terça-feira, 8 de abril de 2014

Poema do Silêncio




Poema do Silêncio

(José Régio)*

Sim, foi por mim que gritei.
Declamei,
Atirei frases em volta.
Cego de angústia e de revolta.

Foi em meu nome que fiz,
A carvão, a sangue, a giz,
Sátiras e epigramas nas paredes
Que não vi serem necessárias e vós vedes.

Foi quando compreendi
Que nada me dariam do infinito que pedi,
- Que ergui mais alto o meu grito
E pedi mais infinito!

Eu, o meu eu rico de baixas e grandezas,
Eis a razão das épi trági-cómicas empresas
Que, sem rumo,
Levantei com sarcasmo, sonho, fumo...

O que buscava
Era, como qualquer, ter o que desejava.
Febres de Mais. ânsias de Altura e Abismo,
Tinham raízes banalíssimas de egoísmo.

Que só por me ser vedado
Sair deste meu ser formal e condenado,
Erigi contra os céus o meu imenso Engano
De tentar o ultra-humano, eu que sou tão humano!

Senhor meu Deus em que não creio!
Nu a teus pés, abro o meu seio
Procurei fugir de mim,
Mas sei que sou meu exclusivo fim.

Sofro, assim, pelo que sou,
Sofro por este chão que aos pés se me pegou,
Sofro por não poder fugir.
Sofro por ter prazer em me acusar e me exibir!

Senhor meu Deus em que não creio, porque és minha criação!
(Deus, para mim, sou eu chegado à perfeição...)
Senhor dá-me o poder de estar calado,
Quieto, maniatado, iluminado.

Se os gestos e as palavras que sonhei,
Nunca os usei nem usarei,
Se nada do que levo a efeito vale,
Que eu me não mova! que eu não fale!

Ah! também sei que, trabalhando só por mim,
Era por um de nós. E assim,
Neste meu vão assalto a nem sei que felicidade,
Lutava um homem pela humanidade.

Mas o meu sonho megalómano é maior
Do que a própria imensa dor
De compreender como é egoísta
A minha máxima conquista...

Senhor! que nunca mais meus versos ávidos e impuros
Me rasguem! e meus lábios cerrarão como dois muros,
E o meu Silêncio, como incenso, atingir-te-á,
E sobre mim de novo descerá...

Sim, descerá da tua mão compadecida,
Meu Deus em que não creio! e porá fim à minha vida.
E uma terra sem flor e uma pedra sem nome
Saciarão a minha fome.

*José Régio, in As Encruzilhadas de Deus(poeta português).

quinta-feira, 27 de março de 2014

A Morte Não Manda Recado…

21 de março de 2014
 

(evangelista da silva)

 

Amanhecera…


Meu pai… eu não estou passando bem.
Pronto Tiago, vamos ao médico, agora.


Respondera-me que não. Estava sentindo-se melhor.
Como que melhor?… Vamos ao médico…
Insistira em dizer não. Não precisa.


Troquei de roupa. Desisti de tudo. Vamos…
Não. Não precisa. Estou melhorando.


Embora distante mil metros… muito perto.
A minha insistência de nada valera.
Deveria não acreditar e ter ido ao seu encontro…


Preocupado eu insistia em saber como estava.
Perdi contato. Senti telefone ocupado. Fiquei menos preocupado.
Estava falando com alguém…


Eis que de repente liga o irmão: - painho, sobe correndo que Tiago desmaiara. Senti a realidade. Fiquei Descontrolado e trêmulo. Louco. Não sabia agir. Saí correndo. Eu sabia!…


Ao primeiro aviso teria ido sem desculpas de melhora.
Errei. Não entendo o meu comportamento…
Estava morto. Que arrependimento…
A culpa corroi a minh’alma…


E à tarde começara vazia, triste e abandonada…


Estou em desgraça…
Sentindo-me culpado…
Só…

  • Bahia, 26/03/2014.

Hei, Menina!!!

Linda...