quarta-feira, 1 de novembro de 2017

Balbino: "O culto a egungun preserva o laço coletivo"

Balbino: "O culto a egungun preserva o laço coletivo"

Cleidiana Ramos

Balbino Daniel de Paula, líder do Ilê Agboulá, que cultua os egunguns - Foto: Fernando Vivas | Ag. A TARDE
Balbino Daniel de Paula, líder do Ilê Agboulá, que cultua os egunguns
Fernando Vivas | Ag. A TARDE
Balbino Daniel de Paula, 56 anos, é alagbá, título que lhe conferiu a liderança do Ilê Agboulá. Situado em Ponta de Areia, na Ilha de  Itaparica, o  terreiro sedia hoje à noite o auge de uma homenagem aos egunguns. É uma festa, de certa forma, para os que já morreram, assim como o Dia de Finados,  também comemorado hoje. Mas um culto de vida é a palavra que Balbino prefere para definir a prática religiosa onde atua como liderança.
Aliás, ouvi-lo falar é privilégio, pois o culto feito no Agboulá e em outros terreiros semelhantes, majoritariamente sediados em Itaparica, é pouco conhecido. No posto do alagbá, Balbino tem optado por usar a oralidade para informar, sem revelar os fundamentos do mistério. O objetivo é combater o preconceito e mostrar a  beleza de uma celebração que une entes sacralizados africanos, mas também os que são brasileiros, dentre os quais seus parentes biológicos. É a lição, segundo o alagbá, de que a morte não é o fim, mas uma etapa para o recomeço que é eterno e se renova unindo passado e presente como prática religiosa.
Como o senhor define o culto a egun?
É uma definição complexa, mas vou conceituá-la de forma simples. O culto a egungum é a preservação da existência coletiva. Costumo dizer que, enquanto Exu é o princípio da existência individual, o culto a egungun é o culto à ancestralidade, é reviver o princípio da existência coletiva, guardar os laços de parentesco, entre as famílias e  entre  os habitantes do  globo terrestre. E é isso que o egungun faz:  preserva  a harmonia. Tanto é que cada ancestral egungun representa  uma família para que ela possa se lembrar dele como princípio da existência. É a forma também para que o egungun acompanhe sua família, não permitindo que as adversidades ocorram no seio dela.
A palavra correta é egun ou egungun? 
A  forma, ao morrer, constitui-se em egun. Da passagem de egun para egungun há uma preparação ritualística que ocorre dentro do culto. É a potencialização e a purificação  da energia,   para que no tempo de, no mínimo  sete anos, o egun saia da fase inicial e passe à fase de egungun com toda a energia pronta para retornar à família. 
Qual é a estrutura do templo?
Só homens podem ser iniciados. Hierarquicamente,  temos duas divisões para o sacerdócio: a primeira é a iniciação como amuinsã. Depois, vem o segundo ritual, que é a iniciação para ojé. As mulheres, no egbé, que é a comunidade do terreiro, têm papel fundamental em dirigir a cozinha para o preparo das oferendas . Aos homens não cabe intrometer-se nisso. As mulheres são responsáveis também por  entoar os cânticos. Os homens são responsáveis  pela direção formal dos terreiros. Os ojés têm a decisão, mas quem faz com que as decisões sejam executadas são as mulheres.
O senhor é alagbá.  É o líder?
Sim. Sou  Alagbá  Babá Mariwó, o responsável pela comunidade. No  terreiro de egungun são dois títulos para as lideranças principais:  alagbá, que é o líder daquela casa, e o alapini, responsável  por todas as casas e por responder pelo culto como um todo. Esse título é único. Não pode existir mais de um alapini. 
O culto está sem alapini, nesse momento, por conta da morte de mestre Didi.
Sim.  Mestre Didi  faleceu em 6 de outubro do ano passado. Recentemente, fizemos o ritual após  um ano da sua morte e as casas já estão conversando para estabelecer quando  é que será a escolha  do novo alapini. 
As casas que fazem o culto exclusivo a egungun ficam concentradas em Itaparica? O senhor é da  família Daniel de Paula, a base da resistência desse culto.
Realmente, a maioria das casas estão em Itaparica. A história da família Daniel de Paula é de muita resistência. Não só dentro da comunidade itaparicana, mas dentro do culto a egungun. Essa história começou com Manoel Antônio Daniel de Paula, que teve alguns filhos e, desses, os  mais importantes  como sacerdotes que foram iniciados são Pedro Daniel de Paula, que é pai de Balbino do Aganju (Obaraín),  Olegário Daniel de Paula e Eduardo Daniel de Paula. Esse  foi aquele que, em 1940,  foi preso, como diz uma  reportagem de  A TARDE,  em uma "varejada"  juntamente com sua esposa, vovó Margarida, por conta da repressão que existia não só ao candomblé, mas também ao culto a egungun.  Daí podemos perceber que a família Daniel de Paula tinha muita importância para o culto desde aquela época.  O terreiro que os irmãos Daniel de Paula passaram a gerir foi instituído por volta de 1925 no  local conhecido como Amoreiras, em Ponta de Areia. O primeiro terreiro de culto a egungun foi o Terreiro da Velha Cruz. Tinha  também o  terreiro do Mokambo, que era de Marcos,  o Velho. Depois de um certo tempo e por vários motivos elementos rituais e tradições desses terreiros vieram para as mãos da família Daniel de Paula.   É por isso que digo que a resistência desse culto se deu muito pela nossa família. 
No ano passado, durante o Encontro de Nações do Candomblé, evento realizado pelo Centro de Estudos Afro-Orientais da Ufba (Ceao), o senhor  fez uma palestra na qual disse que é preciso combater o preconceito contra o culto a egungun mesmo entre pessoas de candomblé.
É que as pessoas quando  falam de egun parecem estar falando de uma coisa, além de sobrenatural, ruim, que faz mal e é obsessiva. Isso acontece por conta dos fragmentos de informações que recebem de outras religiões, como o espiritismo, que fala muito do espírito obsessor. Todo espírito obsessor, em  tese, é um egun, mas é preciso entender outros aspectos.  Eu comecei, naquele momento, perguntando à plateia quem é que tinha parentes falecidos. Depois perguntei se as pessoas achavam que o pai ou a mãe falecido eram coisas ruins.  Percebi como elas ficaram mais receptivas. Portanto, o preconceito se dá muitas vezes pelo desconhecimento. Também devemos lembrar como alguns segmentos religiosos atacam o candomblé e, por extensão, o culto de egungun. Uma vez que ele não é tão aberto como o culto de orixás, as pessoas ficam ainda mais temerosas.   E há também  algumas nações de terreiros que não se preocupam muito em  cultuar seu ancestral. Eu entendo que devemos cultuar a nossa origem  Os indígenas cultuam a sua ancestralidade. Aliás,  todos os  grupos religiosos a  reverenciam. Os cristãos fazem assim com Jesus, que é um ancestral.  São  formas diferentes, mas a essência é a mesma.
O senhor costuma dizer que o culto de egungun não celebra a morte, mas sim a vida. Por quê?
Quando falece um membro da nossa comunidade, ele morre para uma vida e renasce para outra. Da mesma forma como os vários grupos religiosos entendem que, ao morrer se vai ao encontro do Senhor, por que o culto a egungun é diferente? Não é. Quando se morre está se nascendo para uma nova vida. A diferença é que essa nova vida não acontece de forma isolada. Ela é compartilhada com todos que ficam porque o egungun tem o papel fundamental de aconselhar, dirimir os conflitos entre os membros da família. Celebra a vida de uma forma compartilhada. 
É por isso que o senhor é do culto de egungun e do que celebra orixás?
Eu sou axogum do Ilê Axé Ogum Alakayê (localizado em Salvador), onde sou responsável pelo abate dos animais que são oferecidos aos orixás. Fui iniciado no candomblé há 36 anos pelo babalorixá Moacir de Ogum. Veja que interessante:  nasci em Itaparica, mas,   ainda criança, vim morar em Salvador, pois minha mãe achava que era melhor para mim e meus dois irmãos.  Morei um bom tempo no Ilê Axé Opô Afonjá porque minha mãe era filha de santo de mãe Senhora, que dirigiu o Afonjá. O meu babalorixá Moacir  também era filho de santo de mãe Senhora. Quem o entregou a ela para ser cuidado foi Babá Agboulá.  Ele tinha uma devoção e um respeito muito grande a esse egungun. Eu fui escolhido para ser iniciado no culto de egungun exatamente por Babá Agboulá. Sou o único até hoje nessa condição. No culto de egungun, para ser iniciado como sacerdote, você tem que ser escolhido por um dos egunguns. Eu já tinha uma ligação com o Agboulá por ser da família Daniel de Paula. Aí vieram também os  laços religiosos por meio do meu pai de santo, Moacir. Portanto, eu cuido de aspectos do culto aos orixás, mas também, como alagbá, dos que partem dessa vida. Todos que morrem merecem cuidados, mesmo aqueles que não chegam a egunguns. 
Quando as pessoas vão a um terreiro de egungun o que elas estão indo buscar?
Geralmente aquilo que não conseguiram encontrar em nenhum outro lugar. Nós  temos que propiciar o encontro dessa pessoa com isso que ela foi buscar. É esse o papel dos  sacerdotes e dos egunguns.   
O senhor foi iniciado no culto de egungun  com quantos anos?
Eu fui iniciado aos 21 anos, porque os nossos mais velhos achavam que, para ser um sacerdote do culto, era preciso já ter constituído uma família com filhos. Eles diziam que só assim seríamos responsáveis o suficiente para estar no culto. Por isso, uma das minhas lutas hoje é para que os sacerdotes compreendam o seu verdadeiro papel. O primeiro cântico que entoamos no culto a egun reverencia o corpo de  sacerdotes.  Ele diz que nós somos espelhos e que temos a cabeça do pai do mistério. Isso significa que não basta você ser ojé se você não é um espelho para a sua comunidade. Não adianta  estar cultuando egungun se quando ele o está aconselhando para fazer o bem e você está fazendo justo o contrário do que ele disse. 
O senhor faz parte de   família que preservou o  culto e tem parentes como egunguns.  Como é a  sensação de ver sacralizadas as  pessoas com quem  conviveu?
Incomensurável. Quando a gente é iniciado como  sacerdote do culto a egungun, o cotidiano faz com que,  muitas vezes, algo que é espetacular se torne uma coisa comum. Mas não é raro, em momentos de festividades, que a emoção tome conta de mim. Durante as festas,  presenciamos  ancestrais que vieram da África junto com os que são brasileiros, alguns deles, inclusive membros da nossa família biológica.  É início e meio de algo que não sei quando será o fim. De vez em quando, desce uma lágrima que a gente esconde (risos). Existe um ritual - nas festas maiores  - que celebra o aniversário desses ancestrais. A gente começa no dia anterior e passa a noite inteira   preparando o campo energético para recebê-los.  Isso, geralmente,  acontece por volta das 5h30 da madrugada . É quando Babá Agboulá, por exemplo,  aparece acompanhado do Babá Obáerin, que foi meu avô Eduardo.  Eu estou ali como alagbá e fico lembrando de momentos da história de resistência desses meus ancestrais para preservar o culto. São questões como essa que me preocupo em passar para as novas gerações. Nós estamos preservando a herança dos nossos mais velhos,  temos o dever de passar para os mais novos, mas da forma como nós recebemos.

Zygmunt Bauman - Modernidade líquida: faces da incerteza

Modernidade líquida: faces da incerteza5

Para Bauman, a contemporaneidade é marcada pela fluidez das relações, pela incerteza de cada ação. Não é possível saber quais serão as consequências de nossos atos e nem mesmo nos preocupamos com os males que podemos causar.






Ao mesmo tempo, nossa vida social se tornou cada vez mais volátil: não temos empregos fixos, não temos comunidades para nos sentirmos seguros, não somos mais apoiados por nenhuma tradição, por nenhuma instituição.

Em Modernidade Líquida, livro lançado em 2000 por Zygmunt Bauman, cada aspecto da contemporaneidade é abordado e destrinchado, para que a fluidez das relações seja vista em âmbitos improváveis e esferas de difícil compreensão.
Para Bauman, a emancipação deixou de ser um imperativo e a vida cotidiana das pessoas passou a atender àquilo que a própria sociedade prometia. É difícil lutar pela libertação num mundo que já parece livre, no entanto, para tratar este assunto, o sociólogo coloca em jogo dois tipos de liberdade: uma subjetiva, que é sentida pelo sujeito e o situa no mundo como alguém que se acha livre ou preso; e outra objetiva, que se refere à possibilidade de conseguir se mover dentro da sociedade sem impedimentos, de conseguir exercer poder sem ser dominado por outros.
A individualidade na modernidade líquida é constituída pelo imperativo do consumo, pela primazia do querer, que é incessante e faz do ato da compra um modus operandi. Isso significa que as identidades são formadas e trocadas na mesma velocidade em que se troca de aparelho eletrônico.
O tempo ultrapassou o espaço em importância e a nova forma de dominação é através da velocidade da informação, da possibilidade de controlar diversas ações em locais diferentes sem se comprometer diretamente com nenhum deles.
Já o trabalho se tornou uma rede fluida de insegurança, na medida em que não é possível estabelecer uma relação de forças minimamente disputável pelos trabalhadores, que estão à mercê das vontades e dos objetivos dos capitalistas.
Por sua vez, a comunidade é somente uma amostra dos processos identitários de individualidade. Ou seja, é tão consumida quanto qualquer identidade na modernidade líquida.

Zygmunt Bauman, criador do conceito de modernidade líquida.

Adriana








Rosa Adry


(evangelista da silva)



Tu és para mim uma prece!...
Oro curvado aos teus pés
E rogo-te em nome do Amor
Que embala o nosso viver,
A eterna fidelidade de Amar!...

E nesta amplitude de querer e possuir,
Triste e desesperado,
Ajoelho-me apaixonado,
Clamando o teu corpo - alucinado prazer...
Envolvido no calor da tua boca e desejo.

E neste bailar das nossas vidas,
Aninhado ao teu lindo e alucinante corpo,
Oh doce Nina!... Aninha!... Nininha do céu...
Rosa Adry dos dias meus...
Vem, bela e formosa Menina/Mulher!...

A ti, suplico exaustivamente
O silêncio de minha dor,
E o desespero da minha paixão...
E nesta Tempestade de Amor e Tudo, e Nada,
Desmaio e morro sobre o teu corpo e encanto, minha Doce Amada...

E enquanto tu celebras a tua alegria
Em saudosa sinfonia de Aniversário de Natalício,
Eu, morto e esquecido, vou rasgando um papel
Mofado e amarelado: "um contrato de casamento",
Para construir uma união estável onde possamos Viver e Amar.

Serena, brava, ousada e cheirosa é a minha Menina...
Beijo-te e degluto a saliva para me alimentar...
Desta forma, Minha Nininha, vivemos a transição
De um mundo tortuoso e cheio de indiferença,
Para mergulharmos no oceano de vida, Amor e Amar...

quarta-feira, 25 de outubro de 2017

[Ensaio VIP] Letícia Lima, uma mulher de pegada

A atriz conta que não tem pudor na hora de interpretar e fala pela primeira vez sobre seu relacionamento com a cantora Ana Carolina

Letícia Lima
(Yuri Sardenberg e Aninha Monteiro//[Ensaio VIP] Letícia Lima, uma mulher de pegada/VIP)
Letícia Lima, sucesso na internet e na televisão, bateu um papo bem sincero com a VIP em fevereiro.
Teve coragem de falar, pela primeira vez, em público de sua sexualidade. Ela demorou três anos para se sentir confortável para tocar no assunto. Veja abaixo a entrevista:
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Eu não sei parar de te olhar

Letícia Lima não quer militar. Não pretende levantar bandeiras. Tampouco está a fim de brigar. Não que ela seja contra isso. Apenas acha que entrar em uma guerra para defender seu direito de ficar em paz soa contraditório.
A atriz de 32 anos está sentada a uma pequena mesa, com um prato de tartar de atum à frente, falando serenamente — e pela primeira vez em público — sobre sua relação com a cantora Ana Carolina. “Meu coração está muito bem alimentado, assim como eu vou ficar agora, obrigada”, ela brinca.
Letícia Lima
(Yuri Sardenberg e Aninha Monteiro/VIP)
Usando um body preto semitransparente e enrolada da cintura para baixo em um roupão, ela acabou de fazer as fotos que você vê neste ensaio. “Estou bem feliz. É meu primeiro relacionamento com mulher. Para mim, é tão normal, tão natural que não tem nem o que falar sobre isso. Me senti atraída e só não hesitei, não fiz nada, deixei acontecer. Não teve uma grande questão. Foi a primeira vez que me senti atraída por uma mulher. No fim, você se apaixona pela pessoa, não pelo gênero. E foi das descobertas mais incríveis. Acho que, quanto mais naturalmente a gente age, mais aquilo é normal. Não preciso afrontar.”
Letícia Lima
(Yuri Sardenberg e Aninha Monteiro/VIP)
Os boatos de que a atriz e a cantora estariam juntas começaram a ganhar força no Carnaval do ano passado, depois de elas terem sido flagradas dando um selinho em um camarote na Sapucaí. Continuaram aumentando ao longo do ano a cada vez que elas eram fotografadas no aeroporto, caminhando de mãos dadas, em shows ou eventos.
Reservada, Letícia nunca comentou o assunto. “A gente nunca falou sobre nosso relacionamento, mas também nunca evitou. Estamos sempre no aeroporto, nos lugares públicos. Precisa falar o quê? Sobre algo que é natural? Não havia necessidade.”
As duas namoram há três anos, e, se Letícia achou que agora era um bom momento para trazer o assunto à tona, não foi apenas porque o relacionamento entre as duas está mais maduro. Foi também por causa do preconceito muitas vezes velado que ela vem notando.
“Estou até numa posição favorável, porque sou artista: artista é excêntrico, logo, artista pode tudo. Se eu, que sou artista, já sofro preconceito, fico pensando: e quem não é? Incrível que no meu meio tenha tanto preconceito. Fiquei chocada. Teoricamente é para ser mais liberal, mas não é assim, não. Acho que as pessoas não estão abertas o suficiente. Até de repente elas têm isso no discurso, mas na hora do vamos ver, da prática, te olham meio esquisito. A gente percebe o incômodo”, diz.
“Isso que me faz falar. Acho bacana para dar força a quem passa pela mesma situação, que está só vivendo sua vida, está amando. E daí a maneira que você vai amar? Você não está prejudicando ninguém. Está só fazendo bem para outra pessoa, no máximo é isso que acontece.”
Letícia Lima
(Yuri Sardenberg e Aninha Monteiro/VIP)
Letícia Reis de Lima nasceu na cidade fluminense de Três Rios, bem perto da fronteira com Minas Gerais. Logo criança percebeu sua veia cômica e o talento para interpretar, mas foi uma tragédia que a fez desenvolvê-los. “Perdi um irmão muito nova. Eu tinha 5 anos, ele, 7. Ele teve um problema de saúde e o perdemos. Foi um supertrauma, muito difícil. Nesse período eu sentia a necessidade de entreter minha família. Acho que eu já tinha esse negócio do humor, porque senão eu não conseguiria desenvolver. Foi o jeito que eu, criança, arrumei para lidar com isso. E realmente passei a entreter minha família, a ser a criança divertida e tal.”
Aos 9 anos, entrou no teatro e fez peças amadoras na região onde morava. Começou a trabalhar aos 14 para levantar algum dinheiro, animando festas infantis. Aos 18, resolveu ir sozinha para o Rio de Janeiro estudar cinema, mas já com a intenção de seguir o caminho da dramaturgia.
Letícia Lima
(Yuri Sardenberg e Aninha Monteiro/VIP)
Depois de formada, Letícia foi trabalhar em canais a cabo como diretora de arte. Ao mesmo tempo, resolveu embarcar em um projeto com o então namorado Ian SBF, que conheceu na faculdade: um canal no YouTube de humor e ficção, o Anões em Chamas. “Não sabia nada de internet. Inventamos o quadro chamado Programa da Amanda e eu só pensava em expor meu trabalho, para exercitar e para mandar os links para produtores de elenco. Era um canal em que acontecia muita coisa e tinha orgulho de estar ali, fazendo algo inovador”, conta.
O canal foi um sucesso, o Programa da Amanda também. Começaram a surgir várias propostas de revistas – inclusive da VIP, que a fotografou para uma matéria.
“A Amanda tinha um apelo, uma coisa sexy. A ‘homarada’ amava. E era um programa superfeminista na verdade, porque ela era tão submissa que chamava atenção para o machismo. Passei a ser reconhecida na rua.”
Gregorio Duvivier, Fábio Porchat, Rafael Infante e Marcus Majella eram alguns dos visionários que estavam com Letícia e Ian nos primórdios do Anões. Depois, mais nomes juntaram-se ao grupo, que virou o fenômeno Porta dos Fundos.
“Foi só no Porta que pude deixar de ser diretora de arte e virar só atriz. Dali engatei.” Graças ao seu trabalho no canal, o autor de novelas João Emanuel Carneiro e a diretora Amora Mautner a convidaram para estrear na TV Globo, em A Regra do Jogo.
Letícia Lima
(Yuri Sardenberg e Aninha Monteiro/VIP)
“Foi superincrível. Recebi um telefonema da Amora dizendo que ela admirava muito meu trabalho e que tinha um papel para mim na nova novela do João Emanuel. Pensei: ‘Caraca, deve ter um exagero nessa história. Quando eu encontrei o João Emanuel ele disse que estava mesmo escrevendo um papel para mim fazia seis meses, sem nem saber se eu ia para lá’.
Letícia foi. “Não dava para conciliar o trabalho com o Porta e tinha uma questão contratual do programa com a Fox. Foi muito difícil tomar essa decisão, fiquei angustiada de verdade, meio deprimida. Mas sabia que era um passo importante na minha carreira.” O colunista Flávio Ricco afirmou no UOL que a saída dela do humorístico causou mal-estar. À VIP, ninguém confirmou a informação. João Vicente de Castro e Gregorio Duvivier, ex-colegas do programa, não quiseram falar sobre ela.
Letícia Lima
(Yuri Sardenberg e Aninha Monteiro/VIP)
Na novela, a atriz ganhou fãs do alto escalão da dramaturgia. “Nos encontramos no camarim e acho sinceramente que foi amor à primeira vista”, conta a veterana Susana Vieira. “Durante as gravações, a gente ficou muito amiga, confidente. Ela é uma pessoa muito querida, muito doce e muito talentosa, muito. E além disso acho que ela tem o cabelo mais bonito da TV Globo. Que as outras me perdoem, mas é lindo e é dela!”
A Regra, Letícia viveu a funkeira Alisson e sua primeira cena era de sexo, fazendo topless e usando uma calcinha fio dental. “Fiz numa boa. Tenho pudor zero para trabalhar, não tenho vergonha de algumas partes, não ligo mesmo. Mas eu mesma sou um pouco tímida no meu dia a dia. Prefiro me manter mais reservada. Minha profissão já me expõe tanto…”
Depois do folhetim, outra prova de popularidade: foi chamada para fazer a Dança dos Famosos, no Domingão do Faustão. “Eu já tinha muito retorno do público por causa da internet. A televisão diversificou isso.”
Público, aliás, que Letícia diz só emanar coisas boas para ela e Ana Carolina. “Sinto muito carinho da parte deles. Se você olhar as minhas redes sociais vai ver. É isso que me dá esperança, sabe? Nossa, tem salvação. Parece clichê, piegas e tal, mas que bom que o amor está vencendo, seja da maneira que for. Tem que ter coragem, mas vale a pena.”
Letícia Lima
(Yuri Sardenberg e Aninha Monteiro/VIP)
Embora não goste de dar detalhes de sua vida pessoal e não confirme se está morando com a namorada, a atriz conta que adora seu apartamento, em Botafogo, onde gosta de andar nua, cuidar do cãozinho Bruno, manter uma horta, fazer trabalhos de marcenaria e preparar pratos “com um toquezinho gourmet”, que misturam culinária italiana e mineira (“É tipo risoto de couve e manteiga, risoto de torresmo”, ela explica diante de minha ignorância).
Também é superorganizada e tem uma gaveta de calcinhas separadas por cores e setores (“Tem a do dia a dia, a fio dental, a quero-ser-sexy-sem-ser-vulgar, a quero-ser-vulgar. Se não separar, embaralha tudo e não sei o que tenho”).
É em casa que ela assiste às cenas que grava – e odeia todas: “Se não odeio, consigo dizer: `Gostei, mas podia ter ficado melhor¿. É um bom exercício, não quero eliminar isso da minha vida.”
Letícia Lima
(Yuri Sardenberg e Aninha Monteiro/VIP)
Neste ano, Letícia estará em três longas nos cinemas. Este mês estreia Ninguém Entra, Ninguém Sai, comédia em que ela é protagonista. Está programado para junho o lançamento de Duas de Mim.
E tem ainda um filme independente que ela fez com direção de Ian SBF, com quem ficou por oito anos. “Nossa parceria de trabalho é incrível. Sempre que eu puder convidar um diretor para trabalhar comigo, quero convidá-lo. Somos superamigos, foram muitos anos juntos, né? Também tem o seguinte: não houve uma grande merda. A gente só não era mais um casal homem e mulher. ”
Letícia faz também a nova temporada de Vai Que Cola, do Multishow, emissora que a convidou para ajudar a criar um programa com a apresentadora Didi Wagner.
No fim do ano, o canal disponibiliza, só na internet, uma websérie com a atriz. “Não me considero humorista. Sou uma atriz que faz humor. Mas corro atrás de outros gêneros. Quero fazer teatro este ano, e não vai ser humor”, diz. Mas sabe que sua imagem está ligada ao riso. E, sem se conter, faz troça: “As pessoas já chegam até mim rindo. Ou elas se lembram de algum papel que fiz ou estou cagada”.

Estilo: Fabrício Miranda e Fernando Batista
Beleza: Max Weber
Ensaio produzido no Hotel Emiliano

O Patíbulo Municipal de Santo Antônio de Jesus (o "seu" prefeito ameaça o povo pobre e trabalhador)


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