Mestre em Ciências Sociais (PUC-Rio, 2015)
Graduada em Ciências Sociais (UERJ, 2012)
Friedrich Engels - Biografia do filósofo alemão
4:20
Friedrich Engels nasceu em 28 de
novembro de 1820 em Wuppertal, Alemanha. Filho mais velho de Friedrich
Engels e Elise Engels, teve 8 irmãos. Seu pai era descente de uma
família de comerciantes e industriais cujas atividades se originaram
ainda no século XVI, na região de Wuppertal e Barmen, os negócios foram
passados de geração em geração até Engels. Sua mãe era filha de eruditos
e conhecida por sua imaginação fértil e o apreço às artes e à cultura. Essa região da Alemanha foi onde mais se desenvolveu o pietismo (movimento religioso protestante
que defendia a supremacia da fé em detrimento da razão), religião que a
família de Engels professava. Além da religião outra força social
moldou o caráter de Engels, a pobreza do distrito industrial de sua
cidade. A região havia se industrializado muito cedo e já sofria com suas consequências, como pobreza e indigência dos trabalhadores.
No que diz respeito a sua formação, Engels tinha vontade de ingressar
na Universidade de Direito ou se dedicar a escrita literária, mas
declinou de ambas para se dedicar a carreira de empresário, seguindo a
trajetória que a família esperava. Sua formação começou nas empresas da
família e logo depois seu pai o enviou para Bremen, ourta cidade alemã,
aos 17 anos. Uma curiosidade sobre Engels diz respeito a sua habilidade
com línguas, ele dominava bem o Alemão, Inglês, Espanhol, Italiano,
Português e o Francês, e se vangloriava de poder conversar em 25 idiomas
diferentes.
Engels escreveu muitos panfletos em sua juventude sobre questões
políticas e filosóficas polêmicas de sua época, como o dualismo de Hegel
e as teses de Feuerbach.
Durante os anos de 1839 a 1842 Engels se estabeleceu como crítico
político e literário, tendo publicado aproximadamente 50 panfletos e
artigos. Em 1842, seu pai o enviou para Manchester como parte do
treinamento que recebia para trabalhar nas empresas da família.
Em 1844 a amizade entre Karl Marx
e Engels se estreita, ambos já haviam se conhecido e trocado cartas em
1841, mas não se entenderam de início. É neste ano que os dois concluem
que seus trabalhos são complementares e que de forma independente os
dois tinham formado a mesma visão do objetivo da história e dos meios
para sua realização. É também em 1844 que ele publicou suas duas obras
mais conhecidas, “A situação da classe trabalhadora na Inglaterra” e “As origens da família, da propriedade privada e do Estado”. Em 1848, em parceria com Marx, publicou o “Manifesto do Partido Comunista”, obra mais conhecida da parceria dos dois.
Em suas obras buscou apresentar as origens do socialismo e imaginava meios reais de implantação do socialismo científico, termo por ele criado em oposição aos socialistas que precederam a ele e Marx, os socialistas utópicos.
Também está presente em seu pensamento uma forte crítica a religião e a
família. Ele foi responsável por viabilizar a publicação da obra que
Marx deixou inacabada, “O Capital”, volumes II e III.
Friederich Engels morreu em 5 de agosto de 1895, em Londres.
Referências Bibliográficas:
MAYER, Gustav. Friedrich Engels: a biography. Chapman & Hall, London, 1935.
CARVER, Terrell. Friedrich Engels: his life and thought. Palgrave Macmillan, New York, 1990.
Lenin (1870-1924) foi um político revolucionário russo,
principal líder da Revolução Russa de 1917 e primeiro presidente da
Rússia socialista.
Lenin, pseudônimo de Vladimir Ilitch Ulianov, nasceu em Simbirsk, (atual Ulianovsk), na Rússia, no dia 22 de abril de 1870.
Juventude
Desde a adolescência conviveu com as ideologias políticas de seu
irmão Alexandre Ulianov, que integrava a organização “Vontade do Povo”,
em São Petersburgo.
Em 1887, a organização foi acusada de tentar assassinar o Czar
Alexandre III, e Ulianov foi preso e condenado à morte. Nesse mesmo ano,
Lenin mudou-se para a cidade de Kazan, onde ingressou na faculdade de
Direito.
A partir de 1888, passou a se dedicar ao movimento anti-czarista, que
se organizava clandestinamente em São Petersburgo. Nessa época, o
regime czarista reprimia todo tipo de oposição.
A Ochrama, a “polícia política”, controlava o ensino secundário, as
universidades, a imprensa e os tribunais. Milhares de pessoas eram
enviadas para o exílio na Sibéria.
Depois de formado Lenin adotou a ideologia marxista e começou a
estudar os problemas econômicos da Rússia, tomando por base as doutrinas
de Marx e Engels.
Tornou-se advogado de trabalhadores e camponeses e inimigo do sistema
judiciário russo, que em sua opinião, beneficiava as classes
economicamente privilegiadas.
Em 1893, Lenin assumiu a direção do movimento marxista na capital, São Petersburgo – cidade depois rebatizada de Leningrado.
Em 1898 fundou o Partido Social Democrata Russo, que tinha
por base as ideias de Marx. O partido foi desarticulado pela polícia e
Lenin foi preso em 1895 e deportado para a Sibéria.
Libertado em 1900, casou-se com a jovem revolucionária deportada,
Madezhda Krupskaya, sua companheira de luta que o acompanhou no exílio.
Formação do Partido Bolchevique
Depois do exílio, Lenin refugiou-se em Genebra, Munique, Londres e
Paris, e se aprofundou no estudo das ideias de Marx e Engels, bem como
no desenvolvimento de suas próprias teorias sobre a revolução
socialista.
Em 1901, na Suíça, entrou em contato com exilados russos, entre eles o
revolucionário teórico marxista, Georgi Plekhanov, com o objetivo de
criar um partido social-democrata sólido.
Iniciou a publicação do Iskra “Centelha”, jornal que
difundia seus ideais e centralizaria a luta do jovem “Partido Social
Democrata Russo” contra o czarismo. O jornal entrava clandestinamente na
Rússia.
Em 1903 a tese do partido foi discutida em um congresso realizado em
Londres, mas as divergências surgidas levaram a uma divisão dentro do
partido:
O "Partido Bolchevique", liderado por Lênin, acreditava que as
mudanças na Rússia deveriam acontecer através de uma revolução imediata.
A força motora da revolução seriam os operários das cidades e os
camponeses mais pobres que terminariam por instalar a ditadura do
proletariado.
O "Partido Menchevique" acreditava que o processo deveria ser mais
moderado e que o proletariado deveria ajudar a burguesia a consumar uma
revolução liberal que levasse à democracia, para numa segunda fase
estabelecer o regime socialista.
Lenin e Trotsky
Em 1905, após a derrota na guerra contra o Japão, a fome e o
descontentamento assolaram a Rússia. Para ganhar tempo, o czar promulga a
Constituição e convoca eleição para o Parlamento, tornando a Rússia uma
monarquia constitucional.
Os operários de Petrogrado criam um conselho próprio, “o Soviete”,
sob a presidência de Trotsky, que estava ilegalmente na Rússia.
Ainda refugiado, Lenin acompanha a situação e incentiva seus partidários para que participem do Soviete.
Ao saber que o líder era Trotsky disse: “Que importa! Ele o merece por seu trabalho”. A revolução foi esmagada, mas serviu como marco inicial para a queda do regime.
Ainda em 1905, Lenin voltou para a Rússia, mas em 1907 foi preso e
deportado. Em 1912, o partido bolchevique foi definitivamente
constituído.
Revolução Russa de 1917
Os efeitos da Primeira Guerra Mundial desmascararam a falsa ordem
constitucional da Rússia, revelando a crise da sociedade imperial. O
exército tinha sofrido 3 milhões de baixas, havia 200 mil trabalhadores
parados.
No começo de 1917, a burguesia liberal, apoiada pela esquerda
moderada, pressionava o governo. No dia 13 de março o czar abdica. É
então constituído um governo provisório de liberais e socialistas.
Lenin voltou à Rússia através da Alemanha, em um vagão blindado pelas
autoridades militares alemães. Na própria estação de chegada, iniciou
forte campanha contra o governo de Kerenski.
A promessa de Lenin de “pão, paz e terra” conquistou muitos adeptos da causa Bolcheviques. Lenin no poder
Depois de tomar o poder em novembro de 1917, Lenin passou a atacar os
grupos socialistas rivais usando a polícia secreta como arma e mandou
executar o czar deposto, e toda a sua família.
O novo governo enfrentou muitos problemas. Lenin foi forçado a
introduzir o “Comunismo de Guerra”. Em 1918 sofre um atentado sendo
atingido por dois tiros de revolver.
Após uma guerra civil, a fim de evitar o colapso total da economia,
instituiu a “Nova Política Econômica” (NEP), que reunia princípios
socialistas com elementos capitalistas.
Com a ideia de estender a revolução a outras partes do mundo, em março de 1919, Lenin constituiu a Terceira Internacional, que se converteria no centro de coordenação do movimento comunista mundial.
Em 1923, depois da reconquista de várias áreas do império czarista,
que haviam formado suas próprias repúblicas, foi formalmente criada a “União das Repúblicas Socialistas Soviéticas” (URSS).
Lenin faleceu em Gorki Leninskiye, Rússia, no dia 21 de janeiro de
1924. Seu corpo foi embalsamado e permanece até hoje exposto no Mausoléu
da Praça Vermelha, em Moscou.
Depois de sua morte, Stalin, que teve importante papel na guerra
civil, assumiu o poder e governou a União Soviética, até a sua morte, em
1953.
Veja também as biografias de:
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Mikhail Bakunin(1814-1876) foi um teórico político e destacado revolucionári...
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Fiódor Dostoiévski(1821-1881) foi escritor russo. Suas obras Os Irmãos Karam...
Grigori Rasputin(1869-1916) foi um monge, fanático religioso e místico russo...
Pedro I da Rússiaou Pedro, o Grande (1672-1725) foi um czar russo. Seu reina...
Possui
bacharelado em Biblioteconomia pela UFPE e é professora do ensino
fundamental. Desde 2008 trabalha na redação e revisão de conteúdos
educativos para a web.
Fiódor Dostoiévski (1821-1881) foi um escritor russo autor de Os Irmãos Karamázov e Crime e Castigo, obras-primas da literatura universal.
Seus romances abordam questões existenciais e temas ligados à
humilhação, culpa, suicídio, loucura e estados patológicos do ser
humano.
Infância e Juventude
Fiódor Mikhailovitch Dostoiévski nasceu em Moscou, Rússia, no dia 11
de novembro de 1821. Filho de Mikhail Dostoiévski e Maria Fiodorovna
Netchaiev, ficou órfão de mãe no dia 27 de fevereiro de 1837.
Nesse mesmo ano, foi enviado para São Petersburgo onde cursou a
Escola de Engenharia Militar. Em 1839, seu pai, que era médico, foi
assassinado pelos colonos da fazenda onde vivia. O fato provocou grandes
transtornos na vida de Dostoiévski, que teve os primeiros ataques de
epilepsia quando soube da morte do pai.
Primeiras obras
Em 1841, o escritor dedicou-se à composição de dois dramas históricos, Boris Godunov e Maria Stuart, mas não os concluiu.
Dois anos mais tarde, terminou os seus estudos e começou a trabalhar
na seção de engenharia de Petersburgo. Traduziu duas obras românticas - Eugênia Grandet, de Balzac e Dom Carlos, de Schiller. Em 1944, demitiu-se do cargo público e começou a escrever o seu primeiro romance, Pobre Gente, novela que descrevia o ambiente medíocre onde vivia. A obra foi publicada em 1846.
Em 1847 publicou a segunda edição de Pobre Gente e, em 1948, publicou O Duplo,
romance que não obteve sucesso. Sua obra, antes elogiada, estranhamente
começa a declinar. A mudança tão inesperada isola Dostoiévski do
convívio geral. Começam a surgir dúvidas a respeito da sua própria
capacidade enquanto escritor.
Prisão
Em 1847, Fiódor Dostoiévski envolve-se na conspiração do
revolucionário Mikhail Petrashevsky no combate ao regime de Nicolau I. É
preso e condenado à morte, mas no último momento, teve a sua pena
comutada em deportação.
Passou cinco anos na Sibéria, sujeito ao regime de trabalhos forçados
na companhia de criminosos comuns. Passou mais cinco anos como soldado
raso em um batalhão siberiano, para cumprir o restante da pena. Nessa
época, casa-se com Maria Issáievna. Retrato de Fiódor Dostoiévski
Vida Literária
Anistiado em novembro de 1859, Dostoiévski volta para São
Petersburgo totalmente transformado pela dura experiência. As
recordações da vida no cárcere são descritas nos livros Memórias da Casa dos Mortos (1861) e Memórias do Subsolo (1864).
Crime e Castigo
Em 1866 publica a obra Crime e Castigo, seu primeiro grande
romance, que narra a história do estudante Raskólnikov, paupérrimo, que
resolve matar uma miserável para salvar a si e sua família, mas logo se
vê obrigado a matar outra pessoa, inocente, e sai sem ter roubado nada.
O jovem passa a viver da culpa pelo ato cometido. Suas conversas com o
comissário de polícia destroem seus nervos. Por fim, confessa o crime a
uma prostituta que lhe mostra o caminho do arrependimento e do
Evangelho. A obra é uma grande reflexão existencial sobre como o ser
humano se relaciona com as questões divinas.
Os Demônios
Os Demônios, publicado em 1871, é um grande romance
político, uma caricatura dos círculos de conspiradores, revolucionários,
anarquistas, niilistas e ateus, que o escritor conhecia tão bem a
partir da experiência própria e que ele denuncia por quererem destruir a
Rússia e a Igreja Ortodoxa.
A obra foi alvo de ataques da imprensa, chegando a ser posta em dúvida o equilíbrio mental do autor.
Os Irmãos Karamázov
Os Irmãos Karamázov (1880) foi a última obra de
Dostoiévski e é considerada a sua obra-prima. O romance é uma verdadeira
teia de personagens e a obra é permeada pelo discurso indireto, com
livres reflexões do próprio autor sobre os personagens.
Mais uma vez o crime é o tema central. Uma tragédia se abate sobre a
família quando o velho Fiódor Karamázov é assassinado por um dos
seus filhos.
Houve quem visse na trama uma alegoria da vida intelectual russa. O
velho Karamázov, por exemplo, é a personificação de todos os
pecados exuberantes e brutais da Rússia.
Características das obras de Fiódor Dostoiévski
Fiódor Dostoiévski era um escritor profundamente religioso, seus
romances não só abordavam questões existenciais, culpas, suicídio e
estados patológicos, como tinha predileção pelo fantástico, pela sátira e
pela comédia.
O escritor também não hesitava em lidar com as grandes questões políticas e religiosas. Imagem de Fiódor Dostoiévski
Obras de maior destaque de Fiódor Dostoiévski
Possui
bacharelado em Biblioteconomia pela UFPE e é professora do ensino
fundamental. Desde 2008 trabalha na redação e revisão de conteúdos
educativos para a web.
Georg Wilhelm Friedrich Hegel (1770-1830)
foi um filósofo alemão idealista que abriu novos campos de estudo na
História, Direito, Arte, entre outros, através dos seus postulamentos e
da lógica dialética.
O pensamento de Hegel influenciou pensadores como Ludwig Feuerbach, Bruno Bauer, Friedrich Engels e Karl Marx.
Biografia
Hegel
nasceu em 27 de agosto de 1770, em Stuttgart, na Alemanha. Era o mais
velho de três irmãos, filhos de um funcionário público do ducado de
Württemberg. Fez seus estudos em casa com tutores e a mãe, mas também no
colégio local, onde permaneceu até os 17 anos.
Aprendeu latim com
a mãe, além de estudar grego, francês e inglês e muito cedo teve
contato com os clássicos gregos e romanos. Apesar de sua sólida educação
humanista, Hegel teve uma ótima formação científica. Perdeu a mãe aos
13 anos, e ficou aos cuidados de uma irmã, Cristiana.
Com
incentivo do pai, em 1788, ingressou no seminário da Universidade
Tübingen a fim de ser pastor. Entre seus companheiros estavam o filósofo
Friedrich Wilhelm Joseph von Schelling (1775- 1854) e o poeta Friedrich
Hölderlin (1770 - 1843).
Quando Hegel tinha 18 anos, ocorre a Queda da Bastilha,
e mais tarde os eventos que comporiam a Revolução Francesa. Entre as
consequências do fato histórico está a posterior invasão da Prússia pelo
exército francês.
A essa altura, a Alemanha não estava organizada como Estado unificado sendo conglomerado de ducados, principados e condados. Hegel ensinando a seus discípulosEm
1793, começa a atuar como tutor privado em Berna, na Suíça. No ano
seguinte, aconselhado por Hölderlin, começa a análise dos escritos de
Immanuel Kant (1724-1804) e Johann Fichte (1762-1814).
Em
conjunto com Schelling, Hegel escreveu "O Mais Antigo Programa de um
Sistema de Idealismo Alemão". Entre as ideias da obra está a de que o
Estado é puramente mecânico.
Por isso é necessário transcender o
Estado e os homens livres devem ser tratados como parte da engrenagem
que permite seu funcionamento.
Hegel deixa a tutoria em 1779, e
passa a viver da herança paterna. A partir de 1801, Hegel vai trabalhar
na Universidade de Jena, onde permanece até 1803, em companhia de
Schelling.
No período em que deu aulas em Jena, Hegel esgotou o
legado deixado pelo pai e passou a trabalhar no jornal de orientação
católica Bamberger Zeitung, em Nuremberg. Nessa fase da vida, se casa, tem três filhos e continua os estudos da Fenomenologia.
Enquanto
viveu em Nuremberg, Hegel publicou vários fascículos de a "Ciência da
Lógica" nos anos de 1812, 1813 e 1816. A partir de 1816, o filósofo
aceita ser professor de filosofia na Universidade de Heidelberg.
Morre em Berlim, em 14 de novembro de 1831, vítima de uma epidemia de cólera.
Filosofia
A filosofia de Hegel pode ser compreendida através de sua obra principal “A Fenomenologia do Espírito”, escrita em 1807.
Trata-se
de uma introdução ao sistema lógico criado por Hegel que compreende
três partes: a Lógica, Filosofia da Natureza e a Filosofia do Espírito.
Este
livro pretende superar a dualidade entre o sujeito cognoscente e o
sujeito cognitivo e assim aproximá-lo do Absoluto, da Ideia Absoluta, da
Verdade.
Para
chegar ao Absoluto, o homem precisa questionar suas certezas e neste
caminho de dúvidas, estará pronto para pensar filosoficamente e então,
conhecer o Absoluto.
O Absoluto age através do homem e se
manifesta no desejo que este tem de conhecer a verdade. Desta forma,
quanto mais o sujeito se conhece, mais está perto do Absoluto.
Para
Hegel tudo aquilo que pode ser pensado é real e tudo que é real pode
ser pensado. Não existiria, a priori, limite para o conhecimento, na
medida em que a racionalização pode ser realizada através do sistema
dialético.
Dialética
A dialética é um conceito filosófico que é utilizado por vários pensadores. A dialética de Platão, por exemplo, seria uma forma de diálogo onde era possível chegar a obter o conhecimento.
Hegel aponta que toda ideia – tesis – pode ser contestada através de uma ideia contrária, a antítese.
Essa
disputa entre a tesis e antítese seriam a dialética. Assim, o processo é
regido por uma lógica dialética. No entanto, longe de prejudicar a
tesis, a discussão entre duas ideias opostas dariam origem a síntese que
seria uma ideia aperfeiçoada.
O método dialético proposto por
Hegel inclui a noção de movimento, processo ou progresso para chegar ao
resultado do conflito de opostos.
Estas ideias seriam aproveitadas por filósofos posteriores como Karl Marx e Friedrich Engels.
Hegel x Marx
Se para Hegel o que faz movimentar o mundo são as ideias, Marx vai afirmar que será a luta de classe e as relações de produção.
Isto
porque Marx era um filósofo materialista que levava em conta as
condições materiais da vida humana, da sobrevivência do dia a dia.
Assim, a História seria movida pela ação daqueles que não detém os meios de produção em chegar a uma posição mais elevada.
De
certa maneira, podemos afirmar que a dialética de Hegel ficava no plano
das ideias e do irrealizável. Enquanto Marx, buscava adaptar a
dialética para o mundo real.
Frases de Hegel
"A tarefa da filosofia é entender o que é a razão."
“Nada de grande se realizou no mundo sem paixão.”
“A realidade é racional e que toda a racionalidade é real.”
“A
necessidade geral da arte é a necessidade racional que leva o homem a
tomar consciência do mundo interior e exterior e a lazer um objeto no
qual se reconheça a si próprio.”
“A história ensina é que os governos e as pessoas nunca aprendem com a história.”
“Quem quer algo de grande, deve saber limitar-se. Quem, pelo contrário, tudo quer, nada, em verdade, quer e nada consegue.”
12 reflexões que vão te introduzir ao pensamento de Carl Sagan
O astrônomo que divulgava ciência como
ninguém nos deixou um legado intelectual abrangente e de alto impacto
filosófico – separamos algumas reflexões que ilustram várias facetas do
pensamento humanista e inspirador de Sagan
6 min de leitura
André Jorge de Oliveira
Atualizado em
(Foto: Kalina Wilson/flickr/creative commons)Carl
Sagan foi um cientista que, definitivamente, não teve medo de
especular. É claro que ele sabia muito bem separar o que era ciência do
que era especulação. Mas o jeito irresistível através do qual
relacionava conceitos científicos com conteúdos imaginativos pertinentes
tornava seu pensamento único e fascinante para o público leigo. Não é à
toa que ele é considerado um dos maiores divulgadores de ciência de
todos os tempos. Além de inspirar toda uma geração de novos cientistas
(em grande medida com a série Cosmos), Sagan também adotava um tom
poético e filosófico nos assuntos que discutia, tornando suas reflexões
ao mesmo tempo belas e dotadas de elementos capazes de despertar uma
consciência humanista nas pessoas.
Se
fôssemos apresentar todas as frases de impacto do astrônomo que têm o
potencial de tornar uma pessoa melhor, provavelmente teríamos de
escrever um livro. Mesmo assim, resolvemos escolher algumas citações e pensamentos de Carl Sagan
que sintetizam certos aspectos centrais da visão que ele tinha das
coisas. Se “somos todos poeira de estrelas” é a única referência que
você tem sobre as ideias de Sagan, então os tópicos abaixo podem lhe
ajudar a se aprofundar um pouco mais no jeito tão especial que ele tinha
de encarar o cosmos – e nós mesmos. Confira: dente de leão: a nave da imaginação de 'Cosmos' (Foto: Reprodução)A
ciência é muito mais do que um corpo de conhecimentos. É uma maneira de
pensar. A afirmação é fundamental para entender a forma como o
cientista enxergava o próprio ofício. Completamente apaixonado pelo que
fazia, para ele ciências como a física ou a astronomia não se limitavam a
um punhado de fórmulas frias e conceitos abstratos. Muito pelo
contrário, eram ferramentas poderosas e fascinantes que nos permitiam
sondar o desconhecido, além de expandir nosso entendimento sobre a
realidade da maneira mais confiável possível.
Toda
criança começa como uma cientista nata, e então nós arrancamos isso
delas. Entre as características que ele valorizava em um cientista e em
qualquer outra pessoa estão a curiosidade e a imaginação, traços típicos
das crianças. Para o astrônomo, pensar cientificamente era algo como
interrogar de forma metódica diversos aspectos da natureza, o que não
deixa de ser uma forma de curiosidade aplicada. A respeito da
imaginação, ele acreditava ser um dos motores fundamentais do
conhecimento humano.
Um livro é a prova de que os humanos são
capazes de fazer mágica. Além da forte inclinação por especular, Sagan
também era um intelectual com enorme capacidade de relacionar diferentes
áreas do conhecimento – e fazia isso excepcionalmente bem. Para
conseguir esta naturalidade em transitar por diversos repertórios, é
preciso muita leitura e erudição multidisciplinar. Cosmos, por exemplo, é
repleto de narrativas sobre a história da ciência, e em vários momentos
o astrônomo declara sua admiração pelos livros.
Nós somos uma
maneira de o cosmos se autoconhecer. Se somos feitos de poeira de
estrelas sistematicamente organizada para formar seres dotados de
consciência, então podemos dizer que somos o universo pensando sobre si
próprio. A abordagem se insere na convicção de que nós, humanos, não
somos tão diferentes assim da realidade física que nos cerca, e de que
interagimos com ela constantemente – de formas que estamos apenas
começando a entender. Em outras palavras, você e o cosmos estão intimamente conectados. O astrônomo costumava citar mitos de nossos antepassados que nos concebiam como filhos tanto do céu quanto da terra.
Nossa
obrigação de sobreviver e prosperar é devida não apenas a nós mesmos,
mas também ao cosmos, antigo e vasto, do qual surgimos. Sagan possuía um
profundo senso de reverência com relação à vida e ao ser humano. Ele
acreditava que estar vivo e ter uma consciência era não apenas um
privilégio, mas também uma grande responsabilidade. Como salientou em
diversos momentos, nossa espécie atingiu um ponto crítico de sua
história, no qual tem o próprio destino nas mãos. Todo o conhecimento e
bagagem evolutiva que acumulamos nestes poucos milênios podem ser usados
de forma a engrandecer nossa civilização – ou então destruí-la por
completo, se insistirmos nos erros do passado. (Foto: Sérgio Bernardino/flickr/creative commons)Cada
um de nós é, sob uma perspectiva cósmica, precioso. Se um humano
discorda de você, deixe-o viver. Em cem bilhões de galáxias, você não
vai achar outro. A reflexão segue a mesma linha do raciocínio
apresentado acima – a vida inteligente é rara. Nosso conhecimento sobre o
Universo ainda é limitado, é verdade, mas pelo pouco que exploramos já
conseguimos chegar a esta conclusão. Sob esta perspectiva, a vida na
Terra, principalmente a humanidade, ganha um status quase que sagrado,
pois é fruto de um processo contínuo de evolução que se arrasta há 4,5
bilhões de anos. Todos carregam esta bagagem compartilhada dentro de si.
Quando enxergamos a vida desta forma, o ato de matar qualquer ser vivo
ganha novas e gigantescas proporções.
Diante
da vastidão do espaço e da imensidão do tempo, é uma alegria dividir um
planeta e uma época com Annie. A frase é adereçada a Ann Druyan, esposa
do astrônomo, mas poderia muito bem se aplicar a qualquer outra pessoa.
A constatação é de um poder imenso. Apenas pense em como é improvável,
nos termos de uma perspectiva cósmica, você e outro amontoado de átomos
que formam um ser consciente terem a chance de interagir um com o outro,
em um minúsculo planeta chamado Terra e em um período de tempo
específico. Reflita: são mais de 100 bilhões de galáxias em nosso
Universo, que existe há pelo menos 13,8 bilhões de anos.
Nós
somos, cada um de nós, um pequeno universo. Um assunto abordado com
frequência por Carl Sagan era a dimensão das coisas muito pequenas, como
aquelas que compõem nossos corpos. Ele frequentemente colocava o
minúsculo em escala com o gigantesco, equiparando, por exemplo, a
quantidade de átomos em uma molécula de DNA com a de estrelas em uma
galáxia típica. É uma forma elegante de demonstrar como somos muito
pequenos e muito grandes ao mesmo tempo. Em uma outra comparação do
gênero, dizia que existem mais estrelas no Universo do que grãos de
areia em todas as praias da Terra.
O
Universo não parece nem benigno nem hostil, mas meramente indiferente
às preocupações de criaturas tão insignificantes como nós. O cientista
defendia que era melhor tentar se agarrar à realidade do jeito que ela
realmente é do que persistir em ilusões, por mais reconfortantes que
elas sejam. No fundo, ele queria dizer que, por menos acolhedor e mais
adverso que o cosmos possa nos parecer, a verdade é que ele opera
independentemente de nossos desígnios. Seremos nós que sempre vamos
precisar nos adaptar ao Universo se quisermos sobreviver nele, e não o
contrário. A chave para esta adaptação estaria em tentar constantemente
entender a natureza das coisas por meio da ciência. O que sobrou da supernova SN1006c (Foto: nasa)O
céu nos chama. Se não nos autodestruirmos, um dia vamos nos aventurar
pelas estrelas. A exploração espacial era um tópico especialmente caro a
Sagan, e ele próprio participou de diversos projetos da NASA, como o da
sonda Voyager 1, que deixou recentemente o Sistema Solar. Em sua
concepção, os poucos milênios de vida sedentária da humanidade não
apagaram nosso instinto por explorar novos lugares e expandir nossos
horizontes, traços típicos das sociedades voltadas para a caça e coleta.
Ele acreditava que o gosto pela exploração era uma herança evolutiva
para aumentar as chances de sobrevivência de nossa espécie, e que
portanto, cedo ou tarde, vamos nos espalhar pelo espaço.
Toda
civilização sobrevivente é obrigada a se tornar viajante espacial, pela
razão mais prática que se pode imaginar: manter-se viva. A ideia da
expansão pelo espaço no pensamento do astrônomo não se reduzia a um
capricho meio romântico ou então à tendência humana de explorar. Ela
tinha mais a ver com uma espécie de instinto de sobrevivência. Não é tão
difícil de entender este argumento: se a humanidade inteira está
confinada na Terra e algo acontece com o planeta, estamos condenados à
extinção. Asteroides são uma grande ameaça, mas nosso próprio sol pode
nos engolir daqui a 5 bilhões de anos, quando seu combustível acabar e
ele virar uma gigante vermelha.
Uma das grandes revelações da era
da exploração espacial é a imagem da Terra, finita e solitária, de
alguma forma vulnerável, transportando a espécie humana inteira pelos
oceanos do espaço e do tempo. Entre as mensagens inspiradas pela ciência
mais belas da história certamente está Pale Blue Dot (pálido
ponto azul), de autoria de Carl Sagan. Pouco depois de a sonda Voyager 1
ultrapassar Saturno, foi ele quem deu a ideia de tirar uma foto da
Terra, que dali aparecia como um pixel azul suspenso em um raio de sol.
Ou então um grão de areia suspenso no céu da manhã, como ele mais tarde
interpretou. Entre as muitas formas que podemos enxergar nosso frágil
planeta, uma delas é como uma nave, que sempre nos transportou pelo
espaço e pelo tempo.
Com ideias e discursos atemporais, Karl Marx
foi uma personalidade que deixou obras e teorias que impactam a
sociedade até os dias de hoje. Tamanha foi a importância e influência do
trabalho deste pensador que é normalmente cobrado no Enem e também nos maiores vestibulares do Brasil. Se você quer conhecer os principais detalhes sobre a biografia de Karl Marx, confira este artigo.
Nele você conhecerá os principais fatos da vida de Karl Marx e seu trabalho com Friedrich Engels. Se você está organizando uma rotina de estudos
para gabaritar o Enem e garantir o ingresso em uma boa universidade,
confira essa matéria com grande chance de ser abordada na prova de Sociologia. Veja também nossa vídeo aula!
Biografia de Karl Marx: resumo
Nascido em 05 de maio de 1818, na histórica cidade de Tréveris, então parte da Alemanha, Karl Marx
teve uma vida duplicada. Isso porque, com a adoção dos seus pensamentos
como ideais políticos, foi criada uma imagem perfeita (e outra
completamente negativa) para contar a história da personalidade que
existiu. Afinal, quem foi Karl Marx?
Filósofo, político, economista, sociólogo e jornalista, Karl Marx era
filho de judeus da classe média. Ele assistiu ao seu pai se converter
ao cristianismo não por ideologia, mas para conseguir exercer a
profissão de advogado (na época, o fato de uma pessoa ser judia a
impedia de exercer determinadas funções). Anos mais tarde, o jovem Karl Marx entrou na Universidade de Bonn para cursar Direito e lá participou ativamente da política estudantil.
Apesar disso, ele se transferiu para a Universidade de Berlim. Nessa época, dois fatos importantes acontecem:
Marx conhece o pensamento de Hegel (filósofo, professor e reitor da Universidade de Berlim) e se une aos jovens que seguem a filosofia hegeliana, condenando principalmente o estado e a religião;
Marx e Jenny ficam noivos. Porém, tanto a família dele quanto a dela
não viam a união com bons olhos e eles só foram se casar 7 anos depois.
O crescente interesse de Marx pelo pensamento de Hegel e sua participação no grupo de esquerda, jovens hegelianos fazem com que ele se transfira para o curso de Filosofia,
no qual se doutorou. Entretanto, justamente por concordar com a
vertente de Hegel, Marx é impedido de prosseguir na carreira acadêmica,
sem ser aceito para lecionar.
Em 1843, Karl Marx se casou com Jenny, com quem teve 7 filhos. Nesse mesmo tempo, ele se mudou para Colônia, onde conheceu Engels e se tornou o diretor do jornal Gazeta Renana
(essa amizade se tornou muito importante, pois os dois trabalharam
juntos até a morte de Marx). Depois, com o fechamento do jornal, Karl
Marx se mudou para Paris.
Além dos 7 filhos que teve dentro do casamento, Karl Marx
também teve um filho com a empregada que contratou (e também militante
do socialismo), Helena Demuth. Entretanto, ele não assumiu a paternidade
nem prestou ajuda à criança.
As publicações de Marx, altamente críticas, depreciavam o governo
alemão e isso fez com que os governos de outros países também
expulsassem ele, a pedido dos alemães. A numerosa família, que vivia
momentos de difícil situação financeira, recebeu a contribuição de
admiradores do filósofo e se mudou para Londres, de onde Marx prosseguiu
com seu trabalho.
Dois anos após a morte da esposa, Marx teve uma depressão.
Ele adoeceu com uma infecção de garganta que o impediu de falar e até
mesmo de se alimentar direito. O quadro evoluiu para um agravamento do
sistema respiratório e bronquite. Karl Marx faleceu no dia 14 de março de 1883, em Londres, Inglaterra.
Karl Marx e Friedrich Engels
A maior parte das teorias de Karl Marx foram desenvolvidas em parceria com Engels.
O trabalho que começou nos jornais em Paris, que publicou, além de
muitas de suas teses, vários artigos de Engels. A contrariedade do
imperador da Prússia influencia na expulsão dos colaboradores do jornal
(entre eles, Karl Marx e Friedrich Engels), que seguem para a Bélgica.
Uma vez instalados, eles progridem com o desenvolvimento de ensaios e teses sobre o socialismo.
Tanto Marx quanto Engels viam o Estado capitalista como defensor dos interesses de uma classe dominante
sobre toda a sociedade civil (assegurando assim apenas a vontade da
burguesia). A isso, eles nomearam ideologia da classe dominante, que,
segundo os trabalhos desenvolvidos, era reproduzida nas diversas relações de poder da época — não apenas do Estado, como até mesmo da própria família.
Marx funda a Sociedade dos Trabalhadores Alemães com
o objetivo de fortalecer o movimento operário na Europa. Ele e Engels
se unem à Liga dos Justos, que mais tarde se chamaria Liga Comunista, que tinha por objetivo inicial “estabelecer o Reino de Deus na Terra, com base nos ideais de amor ao próximo, igualdade e justiça”. Depois o movimento foi se ressignificando para a famosa luta de classes.
Karl Marx: comunismo
Teorias igualitárias, como as que promoviam a supressão das classes,
já existiam desde a antiguidade. Platão, por exemplo, idealizava uma sociedade na qual não existiria a propriedade privada e nem o modelo de família
como conhecemos, o matrimônio não existiria e os pais não conheceriam
seus filhos, que seriam criados e mantidos permanentemente pelo Estado. O
diferencial de Marx foi a ideia da luta de classes.
Marx e Engels apresentam o socialismo científico,; em 1848, desenvolveram o Manifesto Comunista.
Nele foi destacada a importância dos operários para a sociedade e
observado que, embora os trabalhadores produzam a maior parte da riqueza
de um Estado, eles são excluídos dos benefícios dessa produção, que
fica nas mãos da minoria burguesa.
É importante salientar que Marx não condena a classe burguesa.
Pelo contrário, ele reconhece a importância do papel que essa classe
tem e como contribuiu na supressão do estilo feudal. Entretanto, ele e
Engels propõem que é o momento de esse modelo dar lugar a uma forma mais
igualitária de poder. Para isso, Marx acredita que é preciso que a classe operária se reúna e lute contra a opressão que sofre.
Algumas vantagens do comunismo de Karl Marx são:
luta pelo fim da opressão e surgimento de um Estado mais igualitário;
dissolução do interesse privado;
fim do trabalho forçado;
fim do trabalho infantil (que era muito comum na época, principalmente nas fábricas);
gratuidade da educação para todas as crianças por meio de uma rede pública de ensino.
Obras de Karl Marx
Karl Marx teve uma vida e produção intelectual muito grande. Confira agora as principais obras de Karl Marx e veja como elas refletem o que ele estava vivendo na época. Por exemplo, enquanto “O Capital” está voltado para a economia, escrito em uma fase mais madura do escritor, “O Manifesto Comunista“
integra uma fase de transição, na qual a filosofia já não era mais tão
importante, mas ainda conferia forte influência na sua produção.
O Capital (Karl Marx)
Na verdade, é uma coletânea de 4 volumes, e cada um se refere a uma parte do assunto. Nesse livro de Karl Marx, ele aborda:
o processo de produção do capital;
o processo de circulação desse capital;
a globalização dada por meio da produção capitalista;
a teoria da mais-valia.
Nessa obra, Marx faz uma crítica ao modelo econômico e político do capitalismo.
Enquanto, nos três primeiros livros, o autor apresenta as contradições e
falhas econômicas do sistema capitalista, no quarto livro do conjunto
ele expõe sua teoria e soluções para os problemas anteriormente
apresentados.
O Manifesto Comunista
Escrito em 1848 em parceria com Friedrich Engels, esse livro apresenta a teoria da luta de classes e do materialismo histórico. Após fazer uma investigação científica sobre o trabalho proletário, Marx percebeu
a força e a potência da união e organização da classe trabalhadora. Sua
proposta com esse livro é, além da exposição de suas ideias sobre como
esse processo da luta de classes poderia promover o comunismo, fazer um
chamado para a participação dessa classe no movimento.
A publicação do Manifesto, junto de outras circunstâncias vivenciadas no momento, levou Karl Marx a ser reconhecido como o líder do partido comunista, que se apresentou em prol da democracia revolucionária moderna. Nas próprias palavras de Marx nessa obra: “Trabalhadores de todo o mundo, uni-vos!”.
Outros livros de Karl Marx
Veja outras obras de Marx de acordo com suas diversas fases.
Jovem Marx
Obras mais voltadas para a Filosofia. Entre elas, podemos destacar:
Diferença da filosofia da natureza em Demócrito e Epicuro (1841);
A questão judaica (1843);
Miséria da filosofia (1847);
A burguesia e a contrarrevolução (1848).
Transição
Nessa fase, as produções deixaram de ser puramente filosóficas para ter um caráter mais voltado para a Economia. Nesse período, não houve publicação de livros e sim de artigos e panfletos como:
O 18 de brumário de Luís Bonaparte (1852);
Punição capital (1853);
A decadência da autoridade religiosa (1854).
Marx maduro
As últimas produções de Karl Marx se dedicaram mais a apresentar seus estudos econômicos. Por exemplo:
População, crime e pauperismo (1859);
Manifesto de lançamento da Primavera Internacional (1864);
Salário, preço e lucro (1865).
Teorias de Karl Marx
Marx apresentou diversas teorias que contribuíram tanto com a ideia
de um socialismo científico como também para uma reflexão acerca do
capitalismo. Algumas das teorias de Marx foram:
Alienação: Karl Marx
A alienação segundo Karl Marx fala sobre o desencontro existente no
capitalismo entre o trabalhador e o produto final do seu trabalho. Dessa
forma, segundo Marx, o homem perde-se a si mesmo e ao seu trabalho, que
é definido pelo pensador como fundamental para a expressão de cada ser
humano.
Mais-valia: Karl Marx
Já o termo mais-valia, criado por Karl Marx, é uma
teoria que considera o esforço de trabalho e como ele é desvalorizado no
sistema capitalista. E é dessa forma que surge o lucro, da diferença do
valor entre o trabalho do operário e o produto gerado. Para que isso
aconteça, o proletário precisa trabalhar um tempo a mais para suprir as
necessidades do capitalista. Em outras palavras, este é um sistema de
exploração em que o patrão visa ao lucro.
Materialismo histórico: Karl Marx
O termo materialismo histórico de Karl Marx na verdade não foi
nomeado por ele, mas serve para descrever sua teoria que é um
contraponto ao idealismo de Hegel. Ela sugere que os homens produzem as
condições de suas vidas e, sendo assim, a base da história está ancorada
no mundo material. Com isso, Marx defende que as relações de produção
devem ser responsáveis pela relação entre as classes sociais.
Frases de Karl Marx
A seguir, apresentaremos algumas citações de Karl Marx e seus significados.
Religião
“A religião é o suspiro da criatura aflita, o estado de ânimo de
um mundo sem coração, porque é o espírito da situação sem espírito. A
religião é o ópio do povo.”
Para Marx, a religião servia como ilusão, para diminuir o sofrimento do povo, uma espécie de válvula de escape.
Transformação
“Os filósofos limitaram-se a interpretar o mundo de diversas maneiras; o que importa é modificá-lo.”
Para Marx, de nada importava criar teorias se não fosse viável colocá-las em prática.
Comunismo
“Reunião de homens livres trabalhando com meios de produção
comuns e, dependendo, a partir de um plano combinado, suas numerosas
forças individuais como uma única e mesma força de trabalho social.”
Um resumo dos princípios do comunismo.
Luta de classes
“A história da sociedade até os nossos dias é a história da luta de classes.”
Para Marx, a luta de classes seria a mola-mestra para grandes
mudanças materiais, o que, consequentemente, confirma que os
trabalhadores seriam fundamentais para criar um novo sistema econômico, político e social, pondo fim ao capitalismo.
Trabalho
“De cada qual, segundo sua capacidade, a cada qual, segundo suas necessidades.”
Essa citação enfatiza a relação entre a necessidade e capacidade de trabalho, atestando o equilíbrio entre a produção e distribuição dos produtos.
Gostou da história de Karl Marx? Agora você já pode assinalar esse tema na sua lista de conteúdos para se preparar para o Enem. Como você viu, além de propor uma luta de classes
para o surgimento de um novo modelo social, econômico e político, que
superasse diversos obstáculos travados com o capitalismo, Karl Marx também acreditava na instauração desse novo modelo como uma proposta igualitária e mais justa.
Pratique sobre os conhecimentos que você acabou de ver aqui, cadastre-se aqui e faça nossos exercícios sobre Karl Marx!
Beatriz Abrantes
Cursando
jornalismo, é apaixonada pela profissão e por inventar receitas em sua
cozinha. Faz parte do time de Marketing e Conteúdo do Stoodi, focada em
SEO.
A Bia adora dançar, participa de ONG’S de proteção aos animais e ama
passar tempo vendo filmes. Conheça mais os seus textos!
Publicado em 04/12/2016 - 12:40
Por
Douglas Corrêa - Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro
O poeta, escritor, jornalista e teatrólogo Ferreira
Gullar morreu neste domingo (4) no Hospital Copa d’Or, na zona sul do
Rio, aos 86 anos. Ele era membro da Academia Brasileira de Letras (ABL)
desde 2014.
Ferreira Gullar, cujo nome verdadeiro é José
de Ribamar Ferreira, nasceu em São Luís do Maranhão em 10 de setembro de
1930, numa família de classe média pobre. Dividiu os anos da infância
entre a escola e a vida de rua, jogando bola e pescando no Rio Bacanga.
Considera que viveu numa espécie de paraíso tropical e, quando chegou à
adolescência, ficou chocado em ter de tornar-se adulto, e tornou-se
poeta.
Morre no Rio o poeta Ferreira GullarTV Brasil Memórias/Aruivo No
começo, acreditava que todos os poetas já haviam morrido e somente
depois descobriu que havia muitos deles em sua própria cidade, a algumas
quadras de sua casa. Com 18 anos, passou a frequentar os bares da Praça
João Lisboa e o Grêmio Lítero-Recreativo, onde, aos domingos, havia
leitura de poemas.
Descobriu a poesia moderna apenas aos 19 anos,
ao ler os poemas de Carlos Drummond de Andrade e Manuel Bandeira. Ficou
escandalizado com esse tipo de poesia e tratou de informar-se, lendo
ensaios sobre a nova poesia.
Pouco depois, aderiu a ela e adotou
uma atitude totalmente oposta à que tinha anteriormente, tornando-se um
poeta experimental radical, que tinha como lema uma frase de Gauguin:
“Quando eu aprender a pintar com a mão direita, passarei a pintar com a
esquerda, e quando aprender a pintar com a esquerda, passarei a pintar
com os pés”.
Ou seja, nada de fórmulas: o poema teria que ser
inventado a cada momento. “Eu queria que a própria linguagem fosse
inventada a cada poema”, diria ele mais tarde. Assim nasceu o livro que o
lançaria no cenário literário do país em 1954: A Luta Corporal.
Os
últimos poemas deste livro resultam de uma implosão da linguagem
poética e provocariam o surgimento na literatura brasileira da “poesia
concreta”, de que Gullar foi um dos participantes e, em seguida
dissidente, passando a integrar um grupo de artistas plásticos e poetas
do Rio de Janeiro: o grupo neoconcreto.
O movimento neoconcreto
surgiu em 1959, com um manifesto escrito por Gullar, seguido da teoria
do não-objeto. Esses dois textos fazem hoje parte da história da arte
brasileira, pelo que trouxeram de original e revolucionário. São
expressões da arte neoconcreta as obras de Lygia Clark e Hélio Oiticica,
hoje nomes mundialmente conhecidos. Experiências
Gullar levou suas experiências poéticas ao limite da expressão, criando o Livro-Poema e, depois, o Poema Espacial, e, finalmente, o Poema Enterrado.
Este consiste em uma sala no subsolo a que se tem acesso por uma
escada; após penetrar no poema, deparamo-nos com um cubo vermelho; ao
levantarmos este cubo, encontramos outro, verde, e sob este ainda outro,
branco, que tem escrito numa das faces a palavra “rejuvenesça”.
O poema enterrado
foi a última obra neoconcreta de Gullar, que afastou-se do grupo e
integrou-se na luta política revolucionária. Entrou para o Partido
Comunista e passou a escrever poemas sobre política e participar da luta
contra a ditadura militar que havia se implantado no país, em 1964. Foi
processado e preso na Vila Militar. Mais tarde, teve de abandonar a
vida legal, passar à clandestinidade e, depois, ao exílio. Deixou
clandestinamente o país e foi para Moscou, depois para Santiago do
Chile, Lima e Buenos Aires.
Voltou para o Brasil em 1977, quando
foi preso e torturado. Libertado por pressão internacional, voltou a
trabalhar na imprensa do Rio de Janeiro e, depois, como roteirista de
televisão. Teatro
Durante o exílio em Buenos Aires, Gullar escreveu Poema Sujo, um
longo poema de quase cem páginas e que é considerado sua obra-prima.
Esse poema causou enorme impacto ao ser editado no Brasil e foi um dos
fatores que determinaram a volta do poeta a seu país. Poema Sujo foi traduzido e publicado em várias línguas e países.
De volta ao Brasil, Gullar publicou, em 1980, Na vertigem do dia e Toda Poesia,
livro que reuniu toda sua produção poética até então. Voltou a escrever
sobre arte na imprensa do Rio e São Paulo, publicando, nesse campo,
dois livros Etapas da arte contemporânea (1985) e Argumentação contra a morte da arte (1993), onde discute a crise da arte contemporânea.
Outro
campo de atuação de Ferreira Gullar é o teatro. Após o golpe militar,
ele e um grupo de jovens dramaturgos e atores fundou o Teatro Opinião,
que teve importante papel na resistência democrática ao regime
autoritário. Nesse período, escreveu, com Oduvaldo Vianna Filho, as
peças Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come e A saída? Onde fica a saída? De volta do exílio, escreveu a peça Um rubi no umbigo, montada pelo Teatro Casa Grande em 1978.
Gullar afirmava que a poesia era sua atividade fundamental. Em 1987, publicou Barulhos e, em 1999, Muitas Vozes, que recebeu os principais prêmios de literatura daquele ano. Em 2002, foi indicado para o Prêmio Nobel de Literatura. Governador
O
governador do estado, Luiz Fernando Pezão, divulgou nota de pesar sobre
a morte do jornalista, escritor e imortal da Academia Brasileira de
Letras (ABL) Ferreira Gullar, que morreu na manhã de hoje (4), aos 86
anos, no Hospital Copa d’Or, em Copacabana, zona sul do Rio.
“Ferreira
Gullar é uma das expressões mais fortes da literatura brasileira. Em
todas as dimensões em que atuou, o fez com maestria e densidade. Antes
de ser imortalizado pela Academia Brasileira de Letras, Ferreira Gullar
já fora eternizado pela sua obra. Por isso, o poeta sempre será
lembrado. Meus sinceros sentimentos aos familiares e amigos”.
A
Academia Brasileira de Letras ainda não tem a hora e local onde o corpo
do acadêmico Ferreira Gullar será velado. Essas providências estão sendo
tomadas pela família, que ainda está decidindo para onde o corpo será
levado. Prefeito
O prefeito do Rio,
Eduardo Paes, também divulgou nota sobre a morte do poeta, escritor e
imortal Ferreira Gullar, que morreu na manhã de hoje, no Rio. De acordo
com Paes, o Brasil e o mundo choram hoje a perda do imortal poeta
Ferreira Gullar.
"Mas, na cidade que ele escolheu para viver, a
dívida de gratidão com esse gênio das palavras é ainda maior. Meu amigo
Gullar foi um dos 150 representantes da intelectualidade e da sociedade
carioca que desde 2012 participam do Conselho da Cidade, colaborando com
sua mente brilhante para ajudar a transformar o Rio. Por isso, além da
saudade que ficará desse carioca de coração, deixo aqui o meu 'muito
obrigado" para este amigo em nome de todos os apaixonados pela Cidade
Maravilhosa. Meus sentimentos para toda a família e para os admiradores
de Ferreira Gullar. Que sua poesia continue imortal para a cidade do
Rio de Janeiro".
Pedimos
aos leitores e colaboradores que apontassem os poemas mais
significativos de autores brasileiros em todos os tempos,
independentemente de gêneros ou correntes literárias a que pertenceram.
Mais de 170 poemas foram indicados, mas, destes, apenas 24 tiveram mais
de cinco citações. São eles: “A Máquina do Mundo”, “Procura da Poesia”,
“Áporo” e “Flor e a Náusea”, de Carlos Drummond de Andrade; “O Cão Sem Plumas”, “Tecendo a Manhã” e “Uma Faca Só Lâmina”, de João Cabral de Melo Neto;
“Invenção de Orfeu”, de Jorge de Lima; “O Inferno de Wall Street”, de
Sousândrade; “Marília de Dirceu”, de Tomás Antônio Gonzaga; “Cobra
Norato”, de Raul Bopp; “O Romanceiro da Inconfidência”, de Cecília
Meireles; “Vozes d’África”, de Castro Alves; “Vou-me Embora pra
Pasárgada” e “O Cacto”, de Manuel Bandeira; “Poema Sujo” e “Uma Fotografia Aérea”, de Ferreira Gullar;
“Via Láctea” e “De Volta do Baile”, de Olavo Bilac; “Canção do Exílio”,
de Gonçalves Dias; “As Cismas do Destino” e “Versos Íntimos”, de
Augusto dos Anjos; “As Pombas”, de Raimundo Correia; “Soneto da
Fidelidade”, de Vinicius de Moraes.
Listas
são sempre incompletas, sabe-se que, como a percepção, a opinião é algo
individual, subjetivo, idiossincrático. De qualquer forma, os dez
poemas selecionados, se não são unanimidades entre os participantes da
enquete (e possivelmente não serão entre os leitores), são referências
incontestes de alguns dos momentos mais marcantes da história da poesia
brasileira. O resultado não pretende ser abrangente ou definitivo e
corresponde apenas à opinião das pessoas consultadas. Por motivo de
direitos autorais, alguns poemas tiveram apenas trechos publicados.
A Máquina do Mundo
(Carlos Drummond de Andrade)
E como eu palmilhasse vagamente
uma estrada de Minas, pedregosa,
e no fecho da tarde um sino rouco
se misturasse ao som de meus sapatos
que era pausado e seco; e aves pairassem
no céu de chumbo, e suas formas pretas
lentamente se fossem diluindo
na escuridão maior, vinda dos montes
e de meu próprio ser desenganado,
a máquina do mundo se entreabriu
para quem de a romper já se esquivava
e só de o ter pensado se carpia.
Abriu-se majestosa e circunspecta,
sem emitir um som que fosse impuro
nem um clarão maior que o tolerável
pelas pupilas gastas na inspeção
contínua e dolorosa do deserto,
e pela mente exausta de mentar
toda uma realidade que transcende
a própria imagem sua debuxada
no rosto do mistério, nos abismos.
Abriu-se em calma pura, e convidando
quantos sentidos e intuições restavam
a quem de os ter usado os já perdera
e nem desejaria recobrá-los,
se em vão e para sempre repetimos
os mesmos sem roteiro tristes périplos,
convidando-os a todos, em coorte,
a se aplicarem sobre o pasto inédito
da natureza mítica das coisas.
(Trecho de A Máquina do Mundo, de Carlos Drummond de Andrade).
Vou-me Embora pra Pasárgada
(Manuel Bandeira)
Vou-me embora pra Pasárgada
Lá sou amigo do rei
Lá tenho a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada
Vou-me embora pra Pasárgada
Aqui eu não sou feliz
Lá a existência é uma aventura
De tal modo inconseqüente
Que Joana a Louca de Espanha
Rainha e falsa demente
Vem a ser contraparente
Da nora que nunca tive
E como farei ginástica
Andarei de bicicleta
Montarei em burro brabo
Subirei no pau-de-sebo
Tomarei banhos de mar!
E quando estiver cansado
Deito na beira do rio
Mando chamar a mãe-d’água
Pra me contar as histórias
Que no tempo de eu menino
Rosa vinha me contar
Vou-me embora pra Pasárgada
Em Pasárgada tem tudo
É outra civilização
Tem um processo seguro
De impedir a concepção
Tem telefone automático
Tem alcaloide à vontade
Tem prostitutas bonitas
Para a gente namorar
E quando eu estiver mais triste
Mas triste de não ter jeito
Quando de noite me der
Vontade de me matar
— Lá sou amigo do rei —
Terei a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada.
Poema Sujo
(Ferreira Gullar)
turvo turvo
a turva
mão do sopro
contra o muro
escuro
menos menos
menos que escuro
menos que mole e duro
menos que fosso e muro: menos que furo
escuro
mais que escuro:
claro
como água? como pluma?
claro mais que claro claro: coisa alguma
e tudo
(ou quase)
um bicho que o universo fabrica
e vem sonhando desde as entranhas
azul
era o gato
azul
era o galo
azul
o cavalo
azul
teu cu
tua gengiva igual a tua bocetinha
que parecia sorrir entre as folhas de
banana entre os cheiros de flor
e bosta de porco aberta como
uma boca do corpo
(não como a tua boca de palavras) como uma
entrada para
eu não sabia tu
não sabias
fazer girar a vida
com seu montão de estrelas e oceano
entrando-nos em ti
bela bela
mais que bela
mas como era o nome dela?
Não era Helena nem Vera
nem Nara nem Gabriela
nem Tereza nem Maria
Seu nome seu nome era…
Perdeu-se na carne fria
perdeu na confusão de tanta noite e tanto dia
(Trecho de Poema Sujo, de Ferreira Gullar).
Soneto da Fidelidade
(Vinícius de Moraes)
De tudo, ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.
Quero vivê-lo em cada vão momento
E em louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento.
E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama
Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.
Via Láctea
(Olavo Bilac)
“Ora (direis) ouvir estrelas! Certo
Perdeste o senso!” E eu vos direi, no entanto,
Que, para ouvi-las, muita vez desperto
E abro as janelas, pálido de espanto…
E conversamos toda a noite, enquanto
A Via Láctea, como um pálio aberto,
Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,
Inda as procuro pelo céu deserto.
Direis agora: “Tresloucado amigo!
Que conversas com elas? Que sentido
Tem o que dizem, quando estão contigo?”
E eu vos direi: “Amai para entendê-las!
Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e de entender estrelas.”
O Cão Sem Plumas
(João Cabral de Melo Neto)
A cidade é passada pelo rio
como uma rua
é passada por um cachorro;
uma fruta
por uma espada.
O rio ora lembrava
a língua mansa de um cão
ora o ventre triste de um cão,
ora o outro rio
de aquoso pano sujo
dos olhos de um cão.
Aquele rio
era como um cão sem plumas.
Nada sabia da chuva azul,
da fonte cor-de-rosa,
da água do copo de água,
da água de cântaro,
dos peixes de água,
da brisa na água.
Sabia dos caranguejos
de lodo e ferrugem.
Sabia da lama
como de uma mucosa.
Devia saber dos povos.
Sabia seguramente
da mulher febril que habita as ostras.
Aquele rio
jamais se abre aos peixes,
ao brilho,
à inquietação de faca
que há nos peixes.
Jamais se abre em peixes.
Canção do Exílio
(Gonçalves Dias)
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá;
As aves, que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.
Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores.
Em cismar, sozinho, à noite,
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
Minha terra tem primores,
Que tais não encontro eu cá;
Em cismar — sozinho, à noite —
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
Não permita Deus que eu morra,
Sem que eu volte para lá;
Sem que desfrute os primores
Que não encontro por cá;
Sem qu’inda aviste as palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
As Cismas do Destino
(Augusto dos Anjos)
Recife. Ponte Buarque de Macedo.
Eu, indo em direção à casa do Agra,
Assombrado com a minha sombra magra,
Pensava no Destino, e tinha medo!
Na austera abóbada alta o fósforo alvo
Das estrelas luzia… O calçamento
Sáxeo, de asfalto rijo, atro e vidrento,
Copiava a polidez de um crânio calvo.
Lembro-me bem. A ponte era comprida,
E a minha sombra enorme enchia a ponte,
Como uma pele de rinoceronte
Estendida por toda a minha vida!
A noite fecundava o ovo dos vícios
Animais. Do carvão da treva imensa
Caía um ar danado de doença
Sobre a cara geral dos edifícios!
Tal uma horda feroz de cães famintos,
Atravessando uma estação deserta,
Uivava dentro do eu, com a boca aberta,
A matilha espantada dos instintos!
Era como se, na alma da cidade,
Profundamente lúbrica e revolta,
Mostrando as carnes, uma besta solta
Soltasse o berro da animalidade.
E aprofundando o raciocínio obscuro,
Eu vi, então, à luz de áureos reflexos,
O trabalho genésico dos sexos,
Fazendo à noite os homens do Futuro.
(Trecho de As Cismas do Destino, de Augusto dos Anjos).
As Pombas
(Raimundo Correia)
Vai-se a primeira pomba despertada…
Vai-se outra mais… mais outra… enfim dezenas
De pombas vão-se dos pombais, apenas
Raia sanguínea e fresca a madrugada.
E à tarde, quando a rígida nortada
Sopra, aos pombais de novo elas, serenas,
Ruflando as asas, sacudindo as penas,
Voltam todas em bando e em revoada.
Também dos corações onde abotoam,
Os sonhos, um por um, céleres voam,
Como voam as pombas dos pombais;
No azul da adolescência as asas soltam,
Fogem… Mas aos pombais as pombas voltam,
E eles aos corações não voltam mais.
Invenção de Orfeu
(Jorge de Lima)
1.
Um barão assinalado
sem brasão, sem gume e fama
cumpre apenas o seu fado:
amar, louvar sua dama,
dia e noite navegar,
que é de aquém e de além-mar
a ilha que busca e amor que ama.
Nobre apenas de memórias,
vai lembrando de seus dias,
dias que são as histórias,
histórias que são porfias
de passados e futuros,
naufrágios e outros apuros,
descobertas e alegrias.
Alegrias descobertas
ou mesmo achadas, lá vão
a todas as naus alertas
de vaia mastreação,
mastros que apoiam caminhos
a países de outros vinhos.
Está é a ébria embarcação.
Barão ébrio, mas barão,
de manchas condecorado;
entre o mar, o céu e o chão
fala sem ser escutado
a peixes, homens e aves,
bocas e bicos, com chaves,
e ele sem chaves na mão.
2.
A ilha ninguém achou
porque todos o sabíamos.
Mesmo nos olhos havia
uma clara geografia.
Mesmo nesse fim de mar
qualquer ilha se encontrava,
mesmo sem mar e sem fim,
mesmo sem terra e sem mim.
Mesmo sem naus e sem rumos,
mesmo sem vagas e areias,
há sempre um copo de mar
para um homem navegar.
Nem achada e nem não vista
nem descrita nem viagem,
há aventuras de partidas
porém nunca acontecidas.
Chegados nunca chegamos
eu e a ilha movediça.
Móvel terra, céu incerto,
mundo jamais descoberto.
Indícios de canibais,
sinais de céu e sargaços,
aqui um mundo escondido
geme num búzio perdido.
Rosa-de-ventos na testa,
maré rasa, aljofre, pérolas,
domingos de pascoelas.
E esse veleiro sem velas!
Afinal: ilha de praias.
Quereis outros achamentos
além dessas ventanias
tão tristes, tão alegrias?
Estava em casa, no último dia 4, quando fiquei sabendo da morte de
Ferreira Gullar. Dois meses antes, estávamos na livraria Leonardo da
Vinci, no Centro do Rio, para uma conversa em torno da nova edição do
seu livro mais conhecido, o Poema sujo.
Por mais de uma hora, diante de uma plateia lotada, Gullar falou com
lucidez e energia sobre o livro, escrito quando ele vivia um exílio
angustiante em Buenos Aires. Concebido como um “testemunho final” por um
autor que temia de uma hora pra outra sumir, como tantas pessoas
estavam sumindo na América Latina, o Poema sujo detonou um
movimento pelo retorno de Gullar ao Brasil. A comoção criada pelo livro o
estimularia a voltar ao país, em circunstâncias arriscadas, dando fim a
um périplo de seis anos no exílio. Quatro décadas depois, o Poema sujo acabaria marcando também uma despedida, naquele lançamento derradeiro no dia 6 de outubro.
Depois de receber a notícia, abri o computador e entrei no Facebook
para encontrar, como esperado, minha timeline tomada de posts sobre o
poeta. Alguns com previsível má-vontade diante de suas posições
políticas nos últimos anos de vida, outros ponderando com mais cuidado a
relação entre seu articulismo e seus versos, muitos publicando poemas
seus ou lembrando as circunstâncias em que tinham tomado contato com a
sua obra pela primeira vez. Um memorial coletivo e fragmentário que
fazia pensar no “espanto” que Gullar insistia estar na origem de seus
versos.
Como observaram diversos críticos, a memória não é no Poema sujo um
simples procedimento de recuperação de dados estáticos, mas um
movimento que afeta a própria matéria por meio da qual se realiza,
fazendo da redescoberta de uma impressão antiga um ato que é sempre
transformador, em vez de meramente reiterativo. Uma dinâmica que poderia
descrever não apenas o efeito produzido por essa volta coletiva aos
poemas ocasionada pela morte de Gullar, mas o próprio sentido do retorno
reiterado, por parte da crítica, a um livro já tão esquadrinhado e
discutido quanto o Poema sujo.
É comum, no entanto, que esses “retornos críticos” a uma obra
canônica se realizem como repetição cautelosa do já dito, produzindo uma
enorme massa de variações microscópicas em torno dos mesmos motivos. O
medo de fazer algo do tipo, e o esforço para dar conta de uma fortuna
crítica que parece crescer mais rápido do que o estudo é capaz de
avançar, me levariam nos últimos anos a protelar repetidas vezes o
projeto de escrever um texto sobre o Poema sujo. Em vez de
postar também um poema e tomar parte no luto coletivo, fechei o
computador e fiquei pensando nos motivos que haviam me levado, anos
atrás, a elaborar um malogrado plano de estudos sobre o livro.
Ao recordar a vida de Gullar em São Luís, o Poema sujo realiza
um movimento duplo. Se pretende tornar mais uma vez presente aquele
mundo remoto, ainda que apenas na duração breve do relâmpago que
“clareia os continentes passados”, também assinala uma série de
ausências irrecuperáveis, por meio de imagens que conferem ao tempo um
sentido corrosivo. A ferrugem nos talheres, todo tipo de objeto empenado
(“garfos enferrujados facas cegas cadeiras furadas mesas gastas”), as
telhas da casa encardidas, o limo e o musgo encobrindo as construções. O
passado volta numa torrente, ainda vivo (“a vida a explodir por todas
as fendas da cidade”), mas traz também a recordação do ritmo lento,
quase imóvel, do dia a dia na província – num bairro pobre, a agonia de
uma noite espessa, que não passa (“estendida/ como graxa/ por
quilômetros de mangue/ a noite alta”); a imagem de um rio que apodrece;
na quitanda de seu pai, a pasmaceira de um tempo que se acumula (“tudo
estava parado/ na mesma imobilidade branca/ do fubá dentro do
depósito”); ou ainda “o clarão do sol morrendo na platibanda em frente à
nossa janela”.
A recordação da juventude é também um inventário de coisas perdidas.
Há uma gravação que captura bem essa condição dupla e contraditória do
livro. É uma leitura integral do Poema sujo realizada
por Gullar em 2005 e lançada em DVD pelo Instituto Moreira Salles. A
leitura dura pouco mais de uma hora, mas (à maneira do que acontece no
livro) são diversos os tempos que essa hora contém – a infância que o
poema recorda, a velhice do poeta que faz a leitura, os anos de exílio
que o livro de algum modo captura e ajudou a encerrar. Algumas pausas e
equívocos, preservados no corte final, sugerem que também alguma coisa
do poema que está sendo lido poderia se perder. Já de saída, não está
ali o ritmo plástico criado pela disposição das palavras na página. Mas
mesmo as palavras, a ordem dos versos, parecem às vezes escapulir. Em
vez de um marco monumental, a realização “bem-acabada” e “definitiva”
que desde cedo os comentaristas veriam no livro, o poema assume então um
feitio mais frágil. De algum modo, talvez, mais próximo daqueles meses
em que ia sendo escrito no exílio. Fazia trinta anos, àquela altura, que
Gullar dera por concluído o longo processo de escrita iniciado em maio
de 1975, depois descrito por ele, alternadamente, como “aventura”,
“viagem”, “enxurrada”.
A gravação no IMS (concebida por Antonio Fernando de Franceschi e
coordenada por João Moreira Salles) remete ainda à história acidentada
do livro, que chegou pela primeira vez ao Brasil de maneira clandestina.
No que é talvez o mais conhecido episódio da mitologia do Poema sujo, Vinicius de Moraes
gravou em Buenos Aires e trouxe consigo ao Brasil uma fita em que
Gullar fazia a leitura da obra recém-concluída. Um contrabando poético
que circularia entre amigos e animaria o editor Ênio Silveira a publicar
o livro pela Civilização Brasileira. Até onde se sabe, a fita se
perdeu.
Naquele dia, na Leonardo da Vinci, perguntei a Gullar sobre as imagens de envelhecimento recorrentes no Poema sujo.
A resposta veio numa sequência que fazia pensar na dicção reiterativa
de algumas partes do livro (“mas variados são os modos/ como uma coisa/
está em outra coisa”): “O que estou mostrando no poema é essa coisa da
realidade que é a deterioração das coisas. Quer dizer, a constatação de
que as coisas acabam, de que as coisas se deterioram, de que as coisas
envelhecem, de que as coisas se perdem. Que é uma coisa que a vida te
mostra que é.”
Como tantos planos que ficam pelo caminho, a ideia de escrever alguma coisa sobre o Poema sujo nunca
foi adiante. De um amigo solidário, a quem falei uma vez desses
adiamentos reiterados, recebi por e-mail, algum tempo depois, um texto
do filósofo italiano Giorgio Agamben. “Pra ler na hora do desespero”,
dizia a mensagem. Nesse mini-ensaio incluído em seu livro "Ideia da
prosa", Agamben fala sobre o estudo, definido por ele como algo “em si
mesmo interminável”, que “não só não pode ter fim, como também não o
quer ter”. Ao comentar o termo latino studium, raiz da palavra “estudo”, ele o aproxima inesperadamente de “espanto”, palavra da predileção de Gullar: Ela remonta a uma raiz st- ou sp-, que designa o embate, o choque. Estudo e espanto (studiare e stupire)
são, pois, aparentados neste sentido: aquele que estuda encontra-se no
estado de quem recebeu um choque e fica estupefacto diante daquilo que o
tocou, incapaz, tanto de levar as coisas até o fim, como de se libertar
delas. Aquele que estuda fica, portanto, sempre um pouco estúpido,
atarantado.
Talvez por conta das circunstâncias, essa ideia me voltou à cabeça
esses dias como uma descrição possível do processo de luto. Também a
morte alheia desencadeia em nós um ensaio potencialmente infinito de
realização de qualquer coisa elusiva. Um percurso atarantado em torno de
algo que escapa aos nossos projetos, pois nunca está onde esperamos
encontrá-lo. Esse aturdimento, um espanto de outro tipo, tem para os
leitores de um autor falecido um desdobramento diverso. Como escreveu W. H. Auden
num poema conhecido sobre a morte do poeta irlandês William Butler
Yeats, em alguma medida o escritor se torna seus admiradores, espalhado
em centenas de cidades, as palavras de um homem morto modificadas nas
entranhas dos vivos.
* * * * *
Miguel Conde é jornalista e doutorando em Letras na
PUC-Rio. Foi curador de duas edições da Flip e pesquisador visitante na
Brown University. Seus artigos e reportagens já foram publicados em
veículos nacionais e estrangeiros como Folha de S. Paulo, O Globo, Valor Econômico e Literary Hub.