Começa a perturbação sonora. A turba aos vômitos expulsa a sua ira em forma de uma falsa alegria. É carnaval. Uma tradição cultural que se tornou um nojo ao longo do tempo. Toda tradição está fadada a desgraça e morte. E o carnaval, esta coisa chata, sem graça, e abusiva, morreu. E, ainda assim, os tantos iludidos ainda se alimentam desta ressaca de cachaça e droga que move as suas tristezas e solidão. Quem ao longo observa a massa a correr inebriada e inexplicavelmente atrás de uma explosão de sons desconexos, e que ainda teimam a afirmar ser música, analisa fria e sem mágoa a desastrosa desarmonia por que vive a humanidade. Uma psicoterapia transversa. Uma fabricação da loucura.
O carnaval é um circo coberto por uma couraça de ouro e pedras preciosas, onde os palhaços interpretam as suas sagacidades alimentando a sua riqueza e luxúria. Drogam-se os palhaços de cima por se encontrarem no controle do circo. A plateia, também drogada, sente-se feliz. Mas sempre há uma quarta-feira de cinzas para tirar as máscaras. Logo virá a síndrome de abstinência das drogas, para a infelicidade dos que superaram as porradas, torturas e homicídios de entes queridos. Não há compreensão para tanta insignificância e desrealização. Por certo, que possa justificar esta febre deve ser, ao certo, a falta de carinho e compreensão por que sofre esta gente tresloucada. E dizia Artur da Távola: “Música é vida interior, e quem tem vida interior jamais padecerá de solidão.” A solidão move esses infelizes a busca e procura de tudo que momentaneamente venha a alimentar o seu prazer em forma de compensação. Se por um lado, espertos palhaços armazenam fortunas ao longo de suas vidas, palhaços da miséria os enriquecem. Já não há mais espaço para carnavais. Visto que as fantasias fedem. Restam-lhes os divãs para cuidar de suas almas. Tendo em vista a família ser uma instituição falida, e o Estado um ente desprovido de razão e sentimento. As massas penam no umbral de uma Sociedade de Classes. Um Estado Neoliberal onde na sociedade capitalista o sol não brilha para todos. Logo, carnaval, pó, futebol e religião, e tantas outras mazelas servem para neutralizar a fúria daqueles que vivem à margem da sociedade, só lhes restando a febre das ilusões. Ações manipuladas por uma psicologia de massa e destruição.
Salvador, 02 de março de 2014.
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