terça-feira, 15 de abril de 2014

Doçura!!!

Galeano: “Eu não seria capaz de ler de novo ‘As Veias Abertas…’, cairia desmaiado”

Galeano: “Eu não seria capaz de ler de novo ‘As Veias Abertas…’, cairia desmaiado”


(Galeano em Brasília. Foto: Fábio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil)
Em 1998, entrevistei a escritora Rachel de Queiroz (1910-2003) e ela me confessou sentir “antipatia mortal” por O Quinze, o clássico da literatura brasileira que publicou aos 20 anos, em 1930, e que, desde então, seria sua “obra mais importante e mais popular” (tudo quanto é enciclopédia se refere assim ao livro). O mesmo acontece com As Veias Abertas da América Latina e o escritor uruguaio Eduardo Galeano.  Publicado em 1971, quando Galeano tinha 30 anos, a obra até hoje o persegue. É sempre nomeado como “o autor de As Veias Abertas…“, o que, pelo visto, o incomoda mesmo porque tem mais de 30 livros além dele.
Na entrevista coletiva que deu na sexta-feira 11 em Brasília, onde veio para ser o escritor homenageado da 2ª Bienal do Livro e da Leitura, Galeano ouviu provavelmente a milionésima pergunta sobre Veias Abertas. “Faz 40 anos que você escreveu As Veias Abertas da América Latina. Quais são as veias abertas hoje em dia?” E ele, em um português bastante razoável: “Seria para mim impossível responder a uma pergunta assim, especialmente porque, depois de tantos anos, não me sinto tão ligado a esse livro como quando o escrevi. O tempo passou, comecei a tentar outras coisas, a me aproximar mais à realidade humana em geral e em especial à economia política porque As Veias Abertas tentou ser um livro de economia política, só que eu ainda não tinha a formação necessária. Não estou arrependido de tê-lo escrito, mas é uma etapa superada. Eu não seria capaz de ler de novo esse livro, cairia desmaiado. Para mim essa prosa de esquerda tradicional é chatíssima. O meu físico não aguentaria. Seria internado no pronto-socorro… ‘Tem alguma cama livre?’, perguntaria.” Risadas.
Aproveito e emendo: mas o que você achou de Chávez dar o livro para o Obama? Obama entenderia As Veias Abertas…? “Nem Obama nem Chávez”, responde Galeano para gargalhada geral. “Claro, porque ele entregou a Obama com a melhor intenção do mundo Chávez era um santo, cara mais bondoso que esse eu não conheci, mas deu de presente a Obama um livro em uma língua que ele não conhece. Então, foi um gesto generoso, mas um pouco cruel.”
Eu nunca tinha visto o grande escritor uruguaio de perto. É mais baixo do que imaginava, cerca de 1m70. Bastante frágil, aparenta ter mais do que seus 73 anos. Ele mesmo comenta que a maioria dos escritores é de esquerda e, como tal, chegados a uma boemia e isso não faz bem à saúde… Uma menina pergunta: “A idade não é boa para os jogadores de futebol. E para os escritores?” Galeano discorda. “Depende. Tem velhos muito mais jovens que os velhos velhíssimos e tem velhos que você acha que estão esperando a morte e surpreendentemente acabam ganhando uma partida por 8 a zero. Não depende da biologia nem do prognóstico dos profetas. Não depende de ninguém. O melhor que o futebol tem como esporte a festa que o futebol é, a festa das pernas que jogam, a festa dos olhos é a capacidade de surpresa, de assombro. Na verdade ninguém sabe o que vai acontecer. E menos ainda os especialistas. Aqueles doutores do futebol são seres temíveis, perigosíssimos para a sociedade e o mundo em geral.”
Outro jornalista espeta: “Por que a esquerda não deu certo na América Latina?” Galeano não se faz de rogado: “Algumas vezes deu certo, algumas vezes, não. A realidade é mutável, a realidade política e todas as outras por sorte. Senão seríamos estátuas, estaríamos congelados no tempo. Não é verdade que a esquerda não deu certo. Deu certo e muitas vezes foi demolida por ter dado certo, por ter tido razão, porque o que a esquerda predicou, em certo momento na América Latina, resultou ser a verdade, então foi punida. Punida pelos golpes de Estado, ditaduras militares, períodos prolongadíssimos de terror de Estado, crimes horrorosos cometidos em nome da paz social, do progresso. Da convivência democrática, imaginem! Que democracia e que convivência são essas? Tinham que perguntar: ‘do que está falando, senhor?’ As coisas são muito mais complexas do que parecem. Em alguns períodos, também, a esquerda comete erros gravíssimos e em outros, não, faz o que deve ser feito da melhor maneira, até além do que o próprio movimento de massas estava esperando. A realidade sempre tem esse poder de surpresa. Te surpreende com a resposta que dá a perguntas nunca formuladas. E que são as mais tentadoras. O grande estímulo para a vida está aí, na capacidade de adivinhar possíveis perguntas não formuladas.”
Galeano está cansado, foram muitas horas de viagem para chegar à capital federal, e quer encerrar a entrevista. Eu protesto: “Mas e Mujica? Você não vai falar de Mujica?” Ele não resiste e se senta de novo. “Estou meio cansado, estou fatigado de falar de Mujica, porque todo mundo fala dele! Até em outros planetas se fala de Mujica. Em Marte, Júpiter… É incrível a capacidade de ressonância que Mujica tem. E ele é muito meu amigo, já faz muitos anos. A única coisa que posso fazer para incorporar um grão de areia a esta praia imensa de Mujica caminhando pelo mundo seria contar uma piccola história que dá ideia da qualidade humana do personagem.”
E começou a narrar, saborosamente, como é de seu feitio:
“Faz uns quatro anos não tenho interesse em lembrar direito a data fui operado de câncer. Foi um câncer sério, agudo. Tomei uma anestesia muito forte, dessas que não desaparecem rápido. E estava sozinho na cama do hospital, esperando que passasse o efeito da anestesia. Ou seja, mais dormido do que acordado. Sem saber muito o que acontecia, onde estava, delirando. E neste período, estando sozinho em uma cama sozinho, não, acompanhado pelo câncer, mas o câncer não é um amigo confiável. Não te recomendo. Bem, estava eu ali e volta e meia delirava. Como sou muito futeboleiro, um religioso da bola, tinha delírios futebolistas que me levaram aos anos de infância, quando jogava na rua, com bolas improvisadas, feitas com trapos velhos. E em uma dessas fugas, comecei a bater bola. Como se fosse uma múmia egípcia que tinha errado de domicílio, jogando futebol contra ninguém e sem bola nenhuma, só na imaginação. Chutava a bola e ela voltava, chutava e ela voltava. Tudo debaixo do lençol. E nada, a bola continuava, como se estivesse morta de riso da minha estupidez de achar que podia com ela. ‘Não, você não pode comigo’. Numa dessas, senti um peso em cima dos meus joelhos. Aí começo a recobrar a realidade e vejo alguém que conheço, uma voz que reconheço, de um amigo. E pergunto:
O que você está fazendo aqui?
E ele:
Isso é maneira de receber um amigo?
Não importa, quero saber o que você faz aqui. Está doente também?
Que é isso, estou saudabilíssimo. O enfermo é você.
Estou sabendo. Obrigado pela notícia, mas já estou sabendo.
O doente é você, está fodido, irmão. Eu vim te visitar. Agora, não sabia que se recebia um amigo assim, chutando-o, chutando-o e chutando-o. Não é muito educado.
Continuamos nessa até que eu falei:
Olhe, chega. Sua função não é estar aqui brincando comigo. Você é o presidente da Repoública e sua função é governar. Mujica, você é o presidente! Vai governar este país já! Estamos precisando de sua participação ativa, desinteressada, importantíssima para o nosso povo. Não perca mais tempo comigo.
Ah, bela maneira de ser amigo, hein?
Será bela ou será feia, mas é a única maneira para você. Você é o presidente! Além disso, para piorar, todo mundo gosta de você e quer que continue sendo presidente por uns 300 anos mais. Se você não gosta, foda-se.
E aí acabou.”
Na saída, consigo falar a Eduardo Galeano do enorme prazer que sinto em conhecê-lo pessoalmente e lhe conto que adoro O Livro dos Abraços. Ele olha para mim e diz: “Eu também”.
Ufa.
Publicado em 14 de abril de 2014

sexta-feira, 11 de abril de 2014

'Brincadeira do desmaio' alarma pais e escolas no Rio

Brincadeira do desmaio’ alarma pais e escolas no Rio

  • Aluno do colégio Liceu Franco-Brasileiro, em Laranjeiras, bateu a cabeça e sofreu escoriações após perder consciência
  • No YouTube, proliferam vídeos em que crianças e adolescentes usam métodos diferentes para desmaiar
MARINA COHEN (EMAIL)
Publicado:
Atualizado:

A fachada do Liceu Franco-Brasileiro, que registrou um caso de desmaio em que um aluno bateu com a cabeça e sofreu escoriações
Foto: Marcelo Piu
A fachada do Liceu Franco-Brasileiro, que registrou um caso de desmaio em que um aluno bateu com a cabeça e sofreu escoriações Marcelo Piu
RIO - Um jogo perigoso está ganhando popularidade nas escolas do Rio com a divulgação de vídeos na internet. A “brincadeira (ou jogo) do desmaio” consiste em provocar a perda da consciência por meio de asfixia, o que pode ser feito com estrangulamento ou pressão no peito — “método” mais utilizado nos colégios —, sempre com a ajuda de outros colegas. No Rio, um episódio ocorrido no Liceu Franco-Brasileiro fez o colégio distribuir, esta semana, um folheto que alerta os alunos sobre o perigo da prática. Entre as possíveis consequências, segundo médicos, estão hematomas, parada cardíaca, lesões cerebrais, coma e até a morte.
Mês passado, na escola do bairro carioca das Laranjeiras, um aluno do 1º ano do ensino médio desmaiou em pleno pátio, na hora do recreio, durante a o jogo. Ainda tonto, ao tentar se levantar ele bateu com a cabeça num banco, sofrendo escoriações. O estudante de 14 anos foi encaminhado para casa, e seus pais foram chamados à coordenação. Ele e mais três alunos que participavam da “brincadeira” foram suspensos por um dia.
— Eu não sabia o que estava fazendo. Como outros meninos estavam brincando, resolvi tentar. Mas, quando fiquei tonto e percebi que ia apagar, me dei conta de que foi uma péssima ideia — afirma o garoto.
Alguns alunos relataram ter visto “sangue e convulsões”, mas, segundo o estudante, o desmaio durou poucos segundos:
— Acordei sem me lembrar de nada. Detestei a sensação. Sei que poderia ter acontecido algo grave. Pelo menos eu aprendi.
De acordo com ele, outros alunos já haviam tentado desmaiar antes no colégio, sem sucesso.
— É uma brincadeira estúpida, e, depois do que aconteceu, ninguém quis fazer mais — comentou uma das alunas do primeiro ano que testemunharam o incidente.
A decisão de suspender os alunos, segundo o coordenador pedagógico do Liceu Franco-Brasileiro, foi tomada como uma forma de reprimir o comportamento de risco.
— Não podemos de forma alguma estimular brincadeiras que comprometam a integridade física e psicológica dos alunos — ressaltou Luciano Moraes, coordenador pedagógico no Liceu. — Também nos reunimos com os pais e professores para alertá-los. Eles devem ficar atentos.
Psicólogos relatam ‘muitos casos’
O colégio ainda promoverá, na segunda-feira, uma palestra para os alunos sobre os benefícios e os riscos do conteúdo disponível na internet. A ideia de tentar o “jogo” surgiu depois que alguns deles assistiram a demonstrações em sites de compartilhamento de vídeos.
— Nem sempre os adolescentes sabem avaliar o perigo do que veem. Por isso é importante que os pais monitorem a navegação deles pela web, por mais que não gostem, e também conversem sobre os riscos — alertou Moraes.
Cardiologista do hospital Pró-Cardíaco, no Rio, Claudio Tinoco explica que as consequências da “brincadeira” podem ser graves, principalmente se o aluno tiver um problema cardíaco desconhecido.
— A brincadeira causa queda de pressão, falta de oxigenação no sangue e a síncope, conhecida como desmaio. A falta de oxigenação pode levar a uma parada cardíaca ou a uma lesão no cérebro, com sequelas permanentes. A área da memória é a primeira a ser danificada, mas o adolescente pode ainda ter parte da visão afetada. Em casos mais sérios, pode haver coma e morte cerebral — explica Tinoco. — É uma prática muito arriscada que eu não recomendo de forma alguma.
Muitos jovens têm relatado experiências com a brincadeira mortal em seu consultório, afirma o psiquiatra Fábio Barbirato, especialista em transtornos na infância e adolescência da Santa Casa da Misericórdia do Rio.
— Um menino precisou ir para o hospital recentemente porque perdeu a consciência. Os colegas não conseguiram acordá-lo — relata Barbirato, que atribui a brincadeira a duas razões. — É uma espécie de demonstração de força típica dessa fase de formação de grupo, quando os jovens fazem de tudo para serem aceitos pelos outros, expondo-se a consequências graves. Por outro lado, há relatos de que a asfixia dá uma sensação de euforia e prazer, mas não existe nenhuma comprovação médica disso.
A psicóloga Fernanda Reis, especialista no tratamento de crianças e adolescentes, é outra a ter ouvido relatos da prática no seu consultório.
— Os adolescentes buscam se destacar por meio desses desafios. Mas há riscos com os quais eles não têm capacidade para lidar. O que você vai fazer se o seu amigo tiver uma parada cardíaca ou entrar em coma? — questiona.
Mortes nos EUA e na França
Fora do Brasil, o “jogo do desmaio” já deu origem a manchetes trágicas. Na França, as terríveis consequências da prática levaram à criação de uma associação de pais de vítimas desse jogo de estrangulamento, a Apeas. Segundo a organização, dez mortes são registradas anualmente, em média, no país europeu desde 2000 devido à perigosa prática.
De acordo com o Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDC), pelo menos 82 crianças e adolescentes com idades entre 9 e 16 anos morreram no país por causa da brincadeira, entre 1995 e 2007. Como as mortes geralmente são registradas como suicídio, pois acontecem mais comumente quando os adolescentes se arriscam sozinhos, é difícil computar números. Mas um caso famoso deu mais visibilidade ao problema. Em 2006, o campeão mundial de surfe Shaun Tomson perdeu o filho, Matthew, enquanto o menino de 15 anos brincava do “jogo do desmaio”. O surfista sul-africano escreveu um livro, “The code” (O código), direcionado a adolescentes, em que pede aos jovens para pensarem duas vezes antes de correr esse risco. A esperança é que relatos com o seu consigam influenciar mais os jovens do que os muitos vídeos com cenas de simulação de estrangulamento espalhadas pela internet. sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/sociedade/educacao/brincadeira-do-desmaio-alarma-pais-escolas-no-rio-12161827#ixzz2ycbr032g 
© 1996 - 2014. Todos direitos reservados a Infoglobo Comunicação e Participações S.A. Este material não pode ser publicado, transmitido por broadcast, reescrito ou redistribuído sem autorização. 

'Brincadeira do desmaio' alarma pais e escolas no Rio

Brincadeira do desmaio’ alarma pais e escolas no Rio

  • Aluno do colégio Liceu Franco-Brasileiro, em Laranjeiras, bateu a cabeça e sofreu escoriações após perder consciência
  • No YouTube, proliferam vídeos em que crianças e adolescentes usam métodos diferentes para desmaiar
MARINA COHEN (EMAIL)
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A fachada do Liceu Franco-Brasileiro, que registrou um caso de desmaio em que um aluno bateu com a cabeça e sofreu escoriações
Foto: Marcelo Piu
A fachada do Liceu Franco-Brasileiro, que registrou um caso de desmaio em que um aluno bateu com a cabeça e sofreu escoriações Marcelo Piu
RIO - Um jogo perigoso está ganhando popularidade nas escolas do Rio com a divulgação de vídeos na internet. A “brincadeira (ou jogo) do desmaio” consiste em provocar a perda da consciência por meio de asfixia, o que pode ser feito com estrangulamento ou pressão no peito — “método” mais utilizado nos colégios —, sempre com a ajuda de outros colegas. No Rio, um episódio ocorrido no Liceu Franco-Brasileiro fez o colégio distribuir, esta semana, um folheto que alerta os alunos sobre o perigo da prática. Entre as possíveis consequências, segundo médicos, estão hematomas, parada cardíaca, lesões cerebrais, coma e até a morte.
Mês passado, na escola do bairro carioca das Laranjeiras, um aluno do 1º ano do ensino médio desmaiou em pleno pátio, na hora do recreio, durante a o jogo. Ainda tonto, ao tentar se levantar ele bateu com a cabeça num banco, sofrendo escoriações. O estudante de 14 anos foi encaminhado para casa, e seus pais foram chamados à coordenação. Ele e mais três alunos que participavam da “brincadeira” foram suspensos por um dia.
— Eu não sabia o que estava fazendo. Como outros meninos estavam brincando, resolvi tentar. Mas, quando fiquei tonto e percebi que ia apagar, me dei conta de que foi uma péssima ideia — afirma o garoto.
Alguns alunos relataram ter visto “sangue e convulsões”, mas, segundo o estudante, o desmaio durou poucos segundos:
— Acordei sem me lembrar de nada. Detestei a sensação. Sei que poderia ter acontecido algo grave. Pelo menos eu aprendi.
De acordo com ele, outros alunos já haviam tentado desmaiar antes no colégio, sem sucesso.
— É uma brincadeira estúpida, e, depois do que aconteceu, ninguém quis fazer mais — comentou uma das alunas do primeiro ano que testemunharam o incidente.
A decisão de suspender os alunos, segundo o coordenador pedagógico do Liceu Franco-Brasileiro, foi tomada como uma forma de reprimir o comportamento de risco.
— Não podemos de forma alguma estimular brincadeiras que comprometam a integridade física e psicológica dos alunos — ressaltou Luciano Moraes, coordenador pedagógico no Liceu. — Também nos reunimos com os pais e professores para alertá-los. Eles devem ficar atentos.
Psicólogos relatam ‘muitos casos’
O colégio ainda promoverá, na segunda-feira, uma palestra para os alunos sobre os benefícios e os riscos do conteúdo disponível na internet. A ideia de tentar o “jogo” surgiu depois que alguns deles assistiram a demonstrações em sites de compartilhamento de vídeos.
— Nem sempre os adolescentes sabem avaliar o perigo do que veem. Por isso é importante que os pais monitorem a navegação deles pela web, por mais que não gostem, e também conversem sobre os riscos — alertou Moraes.
Cardiologista do hospital Pró-Cardíaco, no Rio, Claudio Tinoco explica que as consequências da “brincadeira” podem ser graves, principalmente se o aluno tiver um problema cardíaco desconhecido.
— A brincadeira causa queda de pressão, falta de oxigenação no sangue e a síncope, conhecida como desmaio. A falta de oxigenação pode levar a uma parada cardíaca ou a uma lesão no cérebro, com sequelas permanentes. A área da memória é a primeira a ser danificada, mas o adolescente pode ainda ter parte da visão afetada. Em casos mais sérios, pode haver coma e morte cerebral — explica Tinoco. — É uma prática muito arriscada que eu não recomendo de forma alguma.
Muitos jovens têm relatado experiências com a brincadeira mortal em seu consultório, afirma o psiquiatra Fábio Barbirato, especialista em transtornos na infância e adolescência da Santa Casa da Misericórdia do Rio.
— Um menino precisou ir para o hospital recentemente porque perdeu a consciência. Os colegas não conseguiram acordá-lo — relata Barbirato, que atribui a brincadeira a duas razões. — É uma espécie de demonstração de força típica dessa fase de formação de grupo, quando os jovens fazem de tudo para serem aceitos pelos outros, expondo-se a consequências graves. Por outro lado, há relatos de que a asfixia dá uma sensação de euforia e prazer, mas não existe nenhuma comprovação médica disso.
A psicóloga Fernanda Reis, especialista no tratamento de crianças e adolescentes, é outra a ter ouvido relatos da prática no seu consultório.
— Os adolescentes buscam se destacar por meio desses desafios. Mas há riscos com os quais eles não têm capacidade para lidar. O que você vai fazer se o seu amigo tiver uma parada cardíaca ou entrar em coma? — questiona.
Mortes nos EUA e na França
Fora do Brasil, o “jogo do desmaio” já deu origem a manchetes trágicas. Na França, as terríveis consequências da prática levaram à criação de uma associação de pais de vítimas desse jogo de estrangulamento, a Apeas. Segundo a organização, dez mortes são registradas anualmente, em média, no país europeu desde 2000 devido à perigosa prática.
De acordo com o Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDC), pelo menos 82 crianças e adolescentes com idades entre 9 e 16 anos morreram no país por causa da brincadeira, entre 1995 e 2007. Como as mortes geralmente são registradas como suicídio, pois acontecem mais comumente quando os adolescentes se arriscam sozinhos, é difícil computar números. Mas um caso famoso deu mais visibilidade ao problema. Em 2006, o campeão mundial de surfe Shaun Tomson perdeu o filho, Matthew, enquanto o menino de 15 anos brincava do “jogo do desmaio”. O surfista sul-africano escreveu um livro, “The code” (O código), direcionado a adolescentes, em que pede aos jovens para pensarem duas vezes antes de correr esse risco. A esperança é que relatos com o seu consigam influenciar mais os jovens do que os muitos vídeos com cenas de simulação de estrangulamento espalhadas pela internet. sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/sociedade/educacao/brincadeira-do-desmaio-alarma-pais-escolas-no-rio-12161827#ixzz2ycbr032g 
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