O movimento islâmico palestino Hamas, que governa a Faixa de Gaza, parabenizou nesta segunda-feira (16) os talibãs por terem tomado o controle de Cabul e grande parte do Afeganistão, o que considerou uma "vitória" contra os Estados Unidos após décadas de guerra.
Em comunicado, o Hamas "parabeniza o movimento talibã e a sua corajosa liderança por esta vitória, que foi a conclusão da sua longa jihad (guerra santa) nos últimos vinte anos" e deseja "sucesso ao povo afegão muçulmano e à sua liderança na obtenção da unidade, da estabilidade e da prosperidade para o Afeganistão", sublinhando que "a vitória vem apenas de Deus".
A organização palestina, que controla Gaza desde 2007, não se associou historicamente a grupos como o talibã, que entrou em Cabul no domingo (15), sem resistência e com quase todas as províncias do Afeganistão sob o seu controle.
O mulá Abdul Ghani Baradar, chefe do gabinete político dos talibãs no Catar, declarou nesta segunda-feira o fim da guerra e a sua vitória, um feito inesperadamente rápido, que ontem também culminou na fuga do presidente afegão, Ashraf Ghani.
No primeiro dia do Afeganistão sob controle talibã desde a invasão americana em 2001, Baradar se referiu ao fato como "o momento da prova", e Cabul amanheceu em mãos insurgentes, patrulhando as ruas e controlando a circulação de pessoas.
O colapso do país ocorreu poucas semanas após as forças dos EUA e da Otan terem iniciado a fase final da retirada em maio, entregando todas as bases militares ao então ativo Exército afegão.
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Milhares de afegãos invadiram as pistas do Aeroporto de Cabul, nesta segunda-feira (16), com a esperança de embarcar em um avião que permita a fuga do novo regime talibã. Vídeos publicados nas redes sociais mostram cenas de caos absoluto nas pistas, com civis lutando para subir nas passarelas ou escadas que levam aos aviões
Em 2018, o número de mortes por terrorismo caiu pelo quarto ano consecutivo, de acordo com o Índice de Terrorismo Global, publicado em 2019 pelo Institute for Economics & Peace. O terrorismo fez 15.952 mortes em 2018, 15,2% a menos que o ano anterior. Os países mais afetados foram Afeganistão, Iraque, Nigéria, Síria e Paquistão.
O aumento de número de mortes devido ao terrorismo coincide com o início da Guerra Civil da Síria em 2011 e o pico em 2014, com 33.555 mortos, reflete o crescimento do grupo Estado Islâmico (EI) no Iraque. Como resultado ao combate ao EI, desde 2014, o número de mortos por terrorismo no mundo todo caiu 52%.
O que é terrorismo?
Até hoje não há uma definição exata e internacionalmente aceita do que seja terrorismo. No Dicionário Michelis, terrorismo é definido como:
1.Sistema governamental que se impõe por meio do terror, sem respeito aos direitos e às regalias dos cidadãos.
2. Uso sistemático da violência como meio de repreensão.
3. Ato de violência contra um indivíduo ou uma comunidade, com o objetivo de provocar transformação radical da ordem estabelecida.
4. Atitude de intolerância por parte de indivíduo ou grupo de indivíduos com aqueles que não compartilham suas convicções políticas, artísticas, religiosas etc.
Empregado desde os tempos antigos, a palavra terrorismo só surgiu durante a Revolução Francesa, quando o chamado Período do Terror levou à morte milhares de pessoas na guilhotina. Depois da Segunda Guerra Mundial, o termo foi usado para se referir aos comunistas e grupos separatistas.
Nos séculos passados, o terrorismo chegou a ser um meio legítimo de se atingir uma revolução política ou religiosa, pois era a forma que os revolucionários encontravam de chamar a atenção para suas causas ou reivindicações. É comum que após um atentado, vários grupos assumam sua autoria, como forma de ganharem os holofotes.
O terrorismo não é feito somente pelos grupos terroristas, ele também pode partir do Estado, como acontece durante as ditaduras civis ou militares, por exemplo. Nos últimos anos, têm crescido também o chamado terrorismo de extrema direita no Ocidente, com grupos que fazem referência ao Nazismo e à Ku Klux Klan.
Guerra ao Terror
Principalmente após o atentado do 11 de setembro às Torres Gêmeas e ao Pentágono nos Estados Unidos, em 2001, pelo grupo terrorista Al-Qaeda, o termo terrorista ganhou uma conotação totalmente negativa e ligada ao radicalismo muçulmano - criando, inclusive, uma xenofobia aos povos árabes e islâmicos.
Após os ataques ao Estados Unidos, o então presidente George W. Bush iniciou uma campanha contra o terrorismo e ao que ele chamou de “Eixo do Mal”. A campanha “Guerra ao Terror”, de caráter religioso e neoliberal, teve diferentes apelos, como ideológicos, políticos, econômico e militar.
Entre as ações militares derivadas da campanha estão a invasão ao Afeganistão com a premissa de caçar Osama Bin Laden, líder do Al-Qaeda e a invasão ao Iraque para encontrar o líder iraquiano Saddam Hussein.
No entanto, as intenções dos Estados Unidos em realizar ofensivas nos países do Oriente Médio iam além de uma guerra contra o terrorismo. Havia o intuito de controlar militarmente outros espaços estratégicos, em especial considerando o controle de petróleo e gás natural do território dominado.
Os principais grupos terroristas
Frequentemente, diversos grupos terroristas e suas brutalidades aparecem nos noticiários. Em geral, os ataques ocorrem a civis, em lugares públicos, de forma inesperada e premeditada, além de ter motivações políticas ou religiosas.
Exemplos de ataques que comoveram o mundo ocidental e as redes sociais foram os massacres ao jornal Charlie Hebdo, na França em 2015, e à boate Pulse em Orlando, nos Estados Unidos em 2016.
Os grupos terroristas não são todos iguais entre si, cada um tem suas características e reivindicações. Para entender quais são eles e o que defendem, veja os 10 principais grupos terroristas da atualidade.
Estado Islâmico (EI)
Antes chamado de Estado Islâmico do Iraque e da Síria (ISIS, na sigla em inglês) ou Estado Islâmico do Iraque e do Levante, o grupo surgiu após a invasão do Iraque pelos EUA em 2003. Eles são um grupo radical islâmico jihadista e têm como objetivo realizar a jihad - expansão da fé islâmica ou guerra santa - de forma radical por meio da violência.
Em 2014, o grupo se autoproclamou um califado, monarquia teocrática islâmica, e impôs a sharia (lei islâmica) sobre todos os muçulmanos. O EI ganhou muitos adeptos e território, principalmente no Iraque, durante a Guerra Civil da Síria. O grupo nunca foi reconhecido como Estado e, hoje, perdeu força e território.
Por meio de violência, o Estado Islâmico obriga pessoas a se converteram ao islamismo; impõe ditadura às áreas que controlam; perseguem, discriminam e matam pessoas outras religiões; cometem sequestros, crimes sexuais; e destroem patrimônios da humanidade. Eles foram uma das causas da crise imigratória durante sua atuação. Em 2014, a Al-Qaeda cortou relações com o EI devido a sua violência e brutalidade sem limites.
Um dos fundadores da Al-Qaeda foi o terrorista Osama bin Laden em 1988, durante a Guerra Afegã-Soviética. Inicialmente, o objetivo era expulsar as tropas soviéticas do Afeganistão, contra quem eles tiverem apoio norte-americano. Mas, com a Guerra do Golfo, em 1990, e aumento da influência dos EUA no Oriente Médio, a Al-Qaeda se virou contra os EUA e o Ocidente.
Como forma de protesto a presença norte-americana no Oriente Médio e opressão aos muçulmanos, Osama bin Laden comanda o atentado do 11 de setembro, que mata milhares de pessoas e dá início a Guerra do Terror. Depois da captura e execução de Bin Laden em 2011, o grupo perdeu força mas continua existindo.
ETA
O ETA, sigla para "Pátria Basca e Liberdade" em basco, foi um grupo separatista fundado em 1959 e fez parte do Movimento de Libertação Nacional Basco. No início, o grupo promovia apenas a cultura basca, mas depois evoluíram para uma organização paramilitar que lutava pela independência do país Basco (atualmente, comunidade autônoma que pertence à Espanha).
Os integrantes do ETA faziam atentados violentos, sequestros e assassinatos para chamar atenção para sua causa separatista. Durante a ditadura espanhola de Francisco Franco, o ETA ganhou apoio da população, mas após a redemocratização e recuperação dos direitos e autonomia, sua luta perde força e apoio. Em 2018, o grupo anunciou seu fim definitivo.
Exército Republicano Irlandês (IRA)
Outro grupo com intenções separatistas é o Exército Republicano Irlandês (IRA, na sigla em inglês). O grupo usava de métodos terroristas com o objetivo de separar a Irlanda do Norte do Reino Unido e reanexá-la à Irlanda. Em 2005, o IRA anunciou o fim de suas atividades.
Diferente do ETA, o IRA também tinha a questão religiosa envolvida. Os irlandeses tinham maioria católica e para serem independentes, travaram décadas de uma guerra territorial e religiosa contra o norte protestante e o governo britânico. Um dos marcos da repressão britânica aconteceu em 1972 e fortaleceu ainda mais o IRA. O episódio foi imortalizado pela canção Sunday Bloody Sunday (Domingo Sangrento), da banda irlandesa U2.
Boko Haram
O Boko Haram, assim como o Estado Islâmico, é um grupo radical islâmico jihadista, mas com atuação no continente Africano, principalmente na Nigéria - um país com elevados níveis de pobreza e corrupção.
O grupo surgiu em 2002 com o objetivo de purificar o islamismo e diminuir a influência ocidental na Nigéria de forma não-violenta. Entretanto, com o passar dos anos, o grupo se militarizou e se aproximou do Estado Islâmico e Al-Qaeda.
O seu nome significa "a educação ocidental ou não-islâmica é um pecado”. Entre seus ataques, está a invasão de escolas, como a invasão de uma escola na cidade de Chibok na Nigéria e o sequestro de centenas de meninas. Hoje, o Boko Haram é considerado o grupo terrorista mais mortífero do mundo.
Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC)
As Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) eram um grupo paramilitar comunista que surgiu em 1960 reivindicando a reforma agrária, igualdade na distribuição de renda e fim da corrupção, inspirados na Revolução Cubana. Na época, a Colômbia era comandada por uma elite latifundiária e a maioria do povo sofria com a pobreza.
Por meio da tática de guerrilha, sequestros, assassinatos e ameaças, as FARC ganharam poder e membros. Entretanto, perderam apoio da população com a morte de civis e envolvimento com o tráfico de drogas, como forma de financiamento. Após anos de negociações com o governo colombiano, em 2017, as FARC deixaram de ser um grupo armado e se tornou um partido político.
Talibã, Hezbollah, Hamas e Al-Shabab
Os grupos Talibã, Hezbollah e Hamas são terroristas fundamentalistas islâmicos que atuam na região do Oriente Médio. Já o Al-Shabab, aterrorizam, principalmente, a Somália. Entre seus objetivos estão a expansão do islamismo, destruição do Estado de Israel, retirada das tropas norte-americanas do Oriente e imposição das leis islâmicas (Sharia). Em 2012, o Talibã tentou assassinar Malala Yousafzai , ativista paquistanesa pela educação que ganhou o Nobel da Paz.
A origem do conceito e suas implicações para pensamento social
Etimologicamente, a palavra alienação tem origem no latim alienare e quer dizer "tornar alguém alheio a alguém". Como conceito filosófico, o termo foi pensado, pela primeira vez, pelo alemão Georg Wilhelm Friedrich Hegel. Em seu pensamento, essa é uma característica essencial ao homem, que está associada às suas potencialidades e aos objetos que ele cria. Ou seja, para Hegel, a ideia de alienação está associada ao trabalho.
Atualmente, o termo é usado em diferentes áreas do conhecimento, como direito, economia, psicologia, antropologia, sociologia e comunicação. Nesse artigo, vamos nos aprofundar um pouco no estudo do conceito filosófico e em suas implicações para a produção do pensamento contemporâneo sobre a sociedade e as formas como os indivíduos se relacionam entre si e com as estruturas às quais estão submetidos.
O conceito de alienação
De acordo com o pensamento de Hegel, quando um indivíduo produz algo, sua potencialidade é transferida para a coisa produzida. E, dessa forma, cria-se uma relação de identificação entre diferentes sujeitos a partir do produto da criação. Nesse contexto, a cultura seria capaz de promover a alienação. Mas esse processo também pode se dar a partir da criação de objetos físicos, produtos culturais e instituições sociais.
Platão, Hegel e Marx estiveram envolvidos na elaboração do conceito de alienação. (Imagem: Wikipedia)
Como consequência da transmissão de sua potencialidade para a coisa criada, o homem torna-se vazio. Desse modo, o processo de alienação, na perspectiva filosófica, é visto a partir dessa associação que se estabelece com uma espécie de vazio existencial. O indivíduo alienado não tem consciência de si mesmo, ele perde seu valor, seus interesses, sua vitalidade e individualidade. Agora ele próprio se torna uma coisa, objeto (daí o nome de objetificação para um dos processos pelos quais acontece a alienação), que está alheio de si mesmo.
Esse processo que acontece em uma dimensão individual apresenta reflexos na relação que o alienado passa a ter com a totalidade das coisas e das estruturas às quais está submetido. Quando perde a conexão com sua própria individualidade, o sujeito também perde dimensão da complexidade das coisas e deixa de compreender as forças externas que interferem no contexto em que ele está situado. Essa dimensão da alienação é explorada na obra de Karl Marx, quando ele fala do trabalho alienado, que trataremos logo mais neste artigo.
Trajetórias até a elaboração do conceito
Muitos pensadores clássicos e contemporâneos veem a alienação como um processo inerente às relações sociais, que se manifesta pelo distanciamento e isolamento entre os sujeitos ou entre um determinando sujeito e um determinado grupo. Para alguns, o conceito já estaria presente nos escritos bíblicos do Velho Testamento através da ideia de idolatria. Também há teóricos que acreditam que a ideia do pecado original e de redenção apresenta elementos semelhantes aos que serão elaborados por Hegel.
Mas é em Platão que a maioria dos pensadores acreditam residir as bases para o conceito proposto pelo filósofo alemão. Isso se justifica porque o pensador grego via o mundo natural como uma imagem defeituosa do mundo das ideias. Ou seja, havia um deslocamento entre aquilo que existia como potencial e o que efetivamente era criado. Outro aspecto do pensamento do filósofo que reforça essa conexão com o conceito de alienação proposto por Hegel é a ideia de que cada membro da Polis deveria estar em acordo com o todo, criando uma harmonia semelhante à que deveria haver entre razão, emoção e os sentidos.
As contribuições de Marx
O sociólogo alemão Karl Marx é um dos grandes responsáveis pela popularização do termo alienação. A partir da leitura dos trabalhos de Hegel, ela vai propor uma utilização do termo mais sintonizada com a realidade material vivida pelos trabalhadores após a Revolução Industrial. A partir das reflexões que faz em seu mais famoso livro, "O capital", escrito em 1867, ele explica as relações sociais criadas pelo capitalismo. Nesse contexto, a alienação se dá pela fragmentação da atividade e pela apropriação do fruto do trabalho por terceiros.
Em sua crítica ao sistema capitalista, Marx descreve um modo de produção capaz de desumanizar o trabalhador, ao mantê-lo alienado das relações em que seu trabalho está inserido. Para ele, o trabalho alienado acontece a partir do momento em que os meios de produção deixam de ser de posse do trabalhador, que agora, da mesma forma que as ferramentas e o maquinário, é parte de uma linha de produção. Dentro do sistema industrial capitalista, o trabalhador é um instrumento para gerar lucro aos donos dos meios de produção.