terça-feira, 21 de fevereiro de 2012
segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012
A grandeza e a miséria do ser humano
Enquanto um rapaz de 21 anos é covardemente espancado por proteger um morador de rua, no Rio, outro, também de 21 anos, vitimizado pela drogadição, esfaqueia pai e mãe, em Guarulhos
Dois fatos recentes, veiculados na mídia, remetem-nos a uma reflexão sobre a dualidade humana. Sobre as misérias e as grandezas do ser humano. Pascal, filósofo francês racionalista do século XVII, afirmava que o homem é um ser paradoxal, é um complexo de bem e de mal e cujas ações ora geram desprezo, ora geram respeitabilidade, apreço. Ítalo Calvino, escritor realista da literatura italiana, apresentou-nos, alegoricamente, sua curiosa personagem Visconde de Medardo, na obra O visconde partido ao meio. A história, aparentemente simples, narra a trajetória de Medardo, um homem que, após levar um tiro de canhão, dividiu-se em dois: uma metade completamente boa e outra absolutamente má. A primeira, por onde passava, semeava amor, bondade, grandeza de caráter. A outra, por sua vez, espargia a guerra, a discórdia, a miséria.
Enquanto um rapaz de 21 anos, Vítor Suarez Cunha, é covardemente espancado por proteger um morador de rua dos ataques brutais de outros jovens, na Ilha do Governador, no RJ; outro, o estudante universitário Henrique Ramos Vieira, também de 21 anos, vitimizado pela drogadição, esfaqueia pai e mãe, em Guarulhos, SP, fugindo à responsabilidade da própria vida. Duas histórias. Duas vidas. Duas faces de uma mesma condição: a condição de existir e conviver na sociedade. A justificativa para as atitudes desses dois rapazes, de futuros tão igualmente possíveis, mas de destinos tão distintos – agora – de responsabilidades está, certamente, relacionada às formas como cada um desses jovens foi acolhido e “preparado” para o enfrentamento da vida e de suas escolhas pessoais.
É na família, primeiramente, que somos formados. Os valores vivenciados, os exemplos de nossos pais, o alimento moral que nos é dado, diária e cuidadosamente, nos guiarão – em geral – ao exercício do bem, ao respeito ao próximo, ao prazer da liberdade, ao direcionamento correto de nossas vidas. No entanto, isso não basta. Há famílias que imaginam ter cumprido seu papel de amor e de dedicação integral aos seus filhos e que servem de palco a tragédias, como a do filho que matou os pais, provavelmente tomado pelo desespero e pela alteração de padrões impostos pelo uso da droga.
A escola, como um centro de luz, também é partícipe nessa formação. Educar para a vida. Aprender a ser e a conviver fazem parte do processo de ensino e aprendizagem. As políticas públicas voltadas à juventude precisam fazer a sua parte no acolhimento e na oferta de oportunidades a esses jovens. Jovens que se perdem, desperdiçam vidas, sacrificados pela ausência de regras, de limites, de chances de crescimento íntimo e social. A juventude é terreno fértil em que, lançadas, as boas sementes darão, indubitavelmente, bons frutos. Não há como os gestores se furtarem às suas responsabilidades na construção de um país digno, justo, correto para todos, ficando ausentes ao desolamento, à alienação.
O jovem necessita de um tema para viver, ensina-nos o príncipe dos poetas brasileiros, Paulo Bomfim. É essencial que haja caminhos bons e diversos, que lhes ofereçam apoio na construção de seus futuros e na superação de seus desafios.
A solução que Calvino dá ao leitor, ao final de sua quase fábula, sobre os extremos humanos, a mutilação de personalidades, as vidas fracionadas, está na coerência do equilíbrio, no desenvolvimento do coração, do espírito, da alma humana. É como a história do velho índio que dizia ter, dentro de si, dois cachorros – um bom e um mau –, mas que alimentava apenas o bom, minimizando a força do outro. Os alimentos desses jovens estão no seio familiar, na boa educação, no investimento público em esporte, lazer e cultura. Sem maniqueísmos nem julgamentos precipitados. Colhamos bons valores para que a bondade de Vítor se multiplique. Quanto a Henrique, triste escolha, desamor. “A neutralidade é impossível: é necessário apostar!”, orientava Pascal.
Enquanto um rapaz de 21 anos, Vítor Suarez Cunha, é covardemente espancado por proteger um morador de rua dos ataques brutais de outros jovens, na Ilha do Governador, no RJ; outro, o estudante universitário Henrique Ramos Vieira, também de 21 anos, vitimizado pela drogadição, esfaqueia pai e mãe, em Guarulhos, SP, fugindo à responsabilidade da própria vida. Duas histórias. Duas vidas. Duas faces de uma mesma condição: a condição de existir e conviver na sociedade. A justificativa para as atitudes desses dois rapazes, de futuros tão igualmente possíveis, mas de destinos tão distintos – agora – de responsabilidades está, certamente, relacionada às formas como cada um desses jovens foi acolhido e “preparado” para o enfrentamento da vida e de suas escolhas pessoais.
É na família, primeiramente, que somos formados. Os valores vivenciados, os exemplos de nossos pais, o alimento moral que nos é dado, diária e cuidadosamente, nos guiarão – em geral – ao exercício do bem, ao respeito ao próximo, ao prazer da liberdade, ao direcionamento correto de nossas vidas. No entanto, isso não basta. Há famílias que imaginam ter cumprido seu papel de amor e de dedicação integral aos seus filhos e que servem de palco a tragédias, como a do filho que matou os pais, provavelmente tomado pelo desespero e pela alteração de padrões impostos pelo uso da droga.
A escola, como um centro de luz, também é partícipe nessa formação. Educar para a vida. Aprender a ser e a conviver fazem parte do processo de ensino e aprendizagem. As políticas públicas voltadas à juventude precisam fazer a sua parte no acolhimento e na oferta de oportunidades a esses jovens. Jovens que se perdem, desperdiçam vidas, sacrificados pela ausência de regras, de limites, de chances de crescimento íntimo e social. A juventude é terreno fértil em que, lançadas, as boas sementes darão, indubitavelmente, bons frutos. Não há como os gestores se furtarem às suas responsabilidades na construção de um país digno, justo, correto para todos, ficando ausentes ao desolamento, à alienação.
O jovem necessita de um tema para viver, ensina-nos o príncipe dos poetas brasileiros, Paulo Bomfim. É essencial que haja caminhos bons e diversos, que lhes ofereçam apoio na construção de seus futuros e na superação de seus desafios.
A solução que Calvino dá ao leitor, ao final de sua quase fábula, sobre os extremos humanos, a mutilação de personalidades, as vidas fracionadas, está na coerência do equilíbrio, no desenvolvimento do coração, do espírito, da alma humana. É como a história do velho índio que dizia ter, dentro de si, dois cachorros – um bom e um mau –, mas que alimentava apenas o bom, minimizando a força do outro. Os alimentos desses jovens estão no seio familiar, na boa educação, no investimento público em esporte, lazer e cultura. Sem maniqueísmos nem julgamentos precipitados. Colhamos bons valores para que a bondade de Vítor se multiplique. Quanto a Henrique, triste escolha, desamor. “A neutralidade é impossível: é necessário apostar!”, orientava Pascal.
domingo, 19 de fevereiro de 2012
sábado, 18 de fevereiro de 2012
sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012
Regras de Conduta para Viver sem Sobressaltos
Lucius Annaeus SenecaRoma Antiga-4 // 65Filósofo, Escritor
Regras de Conduta para Viver sem SobressaltosVou indicar-te quais as regras de conduta a seguir para viveres sem sobressaltos. (...) Passa em revista quais as maneiras que podem incitar um homem a fazer o mal a outro homem: encontrarás a esperança, a inveja, o ódio, o medo, o desprezo. De todas elas a mais inofensiva é o desprezo, tanto que muitas pessoas se têm sujeitado a ele como forma de passarem despercebidas. Quem despreza o outro calca-o aos pés, é evidente, mas passa adiante; ninguém se afadiga teimosamente a fazer mal a alguém que despreza. É como na guerra: ninguém liga ao soldado caído, combate-se, sim, quem se ergue a fazer frente.
Quanto às esperanças dos desonestos, bastar-te-á, para evitá-las, nada possuíres que possa suscitar a pérfida cobiça dos outros, nada teres, em suma, que atraia as atenções, porquanto qualquer objecto, ainda que pouco valioso, suscita desejos se for pouco usual, se for uma raridade. Para escapares à inveja deverás não dar nas vistas, não gabares as tuas propriedades, saberes gozar discretamente aquilo que tens. Quanto ao ódio, ou derivará de alguma ofensa que tenhas feito (e, neste caso, bastar-te-á não lesares ninguém para o evitares), ou será puramente gratuito, e então será o senso comum quem te poderá proteger. Esta espécie de ódio tem sido perigosa para muita gente; e alguns despertaram o ódio dos outros mesmo sem razões de inimizade pessoal. Para te protegeres deste perigo recorrerás à mediania da tua condição e à brandura do teu carácter: faz com que os outros saibam que tu és um homem que não exerce represálias mesmo se ofendido; não hesites em fazer as pazes com toda a sinceridade. Ser temido, é uma situação tão ingrata em tua própria casa como no exterior (...) Para causar a tua ruína qualquer um dispõe de força que baste. E não te esqueças que quem inspira medo sente ele próprio medo: ninguém pode inspirar terror e sentir-se seguro!Resta considerar o desprezo: mas cada um, se deliberadamente se sujeitar a ele, se goza de pouca consideração porque quer, e não porque o mereça, tem na sua mão a faculdade de regular a sua intensidade. Os inconvenientes do desprezo podem ser atenuados ou pela prática de boas acções ou pelas relações de amizade com pessoas que tenham influência sobre alguém especialmente influente; será útil cultivar tais amizades, sem no entanto nos deixarmos enredar por elas, não vá a protecção sair-nos mais cara do que o próprio risco.
Não há, contudo, forma mais eficaz de protecção do que remetermo-nos à vida privada, evitando o mais possível falar com os outros, e falando o mais possível apenas com nós próprios. A conversação tem um poder de atracção subreptício e sedutor, e leva-nos a revelar os nossos segredos com a mesma facilidade que a embriaguez ou a paixão. Ninguém é capaz de calar tudo quanto ouviu, mas também não reproduz exactamente tudo quanto ouviu; e quem não é capaz de guardar para si a informação também não é capaz de manter secreto o nome do seu autor. Cada um de nós tem sempre alguém em quem deposita tanta confiança como em si próprio; no entanto, embora refreie a tagarelice natural e se contente em falar para um só ouvinte, o resultado é o mesmo que se falasse em público: em breve o que era segredo está transformado em boato!
Séneca, in 'Cartas a Lucílio'
Quanto às esperanças dos desonestos, bastar-te-á, para evitá-las, nada possuíres que possa suscitar a pérfida cobiça dos outros, nada teres, em suma, que atraia as atenções, porquanto qualquer objecto, ainda que pouco valioso, suscita desejos se for pouco usual, se for uma raridade. Para escapares à inveja deverás não dar nas vistas, não gabares as tuas propriedades, saberes gozar discretamente aquilo que tens. Quanto ao ódio, ou derivará de alguma ofensa que tenhas feito (e, neste caso, bastar-te-á não lesares ninguém para o evitares), ou será puramente gratuito, e então será o senso comum quem te poderá proteger. Esta espécie de ódio tem sido perigosa para muita gente; e alguns despertaram o ódio dos outros mesmo sem razões de inimizade pessoal. Para te protegeres deste perigo recorrerás à mediania da tua condição e à brandura do teu carácter: faz com que os outros saibam que tu és um homem que não exerce represálias mesmo se ofendido; não hesites em fazer as pazes com toda a sinceridade. Ser temido, é uma situação tão ingrata em tua própria casa como no exterior (...) Para causar a tua ruína qualquer um dispõe de força que baste. E não te esqueças que quem inspira medo sente ele próprio medo: ninguém pode inspirar terror e sentir-se seguro!Resta considerar o desprezo: mas cada um, se deliberadamente se sujeitar a ele, se goza de pouca consideração porque quer, e não porque o mereça, tem na sua mão a faculdade de regular a sua intensidade. Os inconvenientes do desprezo podem ser atenuados ou pela prática de boas acções ou pelas relações de amizade com pessoas que tenham influência sobre alguém especialmente influente; será útil cultivar tais amizades, sem no entanto nos deixarmos enredar por elas, não vá a protecção sair-nos mais cara do que o próprio risco.
Não há, contudo, forma mais eficaz de protecção do que remetermo-nos à vida privada, evitando o mais possível falar com os outros, e falando o mais possível apenas com nós próprios. A conversação tem um poder de atracção subreptício e sedutor, e leva-nos a revelar os nossos segredos com a mesma facilidade que a embriaguez ou a paixão. Ninguém é capaz de calar tudo quanto ouviu, mas também não reproduz exactamente tudo quanto ouviu; e quem não é capaz de guardar para si a informação também não é capaz de manter secreto o nome do seu autor. Cada um de nós tem sempre alguém em quem deposita tanta confiança como em si próprio; no entanto, embora refreie a tagarelice natural e se contente em falar para um só ouvinte, o resultado é o mesmo que se falasse em público: em breve o que era segredo está transformado em boato!
Séneca, in 'Cartas a Lucílio'
terça-feira, 14 de fevereiro de 2012
quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012
Assinar:
Postagens (Atom)