Dr. Cícero Galli Coimbra – Doenças Autoimunes e Vitamina D – “Se a natureza não precisasse de 10.000 unidades todo o dia, não formava uma quantidade tão grande em tão poucos minutos.”
Publicado em novembro 4, 2012 por Cristiane Rozicki
Nos últimos anos tem ocorrido um aumento significativo do consumo de cocaína em jovens, apresentando um número acentuado de complicações no sistema cardiovascular. Estatísticas nos EEUU nos relatam que cinco milhões de habitantes a consomem regularmente e vinte e dois milhões a utilizam pelo menos uma vez. Quarenta e sete mil estudantes de primeiro e segundo grau da rede estadual de ensino de dez capitais brasileiras, consumiram drogas, incluindo a cocaína, durante o período de 1987 a 1989.
Nos preocupa o fato de que o número de pacientes jovens com episódios coronarianos associado, ao uso de cocaína, vem aumentando progressivamente. A cocaína tem química similar aos anestésicos locais. Ela é absorvida por todas as mucosas e a utilização pode ser realizada através das vias respiratórias, intranasal, intravenosa, intravaginal, oral e intraretal. A adição de bicarbonato de sódio à pasta básica ou à cocaína produz o CRACK cujos cristais, quando entram em combustão, crepitam, daí o nome. A pasta básica da coca quando tomada pura ou associada a cigarros de tabaco ou maconha é comumente usada entre jovens dos EEUU e denominada BASUKA. O metabolismo da cocaína ocorre em grande parte no fígado. A eliminação é feita quase toda pelos rins. A meia vida da cocaína, quando administrada por via endovenosa, é em torno de noventa minutos. A concentração após o uso intranasal atinge o máximo em quinze a sessenta minutos. A intoxicação e a morte ocasionada pelo uso da cocaína, depende da via de administração, da quantidade da associação com outras substâncias - entre as quais o álcool -, e com este último existe uma potencialização de efeitos responsável por grande número de óbitos por "overdose". Os efeitos cardiovasculares da cocaína decorrem da sua ação nos sistemas nervoso central e periférico. A droga bloqueia a reutilização pré-sináptica dos neuro transmissores noradrenalina e dopamina, produzindo excesso destas substâncias nos receptores pré - sinápticos. Os efeitos cardiovasculares incluem vasoconstricção, taquicardia, elevação da pressão arterial, aumento do consumo de oxigênio e alteração do rítimo cardíaco (carritimias). A cocaína quando usada em pequenas doses produz diminuição dos batimentos cardíacos (ação vagal) e em maiores doses produz aumento dos batimentos cardíacos (ação simpática ou adrenérgica). A ação tóxica direta sobre o músculo cardíaco causa depressão da função ventricular levando ao aumento da área cardíaca. O número de complicações cardiovasculares agudos e críticos relacionados ao consumo de cocaína em jovens, tem aumentado de modo assustador. Constatamos recentemente em uma única semana, dois casos de jovens de 21 e 25 anos com lesões coronárias evidenciadas durante cinecoronariografia, feita por nós no Hospital Rio - Mar. Ambos faziam uso constante de cocaína por via inalatória e sofreram infarto agudo, sem evidências de outras causas para tal episódio. Ambos apresentaram arritimias graves e não faleceram porque foram prontamente atendidos no pronto-socorro e recuperados. As seguintes complicações são freqüentes nos consumidores de cocaína: - Infarto agudo do miocárdio; - Morte súbita;
- Arritimias (distúrbios do rítimo cardíaco);
- Miocardite (inflamação do músculo miocárdico);
- Edema pulmonar agudo;
- Hipertensão arterial;
- Ruptura da aorta;
- Hemorragia subaracnóidea.
Destas complicações, a mais freqüente é o infarto do miocárdio. A artéria predominantemente atingida é a principal do coração - a artéria descendente anterior, responsável pela irrigação de grande parte do ventrículo esquerdo.
A associação de cocaína e álcool, freqüentemente utilizada pelos jovens, é potencialmente fatal levando à síncope, arritimia e morte súbita.
Nas primeiras duas semanas de suspensão da cocaína, o eletrocardiograma realizado durante 24 a 27 horas denominado HOLTER, apresentou em estudo realizado em jovens, episódio de ISQUEMIA SILENCIOSA ( sem dor ), evidenciando que o perigo persiste mesmo após a suspensão do tóxico.
A cocaína além de produzir espasmo nas artérias coronárias, produz trombose (coagulação do sangue) arterial, dois fatores que geram o infarto do miocárdio com conseqüencias imprevisíveis, que podem levar à morte súbita.
Os distúrbios do rítimo (arritimias ventriculares) parecem ser a causa de morte pelos usuários de cocaína.
Aos jovens que usam cocaína aconselhamos não fazerem uso simultâneo de bebidas alcóolicas, antidepressivos ou calmantes e procurar orientação psiquiátrica, pois trata-se de um distúrbio grave do comportamento humano como a autodepressão, automutilação e suicídio lento ou súbito.
Nos casos em que a droga foi suprimida a tempo, todas as complicações puderam ser evitadas. O melhor tratamento médico que pode ser dado ao usuário de cocaína é feito por ele mesmo. Só dele depende a suspensão da droga.
Ninguém o obriga a usá-la. Se faz o uso, é porque quer. Portanto, as más companhias não é a causa enfatizada por muitos. A causa é o próprio usuário; este sim é a má companhia para os outros.
Dr. Alberto Siqueira Lopes
Prof. Adjunto de Cardiologia da UERJ |