Ernesto “Che” Guevara foi um conhecido revolucionário que nasceu na Argentina em uma família de boa condição financeira. Formou-se em Medicina e fez uma viagem pela América do Sul, o que o atentou para o estado de pobreza em que a população carente vivia. Durante sua segunda viagem pelo mesmo continente, conheceu cubanos que o convenceram a juntar-se à Revolução Cubana.
Foi um dos grandes nomes dessa revolução que derrubou a ditadura de Fulgêncio Batista e esteve ligado com o comando e treinamento de tropas. Durante mais de seis anos, ocupou cargos importantes no governo de Cuba, e passou seus últimos anos lutando no Congo e na Bolívia, local onde foi capturado e executado.
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Primeiros anos
Ernesto Guevara de la Serna, mundialmente conhecido como Che Guevara, nasceu em Rosário, Argentina no dia 14 de junho de 1928. Ele veio de uma família de classe alta e foi o primeiro de cinco filhos que Ernesto Guevara Lynch e Celia de la Serna tiveram em seu casamento. Algumas biografias mostram que a sua mãe era descendente do último vice-rei do Peru, mas existem historiadores que questionam essa informação.
Existem outros estudos também que mostram que Che Guevara descendia de um explorador espanhol chamado Domingo Martínez de Irala, conhecido por ter sido o primeiro governador de Assunção. Então, além da boa condição financeira de sua família, Che era, possivelmente, herdeiro de personalidades importantes na história do cone sul da América colonizada pelos espanhóis.
Teve quatro irmãos, chamados Celia, Roberto, Ana María e Juan Martín. Na sua infância, Che Guevara teve uma crise asmática que levou seus pais a mudarem-se de Bueno Aires e fixarem-se em local que fosse melhor para a saúde de seu filho mais velho. Foi assim que Che Guevara passou a morar em Alta Gracia, uma cidade próxima de Córdoba.
Essa mudança aconteceu pelo motivo de que Alta Gracia fica na região serrana de Córdoba, e os pais de Che Guevara imaginaram que os ares serranos dessa pequena cidade fariam bem para a saúde dele. Em Alta Gracia, a principal casa em que Che viveu é conhecida como Villa Nydia, local que atualmente é um museu.
Che Guevara lia muitos livros, principalmente porque, em seus momentos de crise asmática, ele não tinha muita disposição para outras atividades. O ensino primário (fundamental) de Che foi realizado em Alta Gracia, e o secundário (Ensino Médio), em Córdoba, capital da província de Córdoba.
Em 1946, Che Guevara concluiu seus estudos básicos, e o ano seguinte foi de muitas reviravoltas em sua vida, pois seus pais divorciaram-se e mudaram-se para Buenos Aires. Che Guevara também se mudou e estabeleceu-se na casa de sua vó materna, e, em 1948, iniciou o curso de Medicina na Universidade de Buenos Aires. Enquanto universitário, ele conciliava o tempo de estudo com o trabalho e mantinha o seu grande interesse pela leitura, lendo autores como Karl Marx.
Viagens
Che Guevara ficou muito famoso por realizar uma viagem pela América do Sul no primeiro semestre de 1952, mas, antes dela, ele realizou uma viagem de 4500 km pelo noroeste do território argentino, inclusive passando por Córdoba. Ele ainda trabalhou como médico em um petroleiro, no ano de 1951.
Foi em janeiro de 1952 que Che Guevara e seu amigo Alberto Granado iniciaram a famosa viagem pela América do Sul. Nessa aventura, Che e seu amigo partiram montados em uma motocicleta Norton e, com pouco dinheiro, passaram por Chile, Peru, Colômbia e Venezuela. A moto estragou enquanto estavam no Chile, e a viagem seguiu a pé e por meio de caronas.
Durante essa viagem, Che e Granado tiveram contato com a pobreza da população sul-americana, e esse cenário teve um grande impacto em Che Guevara, tanto na forma de enxergar a situação da população quanto nas formas de agir para lutar contra ela. Ele e seu amigo também trabalharam de maneira voluntária dando atendimento médico às populações carentes.
Essa viagem estendeu-se até julho de 1952, e, quando retornou a Buenos Aires, Che tratou de finalizar o seu curso. Em abril de 1953, ele recebeu o título de médico pela Universidade de Bueno Aires e logo realizou outra viagem. Dessa vez, o seu acompanhante foi um amigo de infância chamado Carlos Ferrer.
Nesse trajeto, Che passou pela Bolívia, local em que teve contato com a experiência revolucionária realizada pelo Movimento Nacionalista Revolucionário. Em seguida ele foi ao Peru, depois ao Equador. Por fim, decidiu ir à Guatemala para presenciar o governo progressista que se desenrolava nesse país centro-americano.
Chegou à Guatemala no final de dezembro de 1953, e, naquele momento, o país era governado por Jacobo Arbenz. O governo guatemalteco estava em processo de realizar algumas reformas, e Che Guevara presenciava, portanto, mais uma experiência reformista em curso. O governo, no entanto, não era comunista, e o historiador Victor G. Kiernan define-o como um governo liberal com agenda progressista|1|.
Entre as reformas realizadas na Guatemala, estava a reforma agrária, que prejudicou os interesses da United Fruit Company, uma empresa que tinha ligações com pessoas da inteligência norte-americana, a CIA. Os Estados Unidos então lideraram uma conspiração internacional que levou a um golpe conduzido pelo Coronel Castillo Armas, que trouxe tropas de Honduras.
O golpe na Guatemala forçou Jacobo Arbenz a renunciar à presidência, e a nova realidade na Guatemala colocou a vida de Che Guevara em risco, o que fez ele se abrigar na embaixada argentina. Na época, ele mantinha relacionamento com Hilda Gadea, e, com o golpe, ela foi presa e permaneceu na cadeia por algumas semanas. A perseguição contra os dois aconteceu porque eles tinham conexões com comunistas.
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Che e a Revolução Cubana
Depois da Guatemala, Che mudou-se para o México, ficando lá de 1954 a 1956. No México ele teve contato direito com revolucionários cubanos e conheceu participantes do ataque ao Quartel Moncada, um dos marcos que deram início à Revolução Cubana. Esses revolucionários de Cuba lutavam contra a ditadura de Fulgêncio Batista, e, entre eles, estavam os irmãos Castro — Fidel e Raúl.
Nesse país, Che trabalhou como fotógrafo e médico para sobreviver e vivia com grandes dificuldades financeiras. Convencido a aderir à luta cubana, ele partiu para a ilha caribenha junto ao grupo de Fidel, com o objetivo de conquistar o país e derrubar a ditadura de Batista. Pouco depois de chegar a Cuba, o grupo de Fidel Castro foi atacado por tropas cubanas, e os sobreviventes instalaram-se em Sierra Maestra. Com a ajuda da população camponesa, eles realizaram o trabalho de reconstrução da luta contra Fulgêncio.
Nas montanhas de Sierra Maestra, os guerrilheiros cubanos reconstruíram sua força, e a luta contra as tropas de Fulgêncio Batista estendeu-se até o começo de 1959. Os avanços decisivos aconteceram a partir de 1958, e o apoio da população urbana e da população rural aos guerrilheiros fez o ditador de Cuba fugir em 1º de janeiro de 1959. No dia 8, os revolucionários cubanos entraram vitoriosos na capital do país, Havana.
No curso da Revolução Cubana, Che Guevara teve um papel destacado e assumiu posições de liderança entre os revolucionários. Ele atuou como comandante de tropas e fazia o treinamento de novos recrutas para a guerrilha. A importância dele no decorrer da luta fê-lo também um importante nome no governo construído a partir de 1959. Por conta de seu papel, Che Guevara é considerado um grande herói nacional em Cuba.
Entre 1959 e 1965, ele ocupou diferentes funções no governo cubano, estando envolvido nos julgamentos que condenaram os crimes cometidos por figuras da ditadura de Batista. Estima-se que, desses julgamentos, que faziam parte da Comissão Depuradora, 500 pessoas foram condenadas à morte.
Ele também ocupou a função de comandante do exército cubano, a presidência do Banco Nacional, e esteve à frente do Ministério da Indústria. Che Guevara foi um dos grandes defensores do alinhamento de Cuba com a União Soviética como forma de resguardar a sua soberania. Ele defendia isso porque presenciou o que a interferência norte-americana causou na Guatemala.
Com a tentativa fracassada de invasão da Baía dos Porcos, em 1961, Cuba alinhou-se com a União Soviética como forma de proteger-se de uma nova tentativa de interferência dos Estados Unidos. Ainda em 1961, Che Guevara realizou viagem diplomática ao Brasil e foi condecorado, pelo presidente Jânio Quadros, com a Grã-Cruz da Ordem Nacional do Cruzeiro do Sul.
Essa era uma das maiores honrarias do Brasil, e essa atitude do presidente brasileiro fazia parte do projeto de seu governo de tentar implantar uma política externa independente tanto dos Estados Unidos quanto da União Soviética. Se quiser saber mais do processo revolucionário que tornou Che Guevara e os irmãos Castro famosos no mundo todo, leia: Revolução Cubana.
Morte
Depois de 1965, Che Guevara decidiu abandonar suas funções no governo cubano para participar novamente da luta revolucionária em outros locais. Ele tinha uma visão internacionalista e, portanto, defendia que a revolução deveria ser levada para outros países. Seu sonho era poder transformar o seu país, mas como a Argentina não tinha o cenário para uma revolução do tipo, Che seguiu para outros territórios.
Entre 1965 e 1966, Che esteve no território da atual República Democrática do Congo, mas a tentativa de revolução nesse país africano fracassou. Os últimos anos de sua vida foram vividos na Bolívia, país que, desde 1964, era governado por uma ditadura. Che tentou derrubar a ditadura boliviana aderindo à guerrilha local, mas fracassou.
Ele chegou à Bolívia em 1966, mas, em 1967, já estava sem apoio do Partido Comunista da Bolívia e era perseguido pelo exército boliviano e pela inteligência norte-americana. No dia 8 de outubro de 1967, sua guerrilha foi cercada por tropas bolivianas e ele, ferido, foi levado como prisioneiro. Ele foi capturado em Quebrada del Churo e depois levado para La Higuera, onde foi executado por soldados bolivianos em 9 de outubro de 1967.
Os restos mortais de Che Guevara só foram encontrados em 1997. Depois de constatado que, de fato, tratava-se dos seus restos, eles foram levados para Cuba e colocados em um memorial.
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Vida pessoal
Ao longo de sua vida, Che Guevara teve duas esposas: Hilda Gadea, com quem foi casado de 1955 a 1959, e Aleida March, com quem foi casado de 1959 a 1967 (o ano da morte de Che Guevara). Do primeiro casamento, Che e Hilda tiveram uma filha chama Hilda Beatriz Guecara Gadea; e, no segundo casamento, Che e Aleida tiveram quatro filhos: Aleida, Camilo, Celia e Ernesto.
Nota
|1| KIERNAN, Victor G. Estados Unidos: o novo imperialismo. Rio de Janeiro: Record, 2009. p. 369.
Créditos das imagens
[1] Uncle Leo e Shutterstock
[2] Arquivo pessoal/Daniel Neves
Por Daniel Neves
Professor de História