Datado de 7 de maio de 1976, portanto, antes de me tornar maçom,
tenho em minha biblioteca e já o li dezenas de vezes, o livro O Profeta,
de Gibran Khalil Gibran, tradução e apresentação de Mansour Challita,
Editora Vozes. Sendo admitido na Loja Maçônica “Acácia Brasiliense”, de
Goiânia, este livro me ofereceu e continua oferecendo um enriquecimento
espiritual e uma visão de muita beleza, que também encontrei nos rituais
maçônicos. Uma convergência da sabedoria do mundo árabe e filosofia
maçônica. Publicado em 1923 com a venda de apenas 1100 exemplares,
tornou-se um dos mais vendidos no mundo. Originalmente publicado em
inglês e traduzido para inúmeros idiomas. Nos Estados Unidos, milhares
são vendidos por semana, no Brasil, integra regularmente a lista dos
best sellers. É sempre adotado como livro de cabeceira de grandes
estudiosos e filósofos.
Gibran Khalil Gibran nasceu no Líbano em 1883 e faleceu em Nova
Iorque em 1931, com 48 anos, registrada a causa mortis como cirrose e
tuberculose. Foi ensaísta, filósofo, prosador, poeta, conferencista e
pintor, com seus escritos alcançando admiração.
O tradutor e apresentador da obra, Mansour Challita diz que “Gibran é
o Líbano. Gibran foi um dos três mais importantes renovadores da
literatura árabe e que o livro é uma robusta análise histórica do
Líbano, dentro de contextos sociológicos que proporcionam um
entendimento da importância literária desse profeta do Oriente”.
Austregésilo de Athayde, escritor que presidiu a Academia Brasileira
de Letras, durante 34 anos, falecido em 1993, de Gibran Khalil disse na
edição de 1975: “O Oriente não teve poeta que exprimisse melhor a
delicadeza mística de sua alma. Gibran é um desses mestres da sabedoria
que ensinam a arte de viver pela conquista da paz interior nutrida na
contemplação da beleza. O seu convívio intelectual apazigua as dúvidas
do coração, alimenta a fé na superioridade espiritual do homem, num
estilo ao mesmo tempo cheio de vida e simplicidade.”
Já Mansour Challita afirma: “O livro inspira e reconforta numa época
de perplexidade. É um retorno simultâneo à natureza e aos assuntos
básicos da vida, levando o leitor ao mais cândido de si mesmo e ao mais
remoto dos seus dias, seduzindo pela filosofia da vida nele contida.
Gibran era um guia espiritual que ambicionava definir um ideal de vida
para si mesmo e para todos os homens, não propondo heroísmo, mas a
grandeza, não convidando a renunciar à vida, mas sermos dignos dela.”
Neste livro a cada leitura encontro novos ensinamentos. Sugiro seja
lido pelos amigos e amigas de todos os sábados, especialmente em
momentos de meditação, contato com a natureza, quando nos sentimos
transportados a um mundo encantado, porém real, em invocação dos tempos
de juventude. Registro que ao momento da chegada do navio que o
reconduzia à sua terra natal, ao entrar na cidade de Orphalese e na
praça do mercado falou do que estava movendo dentro das almas do seu
povo.
Dos Filhos: “Vossos filhos não são vossos filhos. São os filhos e as
filhas da ânsia da vida por si mesma. Vêm através de vós, mas não de
vós. E embora vivam convosco, não vos pertencem. Podeis outorgar-lhes
vosso amor, mas não vossos pensamentos, porque eles têm seus próprios
pensamentos.
Podeis abrigar seus corpos, mas não suas almas; Pois suas almas moram
na mansão do amanhã, Que vós não podeis visitar nem mesmo em sonho.
Podeis esforçar-vos por ser como eles, mas não procureis fazê-los como
vós, Porque a vida não anda para trás e não se demora com os dias
passados. Vós sois os arcos dos quais vossos filhos são arremessados
como flechas vivas.
O arqueiro mira o alvo na senda do infinito e vos estica com toda a
sua força, Para que suas flechas se projetem, rápidas e para longe. Que
vosso encurvamento na mão do arqueiro seja vossa alegria: Pois assim
como ele ama a flecha que voa, Ama também o arco que permanece estável.”
Páginas ricas de sabedoria e alerta para a vida, poderão ser
absorvidas quando ele fala do Amor, Matrimônio, Dádiva, O Comer e o
Beber, O Trabalho, A Alegria e a Tristeza, As Habitações, As Roupas, As
Compras e as Vendas, o Crime e o Castigo, As Leis, A Liberdade, A Razão e
a Paixão, A Dor, O Conhecimento de si próprio, O Ensino, A Amizade, A
Conversação, O Tempo, o Bem e o Mal, A Prece, O Prazer, A Beleza, A
Religião, A Morte e a Despedida.
Concluo este artigo, convidando-os para uma meditação, uma parada no
tempo, mesmo que pequena, para entender que a oração, prece ou reza é
uma entrada no templo, mas não unicamente para pedir, pois assim nada
receberemos.
Gibran fala-nos da prece: “Vós rezais nas vossas aflições e
necessidades; pudésseis também rezar na plenitude de vossa alegria e nos
dias de abundância. Se constitui conforto exalar vossas trevas no
espaço, maior conforto sentireis quando exalardes a aurora do vosso
coração.”
Quando Gibran se refere a aflições, necessidades, alegria e dias de
abundância, é um alerta, pois é comum, amigos e amigas, em nossas
preces, de Jesus lembramos na dor, na tristeza e nos desencontros da
vida, mas a ele não permitimos sua presença em nossos banquetes, festas e
comemorações. Sempre é esquecido, regado ao sabor de saborosas comidas e
bebidas que entorpecem a alma.
Humberto de Campos define: “Por prece devemos interpretar todo ato de
relação do homem com Deus. A oração é sempre um esforço da criatura
ante a Providência Divina. A prece é como uma escada invisível, por onde
subimos aos mais altos campos da experiência humana. Por intermédio
dela, nossa alma recebe forças multiplicadoras para encontrar o
suprimento de energias em que vamos vencendo as provas redentoras.”
Que as preces sejam nossas companheiras de todos os dias e momentos.