sábado, 18 de janeiro de 2020

Friedrich Engels

Friedrich Engels

 
Mestre em Ciências Sociais (PUC-Rio, 2015)
Graduada em Ciências Sociais (UERJ, 2012)
Friedrich Engels - Biografia do filósofo alemão 4:20
Friedrich Engels nasceu em 28 de novembro de 1820 em Wuppertal, Alemanha. Filho mais velho de Friedrich Engels e Elise Engels, teve 8 irmãos. Seu pai era descente de uma família de comerciantes e industriais cujas atividades se originaram ainda no século XVI, na região de Wuppertal e Barmen, os negócios foram passados de geração em geração até Engels. Sua mãe era filha de eruditos e conhecida por sua imaginação fértil e o apreço às artes e à cultura.
Essa região da Alemanha foi onde mais se desenvolveu o pietismo (movimento religioso protestante que defendia a supremacia da fé em detrimento da razão), religião que a família de Engels professava. Além da religião outra força social moldou o caráter de Engels, a pobreza do distrito industrial de sua cidade. A região havia se industrializado muito cedo e já sofria com suas consequências, como pobreza e indigência dos trabalhadores.
No que diz respeito a sua formação, Engels tinha vontade de ingressar na Universidade de Direito ou se dedicar a escrita literária, mas declinou de ambas para se dedicar a carreira de empresário, seguindo a trajetória que a família esperava. Sua formação começou nas empresas da família e logo depois seu pai o enviou para Bremen, ourta cidade alemã, aos 17 anos. Uma curiosidade sobre Engels diz respeito a sua habilidade com línguas, ele dominava bem o Alemão, Inglês, Espanhol, Italiano, Português e o Francês, e se vangloriava de poder conversar em 25 idiomas diferentes.
Engels escreveu muitos panfletos em sua juventude sobre questões políticas e filosóficas polêmicas de sua época, como o dualismo de Hegel e as teses de Feuerbach. Durante os anos de 1839 a 1842 Engels se estabeleceu como crítico político e literário, tendo publicado aproximadamente 50 panfletos e artigos. Em 1842, seu pai o enviou para Manchester como parte do treinamento que recebia para trabalhar nas empresas da família.
Em 1844 a amizade entre Karl Marx e Engels se estreita, ambos já haviam se conhecido e trocado cartas em 1841, mas não se entenderam de início. É neste ano que os dois concluem que seus trabalhos são complementares e que de forma independente os dois tinham formado a mesma visão do objetivo da história e dos meios para sua realização. É também em 1844 que ele publicou suas duas obras mais conhecidas, “A situação da classe trabalhadora na Inglaterra” e “As origens da família, da propriedade privada e do Estado”. Em 1848, em parceria com Marx, publicou o “Manifesto do Partido Comunista”, obra mais conhecida da parceria dos dois.
Em suas obras buscou apresentar as origens do socialismo e imaginava meios reais de implantação do socialismo científico, termo por ele criado em oposição aos socialistas que precederam a ele e Marx, os socialistas utópicos. Também está presente em seu pensamento uma forte crítica a religião e a família. Ele foi responsável por viabilizar a publicação da obra que Marx deixou inacabada, “O Capital”, volumes II e III.
Friederich Engels morreu em 5 de agosto de 1895, em Londres.
Referências Bibliográficas:
MAYER, Gustav. Friedrich Engels: a biography. Chapman & Hall, London, 1935.
CARVER, Terrell. Friedrich Engels: his life and thought. Palgrave Macmillan, New York, 1990.

Lenin

Político russo
 

Biografia de Lenin

Lenin (1870-1924) foi um político revolucionário russo, principal líder da Revolução Russa de 1917 e primeiro presidente da Rússia socialista.
Lenin, pseudônimo de Vladimir Ilitch Ulianov, nasceu em Simbirsk, (atual Ulianovsk), na Rússia, no dia 22 de abril de 1870.

Juventude

Desde a adolescência conviveu com as ideologias políticas de seu irmão Alexandre Ulianov, que integrava a organização “Vontade do Povo”, em São Petersburgo.
Em 1887, a organização foi acusada de tentar assassinar o Czar Alexandre III, e Ulianov foi preso e condenado à morte. Nesse mesmo ano, Lenin mudou-se para a cidade de Kazan, onde ingressou na faculdade de Direito.
A partir de 1888, passou a se dedicar ao movimento anti-czarista, que se organizava clandestinamente em São Petersburgo. Nessa época, o regime czarista reprimia todo tipo de oposição.
A Ochrama, a “polícia política”, controlava o ensino secundário, as universidades, a imprensa e os tribunais. Milhares de pessoas eram enviadas para o exílio na Sibéria.
Depois de formado Lenin adotou a ideologia marxista e começou a estudar os problemas econômicos da Rússia, tomando por base as doutrinas de Marx e Engels.
Tornou-se advogado de trabalhadores e camponeses e inimigo do sistema judiciário russo, que em sua opinião, beneficiava as classes economicamente privilegiadas.
Em 1893, Lenin assumiu a direção do movimento marxista na capital, São Petersburgo – cidade depois rebatizada de Leningrado.
Em 1898 fundou o Partido Social Democrata Russo, que tinha por base as ideias de Marx. O partido foi desarticulado pela polícia e Lenin foi preso em 1895 e deportado para a Sibéria.
Libertado em 1900, casou-se com a jovem revolucionária deportada, Madezhda Krupskaya, sua companheira de luta que o acompanhou no exílio.

Formação do Partido Bolchevique

Depois do exílio, Lenin refugiou-se em Genebra, Munique, Londres e Paris, e se aprofundou no estudo das ideias de Marx e Engels, bem como no desenvolvimento de suas próprias teorias sobre a revolução socialista.
Em 1901, na Suíça, entrou em contato com exilados russos, entre eles o revolucionário teórico marxista, Georgi Plekhanov, com o objetivo de criar um partido social-democrata sólido.
Iniciou a publicação do Iskra “Centelha”, jornal que difundia seus ideais e centralizaria a luta do jovem “Partido Social Democrata Russo” contra o czarismo. O jornal entrava clandestinamente na Rússia.
Em 1903 a tese do partido foi discutida em um congresso realizado em Londres, mas as divergências surgidas levaram a uma divisão dentro do partido:
  • O "Partido Bolchevique", liderado por Lênin, acreditava que as mudanças na Rússia deveriam acontecer através de uma revolução imediata. A força motora da revolução seriam os operários das cidades e os camponeses mais pobres que terminariam por instalar a ditadura do proletariado.
  • O "Partido Menchevique" acreditava que o processo deveria ser mais moderado e que o proletariado deveria ajudar a burguesia a consumar uma revolução liberal que levasse à democracia, para numa segunda fase estabelecer o regime socialista.

Lenin e Trotsky

Em 1905, após a derrota na guerra contra o Japão, a fome e o descontentamento assolaram a Rússia. Para ganhar tempo, o czar promulga a Constituição e convoca eleição para o Parlamento, tornando a Rússia uma monarquia constitucional.
Os operários de Petrogrado criam um conselho próprio, “o Soviete”, sob a presidência de Trotsky, que estava ilegalmente na Rússia.
Ainda refugiado, Lenin acompanha a situação e incentiva seus partidários para que participem do Soviete.
Ao saber que o líder era Trotsky disse: “Que importa! Ele o merece por seu trabalho”. A revolução foi esmagada, mas serviu como marco inicial para a queda do regime.
Ainda em 1905, Lenin voltou para a Rússia, mas em 1907 foi preso e deportado. Em 1912, o partido bolchevique foi definitivamente constituído.

Revolução Russa de 1917

Os efeitos da Primeira Guerra Mundial desmascararam a falsa ordem constitucional da Rússia, revelando a crise da sociedade imperial. O exército tinha sofrido 3 milhões de baixas, havia 200 mil trabalhadores parados.
No começo de 1917, a burguesia liberal, apoiada pela esquerda moderada, pressionava o governo. No dia 13 de março o czar abdica. É então constituído um governo provisório de liberais e socialistas.
Lenin voltou à Rússia através da Alemanha, em um vagão blindado pelas autoridades militares alemães. Na própria estação de chegada, iniciou forte campanha contra o governo de Kerenski.
 A promessa de Lenin de “pão, paz e terra” conquistou muitos adeptos da causa Bolcheviques.
lenin
Lenin no poder
Depois de tomar o poder em novembro de 1917, Lenin passou a atacar os grupos socialistas rivais usando a polícia secreta como arma e mandou executar o czar deposto, e toda a sua família.
O novo governo enfrentou muitos problemas. Lenin foi forçado a introduzir o “Comunismo de Guerra”.  Em 1918 sofre um atentado sendo atingido por dois tiros de revolver.
Após uma guerra civil, a fim de evitar o colapso total da economia, instituiu a “Nova Política Econômica” (NEP), que reunia princípios socialistas com elementos capitalistas.
Com a ideia de estender a revolução a outras partes do mundo, em março de 1919, Lenin constituiu a Terceira Internacional, que se converteria no centro de coordenação do movimento comunista mundial.
Em 1923, depois da reconquista de várias áreas do império czarista, que haviam formado suas próprias repúblicas, foi formalmente criada a “União das Repúblicas Socialistas Soviéticas” (URSS).
Lenin faleceu em Gorki Leninskiye, Rússia, no dia 21 de janeiro de 1924. Seu corpo foi embalsamado e permanece até hoje exposto no Mausoléu da Praça Vermelha, em Moscou.
Depois de sua morte, Stalin, que teve importante papel na guerra civil, assumiu o poder e governou a União Soviética, até a sua morte, em 1953.
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Última atualização: 10/10/2019
Dilva Frazão
Possui bacharelado em Biblioteconomia pela UFPE e é professora do ensino fundamental. Desde 2008 trabalha na redação e revisão de conteúdos educativos para a web.

Fiódor Dostoiévski

Escritor russo
 

Biografia de Fiódor Dostoiévski

Fiódor Dostoiévski (1821-1881) foi um escritor russo autor de Os Irmãos Karamázov e Crime e Castigo, obras-primas da literatura universal.
Seus romances abordam questões existenciais e temas ligados à humilhação, culpa, suicídio, loucura e estados patológicos do ser humano.

Infância e Juventude

Fiódor Mikhailovitch Dostoiévski nasceu em Moscou, Rússia, no dia 11 de novembro de 1821. Filho de Mikhail Dostoiévski e Maria Fiodorovna Netchaiev, ficou órfão de mãe no dia 27 de fevereiro de 1837.
Nesse mesmo ano, foi enviado para São Petersburgo onde cursou a Escola de Engenharia Militar. Em 1839, seu pai, que era médico, foi assassinado pelos colonos da fazenda onde vivia. O fato provocou grandes transtornos na vida de Dostoiévski, que teve os primeiros ataques de epilepsia quando soube da morte do pai.

Primeiras obras

Em 1841, o escritor dedicou-se à composição de dois dramas históricos, Boris Godunov e Maria Stuart, mas não os concluiu.
Dois anos mais tarde, terminou os seus estudos e começou a trabalhar na seção de engenharia de Petersburgo. Traduziu duas obras românticas - Eugênia Grandet, de Balzac e Dom Carlos, de Schiller. Em 1944, demitiu-se do cargo público e começou a escrever o seu primeiro romance, Pobre Gente, novela que descrevia o ambiente medíocre onde vivia. A obra foi publicada em 1846.
Em 1847 publicou a segunda edição de Pobre Gente e, em 1948, publicou O Duplo, romance que não obteve sucesso. Sua obra, antes elogiada, estranhamente começa a declinar. A mudança tão inesperada isola Dostoiévski do convívio geral. Começam a surgir dúvidas a respeito da sua própria capacidade enquanto escritor.

Prisão

Em 1847, Fiódor Dostoiévski envolve-se na conspiração do revolucionário Mikhail Petrashevsky no combate ao regime de Nicolau I. É preso e condenado à morte, mas no último momento, teve a sua pena comutada em deportação.
Passou cinco anos na Sibéria, sujeito ao regime de trabalhos forçados na companhia de criminosos comuns. Passou mais cinco anos como soldado raso em um batalhão siberiano, para cumprir o restante da pena. Nessa época, casa-se com Maria Issáievna.
Fiódor​​​​​​​ Dostoiévski
Retrato de Fiódor Dostoiévski

Vida Literária

Anistiado em novembro de 1859, Dostoiévski​​​​​​​ volta para São Petersburgo totalmente transformado pela dura experiência. As recordações da vida no cárcere são descritas nos livros Memórias da Casa dos Mortos (1861) e Memórias do Subsolo (1864).

Crime e Castigo

Em 1866 publica a obra Crime e Castigo, seu primeiro grande romance, que narra a história do estudante Raskólnikov, paupérrimo, que resolve matar uma miserável para salvar a si e sua família, mas logo se vê obrigado a matar outra pessoa, inocente, e sai sem ter roubado nada.
O jovem passa a viver da culpa pelo ato cometido. Suas conversas com o comissário de polícia destroem seus nervos. Por fim, confessa o crime a uma prostituta que lhe mostra o caminho do arrependimento e do Evangelho. A obra é uma grande reflexão existencial sobre como o ser humano se relaciona com as questões divinas.

Os Demônios

Os Demônios, publicado em 1871, é um grande romance político, uma caricatura dos círculos de conspiradores, revolucionários, anarquistas, niilistas e ateus, que o escritor conhecia tão bem a partir da experiência própria e que ele denuncia por quererem destruir a Rússia e a Igreja Ortodoxa.
A obra foi alvo de ataques da imprensa, chegando a ser posta em dúvida o equilíbrio mental do autor.

Os Irmãos Karamázov​​​​​​​

Os Irmãos Karamázov​​​​​​​ (1880) foi a última obra de Dostoiévski e é considerada a sua obra-prima. O romance é uma verdadeira teia de personagens e a obra é permeada pelo discurso indireto, com livres reflexões do próprio autor sobre os personagens.
Mais uma vez o crime é o tema central. Uma tragédia se abate sobre a família quando o velho Fiódor​​​​​​​ Karamázov é assassinado por um dos seus filhos.
Houve quem visse na trama uma alegoria da vida intelectual russa. O velho Karamázov​​​​​​​, por exemplo, é a personificação de todos os pecados exuberantes e brutais da Rússia.

Características das obras de Fiódor​​​​​​​ Dostoiévski​​​​​​​

Fiódor Dostoiévski era um escritor profundamente religioso, seus romances não só abordavam questões existenciais, culpas, suicídio e estados patológicos, como tinha predileção pelo fantástico, pela sátira e pela comédia.
O escritor também não hesitava em lidar com as grandes questões políticas e religiosas.
Fiódor​​​​​​​ Dostoiévski
Imagem de Fiódor Dostoiévski

Obras de maior destaque de Fiódor​​​​​​​ Dostoiévski​​​​​​​

  • Pobre Gente (1846)
  • O Duplo (1846)
  • Noites Brancas (1848)
  • Humilhados e Ofendidos (1861)
  • Memória da Casa dos Mortos (1861)
  • Memórias do Subsolo (1864)
  • Crime e Castigo (1866)
  • O Jogador (1866)
  • O Idiota (1869
  • Os Demônios (1872)
  • O Adolescente (1875)
  • Os Irmãos Karamázov​​​​​​​ (1880)

Morte

Fiódor​​​​​​​ Dostoiévski faleceu em São Petersburgo, Rússia, no dia 9 de fevereiro de 1881 vítima de epilepsia.
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Última atualização: 30/09/2019
Dilva Frazão
Possui bacharelado em Biblioteconomia pela UFPE e é professora do ensino fundamental. Desde 2008 trabalha na redação e revisão de conteúdos educativos para a web.

Hegel


Hegel

 

Juliana Bezerra

Georg Wilhelm Friedrich Hegel (1770-1830) foi um filósofo alemão idealista que abriu novos campos de estudo na História, Direito, Arte, entre outros, através dos seus postulamentos e da lógica dialética.
O pensamento de Hegel influenciou pensadores como Ludwig Feuerbach, Bruno Bauer, Friedrich Engels e Karl Marx.

Biografia

Hegel nasceu em 27 de agosto de 1770, em Stuttgart, na Alemanha. Era o mais velho de três irmãos, filhos de um funcionário público do ducado de Württemberg. Fez seus estudos em casa com tutores e a mãe, mas também no colégio local, onde permaneceu até os 17 anos.
Aprendeu latim com a mãe, além de estudar grego, francês e inglês e muito cedo teve contato com os clássicos gregos e romanos. Apesar de sua sólida educação humanista, Hegel teve uma ótima formação científica. Perdeu a mãe aos 13 anos, e ficou aos cuidados de uma irmã, Cristiana.
Com incentivo do pai, em 1788, ingressou no seminário da Universidade Tübingen a fim de ser pastor. Entre seus companheiros estavam o filósofo Friedrich Wilhelm Joseph von Schelling (1775- 1854) e o poeta Friedrich Hölderlin (1770 - 1843).
Quando Hegel tinha 18 anos, ocorre a Queda da Bastilha, e mais tarde os eventos que comporiam a Revolução Francesa. Entre as consequências do fato histórico está a posterior invasão da Prússia pelo exército francês.
A essa altura, a Alemanha não estava organizada como Estado unificado sendo conglomerado de ducados, principados e condados.
Hegel
Hegel ensinando a seus discípulos
Em 1793, começa a atuar como tutor privado em Berna, na Suíça. No ano seguinte, aconselhado por Hölderlin, começa a análise dos escritos de Immanuel Kant (1724-1804) e Johann Fichte (1762-1814).
Em conjunto com Schelling, Hegel escreveu "O Mais Antigo Programa de um Sistema de Idealismo Alemão". Entre as ideias da obra está a de que o Estado é puramente mecânico.
Por isso é necessário transcender o Estado e os homens livres devem ser tratados como parte da engrenagem que permite seu funcionamento.
Hegel deixa a tutoria em 1779, e passa a viver da herança paterna. A partir de 1801, Hegel vai trabalhar na Universidade de Jena, onde permanece até 1803, em companhia de Schelling.
No período em que deu aulas em Jena, Hegel esgotou o legado deixado pelo pai e passou a trabalhar no jornal de orientação católica Bamberger Zeitung, em Nuremberg. Nessa fase da vida, se casa, tem três filhos e continua os estudos da Fenomenologia.
Enquanto viveu em Nuremberg, Hegel publicou vários fascículos de a "Ciência da Lógica" nos anos de 1812, 1813 e 1816. A partir de 1816, o filósofo aceita ser professor de filosofia na Universidade de Heidelberg.
Morre em Berlim, em 14 de novembro de 1831, vítima de uma epidemia de cólera.

Filosofia

A filosofia de Hegel pode ser compreendida através de sua obra principal “A Fenomenologia do Espírito”, escrita em 1807.
Trata-se de uma introdução ao sistema lógico criado por Hegel que compreende três partes: a Lógica, Filosofia da Natureza e a Filosofia do Espírito.
Este livro pretende superar a dualidade entre o sujeito cognoscente e o sujeito cognitivo e assim aproximá-lo do Absoluto, da Ideia Absoluta, da Verdade.
Para chegar ao Absoluto, o homem precisa questionar suas certezas e neste caminho de dúvidas, estará pronto para pensar filosoficamente e então, conhecer o Absoluto.
O Absoluto age através do homem e se manifesta no desejo que este tem de conhecer a verdade. Desta forma, quanto mais o sujeito se conhece, mais está perto do Absoluto.
Para Hegel tudo aquilo que pode ser pensado é real e tudo que é real pode ser pensado. Não existiria, a priori, limite para o conhecimento, na medida em que a racionalização pode ser realizada através do sistema dialético.

Dialética

A dialética é um conceito filosófico que é utilizado por vários pensadores. A dialética de Platão, por exemplo, seria uma forma de diálogo onde era possível chegar a obter o conhecimento.
Hegel aponta que toda ideia – tesis – pode ser contestada através de uma ideia contrária, a antítese.
Essa disputa entre a tesis e antítese seriam a dialética. Assim, o processo é regido por uma lógica dialética. No entanto, longe de prejudicar a tesis, a discussão entre duas ideias opostas dariam origem a síntese que seria uma ideia aperfeiçoada.
O método dialético proposto por Hegel inclui a noção de movimento, processo ou progresso para chegar ao resultado do conflito de opostos.
Estas ideias seriam aproveitadas por filósofos posteriores como Karl Marx e Friedrich Engels.

Hegel x Marx

Se para Hegel o que faz movimentar o mundo são as ideias, Marx vai afirmar que será a luta de classe e as relações de produção.
Isto porque Marx era um filósofo materialista que levava em conta as condições materiais da vida humana, da sobrevivência do dia a dia.
Assim, a História seria movida pela ação daqueles que não detém os meios de produção em chegar a uma posição mais elevada.
De certa maneira, podemos afirmar que a dialética de Hegel ficava no plano das ideias e do irrealizável. Enquanto Marx, buscava adaptar a dialética para o mundo real.

Frases de Hegel

  • "A tarefa da filosofia é entender o que é a razão."
  • “Nada de grande se realizou no mundo sem paixão.”
  • “A realidade é racional e que toda a racionalidade é real.”
  • “A necessidade geral da arte é a necessidade racional que leva o homem a tomar consciência do mundo interior e exterior e a lazer um objeto no qual se reconheça a si próprio.”
  • “A história ensina é que os governos e as pessoas nunca aprendem com a história.”
  • “Quem quer algo de grande, deve saber limitar-se. Quem, pelo contrário, tudo quer, nada, em verdade, quer e nada consegue.”

Obras

  • Fenomenologia do Espírito (1807)
  • Propedêutica Filosófica (1812)
  • Ciência da Lógica (1812-1816)
  • Enciclopédia das Ciências Filosóficas (1817)
  • Princípios da Filosofia do Direito (1820)

12 reflexões que vão te introduzir ao pensamento de Carl Sagan

  • André Jorge de Oliveira
Atualizado em
(Foto: Kalina Wilson/flickr/creative commons)
Carl Sagan foi um cientista que, definitivamente, não teve medo de especular. É claro que ele sabia muito bem separar o que era ciência do que era especulação. Mas o jeito irresistível através do qual relacionava conceitos científicos com conteúdos imaginativos pertinentes tornava seu pensamento único e fascinante para o público leigo. Não é à toa que ele é considerado um dos maiores divulgadores de ciência de todos os tempos. Além de inspirar toda uma geração de novos cientistas (em grande medida com a série Cosmos), Sagan também adotava um tom poético e filosófico nos assuntos que discutia, tornando suas reflexões ao mesmo tempo belas e dotadas de elementos capazes de despertar uma consciência humanista nas pessoas.
Se fôssemos apresentar todas as frases de impacto do astrônomo que têm o potencial de tornar uma pessoa melhor, provavelmente teríamos de escrever um livro. Mesmo assim, resolvemos escolher algumas citações e pensamentos de Carl Sagan que sintetizam certos aspectos centrais da visão que ele tinha das coisas. Se “somos todos poeira de estrelas” é a única referência que você tem sobre as ideias de Sagan, então os tópicos abaixo podem lhe ajudar a se aprofundar um pouco mais no jeito tão especial que ele tinha de encarar o cosmos – e nós mesmos. Confira:
dente de leão: a nave da imaginação de 'Cosmos' (Foto: Reprodução)
A ciência é muito mais do que um corpo de conhecimentos. É uma maneira de pensar. A afirmação é fundamental para entender a forma como o cientista enxergava o próprio ofício. Completamente apaixonado pelo que fazia, para ele ciências como a física ou a astronomia não se limitavam a um punhado de fórmulas frias e conceitos abstratos. Muito pelo contrário, eram ferramentas poderosas e fascinantes que nos permitiam sondar o desconhecido, além de expandir nosso entendimento sobre a realidade da maneira mais confiável possível.
Toda criança começa como uma cientista nata, e então nós arrancamos isso delas. Entre as características que ele valorizava em um cientista e em qualquer outra pessoa estão a curiosidade e a imaginação, traços típicos das crianças. Para o astrônomo, pensar cientificamente era algo como interrogar de forma metódica diversos aspectos da natureza, o que não deixa de ser uma forma de curiosidade aplicada. A respeito da imaginação, ele acreditava ser um dos motores fundamentais do conhecimento humano.
Um livro é a prova de que os humanos são capazes de fazer mágica. Além da forte inclinação por especular, Sagan também era um intelectual com enorme capacidade de relacionar diferentes áreas do conhecimento – e fazia isso excepcionalmente bem. Para conseguir esta naturalidade em transitar por diversos repertórios, é preciso muita leitura e erudição multidisciplinar. Cosmos, por exemplo, é repleto de narrativas sobre a história da ciência, e em vários momentos o astrônomo declara sua admiração pelos livros.
Nós somos uma maneira de o cosmos se autoconhecer. Se somos feitos de poeira de estrelas sistematicamente organizada para formar seres dotados de consciência, então podemos dizer que somos o universo pensando sobre si próprio. A abordagem se insere na convicção de que nós, humanos, não somos tão diferentes assim da realidade física que nos cerca, e de que interagimos com ela constantemente – de formas que estamos apenas começando a entender. Em outras palavras, você e o cosmos estão intimamente conectados. O astrônomo costumava citar mitos de nossos antepassados que nos concebiam como filhos tanto do céu quanto da terra.
Nossa obrigação de sobreviver e prosperar é devida não apenas a nós mesmos, mas também ao cosmos, antigo e vasto, do qual surgimos. Sagan possuía um profundo senso de reverência com relação à vida e ao ser humano. Ele acreditava que estar vivo e ter uma consciência era não apenas um privilégio, mas também uma grande responsabilidade. Como salientou em diversos momentos, nossa espécie atingiu um ponto crítico de sua história, no qual tem o próprio destino nas mãos. Todo o conhecimento e bagagem evolutiva que acumulamos nestes poucos milênios podem ser usados de forma a engrandecer nossa civilização – ou então destruí-la por completo, se insistirmos nos erros do passado.
(Foto: Sérgio Bernardino/flickr/creative commons)
Cada um de nós é, sob uma perspectiva cósmica, precioso. Se um humano discorda de você, deixe-o viver. Em cem bilhões de galáxias, você não vai achar outro. A reflexão segue a mesma linha do raciocínio apresentado acima – a vida inteligente é rara. Nosso conhecimento sobre o Universo ainda é limitado, é verdade, mas pelo pouco que exploramos já conseguimos chegar a esta conclusão. Sob esta perspectiva, a vida na Terra, principalmente a humanidade, ganha um status quase que sagrado, pois é fruto de um processo contínuo de evolução que se arrasta há 4,5 bilhões de anos. Todos carregam esta bagagem compartilhada dentro de si. Quando enxergamos a vida desta forma, o ato de matar qualquer ser vivo ganha novas e gigantescas proporções.
Diante da vastidão do espaço e da imensidão do tempo, é uma alegria dividir um planeta e uma época com Annie. A frase é adereçada a Ann Druyan, esposa do astrônomo, mas poderia muito bem se aplicar a qualquer outra pessoa. A constatação é de um poder imenso. Apenas pense em como é improvável, nos termos de uma perspectiva cósmica, você e outro amontoado de átomos que formam um ser consciente terem a chance de interagir um com o outro, em um minúsculo planeta chamado Terra e em um período de tempo específico. Reflita: são mais de 100 bilhões de galáxias em nosso Universo, que existe há pelo menos 13,8 bilhões de anos.
Nós somos, cada um de nós, um pequeno universo. Um assunto abordado com frequência por Carl Sagan era a dimensão das coisas muito pequenas, como aquelas que compõem nossos corpos. Ele frequentemente colocava o minúsculo em escala com o gigantesco, equiparando, por exemplo, a quantidade de átomos em uma molécula de DNA com a de estrelas em uma galáxia típica. É uma forma elegante de demonstrar como somos muito pequenos e muito grandes ao mesmo tempo. Em uma outra comparação do gênero, dizia que existem mais estrelas no Universo do que grãos de areia em todas as praias da Terra.
O Universo não parece nem benigno nem hostil, mas meramente indiferente às preocupações de criaturas tão insignificantes como nós. O cientista defendia que era melhor tentar se agarrar à realidade do jeito que ela realmente é do que persistir em ilusões, por mais reconfortantes que elas sejam. No fundo, ele queria dizer que, por menos acolhedor e mais adverso que o cosmos possa nos parecer, a verdade é que ele opera independentemente de nossos desígnios. Seremos nós que sempre vamos precisar nos adaptar ao Universo se quisermos sobreviver nele, e não o contrário. A chave para esta adaptação estaria em tentar constantemente entender a natureza das coisas por meio da ciência.
O que sobrou da supernova SN1006c (Foto: nasa)
O céu nos chama. Se não nos autodestruirmos, um dia vamos nos aventurar pelas estrelas. A exploração espacial era um tópico especialmente caro a Sagan, e ele próprio participou de diversos projetos da NASA, como o da sonda Voyager 1, que deixou recentemente o Sistema Solar. Em sua concepção, os poucos milênios de vida sedentária da humanidade não apagaram nosso instinto por explorar novos lugares e expandir nossos horizontes, traços típicos das sociedades voltadas para a caça e coleta. Ele acreditava que o gosto pela exploração era uma herança evolutiva para aumentar as chances de sobrevivência de nossa espécie, e que portanto, cedo ou tarde, vamos nos espalhar pelo espaço.
Toda civilização sobrevivente é obrigada a se tornar viajante espacial, pela razão mais prática que se pode imaginar: manter-se viva. A ideia da expansão pelo espaço no pensamento do astrônomo não se reduzia a um capricho meio romântico ou então à tendência humana de explorar. Ela tinha mais a ver com uma espécie de instinto de sobrevivência. Não é tão difícil de entender este argumento: se a humanidade inteira está confinada na Terra e algo acontece com o planeta, estamos condenados à extinção. Asteroides são uma grande ameaça, mas nosso próprio sol pode nos engolir daqui a 5 bilhões de anos, quando seu combustível acabar e ele virar uma gigante vermelha.
Uma das grandes revelações da era da exploração espacial é a imagem da Terra, finita e solitária, de alguma forma vulnerável, transportando a espécie humana inteira pelos oceanos do espaço e do tempo. Entre as mensagens inspiradas pela ciência mais belas da história certamente está Pale Blue Dot (pálido ponto azul), de autoria de Carl Sagan. Pouco depois de a sonda Voyager  1 ultrapassar Saturno, foi ele quem deu a ideia de tirar uma foto da Terra, que dali aparecia como um pixel azul suspenso em um raio de sol. Ou então um grão de areia suspenso no céu da manhã, como ele mais tarde interpretou. Entre as muitas formas que podemos enxergar nosso frágil planeta, uma delas é como uma nave, que sempre nos transportou pelo espaço e pelo tempo.

Karl Marx: resumo da biografia, principais obras e teorias!


Com ideias e discursos atemporais, Karl Marx foi uma personalidade que deixou obras e teorias que impactam a sociedade até os dias de hoje. Tamanha foi a importância e influência do trabalho deste pensador que é normalmente cobrado no Enem e também nos maiores vestibulares do Brasil. Se você quer conhecer os principais detalhes sobre a biografia de Karl Marx, confira este artigo.
Nele você conhecerá os principais fatos da vida de Karl Marx e seu trabalho com Friedrich Engels. Se você está organizando uma rotina de estudos para gabaritar o Enem e garantir o ingresso em uma boa universidade, confira essa matéria com grande chance de ser abordada na prova de Sociologia.
Veja também nossa vídeo aula! 

Biografia de Karl Marx: resumo

Nascido em 05 de maio de 1818, na histórica cidade de Tréveris, então parte da Alemanha, Karl Marx teve uma vida duplicada. Isso porque, com a adoção dos seus pensamentos como ideais políticos, foi criada uma imagem perfeita (e outra completamente negativa) para contar a história da personalidade que existiu. Afinal, quem foi Karl Marx?
Filósofo, político, economista, sociólogo e jornalista, Karl Marx era filho de judeus da classe média. Ele assistiu ao seu pai se converter ao cristianismo não por ideologia, mas para conseguir exercer a profissão de advogado (na época, o fato de uma pessoa ser judia a impedia de exercer determinadas funções). Anos mais tarde, o jovem Karl Marx entrou na Universidade de Bonn para cursar Direito e lá participou ativamente da política estudantil.
Apesar disso, ele se transferiu para a Universidade de Berlim. Nessa época, dois fatos importantes acontecem:
  1. Marx conhece o pensamento de Hegel (filósofo, professor e reitor da Universidade de Berlim) e se une aos jovens que seguem a filosofia hegeliana, condenando principalmente o estado e a religião;
  2. Marx e Jenny ficam noivos. Porém, tanto a família dele quanto a dela não viam a união com bons olhos e eles só foram se casar 7 anos depois.
O crescente interesse de Marx pelo pensamento de Hegel e sua participação no grupo de esquerda, jovens hegelianos fazem com que ele se transfira para o curso de Filosofia, no qual se doutorou. Entretanto, justamente por concordar com a vertente de Hegel, Marx é impedido de prosseguir na carreira acadêmica, sem ser aceito para lecionar.
Em 1843, Karl Marx se casou com Jenny, com quem teve 7 filhos. Nesse mesmo tempo, ele se mudou para Colônia, onde conheceu Engels e se tornou o diretor do jornal Gazeta Renana (essa amizade se tornou muito importante, pois os dois trabalharam juntos até a morte de Marx). Depois, com o fechamento do jornal, Karl Marx se mudou para Paris.
Além dos 7 filhos que teve dentro do casamento, Karl Marx também teve um filho com a empregada que contratou (e também militante do socialismo), Helena Demuth. Entretanto, ele não assumiu a paternidade nem prestou ajuda à criança.
As publicações de Marx, altamente críticas, depreciavam o governo alemão e isso fez com que os governos de outros países também expulsassem ele, a pedido dos alemães. A numerosa família, que vivia momentos de difícil situação financeira, recebeu a contribuição de admiradores do filósofo e se mudou para Londres, de onde Marx prosseguiu com seu trabalho.
Dois anos após a morte da esposa, Marx teve uma depressão. Ele adoeceu com uma infecção de garganta que o impediu de falar e até mesmo de se alimentar direito. O quadro evoluiu para um agravamento do sistema respiratório e bronquite. Karl Marx faleceu no dia 14 de março de 1883, em Londres, Inglaterra.

Karl Marx e Friedrich Engels

A maior parte das teorias de Karl Marx foram desenvolvidas em parceria com Engels. O trabalho que começou nos jornais em Paris, que publicou, além de muitas de suas teses, vários artigos de Engels. A contrariedade do imperador da Prússia influencia na expulsão dos colaboradores do jornal (entre eles, Karl Marx e Friedrich Engels), que seguem para a Bélgica.
Uma vez instalados, eles progridem com o desenvolvimento de ensaios e teses sobre o socialismo.
Tanto Marx quanto Engels viam o Estado capitalista como defensor dos interesses de uma classe dominante sobre toda a sociedade civil (assegurando assim apenas a vontade da burguesia). A isso, eles nomearam ideologia da classe dominante, que, segundo os trabalhos desenvolvidos, era reproduzida nas diversas relações de poder da época — não apenas do Estado, como até mesmo da própria família.
Marx funda a Sociedade dos Trabalhadores Alemães com o objetivo de fortalecer o movimento operário na Europa. Ele e Engels se unem à Liga dos Justos, que mais tarde se chamaria Liga Comunista, que tinha por objetivo inicial “estabelecer o Reino de Deus na Terra, com base nos ideais de amor ao próximo, igualdade e justiça”. Depois o movimento foi se ressignificando para a famosa luta de classes.

Karl Marx: comunismo

Teorias igualitárias, como as que promoviam a supressão das classes, já existiam desde a antiguidade. Platão, por exemplo, idealizava uma sociedade na qual não existiria a propriedade privada e nem o modelo de família como conhecemos, o matrimônio não existiria e os pais não conheceriam seus filhos, que seriam criados e mantidos permanentemente pelo Estado. O diferencial de Marx foi a ideia da luta de classes.
Marx e Engels apresentam o socialismo científico,; em 1848, desenvolveram o Manifesto Comunista. Nele foi destacada a importância dos operários para a sociedade e observado que, embora os trabalhadores produzam a maior parte da riqueza de um Estado, eles são excluídos dos benefícios dessa produção, que fica nas mãos da minoria burguesa.
É importante salientar que Marx não condena a classe burguesa. Pelo contrário, ele reconhece a importância do papel que essa classe tem e como contribuiu na supressão do estilo feudal. Entretanto, ele e Engels propõem que é o momento de esse modelo dar lugar a uma forma mais igualitária de poder. Para isso, Marx acredita que é preciso que a classe operária se reúna e lute contra a opressão que sofre.
Algumas vantagens do comunismo de Karl Marx são:
  • luta pelo fim da opressão e surgimento de um Estado mais igualitário;
  • dissolução do interesse privado;
  • fim do trabalho forçado;
  • fim do trabalho infantil (que era muito comum na época, principalmente nas fábricas);
  • gratuidade da educação para todas as crianças por meio de uma rede pública de ensino.

Obras de Karl Marx



Karl Marx teve uma vida e produção intelectual muito grande. Confira agora as principais obras de Karl Marx e veja como elas refletem o que ele estava vivendo na época. Por exemplo, enquanto “O Capital” está voltado para a economia, escrito em uma fase mais madura do escritor, “O Manifesto Comunista integra uma fase de transição, na qual a filosofia já não era mais tão importante, mas ainda conferia forte influência na sua produção.

O Capital (Karl Marx)

Na verdade, é uma coletânea de 4 volumes, e cada um se refere a uma parte do assunto. Nesse livro de Karl Marx, ele aborda:
  • o processo de produção do capital;
  • o processo de circulação desse capital;
  • a globalização dada por meio da produção capitalista;
  • a teoria da mais-valia.
Nessa obra, Marx faz uma crítica ao modelo econômico e político do capitalismo. Enquanto, nos três primeiros livros, o autor apresenta as contradições e falhas econômicas do sistema capitalista, no quarto livro do conjunto ele expõe sua teoria e soluções para os problemas anteriormente apresentados.

O Manifesto Comunista

Escrito em 1848 em parceria com Friedrich Engels, esse livro apresenta a teoria da luta de classes e do materialismo histórico. Após fazer uma investigação científica sobre o trabalho proletário, Marx percebeu a força e a potência da união e organização da classe trabalhadora. Sua proposta com esse livro é, além da exposição de suas ideias sobre como esse processo da luta de classes poderia promover o comunismo, fazer um chamado para a participação dessa classe no movimento.
A publicação do Manifesto, junto de outras circunstâncias vivenciadas no momento, levou Karl Marx a ser reconhecido como o líder do partido comunista, que se apresentou em prol da democracia revolucionária moderna. Nas próprias palavras de Marx nessa obra: “Trabalhadores de todo o mundo, uni-vos!”.

Outros livros de Karl Marx

Veja outras obras de Marx de acordo com suas diversas fases.

Jovem Marx

Obras mais voltadas para a Filosofia. Entre elas, podemos destacar:
  • Diferença da filosofia da natureza em Demócrito e Epicuro (1841);
  • A questão judaica (1843);
  • Miséria da filosofia (1847);
  • A burguesia e a contrarrevolução (1848).

Transição

Nessa fase, as produções deixaram de ser puramente filosóficas para ter um caráter mais voltado para a Economia. Nesse período, não houve publicação de livros e sim de artigos e panfletos como:
  • O 18 de brumário de Luís Bonaparte (1852);
  • Punição capital (1853);
  • A decadência da autoridade religiosa (1854).

Marx maduro

As últimas produções de Karl Marx se dedicaram mais a apresentar seus estudos econômicos. Por exemplo:
  • População, crime e pauperismo (1859);
  • Manifesto de lançamento da Primavera Internacional (1864);
  • Salário, preço e lucro (1865).

Teorias de Karl Marx

 
Marx apresentou diversas teorias que contribuíram tanto com a ideia de um socialismo científico como também para uma reflexão acerca do capitalismo. Algumas das teorias de Marx foram:

Alienação: Karl Marx

A alienação segundo Karl Marx fala sobre o desencontro existente no capitalismo entre o trabalhador e o produto final do seu trabalho. Dessa forma, segundo Marx, o homem perde-se a si mesmo e ao seu trabalho, que é definido pelo pensador como fundamental para a expressão de cada ser humano.

Mais-valia: Karl Marx

Já o termo mais-valia, criado por Karl Marx, é uma teoria que considera o esforço de trabalho e como ele é desvalorizado no sistema capitalista. E é dessa forma que surge o lucro, da diferença do valor entre o trabalho do operário e o produto gerado. Para que isso aconteça, o proletário precisa trabalhar um tempo a mais para suprir as necessidades do capitalista. Em outras palavras, este é um sistema de exploração em que o patrão visa ao lucro.

Materialismo histórico: Karl Marx

O termo materialismo histórico de Karl Marx na verdade não foi nomeado por ele, mas serve para descrever sua teoria que é um contraponto ao idealismo de Hegel. Ela sugere que os homens produzem as condições de suas vidas e, sendo assim, a base da história está ancorada no mundo material. Com isso, Marx defende que as relações de produção devem ser responsáveis pela relação entre as classes sociais.

Frases de Karl Marx

A seguir, apresentaremos algumas citações de Karl Marx e seus significados.

Religião

“A religião é o suspiro da criatura aflita, o estado de ânimo de um mundo sem coração, porque é o espírito da situação sem espírito. A religião é o ópio do povo.”
Para Marx, a religião servia como ilusão, para diminuir o sofrimento do povo, uma espécie de válvula de escape.

Transformação

“Os filósofos limitaram-se a interpretar o mundo de diversas maneiras; o que importa é modificá-lo.”
Para Marx, de nada importava criar teorias se não fosse viável colocá-las em prática.

Comunismo

“Reunião de homens livres trabalhando com meios de produção comuns e, dependendo, a partir de um plano combinado, suas numerosas forças individuais como uma única e mesma força de trabalho social.”
Um resumo dos princípios do comunismo.

Luta de classes

“A história da sociedade até os nossos dias é a história da luta de classes.”
Para Marx, a luta de classes seria a mola-mestra para grandes mudanças materiais, o que, consequentemente, confirma que os trabalhadores seriam fundamentais para criar um novo sistema econômico, político e social, pondo fim ao capitalismo.

Trabalho

“De cada qual, segundo sua capacidade, a cada qual, segundo suas necessidades.”
Essa citação enfatiza a relação entre a necessidade e capacidade de trabalho, atestando o equilíbrio entre a produção e distribuição dos produtos.
Gostou da história de Karl Marx? Agora você já pode assinalar esse tema na sua lista de conteúdos para se preparar para o Enem. Como você viu, além de propor uma luta de classes para o surgimento de um novo modelo social, econômico e político, que superasse diversos obstáculos travados com o capitalismo, Karl Marx também acreditava na instauração desse novo modelo como uma proposta igualitária e mais justa.
Pratique sobre os conhecimentos que você acabou de ver aqui, cadastre-se aqui e faça nossos exercícios sobre Karl Marx!
 

Beatriz Abrantes

Cursando jornalismo, é apaixonada pela profissão e por inventar receitas em sua cozinha. Faz parte do time de Marketing e Conteúdo do Stoodi, focada em SEO. A Bia adora dançar, participa de ONG’S de proteção aos animais e ama passar tempo vendo filmes. Conheça mais os seus textos!

Morre no Rio o poeta e escritor Ferreira Gullar

Morre no Rio o poeta e escritor Ferreira Gullar

 

Publicado em 04/12/2016 - 12:40
Por Douglas Corrêa - Repórter da Agência Brasil Rio de Janeiro
 
O poeta, escritor, jornalista e teatrólogo Ferreira Gullar morreu neste domingo (4) no Hospital Copa d’Or, na zona sul do Rio, aos 86 anos. Ele era membro da Academia Brasileira de Letras (ABL) desde 2014.
Ferreira Gullar, cujo nome verdadeiro é José de Ribamar Ferreira, nasceu em São Luís do Maranhão em 10 de setembro de 1930, numa família de classe média pobre. Dividiu os anos da infância entre a escola e a vida de rua, jogando bola e pescando no Rio Bacanga. Considera que viveu numa espécie de paraíso tropical e, quando chegou à adolescência, ficou chocado em ter de tornar-se adulto, e tornou-se poeta.

Morre no Rio o poeta Ferreira Gullar
Morre no Rio o poeta Ferreira GullarTV Brasil Memórias/Aruivo
No começo, acreditava que todos os poetas já haviam morrido e somente depois descobriu que havia muitos deles em sua própria cidade, a algumas quadras de sua casa. Com 18 anos, passou a frequentar os bares da Praça João Lisboa e o Grêmio Lítero-Recreativo, onde, aos domingos, havia leitura de poemas.
Descobriu a poesia moderna apenas aos 19 anos, ao ler os poemas de Carlos Drummond de Andrade e Manuel Bandeira. Ficou escandalizado com esse tipo de poesia e tratou de informar-se, lendo ensaios sobre a nova poesia.
Pouco depois, aderiu a ela e adotou uma atitude totalmente oposta à que tinha anteriormente, tornando-se um poeta experimental radical, que tinha como lema uma frase de Gauguin: “Quando eu aprender a pintar com a mão direita, passarei a pintar com a esquerda, e quando aprender a pintar com a esquerda, passarei a pintar com os pés”.
Ou seja, nada de fórmulas: o poema teria que ser inventado a cada momento. “Eu queria que a própria linguagem fosse inventada a cada poema”, diria ele mais tarde. Assim nasceu o livro que o lançaria no cenário literário do país em 1954: A Luta Corporal.
Os últimos poemas deste livro resultam de uma implosão da linguagem poética e provocariam o surgimento na literatura brasileira da “poesia concreta”, de que Gullar foi um dos participantes e, em seguida dissidente, passando a integrar um grupo de artistas plásticos e poetas do Rio de Janeiro: o grupo neoconcreto.
O movimento neoconcreto surgiu em 1959, com um manifesto escrito por Gullar, seguido da teoria do não-objeto. Esses dois textos fazem hoje parte da história da arte brasileira, pelo que trouxeram de original e revolucionário. São expressões da arte neoconcreta as obras de Lygia Clark e Hélio Oiticica, hoje nomes mundialmente conhecidos.
Experiências
Gullar levou suas experiências poéticas ao limite da expressão, criando o Livro-Poema e, depois, o Poema Espacial, e, finalmente, o Poema Enterrado. Este consiste em uma sala no subsolo a que se tem acesso por uma escada; após penetrar no poema, deparamo-nos com um cubo vermelho; ao levantarmos este cubo, encontramos outro, verde, e sob este ainda outro, branco, que tem escrito numa das faces a palavra “rejuvenesça”.
O poema enterrado foi a última obra neoconcreta de Gullar, que afastou-se do grupo e integrou-se na luta política revolucionária. Entrou para o Partido Comunista e passou a escrever poemas sobre política e participar da luta contra a ditadura militar que havia se implantado no país, em 1964. Foi processado e preso na Vila Militar. Mais tarde, teve de abandonar a vida legal, passar à clandestinidade e, depois, ao exílio. Deixou clandestinamente o país e foi para Moscou, depois para Santiago do Chile, Lima e Buenos Aires.
Voltou para o Brasil em 1977, quando foi preso e torturado. Libertado por pressão internacional, voltou a trabalhar na imprensa do Rio de Janeiro e, depois, como roteirista de televisão.
Teatro
Durante o exílio em Buenos Aires, Gullar escreveu Poema Sujo, um longo poema de quase cem páginas e que é considerado  sua obra-prima. Esse poema causou enorme impacto ao ser editado no Brasil e foi um dos fatores que determinaram a volta do poeta a seu país. Poema Sujo foi traduzido e publicado em várias línguas e países.
De volta ao Brasil, Gullar publicou, em 1980, Na vertigem do dia e Toda Poesia, livro que reuniu toda sua produção poética até então. Voltou a escrever sobre arte na imprensa do Rio e São Paulo, publicando, nesse campo, dois livros Etapas da arte contemporânea (1985) e Argumentação contra a morte da arte (1993), onde discute a crise da arte contemporânea.
Outro campo de atuação de Ferreira Gullar é o teatro. Após o golpe militar, ele e um grupo de jovens dramaturgos e atores fundou o Teatro Opinião, que teve importante papel na resistência democrática ao regime autoritário. Nesse período, escreveu, com Oduvaldo Vianna Filho, as peças Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come e A saída? Onde fica a saída? De volta do exílio, escreveu a peça Um rubi no umbigo, montada pelo Teatro Casa Grande em 1978.
Gullar afirmava que a poesia era sua atividade fundamental. Em 1987, publicou Barulhos e, em 1999, Muitas Vozes, que recebeu os principais prêmios de literatura daquele ano. Em 2002, foi indicado para o Prêmio Nobel de Literatura.
Governador
O governador do estado, Luiz Fernando Pezão, divulgou nota de pesar sobre a morte do jornalista, escritor e imortal da Academia Brasileira de Letras (ABL) Ferreira Gullar, que morreu na manhã de hoje (4), aos 86 anos, no Hospital Copa d’Or, em Copacabana, zona sul do Rio.
“Ferreira Gullar é uma das expressões mais fortes da literatura brasileira. Em todas as dimensões em que atuou, o fez com maestria e densidade. Antes de ser imortalizado pela Academia Brasileira de Letras, Ferreira Gullar já fora eternizado pela sua obra. Por isso, o poeta sempre será lembrado. Meus sinceros sentimentos aos familiares e amigos”.
A Academia Brasileira de Letras ainda não tem a hora e local onde o corpo do acadêmico Ferreira Gullar será velado. Essas providências estão sendo tomadas pela família, que ainda está decidindo para onde o corpo será levado.
Prefeito
O prefeito do Rio, Eduardo Paes, também divulgou nota sobre a morte do poeta, escritor e imortal Ferreira Gullar, que morreu na manhã de hoje, no Rio. De acordo com Paes, o  Brasil e o mundo choram hoje a perda do imortal poeta Ferreira Gullar.
"Mas, na cidade que ele escolheu para viver, a dívida de gratidão com esse gênio das palavras é ainda maior. Meu amigo Gullar foi um dos 150 representantes da intelectualidade e da sociedade carioca que desde 2012 participam do Conselho da Cidade, colaborando com sua mente brilhante para ajudar a transformar o Rio. Por isso, além da saudade que ficará desse carioca de coração, deixo aqui o meu 'muito obrigado" para este amigo em nome de todos os apaixonados pela Cidade Maravilhosa. Meus sentimentos para toda a família  e para os admiradores de Ferreira Gullar. Que sua poesia continue imortal para a cidade do Rio de Janeiro".

Ferreira Gullar - 28/02/2011

sexta-feira, 17 de janeiro de 2020

Os 10 melhores poemas brasileiros de todos os tempos

Os 10 melhores poemas brasileiros de todos os tempos





Os 10 melhores poemas brasileiros de todos os tempos


Pedimos aos leitores e colaboradores que apontassem os poemas mais significativos de autores brasileiros em todos os tempos, independentemente de gêneros ou correntes literárias a que pertenceram. Mais de 170 poemas foram indicados, mas, destes, apenas 24 tiveram mais de cinco citações. São eles: “A Máquina do Mundo”, “Procura da Poesia”, “Áporo” e “Flor e a Náusea”, de Carlos Drummond de Andrade; “O Cão Sem Plumas”, “Tecendo a Manhã” e “Uma Faca Só Lâmina”, de João Cabral de Melo Neto; “Invenção de Orfeu”, de Jorge de Lima; “O Inferno de Wall Street”, de Sousândrade; “Marília de Dirceu”, de Tomás Antônio Gonzaga; “Cobra Norato”, de Raul Bopp; “O Romanceiro da Inconfidência”, de Cecília Meireles; “Vozes d’África”, de Castro Alves; “Vou-me Embora pra Pasárgada” e “O Cacto”, de Manuel Bandeira; “Poema Sujo” e “Uma Fotografia Aérea”, de Ferreira Gullar; “Via Láctea” e “De Volta do Baile”, de Olavo Bilac; “Canção do Exílio”, de Gonçalves Dias; “As Cismas do Destino” e “Versos Íntimos”, de Augusto dos Anjos; “As Pombas”, de Raimundo Correia; “Soneto da Fidelidade”, de Vinicius de Moraes.
Listas são sempre incompletas, sabe-se que, como a percepção, a opinião é algo individual, subjetivo, idiossincrático. De qualquer forma, os dez poemas selecionados, se não são unanimidades entre os participantes da enquete (e possivelmente não serão entre os leitores), são referências incontestes de alguns dos momentos mais marcantes da história da poesia brasileira. O resultado não pretende ser abrangente ou definitivo e corresponde apenas à opinião das pessoas consultadas. Por motivo de direitos autorais, alguns poemas tiveram apenas trechos publicados.

Ferreira Gullar conta como escreveu "Poema sujo"

Ferreira Gullar e o "Poema sujo"

Ferreira Gullar e o "Poema sujo"

Por Miguel Conde

Estava em casa, no último dia 4, quando fiquei sabendo da morte de Ferreira Gullar. Dois meses antes, estávamos na livraria Leonardo da Vinci, no Centro do Rio, para uma conversa em torno da nova edição do seu livro mais conhecido, o Poema sujo. Por mais de uma hora, diante de uma plateia lotada, Gullar falou com lucidez e energia sobre o livro, escrito quando ele vivia um exílio angustiante em Buenos Aires. Concebido como um “testemunho final” por um autor que temia de uma hora pra outra sumir, como tantas pessoas estavam sumindo na América Latina, o Poema sujo detonou um movimento pelo retorno de Gullar ao Brasil. A comoção criada pelo livro o estimularia a voltar ao país, em circunstâncias arriscadas, dando fim a um périplo de seis anos no exílio. Quatro décadas depois, o Poema sujo acabaria marcando também uma despedida, naquele lançamento derradeiro no dia 6 de outubro.
Depois de receber a notícia, abri o computador e entrei no Facebook para encontrar, como esperado, minha timeline tomada de posts sobre o poeta. Alguns com previsível má-vontade diante de suas posições políticas nos últimos anos de vida, outros ponderando com mais cuidado a relação entre seu articulismo e seus versos, muitos publicando poemas seus ou lembrando as circunstâncias em que tinham tomado contato com a sua obra pela primeira vez. Um memorial coletivo e fragmentário que fazia pensar no “espanto” que Gullar insistia estar na origem de seus versos.
Como observaram diversos críticos, a memória não é no Poema sujo um simples procedimento de recuperação de dados estáticos, mas um movimento que afeta a própria matéria por meio da qual se realiza, fazendo da redescoberta de uma impressão antiga um ato que é sempre transformador, em vez de meramente reiterativo. Uma dinâmica que poderia descrever não apenas o efeito produzido por essa volta coletiva aos poemas ocasionada pela morte de Gullar, mas o próprio sentido do retorno reiterado, por parte da crítica, a um livro já tão esquadrinhado e discutido quanto o Poema sujo.
É comum, no entanto, que esses “retornos críticos” a uma obra canônica se realizem como repetição cautelosa do já dito, produzindo uma enorme massa de variações microscópicas em torno dos mesmos motivos. O medo de fazer algo do tipo, e o esforço para dar conta de uma fortuna crítica que parece crescer mais rápido do que o estudo é capaz de avançar, me levariam nos últimos anos a protelar repetidas vezes o projeto de escrever um texto sobre o Poema sujo. Em vez de postar também um poema e tomar parte no luto coletivo, fechei o computador e fiquei pensando nos motivos que haviam me levado, anos atrás, a elaborar um malogrado plano de estudos sobre o livro.
Ao recordar a vida de Gullar em São Luís, o Poema sujo realiza um movimento duplo. Se pretende tornar mais uma vez presente aquele mundo remoto, ainda que apenas na duração breve do relâmpago que “clareia os continentes passados”, também assinala uma série de ausências irrecuperáveis, por meio de imagens que conferem ao tempo um sentido corrosivo. A ferrugem nos talheres, todo tipo de objeto empenado (“garfos enferrujados facas cegas cadeiras furadas mesas gastas”), as telhas da casa encardidas, o limo e o musgo encobrindo as construções. O passado volta numa torrente, ainda vivo (“a vida a explodir por todas as fendas da cidade”), mas traz também a recordação do ritmo lento, quase imóvel, do dia a dia na província – num bairro pobre, a agonia de uma noite espessa, que não passa (“estendida/ como graxa/ por quilômetros de mangue/ a noite alta”); a imagem de um rio que apodrece; na quitanda de seu pai, a pasmaceira de um tempo que se acumula (“tudo estava parado/ na mesma imobilidade branca/ do fubá dentro do depósito”); ou ainda “o clarão do sol morrendo na platibanda em frente à nossa janela”.
A recordação da juventude é também um inventário de coisas perdidas. Há uma gravação que captura bem essa condição dupla e contraditória do livro. É uma leitura integral do Poema sujo realizada por Gullar em 2005 e lançada em DVD pelo Instituto Moreira Salles. A leitura dura pouco mais de uma hora, mas (à maneira do que acontece no livro) são diversos os tempos que essa hora contém – a infância que o poema recorda, a velhice do poeta que faz a leitura, os anos de exílio que o livro de algum modo captura e ajudou a encerrar. Algumas pausas e equívocos, preservados no corte final, sugerem que também alguma coisa do poema que está sendo lido poderia se perder. Já de saída, não está ali o ritmo plástico criado pela disposição das palavras na página. Mas mesmo as palavras, a ordem dos versos, parecem às vezes escapulir. Em vez de um marco monumental, a realização “bem-acabada” e “definitiva” que desde cedo os comentaristas veriam no livro, o poema assume então um feitio mais frágil. De algum modo, talvez, mais próximo daqueles meses em que ia sendo escrito no exílio. Fazia trinta anos, àquela altura, que Gullar dera por concluído o longo processo de escrita iniciado em maio de 1975, depois descrito por ele, alternadamente, como “aventura”, “viagem”, “enxurrada”.
A gravação no IMS (concebida por Antonio Fernando de Franceschi e coordenada por João Moreira Salles) remete ainda à história acidentada do livro, que chegou pela primeira vez ao Brasil de maneira clandestina. No que é talvez o mais conhecido episódio da mitologia do Poema sujo, Vinicius de Moraes gravou em Buenos Aires e trouxe consigo ao Brasil uma fita em que Gullar fazia a leitura da obra recém-concluída. Um contrabando poético que circularia entre amigos e animaria o editor Ênio Silveira a publicar o livro pela Civilização Brasileira. Até onde se sabe, a fita se perdeu.
Naquele dia, na Leonardo da Vinci, perguntei a Gullar sobre as imagens de envelhecimento recorrentes no Poema sujo. A resposta veio numa sequência que fazia pensar na dicção reiterativa de algumas partes do livro (“mas variados são os modos/ como uma coisa/ está em outra coisa”): “O que estou mostrando no poema é essa coisa da realidade que é a deterioração das coisas. Quer dizer, a constatação de que as coisas acabam, de que as coisas se deterioram, de que as coisas envelhecem, de que as coisas se perdem. Que é uma coisa que a vida te mostra que é.”
Como tantos planos que ficam pelo caminho, a ideia de escrever alguma coisa sobre o Poema sujo nunca foi adiante. De um amigo solidário, a quem falei uma vez desses adiamentos reiterados, recebi por e-mail, algum tempo depois, um texto do filósofo italiano Giorgio Agamben. “Pra ler na hora do desespero”, dizia a mensagem. Nesse mini-ensaio incluído em seu livro "Ideia da prosa", Agamben fala sobre o estudo, definido por ele como algo “em si mesmo interminável”, que “não só não pode ter fim, como também não o quer ter”. Ao comentar o termo latino studium, raiz da palavra “estudo”, ele o aproxima inesperadamente de “espanto”, palavra da predileção de Gullar:
Ela remonta a uma raiz st- ou sp-, que designa o embate, o choque. Estudo e espanto (studiare e stupire) são, pois, aparentados neste sentido: aquele que estuda encontra-se no estado de quem recebeu um choque e fica estupefacto diante daquilo que o tocou, incapaz, tanto de levar as coisas até o fim, como de se libertar delas. Aquele que estuda fica, portanto, sempre um pouco estúpido, atarantado.
Talvez por conta das circunstâncias, essa ideia me voltou à cabeça esses dias como uma descrição possível do processo de luto. Também a morte alheia desencadeia em nós um ensaio potencialmente infinito de realização de qualquer coisa elusiva. Um percurso atarantado em torno de algo que escapa aos nossos projetos, pois nunca está onde esperamos encontrá-lo. Esse aturdimento, um espanto de outro tipo, tem para os leitores de um autor falecido um desdobramento diverso. Como escreveu W. H. Auden num poema conhecido sobre a morte do poeta irlandês William Butler Yeats, em alguma medida o escritor se torna seus admiradores, espalhado em centenas de cidades, as palavras de um homem morto modificadas nas entranhas dos vivos.

* * * * *

Miguel Conde é jornalista e doutorando em Letras na PUC-Rio. Foi curador de duas edições da Flip e pesquisador visitante na Brown University. Seus artigos e reportagens já foram publicados em veículos nacionais e estrangeiros como Folha de S. Paulo, O Globo, Valor Econômico e Literary Hub.

Ferreira Gullar recitando Poema Sujo 001 (IMS)