante do recebimento de uma (Q) exógena seria diferente do modo de ação da endógena. Sendo assim, "psi do manto" receberia a quantidade advinda do exterior através de phi (constituindo representações a partir da quantidade exógena); e "psi do núcleo" receberia a quantidade endógena, de forma que, nesse último sistema, ocorreria a conversão do somático em psíquico (constituindo representações a partir de fontes internas de estimulação). Psi do núcleo corresponderia à parte constante do "eu", e psi do manto, à sua parte variável. Já o sistema ômega consistiria no substrato neural da consciência (Freud, 1950/2003). Duas vivências centrais seriam estruturantes do psiquismo: a vivência de satisfação e a de dor. Por motivos de relevância para o tema pesquisado, será comentada apenas esta última.

    A dor consistiria na irrupção de grandes quantidades na direção do sistema de memória psi, como resultado da falha dos dispositivos responsáveis por proteger o aparelho contra quantidades exógenas, os quais, para Freud, seriam as próprias terminações sensoriais. Este processo geraria, inicialmente, um grande aumento no nível da excitação no sistema de memória, que seria sentido como desprazer. Em um segundo momento, produziria uma tendência à eliminação da excitação por via reflexa e, em seguida, ocorreria uma facilitação (a criação de um vínculo associativo) entre esses caminhos de eliminação e a representação do objeto que provocaria a dor – chamado de objeto hostil (Freud, 1950/2003). A partir disso, é possível nos questionarmos a respeito do que consiste o afeto e qual é sua relação com o desprazer.

    Para Freud, uma vez ocorrida tal vivência de dor, quando a representação do objeto hostil fosse ocupada novamente, a partir de uma percepção ou associação com outras representações, ocorreria uma liberação de quantidade no aparelho que geraria desprazer. Esse processo foi denominado de "afeto". A inclinação à desocupação da representação do objeto hostil pela via reflexa foi chamada de "defesa primária". No entanto, Freud observa que a produção de afeto pela ocupação do objeto hostil seria prejudicial nos casos em que tal ocupação não fosse estimulada a partir do mundo externo, mas a partir do interior do aparelho, ou seja, apenas a partir de uma recordação (Freud, 1950/2003).

    Nas primeiras repetições da vivência de dor, seria produzido um afeto intenso e uma defesa primária excessiva, de acordo com o modo de funcionamento chamado de processo primário. Essa descarga afetiva seria, com o tempo, inibida, de modo que a produção do afeto passasse a se limitar a um sinal. No entanto, a inibição da ocupação intensa da representação do objeto hostil seria um processo gradual que pressuporia o estabelecimento da excitação em estado ligado.2

    Na terceira parte do "Projeto...", Freud observa que o pensamento, entre outras coisas, pode conduzir ao desprazer devido à ocupação de representações que pertenceram à vivência de dor. Então, ele afirma:

    Se se seguir o destino de tais percepções, enquanto imagens de recordação, nota-se que as primeiras repetições ainda despertam tanto afeto como também desprazer, até que, com o tempo, perdem tal capacidade. Ao mesmo tempo, realiza-se com elas outra modificação. No início, elas retinham o caráter de qualidades sensíveis; quando não são mais capazes de afeto, elas também perdem isto e tornam-se semelhantes a outras imagens recordativas. (Freud, 1950/2003, p. 253)

    Trata-se, nesse caso, de "recordações ainda indomadas". Freud pergunta-se, então, o que acontece com as "recordações" capazes de afeto até que elas sejam domadas. A resposta é que é preciso que o eu obtenha poder sobre elas, ou seja, é preciso que elas sejam "ligadas" pelo eu. Como tais representações pertenceram a vivências de dor, essa ligação seria mais trabalhosa para o eu do que a ligação das demais representações:

    Enquanto traços de vivências de dor, elas (de acordo com nossa suposição sobre a dor) foram ocupadas a partir de Q muito grandes e adquiriram uma facilitação muito forte para liberação de desprazer e afeto. É preciso uma ligação repetida e especialmente grande, a partir do eu, até que seja equilibrada essa facilitação para o desprazer. (Freud, 1950/2003, p. 254)

    Assim, o eu inicialmente não teria condições de impedir a ocupação de tais representações ou inibi-las parcialmente, de forma que um afeto intenso seria necessariamente produzido. Gradualmente, ele iria adquirindo poder sobre elas, por meio de repetidas tentativas de ligá-las. Depois de ligadas, a ocupação dessas representações se limitaria a um mínimo, de forma que a produção de afeto a partir delas permitisse apenas sinalizar ao curso associativo que aquele caminho conduz ao desprazer e deve ser abandonado.

    Dessa forma, segundo essas hipóteses elaboradas por Freud no "Projeto...", após uma vivência dolorosa, na qual o aparelho fosse atingido por grandes somas de excitação de origem externa, surgiria uma descarga endógena de excitação ("afeto") quando a recordação de tal vivência fosse ocupada pela via associativa ou perceptiva. Essa descarga endógena, inicialmente intensa, seria pouco a pouco inibida até que passasse a se limitar a um sinal.

    Na segunda parte do texto, ao comentar o caso Emma, Freud novamente se refere à angústia como resultado da transformação da energia sexual. Pode-se dizer, portanto, que, no "Projeto...", a angústia continua sendo concebida como transformação da energia sexual. No entanto, o que ele denomina apenas como "afeto" se aproxima do que havia sido chamado de "afeto de angústia" em "Sobre os fundamentos para destacar da neurastenia uma síndrome específica denominada neurose de angústia" (1895/1976), assim como das hipóteses sobre a angústia que serão mais claramente formuladas em 1926.

    Em Inibições, sintomas e angústia (1926/1975), Freud enfatiza a hipótese de que a angústia consistiria em uma reação a um perigo externo. O protótipo das experiências de angústia, diz ele, é o nascimento:

    Nós assumimos, em outras palavras, que o estado de angústia é a reprodução de alguma experiência que reuniu as condições para um aumento do estímulo como o assinalado e para a descarga por determinadas vias, em virtude do qual também o desprazer da angústia recebeu o seu caráter específico. No caso dos seres humanos, o nascimento oferece uma experiência prototípica desse tipo e, por isso, nos inclinamos a ver no estado de angústia uma reprodução do trauma do nascimento. (Freud, 1926/1975, p. 133)

    Freud argumenta que, no nascimento, o "perigo" em questão careceria de conteúdo psíquico, e que o recém-nascido seria capaz de perceber apenas uma enorme perturbação econômica. A partir de então, o afeto de angústia voltaria a emergir em situações que lhe recordassem essa experiência traumática primária. A ameaça de ser novamente inundado por grandes somas de excitação traumática, em uma situação na qual o indivíduo se encontrasse impotente para dominá-las, seria sinalizada como "perigo" em ocasiões posteriores, por analogia com a experiência do nascimento.

    Podemos dizer que essa concepção da angústia como surgindo diante de uma situação traumática externa ou diante da rememoração de tal vivência, de certa forma, resgata as hipóteses que Freud havia elaborado em 1895 acerca da vivência de dor e do afeto.

     

    4. Considerações finais

    A partir dos textos aqui abordados, é possível observar que a angústia é predominantemente pensada como transformação da energia sexual, ou seja, como resultante de um acúmulo de excitação somática de natureza sexual acompanhada de um decréscimo de sua expressão psíquica. Esse processo estaria na base da neurose de angústia. No entanto, no texto "Sobre os fundamentos para destacar da neurastenia uma síndrome específica denominada neurose de angústia" (1895/1976), o afeto de angústia é definido como uma reação à incapacidade do aparelho psíquico em lidar com um perigo externo. Assim, pode-se dizer que, nessa etapa inicial do pensamento freudiano, já estão presentes duas concepções de angústia: angústia como transformação da energia sexual e angústia como reação a um perigo de origem externa. Em ambos os casos, a angústia resultaria da incapacidade de tramitar adequadamente certo montante de estímulos, seja endógeno ou exógeno. No entanto, no segundo caso, a angústia não estaria necessariamente vinculada à sexualidade.

    Tendo em vista a forma como Freud define angústia em "Sobre os fundamentos para destacar da neurastenia uma síndrome específica denominada neurose de angústia" (1895/1976), como reação a um perigo externo, podemos dizer que a angústia surgiria diante do que ele chama no "Projeto..." (1950/2003) de vivência de dor. No primeiro texto, Freud fala em "afeto de angústia". No "Projeto...", ele se refere apenas ao "afeto". Em Inibição, sintoma e angústia (1926/1975), ele afirmará que a angústia surge não apenas diante de um perigo atual, mas também diante da possibilidade de reviver uma situação traumática anterior. Assim, a angústia surgiria também a partir de um processo de rememoração. No "Projeto...", Freud já aborda o surgimento do afeto diante da rememoração de uma experiência dolorosa. As primeiras rememorações de uma vivência dolorosa produziriam um afeto intenso. Com as repetidas tentativas de ligação do eu, esse afeto seria reduzido a um sinal de que certo caminho deveria ser evitado por produzir desprazer. Embora não utilize, nesse caso, o termo angústia, pode-se observar que, nesse texto, já se encontram antecipadas, por assim dizer, as reflexões sobre a relação entre memória, sinalização de perigo e angústia, presentes no texto de 1926.

     

    Referências

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    Endereço para correspondência

    Fátima Caropreso
    E-mail: fatimacaropreso@uol.com.br

    Marina Bilig de Aguiar
    E-mail: marinabilig@gmail.com

     

     

    * Doutora em filosofia, professora do Departamento de Psicologia do programa de pósgraduação em psicologia da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e bolsista de produtividade em pesquisa do CNPq.
    ** Mestranda em psicologia pelo programa de pós-graduação em psicologia da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF).
    1 É sabido que esse rascunho foi escrito entre 1892 e 1899, porém o ano preciso da redação é indeterminado.
    2 Freud diferencia dois estados da excitação no aparelho: um "estado livre", ou seja, no qual a quantidade seria descarregada pela via mais direta possível; e um "estado ligado", em que parte da quantidade ficaria retida nos neurônios. O processo primário seria caracterizado pela excitação em estado livre, e o processo secundário, pela excitação em estado ligado.

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