A minha depressão não é frescura
Por Ju Umbelino
“Levante aí da cama, dê um jeito”. “Seja forte”. “Não dá pra viver desse jeito, acorda pra vida”.
Eu
sei
disso.
Eu sei que preciso levantar cedo, sentir o amargo do café na boca, arrumar a cama e tomar um banho. Mas se você realmente soubesse como eu me sinto, saberia que essas tarefas se tornam trinta vezes mais difíceis de se realizar quando as sombras invadem a minha história. Eu já não consigo sair de casa como ultimamente e tenho ouvido bastante que não é pra tanto, já que tenho a faca e o queijo na mão. Eu bem queria ser feliz com pouca coisa, rir por bobagens, falar por horas sobre as coisas mais mirabolantes do mundo… mas eu simplesmente não consigo. Não consigo sorrir nem pra foto nem pra quem está comigo. Não consigo sair da cama sem sentir que estou levando um elefante comigo. Eu queria, na verdade, ficar 24h por dia na minha cama, já levanto pensando na hora de voltar pra lá.
Se soubessem que eu sei a essência de cada uma das frases que usam pra me colocar pra cima… eu sei que preciso ser forte, eu sei que preciso levantar, eu sei que preciso tomar banho. Eu sei. Eu só não consigo realizar essas tarefas como se fossem simples, porque pra mim não são. Eu gasto toda a minha energia fazendo o básico, eu não consigo me sentir bem por ter esse tipo de dificuldade. Dói ver a vida passando, as pessoas evoluindo e eu aqui sem conseguir criar coragem para fazer o básico do básico.
Quando me pedem pra ser mais forte, eu tenho vontade de dizer que se eu assim fosse, não estaria nessa. Em alguns momentos fica impossível ser forte. Em alguns momentos as pessoas precisam desabar até mesmo pra crescer (e é uma pena que algumas pessoas precisem disso).
Quando me pedem pra fazer mais uma forcinha, eu tenho vontade de chorar alto, gritar por socorro e esperar que alguma ajuda caia do céu, porque é minha única esperança.
Quando me pedem para acordar pra vida eu tenho vontade de descrever como eu a enxergo e tudo que ela me ensinou na marra. Eu não quero acordar para uma vida como a minha, é tão simples.
As pessoas não entendem que é difícil demais viver uma vida com a sombra da depressão e seus outros transtornos. Tem momentos em que é difícil respirar, se mexer e até mesmo pensar – porque dói. E dói muito, dói em todas as partes do corpo. E é uma dor sobre a qual não temos controle, assim como uma dor de cabeça ou uma dor de estômago. Só que essa é muito mais persistente e geralmente não é tratada com a seriedade que devia ser tratada.
Eu quero melhorar, sabe. Eu não quero ficar no fundo do poço nem viver o resto dos meus dias tirando forças de onde nem sei só pra tomar um banho, comer um prato de comida ou até mesmo sair de casa. Eu não quero conviver com essa doença pra sempre, mas no momento eu preciso de um pouco de compreensão. Um pouco de carinho e de atenção também seriam bem vindos. Quando eu me sinto vulnerável, eu só preciso de um abraço. Quando eu me estresso, só quero alguém pra ouvir minhas preocupações. Quando ninguém me ouve, eu só queria um mega fone pra poder desabafar. Quando eu me sinto mal, eu só preciso de um ombro amigo. E não tô pedindo nada demais, porque eu quero o respeito a minha atual condição. Eu preciso de um pouco de paciência, por tempo indeterminado, pelo menos enquanto eu exercito a minha.
Médicos, terapias, espiritualidade… tudo isso pouco adianta se as pessoas ao redor não entenderem que o que aparenta frescura é dor, é exaurimento de forças, é sofrimento.
Reprodução autorizada pela autora. Para mais artigos da autora visite Superela.
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