terça-feira, 15 de novembro de 2011
segunda-feira, 14 de novembro de 2011
Mãe Menininha do Gantois
Mãe Menininha do Gantois
Mãe Menininha do Gantois nasceu em 10 de janeiro de 1864. Era neta de escravizados da tribo Kekeré, da Nigéria. Foi iniciada no candomblé, ainda criança, no terreiro fundado pela sua bisavó. Aos 28 anos de idade, como filha de Oxum, assumiu o cargo de maior hierarquia na religião. Conseguiu estabelecer interlocuções como várias personalidades, buscando o respeito da socie...dade para a religião, muito perseguida pelo poder político.
Devido aos seus poderes espirituais e sua capacidade de agregar as pessoas, conquistou o respeito até mesmo de outras religiões. Tornou-se a mais respeitável mãe de santo da Bahia, onde até hoje funciona o terreiro do Gantois, fundado em 1849, por sua bisavó. Sempre divulgava o candomblé, explicando sobre a importância do mesmo. Sua vida religiosa foi marcada pela fé e bondade. De grande carisma, Mãe Menininha do Gantois tinha respeito de personalidades importantes, dentre as quais, Dorival Caymmi, Caetano Veloso, Tom Jobim e Vinícius de Moraes.
Faleceu aos 92 anos, em 1986 na cidade de Salvador.Ver mais
Mãe Menininha do Gantois nasceu em 10 de janeiro de 1864. Era neta de escravizados da tribo Kekeré, da Nigéria. Foi iniciada no candomblé, ainda criança, no terreiro fundado pela sua bisavó. Aos 28 anos de idade, como filha de Oxum, assumiu o cargo de maior hierarquia na religião. Conseguiu estabelecer interlocuções como várias personalidades, buscando o respeito da socie...dade para a religião, muito perseguida pelo poder político.
Devido aos seus poderes espirituais e sua capacidade de agregar as pessoas, conquistou o respeito até mesmo de outras religiões. Tornou-se a mais respeitável mãe de santo da Bahia, onde até hoje funciona o terreiro do Gantois, fundado em 1849, por sua bisavó. Sempre divulgava o candomblé, explicando sobre a importância do mesmo. Sua vida religiosa foi marcada pela fé e bondade. De grande carisma, Mãe Menininha do Gantois tinha respeito de personalidades importantes, dentre as quais, Dorival Caymmi, Caetano Veloso, Tom Jobim e Vinícius de Moraes.
Faleceu aos 92 anos, em 1986 na cidade de Salvador.Ver mais
O Redentor
Herman Hesse
Sempre e sempre retorna feito homem,
fala a devotos e a surdos ouvidos,
chega-se a nós e já de novo some.
Sempre e sempre sozinho Ele conduz
as misérias e anelos dos irmãos,
e sempre acaba pregado na cruz.
Sempre e sempre se faz proclamar Deus:
quer que o espírito domine a carne
e que à terra venha o reino dos céus.
Sempre e sempre, nestes dias ainda,
de passagem, o Salvador redime
nossas angústias, queixas e perguntas
- com seu olhar de bem-aventurança
que nem ousamos nós retribuir,
pois só o encaram olhos de criança.
(tradução de Geir Campos)
Caixas de Natal
Marco Antunes
A verdade é que já não sei mais
A verdade é que já não sei mais
tirar das caixas o Natal
como fazíamos anos atrás.
Era um não mais parar de descer caixas
guardadas em lugares altos da casa
durante os meses tristes do ano.
E todas eram caixas de sonhos:
redondas, compridas, largas
ou em formas improváveis de estrelas,
mas sempre cada uma revestida
de flores, de cestas de flores,
de pássaros que voavam fitas,
de anjinhos instrumentistas,
de formas natalinas e brilhos e
de moças antigas com sombrinhas de renda...
As caixas em si já eram o Natal
ou seu presságio e, quando abertas,
libertavam todas as esperanças
de frutos de cristal e pinhas de ouro.
A primeira delas,
pouco maior que uma caixa de sapatos,
revestida de estrelinhas, luas e sóis,
guardava lampadinhas coloridas
e era dever e privilégio de meu pai abrir.
Abrir e desenrolar o novelo de fio verde
que escorria pela sala até o corredor
enquanto, na outra ponta,
meu pai, muito sério, solene e preocupado,
fazia o primeiro teste na tomada...
Ah! Que bonito que era!
Porque em menos de um segundo,
as dezenas de cores se acendiam
como um rio de felicidade
que corria pela sala e lambia o corredor,
convidando o resto da casa para a festa que começava.
Claro que, no percurso da luz,
sempre uma ou outra morrera
durante o ano no silêncio dos armários,
mas a doce providência daquele homem,
tirava dos bolsos novos lumes e a festa prosseguia.
A segunda caixa era imensa,
talvez a mais feia delas,
porque de um reles papelão
onde apenas se lia "Made in England"
mas de dentro, saía ainda encolhida,
ramos tímidos, amassados,
a velha árvore de tantos natais.
Depois de despertada do seu sono,
revividos os ramos, desamassadas as folhinhas,
ela se revelava frondosa e de um verde perfeito
que para sempre, onde surgisse, seria dela
o verde da velho pinheiro inglês
que nos floria os natais.
Desapertá-lo era uma tarefa de todos
e a ela nos dedicávamos alvoroçados
felizes de, enfim, sermos chamados a ajudar.
A terceira caixa, muito fina, mas larguíssima,
se recobria de um papel prateado
com desenhos infinitos de flocos de neve,
dentro, os lamentos ficavam congelados
à espera desse dia em que viriam, depois das lâmpadas,
adornar nosso pinheiro dando-lhe uma remota
aparência de neve, neve da lembrança dos avós,
neve que não havia em nosso Natal.
Esses lamentos de prata
eram a delícia dos dedos nessa festa
porque nada, nunca em nossa vida
jamais seria tão macio
quanto aqueles fios
de leveza imponderável...
E chamavam-se lamentos!
(Tudo era poesia em nosso Natal!)
A quarta caixa, grande e redonda,
tinha moças antigas em fundo rosa
passeando como num romance antigo
ou se balançando em lindos cordões de flores.
Essa era a mais aguardada das caixas,
porque não regateava cores e brilhos
todos impossíveis depois do Natal.
Minha mãe sabia desse potencial mistério
e demorava, e demorava muito
em nos presentear de vez,
abrindo a tampa com descabido cuidado,
como se um descuido qualquer
pudesse pôr tudo a perder,
ansiosos, todos nós, inclusive meu pai,
que nunca deu pelo estratagema,
abaixávamos a cabeça
para ver já pela primeira fresta
uma miríade de bolas coloridas reluzentes
que eram frutos transcendentais desse pomar natalino.
Nossos olhos de criança
descobriam-se refletidos em rostos redondos
nos globinhos soprados em vidro tão fino
que se diria poderem pairar entre os galhos
sem auxílio de fios.
Ah! Que tristeza pelas bolas que se quebraram
e curiosidade pelos caquinhos restados,
como se, de repente, víssemos a anatomia dos sonhos!
Minha avó, sentada em sua cadeira de balanço,
ia pondo o fio de linha dourada em cada uma das bolas
e de suas mãos colhíamos a felicidade para dispor nos galhos.
os mais altos meu pai alcançava sozinho,
mas para lá iam somente as bolinhas
pequenas, dessas que as crianças não disputavam!
A essa altura, já era a toda prova, uma árvore de Natal
e nós nos afastávamos todos
para ver de longe como estava ficando a obra.
Maria vinha da cozinha com guaraná e biscoitos
que eram um modo de convidar o paladar
à alegria!
A sexta caixa era a dos pássaros e fitas
e nela se guardavam os enfeites variados
sua abertura era o requinte da euforia:
pássaros de vidro, pingentes de cristal,
sinos dourados, bengalinhas listradas,
anjinhos de porcelana, soldadinhos de madeira,
janelinhas enfeitadas, guirlandas de flores,
corações de rendas pedras preciosas,
pombinhos de purpurina branca,
igrejinhas, casinhas, trenós, renas e Papai Noel.
A árvore resplandecia então de mil histórias
com que a fomos enfeitando em cada peça.
era o melhor do mundo em nossa sala de estar!
Então, meu avô e só ele, abria a caixa grande
dos anjinhos instrumentistas e de lá tirava
uma a uma com respeito e reverência as
figuras da natividade
e todo ano
Com a mesma paciência
nos contava a história do menino Jesus,
o último a ir para o presépio
e todo ano ouvíamos como se fosse a primeira vez.
Por fim de uma caixa comprida
revestida de flores,
saía, ainda coberta de papel de seda
a longa e bela piteira,
que era o auge e o fim da festa.
Meu pai pegava um de nós
"ao acaso"
e naquele ano,
suspendia para glória o felizardo
que a colocava no topo da árvore
e minha mãe ligava as luzes
enquanto vovó e vovô já
cantavam baixinho "Noite Feliz".
Procuro entre minhas lembranças esses tesouros
guardados em caixas no meu coração
como se fossem minhas Rosebuds
onde foram parar as caixas
em que ainda estãi guardados todos aqueles natais
Onde?
Onde foram parar as caixas em que ainda ontem
Nós guardamos pela última vez a felicidade?
Eu Vi Nascer Um Deus
Carlos Drummond de Andrade
Em novembro chegaram os signos.
O céu nebuloso não filtrava
estrelas anunciantes
nem os bronzes de São José junto ao Palácio Tiradentes tangiam a Boa-Nova.
Eram outros os signos
e vinham na voz de iaras-propaganda
páginas inteiras de refrigerador e carro nacional mas vinham.
O governo destinou só 210 mil dólares
à importação de artigos natalinos
avelãs figos castanhas ameixas amêndoas
sóis luas outonos cristalizados
orvalho de uísque em ramo de pinheiro
champagne extra-sec pour les connoisseurs
mas vinham a fome sambava entre caçarolas desertas
e o amor dormia na entresafra
mas vinham e petroleiros jatos caminhões nas BR televisores transistores corretores
descobriram subitamente Jesus.
(Quem adquire a big cesta de natal Tremendous
no ato de pagamento da primeira prestação
recebe prêmio garantido e concorre
na última quarta-feira de cada mês
- números correspondentes aos da Loteria Federal -
a visões como um apartamento um jipe uma lambreta
um lunik um anjo eletrônico
e mais:
ajuda quinhentos velhinhos a provar alegria
pois a Obra de Senectude Evangélica
tem comissão em cada cesta vendida.)
... na manjedoura?
no presépio?
no chão, diante do pórtico arruinado, como em Siena o pintou Francesco [Giorgio?
na capelinha torta de São Gonçalo do Rio Abaixo?
na big cesta de natal?
... repousa o Infante esperado.
As luzes em que o esculpiram tornam-lhe o corpo dourado.
O Cristo é sempre novo, e na fraqueza deste menino
há um silencioso motor, uma confidência e um sino.
Nasce a cada dezembro e nasce de mil jeitos.
Temos de pesquisá-lo até na gruta de nossos defeitos.
Ministros deputados presidentes de sindicatos
prosternam-se, estabelecendo os primeiros contatos.
Preside (mal) as assembléias de todas as sociedades
anônimas, anônimo ele próprio, nas inumerabilidades
de sua pobritude. E tenta renascer a cada hora
em que se distrai nossa polícia, assim como uma flora
sem jardineiro apendoa, e sem húmus, no espaço
restaura o dinamismo das nuvens. Sua pureza arma um laço
à astúcia terrestre com que todos nos defendemos
da outra face do amor, a face dos extremos.
Inventou-se menino para ser ao menos contemplado,
senão querido (pois amamos a nosso modo limitado,
e da criança temos pena, porque submersos garotos
ainda fazem boiar em nós seus barcos rotos,
e a tristeza infantil, malva seca no catecismo, nunca se esquece).
Assim o Cristo vem numa cantiga sem rumo, não na prece
com pandeiros alegres tocando com chapéus de palhinha amarela
companheiros alegres cantando.
Ó lapinha,
menino de barro,
deus de brinquedo,
areia branca de córrego,
musgo de penhasco,
Belém de papel,
primeira utopia,
primeira abordagem
de território místico,
primeiro tremor.
Vi nascer um deus.
Onde, pouco importa.
Como, pouco importa.
Vi nascer um deus
em plena calçada
entre camelôs;
na vitrine da boutique
sorria ou chorava,
não sei bem ao certo;
a luz da boate mal lhe debuxava o mínimo perfil.
Vi nascer um deus
entre embaixadores entre publicanos entre verdureiros
entre mensalistas, no Maracanã em Pará-lá-do-mapa,
quando os gatos rondam a espinha da noite
os mendigos espreitam os inferninhos
e no museu acordam as telas informais
e o homem esquece
metade da ciência atômica:
vi nascer um deus.
O mais pobre,
o mais simples.
Poema de Natal
Vinícius de Moraes
Para isso fomos feitos:
Para lembrar e ser lembrados,
Para chorar e fazer chorar,
Para enterrar os nossos mortos -
Por isso temos braços longos para os adeuses,
Mãos para colher o que foi dado,
Dedos para cavar a terra.
Assim será a nossa vida;
Uma tarde sempre a esquecer,
Uma estrêla a se apagar na treva,
Um caminho entre dois túmulos -
Por isso precisamos velar,
Falar baixo, pisar leve, ver
A noite dormir em silêncio.
Não há muito que dizer:
Uma canção sôbre um berço,
Um verso, talvez, de amor,
Uma prece por quem se vai -
Mas que essa hora não esqueça
E que por ela os nossos corações
Se deixem, graves e simples.
Pois para isso fomos feitos:
Para a esperança no milagre,
Para a participação da poesia,
Para ver a face da morte -
De repente, nunca mais esperaremos...
Hoje a noite é jovem; da morte apenas
Nascemos, imensamente.
Para isso fomos feitos:
Para lembrar e ser lembrados,
Para chorar e fazer chorar,
Para enterrar os nossos mortos -
Por isso temos braços longos para os adeuses,
Mãos para colher o que foi dado,
Dedos para cavar a terra.
Assim será a nossa vida;
Uma tarde sempre a esquecer,
Uma estrêla a se apagar na treva,
Um caminho entre dois túmulos -
Por isso precisamos velar,
Falar baixo, pisar leve, ver
A noite dormir em silêncio.
Não há muito que dizer:
Uma canção sôbre um berço,
Um verso, talvez, de amor,
Uma prece por quem se vai -
Mas que essa hora não esqueça
E que por ela os nossos corações
Se deixem, graves e simples.
Pois para isso fomos feitos:
Para a esperança no milagre,
Para a participação da poesia,
Para ver a face da morte -
De repente, nunca mais esperaremos...
Hoje a noite é jovem; da morte apenas
Nascemos, imensamente.
domingo, 13 de novembro de 2011
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