quinta-feira, 16 de janeiro de 2020

Pinturas famosas do mundo


Pinturas famosas do mundo

Laura Aidar

A pintura é um dos tipos de arte mais tradicionais e valorizados no mundo. Por meio dela grandes artistas expressaram ideias e sentimentos, deixando assim um legado inestimável.
Segundo o pintor espanhol Pablo Picasso:
A pintura nunca é prosa. É poesia que se escreve com versos de rima plástica.
Selecionamos 15 quadros feitos em tinta a óleo que entraram para a história da arte ocidental. Tais obras se perpetuam como símbolos culturais, seja por trazerem inovações artísticas, questionamentos políticos ou por representarem anseios e sentimentos comuns à humanidade.

1. Mona Lisa de Leonardo Da Vinci

Mona Lisa
A Gioconda (1503-1506), óleo sobre madeira, 77 x 53 cm. Museu du Louvre, Paris (França)
O quadro Mona Lisa - intitulado A Gioconda originalmente - é uma criação de Leonardo Da Vinci, uma das personalidades mais célebres do Renascimento italiano.
Nele, uma mulher é retratada com expressão facial enigmática, exibindo um leve sorriso bastante intrigante que nos convida a imaginar quais seriam seus pensamentos e sentimentos. Estaria Mona Lisa demonstrando satisfação, inocência ou certa prepotência?
Muitos teóricos e críticos de arte tentaram desvendar esse mistério e diversas produções artísticas foram feitas inspiradas nessa pintura que pode ser considerada uma das maiores obras-primas da história da arte ocidental.

2. Guernica de Pablo Picasso

Guernica
Guernica (1937), óleo sobre tela, 351 x 782,5 cm. Museu Nacional Centro de Arte Reina Sofia, Madri (Espanha)
Guernica é um dos quadros mais emblemáticos do pintor espanhol Pablo Picasso, grande expoente do cubismo.
Nessa obra, ele retrata os horrores da Guerra Civil Espanhola, especialmente do bombardeio ocorrido na cidade basca de Guernica, em 26 de abril de 1937.
Essa grande tela se tornou um símbolo na luta contra todo o tipo de guerra e revolucionou a pintura histórica, pois trata o sofrimento de maneira atemporal.

3. O Beijo de Gustav Klimt

O beijo
O Beijo (1907/08), Gustav Klimt, óleo e folha de ouro sobre tela, 180 x 180 cm. Galeria Belvedere, Viena (Áustria)
A tela, pintada pelo austríaco Gustav Klimt em 1907, é uma obra célebre na história da arte. Esse quadro vem sendo reproduzido e estampado em objetos incessantemente, representando um ícone da cultura ocidental.
A obra faz parte da chamada "fase dourada" na produção artística de Klimt, quando ele abusa de elementos cintilantes que remetem a pedras preciosas e inclusive de folhas de ouro em suas composições.
Em O Beijo, um casal é retratado (que seria o próprio artista e sua esposa), em posição entrelaçada, sugerindo carinho e aconchego.
Entretanto, com um olhar mais atento é possível observar também que o homem se curva sobre a amada, sendo a figura ativa desse abraço, e a mulher, ajoelhada, seria um sinal de submissão feminina.

4. O Grito de Edvard Munch

O grito
O Grito (1893), óleo, têmpera e pastel sobre cartão. 91 x 73,5 cm. Galeria Nacional de Oslo, Oslo (Noruega)
O Grito é a pintura mais famosa de Edvard Munch, pintor norueguês. Essa obra tem sido reproduzida ao longo do tempo, inclusive por outros artistas, como Andy Warhol.
Seu êxito provavelmente se deu porque Munch conseguiu retratar de maneira muito bem-sucedida o sentimento da angústia e solidão que as pessoas estão sujeitas.
Com cores, formas e traços, o pintor construiu um símbolo do desespero humano nessa composição, que é também um ícone do movimento de vanguarda expressionista.

5. Nº 5 de Jackson Pollock

Pollock
Nº5 (1948) óleo sobre tela, 2,4 x 1,2 cm. Coleção particular, Nova Iorque (Estados Unidos)
Em 1948, no período pós-guerra, o estadunidense Jackson Pollock produziu a tela intitulada Nº 5.
O artista foi um dos precursores do expressionismo abstrato, movimento artístico que surgiu na década de 40 nos EUA.
Essa obra foi feita utilizando a técnica dripping (gotejamento), muito explorada pelo pintor. O método consiste em derramar tinta líquida sobre grandes telas esticadas no chão. Dessa forma, o pintor realiza amplos movimentos corporais, quase como se "adentrasse" a obra no momento da criação.
Em maio de 2006, o quadro foi vendido pelo valor exorbitante de 140 milhões de dólares, preço mais alto pago por uma pintura até 2011.

6. As Meninas de Diego Velázquez

as meninas
As Meninas (1656), óleo sobre tela, 318 x 276 cm. Museu do Prado, Madri (Espanha)
Inicialmente intitulado A família de Filipe IV, o quadro As Meninas, foi pintado em 1656 pelo artista Diego Velázquez. Essa obra representa a fase áurea do pintor, nascido na cidade de Sevilha, na Espanha.
A pintura exibe uma cena possivelmente cotidiana da corte do século XVII. Aparentemente simples, a tela carrega uma série de elementos a serem "descobertos" pelo expectador, o que a transforma em uma das mais profundas obras da história da arte.
No quadro, o pintor se retratou trabalhando em uma tela encomendada pelos reis Filipe IV e Mariana, que aparecem refletidos em um espelho no fundo do cômodo. Tal recurso também nos dá a sensação de que eles seriam expectadores da própria obra.

7. Os Comedores de Batatas de Vincent Van Gogh

Van Gogh
Os Comedores de Batatas (1885), óleo sobre tela, 82 x 114 cm. Museu Van Gogh, Amsterdã (Holanda)
Essa obra foi produzida em 1885 por Vincent Van Gogh, pintor holandês do pós-impressionismo e expressionismo. Muito aclamado atualmente, Van Gogh foi um artista solitário e teve pouquíssimo reconhecimento em vida.
O quadro em questão retrata uma família camponesa comendo em sua humilde casa, iluminada por uma fraca lamparina. É um trabalho bastante conhecido do pintor e exibe as evoluções técnicas de sua pintura, imprimindo características expressionistas que viriam a ser sua marca.
Além disso, demostra grande interesse por questões sociais e humanitárias. Segundo o próprio artista:
Quis dedicar-me conscientemente a expressar a ideia de que essa gente que, sob essa luz, come suas batatas com as mãos também trabalhou a terra. Meu quadro exalta, portanto, o trabalho manual e o alimento que eles mesmos ganharam tão honestamente.


8. A Persistência da Memória de Salvador Dalí

a persistência da memória
A Persistência da Memória (1931), óleo sobre tela, 24 x 33 cm. MoMa, Nova Iorque (Estados Unidos)
Salvador Dalí foi um pintor catalão que fez parte do surrealismo na Europa. Um de seus quadros mais célebres é A Persistência da Memória.
Nessa obra, Dalí representa a passagem do tempo através da figura perturbadora de relógios derretidos em uma paisagem árida, um corpo sem forma, formigas e uma mosca.
Ao fundo também é possível notar a presença de um penhasco e o mar, paisagem que faz referência a seu lugar de origem, a Catalunha.
Esse trabalho encontra-se desde 1934 no Museu de Arte Moderna de Nova Iorque, nos Estados Unidos.

9. Impressão, Sol Nascente de Claude Monet

Claude Monet
Impressão, Sol Nascente (1872), óleo sobre tela, 46 x 63 cm. Museu Marmottan, Paris (França)
Claude Monet, importante pintor do impressionismo, movimento artístico de vanguarda europeu, concebeu essa obra em 1872.
A composição é um marco na pintura, pois exibe uma nova maneira de pincelar ao registrar o instante em que o sol atravessa a neblina na baía de Le Havre, na Normandia.
Pode-se considerar que a inovação presente nesse trabalho revolucionou a pintura.
A reação da imprensa na época foi contrária ao novo estilo e considerou essa tela uma obra "inacabada". A exposição em que ela foi exibida foi chamada pejorativamente de "exposição dos impressionistas" e elegeu Impressão, Sol Nascente como o maior alvo das críticas. Por conta desse episódio, a corrente impressionista foi batizada dessa maneira.

10. Os Fuzilamentos de Três de Maio de Francisco de Goya

Goya
Os Fuzilamentos de 3 de maio (1814), óleo sobre tela, 266 x 345 cm. Museu do Prado, Madri (Espanha)
Os Fuzilamentos de Três de Maio, Três de Maio de 1808 em Madrid ou Os Fuzilamentos da Montanha do Príncipe Pío, é um quadro do pintor espanhol Francisco de Goya.
Francisco de Goya apresenta nessa pintura um retrato impactante do genocídio ocorrido em Madri, no ano de 1808. Tal acontecimento foi consequência da chamada Guerra Peninsular (1807-1814), quando Napoleão Bonaparte invade a Espanha.
Um dia antes desse terrível massacre, alguns madrilenhos entraram em confronto com as tropas napoleônicas. Empunhando apenas armas brancas, enfrentaram a cavalaria inimiga e foram duramente reprimidos.
Esse episódio também foi retratado por Goya na obra Dois de Maio em Madri e forma um dueto com Os fuzilamentos de 3 de maio.
Como reprimenda à "ousadia" dos civis, foi realizada a chacina que culminou na morte de inúmeros inocentes. Goya, que vivia muito próximo do local, testemunhou tais episódios e anos mais tarde concebeu essa tela, que viria a ser um marco na história da arte e uma denúncia contra os horrores da guerra - influenciando outros artistas como Picasso na produção de sua Guernica.
Quando questionado sobre o porque pintava essas atrocidades, Goya respondeu:
Para ter o gosto de dizer eternamente aos homens que não sejam bárbaros.

11. Moça com Brinco de Pérola de Johannes Vermeer

moça com brinco de pérola
Moça com Brinco de Pérola (1665), óleo sobre tela, 44,5 x 39 cm. Museu Mauritshuis de Haia (Holanda)
O quadro Moça com Brinco de Pérola é considerado "a Mona Lisa holandesa", pois também exibe uma figura feminina envolta em uma misteriosa atmosfera.
Acredita-se que Johannes Vermeer, artista holandês, tenha produzido esse retrato em 1665 - a tela não foi datada. Nele, observamos uma moça que nos devolve o olhar com ar sereno e casto, trazendo um brilho nos lábios entreabertos.
Outra suposição é sobre o adereço na cabeça da jovem. Naquela época já não se usava turbante, então especula-se que Vermeer tenha se inspirado em outra obra, Menino em um turbante, pintada por Michael Sweerts em 1655.
Essa é a obra mais conhecida do pintor e inspirou a produção de um livro e de um filme, ambos com o mesmo nome da pintura.

12. O Almoço dos Barqueiros de Pierre-Auguste Renoir

o almoço dos barqueiros
O almoço dos barqueiros (1881), óleo sobre tela, 130 x 173 cm. Coleção particular, Washington (EUA)
Em 1881, Pierre-Auguste Renoir finaliza a pintura do quadro O Almoço dos Barqueiros, importante expoente do movimento impressionista.
Na obra, o pintor elabora uma cena alegre e descontraída ao exibir um encontro entre amigos regado a muita comida e uma bela vista do rio Sena. Todas as pessoas retratadas eram amigos próximos de Renoir e uma das mulheres que aparece na tela veio a se tornar sua esposa anos mais tarde.
Essa tendência artística tinha como preocupação captar a iluminação natural e cenas espontâneas por meio da fixação do instante. Podemos dizer que o impressionismo foi o movimento de vanguarda que deu um impulso para a chamada arte moderna.
Leia também sobre a escultura O Pensador, de Auguste Rodin, outro ícone da arte moderna.

13. Hospital Henry Ford (A Cama Voadora) de Frida Kahlo

Frida Kahlo
Hospital Henry Ford (A Cama Voadora), (1932), óleo sobre tela, 77,5 x 96,5 cm. Museu Dolores Olmedo (México)
Frida Kahlo foi uma importante artista mexicana que viveu na primeira metade do século XX.
Sua pintura, quase sempre autobiográfica, retrata suas dores, seu grande amor (o também pintor Diego Rivera), o orgulho por ser mulher e por suas origens latino-americanas.
A produção de Frida é carregada de simbolismos e elementos que flertam com o surrealismo, apesar da pintora negar fazer parte de tal movimento e estar mais próxima de um tipo de arte confessional. Ela afirma:
Eu nunca pinto sonhos ou pesadelos. Pinto a minha própria realidade.
Na obra que ficou conhecida como A Cama Voadora, a artista retrata um episódio doloroso de sua vida, quando perde uma criança que estava esperando de Diego.
Frida sofreu diversos abortos consecutivos, pois não conseguia manter a gestação por conta de problemas de saúde adquiridos quando criança - contraiu poliomelite - e na adolescência, quando sofreu um grave acidente de trem.
Há alguns anos Frida foi "descoberta" por grande parte das pessoas e vem sendo considerada um ícone da arte e mesmo da cultura pop e do movimento feminista.


14. Os Retirantes de Cândido Portinari
Os retirantes, de Cândido Portinari
Retirantes (1944), óleo sobre tela, 190 x 180 cm. Museu de Arte de São Paulo - MASP (Brasil)
Os Retirantes é uma obra do pintor Cândido Portinari, nascido no interior de São Paulo, na cidade de Brodowski.
A tela foi criada em 1944 e retrata uma família de retirantes, pessoas que se deslocam da região Nordeste a outros lugares na esperança de fugir da seca, miséria e mortalidade infantil.
É impactante a maneira como o artista exibe os corpos magros, exaustos e de expressão sofrida em um paisagem árida e cinza.
Há urubus sobrevoando as pessoas, como se aguardassem a morte delas. As crianças são retratadas desnutridas e doentes - observe o menino do lado direito que apresenta uma barriga desproporcional ao corpo, sinal de barriga d'água.
Podemos fazer um paralelo desse trabalho com a obra literária Vidas Secas, produzida anos antes, em 1938, pelo escritor Graciliano Ramos e que trata do mesmo tema.
Portinari foi um grande artista que teve, dentre outras preocupações, valorizar o povo brasileiro e denunciar os problemas sociais do país.

15. Abaporu de Tarsila do Amaral

Abaporu Tarsila do Amaral
Abaporu (1928), óleo sobre tela, 85 x 72 cm. Museu de Arte Latino Americana de Buenos Aires (Argentina)
Abaporu é uma produção da artista Tarsila do Amaral, figura de destaque no movimento modernista brasileiro.
O nome da obra é de origem indígena e, segundo a artista, significa "antropófago" - que é o mesmo que canibal. Foi em decorrência dessa obra que Oswald de Andrade, marido de Tarsila e também artista, define as bases da teoria antropofágica para a arte moderna no Brasil.
Tal teoria propunha que os artistas brasileiros bebessem na fonte dos movimentos de vanguarda europeus mas desenvolvessem uma produção com características nacionais. Uma célebre frase que define o período é:
Só a antropofagia nos une.
Abaporu traz a valorização do trabalho braçal, com pés e mãos em destaque. As cores fortes, o cacto e o sol também fazem alusão ao clima e paisagem tropicais.
Leia mais sobre o período no Brasil:

OS 25 MAIORES PINTORES DO MUNDO

OS 25 MAIORES PINTORES DO MUNDO

Arte
Postagem cultural hoje.
Quando ouvimos falar sobre esses pintores, temos familiaridade. Mas e se pedirem pra você citar os pintores famosos do mundo, você lembraria de todos eles e saberia suas principais obras e histórias?
No final da postagem, uma lista de documentários sobre eles para os interessados em se aprofundar ainda mais.
Minha sugestão é voltar na imagem abaixo quando terminar de ler o post e tentar identificar os autores de cada obra. ; )

Montagem das principais pinturas dos maiores artistas do mundo, por Laura Kassab.
Pra começar, o meu preferido: Renoir!
PIERRE AUGUSTE RENOIR (francês)
Sua obra “Rosa e Azul” foi pintada em 1881. Hoje se encontra no Museu de Arte Moderna de São Paulo.
Renoir retratava famílias da comunidade onde vivia. No retrato, filhas de um banqueiro Elisabeth (azul) e Alice (rosa).
Sua obra “O almoço dos barqueiros” foi pintada em 1880. Tem 1,3 x 1,73 m e hoje se encontra na Colecção Phillips em Washington, D.C.
É uma pintura a óleo sobre tela marcando a transição do mix entre o detalhado com efeitos esboçados, retratando um almoço no terraço de um restaurante de Paris.
Sua obra ““Dança Le moulin de la Galette” foi pintada em 1876. Hoje se encontra no Museu d’Orsay, em Paris.
LEONARDO DA VINCI (francês)
Sua obra “Mona Lisa” foi iniciada em 1503 e concluída em 1517. Tem 77×53 cm e hoje se encontra no Museu do Louvre, em Paris.
É uma pintura a óleo sobre madeira, símbolo do Renascimento francês.
* Também conhecida por Gioconda, a identidade da mulher ainda é um mistério.
Sua obra “A última ceia” foi pintada entre 1495 e 1498. Tem 4,6 x 8,8 m e hoje se encontra em Santa Maria delle Grazie, em Milão.
* A pintura foi danificada por uma porta, perdendo os pés de Cristo.
VAN GOGH (holandês)
Sua obra mais famosa “A noite estrelada” foi pintada em 1889 e teve como cenário a paisagem da vista da janela do quarto de hospício de Saint-Rémy-de-Provence, onde se internou voluntariamente após uma crise psicótica em que arrancou sua própria orelha. Tem 73,7 x 92,1cm e hoje se encontra no MoMa, em Nova York.
É uma pintura a óleo em tela com traços em espirais impressionistas.
Sua obra “Café Terrace at Night” retrata um café em Arles, hoje chamado ”Café Van Gogh”.
* A maioria de suas obras têm cores quentes e profundidade de perspectiva.
CÂNDIDO PORTINARI (brasileiro)
Sua obra “Café” foi pintada em 1935. Tem 130 X 195cm.
Portinari retratava questões sociais brasileiras. As mãos e pés desproporcionais remetem ao trabalho pesado com os membros no campo.
JACKSON POLLOCK (norte-americano)
Sua obra “Composição número 5” foi pintada em 1948. Tem 2,44 x 1,22m.
É uma pintura com tinta líquida sobre um painel de fibra.
* Há rastros de cinza de cigarro pela tela, devido ao hábito de fumar de Pollock. Foi vendida por $140 milhões em 2006, para um comprador particular.
PAUL CÉZANNE
Sua obra “O Jogador de Cartas” foi pintada em 1892. Hoje se encontra no Museu de Orsay, em Paris.
É o quadro mais valioso do mundo, avaliado em US$250 milhões. Uma das versões foi vendida para a família real do Qatar.
RENÉ MAGRITTE (belga)
Sua obra “Ceci n’est pas une pipe” foi pintada entre 1928 e 1929. Tem 63,5 x 93,98cm e hoje se encontra no Museu de Arte do Condado de Los Angeles.
É uma pintura surrealista que fazia parte de uma série revolucionária chamada “A traição das imagens”, que procurava questionar os limites da representação, gerando uma série de discussões filosóficas como o ensaio de Michel Foucault.
Sua obra “The Son of Man” foi pintada em 1964. Tem 116 x 89 cm e hoje pertence a um acervo particular raramente exposto em público.
A pintura é um autoretrato.
GRANT WOOD (americano)
Sua obra “Gótico americano” foi pintada em 1930. Tem 78 x 65,3 cm e hoje se encontra no Instituto de Arte de Chicago.
É uma pintura a óleo e realista, inspirada em uma casa de campo de estilo neogótico em Iowa do Sul,  retratando o Midwest rural americano, valorizando as características singulares de seu país.
CLAUDE MONET (francês)
Sua obra “A lagoa de lírios de água” foi pintada entre 1907 e 1908. Tem 93 x 74cm e hoje se encontra no Metropolitan Museum of Art, em New York City.
É uma pintura impressionista clássica a óleo, parte de uma coletânea chamada Nenúfares, produzidas nos últimos anos de sua vida. Retrata o jardim de Monet, em Giverny.
GUSTAV KLIMT (austríaco)
Sua obra “O beijo” foi pintada em 1899, tendo como primeiro nome “Casal de Namorados”. Tem 180 x 180 cm e hoje se encontra na Galeria Belvedere da Áustria, em Viena.
É uma pintura a óleo com folhas de ouro.
* Dizem que retrata o próprio Klimt e sua mulher Emilie Flöge.
JOHANNES VERMEER (holandês)
Sua obra “Moça com brinco de pérola” foi pintada em 1665. Tem 44,5 x 39 cm e hoje se encontra no museu Mauritshuis, em Haia.
É uma pintura a óleo, sem rascunhos ou estudo prévio de cores e luzes.
* Não é certo quem seria a menina, mas há possibilidade de ser a filha de Vermeer com 13 anos de idade. O turbante não era comum na época.
SALVADOR DALÍ (espanhol)
Sua obra “A persistência da memória” foi pintada em 1931. Tem 24 x 33 cm e hoje se encontra no MoMA, em New York City, para onde foi doada.
É uma pintura a óleo surrealista, expressando a visão de Dalí sobre a relatividade.
* Dalí pintou em poucas horas, enquanto sua mulher e amigos foram ao cinema. Na obra são encontrados alguns ícones do pintor: relógios derretidos e formigas.
PABLO PICASSO (espanhol)
Sua obra “Guernica” foi pintada em 1937. Tem 349 x 776 cm e hoje se encontra no museu Reina Sofia, em Madrid.
É uma pintura a óleo produzida em apenas um mês, com tintas preta, branca e cinza, sobre o bombardeamento de Guernica na Espanha, pela Alemanha, do mesmo ano.
Picasso foi o pioneiro do Cubismo e é conhecido como o artista mais importante do séc. XX.
Sua obra “Three Musicians” foi pintada em 1921. Tem 2,00 x 2,23 m e hoje se encontra no MoMA 0 Museu de Arte Moderna de New York.
É uma pintura a óleo e considerada uma das mais importantes cubistas.
EDVARD MUNCH (norueguês)
Sua obra “O grito” foi pintada em 1893, mas teve outras versões até 1910. Tem 91 x 73,5 cm e hoje suas versões se encontram na Galeria Nacional de Oslo, na Noruega; Museu Munch e uma delas foi vendida em um leilão da Sotheby’s por mais de US$119 milhões.
É uma pintura em tempera, óleo, pastel e litografia.
SANDRO BOTTICELLI (italiano)
Sua obra “O nascimento da Vênus” foi pintada em 1486. Hoje se encontra na Galeria Uffizi, em Florença.
A pintura retrata Vênus sobre uma concha, entre Zéfiro, Clóris e Hora, encomendada pelo político Lorenzo di Perfrancesco.
MICHELANGELO (italiano)
Sua obra “A criação de Adão” foi pintada em 1508, para o papa Júlio II. Hoje se encontra na Capela Sistina, em Roma.
É uma pintura no teto representando histórias bíblicas sobre a criação do mundo onde Deus e Adão quase se tocam.
DIEGO VELÁZQUEZ (espanhol)
Sua obra “As meninas” foi pintada em 1656. Tem 3,18 x 2,76 m e hoje se encontra no Museu do Prado, na Espanha.
É uma pintura a óleo retratando uma cena do cotidiano na corte espanhola.
* O pintor também está na tela ao fundo do quadro.
TARSILA DO AMARAL (brasileira)
Sua obra “Abaporu” foi pintada em 1929. Tem 85 x 72 cm e hoje se encontra no Museu de Arte Latino-Americana, em Buenos Aires.
É uma pintura antropofágica, símbolo do modernismo brasileiro, feita como presente ao marido de Tarsila, o escritor Oswald de Andrade.
DIEGO RIVERA (mexicano)
Sua obra “O carregador de flores” foi pintada em 1935.
É uma pintura em masonite – espécie de placa de madeira.
Suas pinturas foram as mais importantes do México no século XX, famosas pelas cores vibrantes.

REMBRANDT VAN RJIN (holandês)
Sua obra “A Ronda Noturna” foi pintada em 1642. Tem 363 x 437 cm , pertence ao Museu de Amsterdam, mas hoje se encontra no Rijksmuseum.
GEÓRGIA TOTTO O’KEEFE (norte-americana)
Sua obra “The Lake” foi pintada em 1900.
A pintura mostra as ondas suaves e ondulações do Lake George, onde passava os dias, em New York.
O’Keefe é considerada a mãe do Modernismo nos Estados Unidos.
ANDY WARHOL (americano)
Sua obra “Latas de sopa Campbell” foi pintada em 1962. Tem 50,8 × 40,6 cm e hoje se encontra no Museu de Arte Moderna de New York.
Warhol é o maior representante da Pop Art, com humor e crítica ao consumismo.
FRANS HALS (belgo)
Sua obra “O Cavaleiro Risonho” foi pintada em 1624. Tem 83 x 67,3 cm e hoje se encontra na Wallace Collection, em Londres.
É uma pintura em óleo sobre tela e barroca.
GIOVANNI ANTONIO CANALETTO (italiano)
Sua obra “A Regatta on the Grand Canal” foi pintada em 1735.
É uma pintura inspirada na regata anual no carnaval de Veneza.
JAMES ABBOTT MCNEIL WHISTLER (norte-americano)
Sua obra “Mãe de Whistler” foi pintada em 1871. Tem 144.3 × 162.4 cm e hoje se encontra no Louvre Abu Dhabi, nos Emirados Árabes Unidos.
A pintura é em óleo sobre tela e retrata a mãe do pintor.

Bônus: uma matéria com 50 documentários sobre os pintores.

FERNANDO PESSOA


Tabacaria



Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.
Janelas do meu quarto,
Do meu quarto de um dos milhões do mundo que ninguém sabe quem é
(E se soubessem quem é, o que saberiam?),
Dais para o mistério de uma rua cruzada constantemente por gente,
Para uma rua inacessível a todos os pensamentos,
Real, impossivelmente real, certa, desconhecidamente certa,
Com o mistério das coisas por baixo das pedras e dos seres,
Com a morte a por umidade nas paredes e cabelos brancos nos homens,
Com o Destino a conduzir a carroça de tudo pela estrada de nada.
Estou hoje vencido, como se soubesse a verdade.
Estou hoje lúcido, como se estivesse para morrer,
E não tivesse mais irmandade com as coisas
Senão uma despedida, tornando-se esta casa e este lado da rua
A fileira de carruagens de um comboio, e uma partida apitada
De dentro da minha cabeça,
E uma sacudidela dos meus nervos e um ranger de ossos na ida.
Estou hoje perplexo, como quem pensou e achou e esqueceu.
Estou hoje dividido entre a lealdade que devo
À Tabacaria do outro lado da rua, como coisa real por fora,
E à sensação de que tudo é sonho, como coisa real por dentro.
Falhei em tudo.
Como não fiz propósito nenhum, talvez tudo fosse nada.
A aprendizagem que me deram,
Desci dela pela janela das traseiras da casa.
Fui até ao campo com grandes propósitos.
Mas lá encontrei só ervas e árvores,
E quando havia gente era igual à outra.
Saio da janela, sento-me numa cadeira. Em que hei de pensar?
Que sei eu do que serei, eu que não sei o que sou?
Ser o que penso? Mas penso tanta coisa!
E há tantos que pensam ser a mesma coisa que não pode haver tantos!
Gênio? Neste momento
Cem mil cérebros se concebem em sonho gênios como eu,
E a história não marcará, quem sabe?, nem um,
Nem haverá senão estrume de tantas conquistas futuras.
Não, não creio em mim.
Em todos os manicômios há doidos malucos com tantas certezas!
Eu, que não tenho nenhuma certeza, sou mais certo ou menos certo?
Não, nem em mim…
Em quantas mansardas e não-mansardas do mundo
Não estão nesta hora gênios-para-si-mesmos sonhando?
Quantas aspirações altas e nobres e lúcidas -
Sim, verdadeiramente altas e nobres e lúcidas -,
E quem sabe se realizáveis,
Nunca verão a luz do sol real nem acharão ouvidos de gente?
O mundo é para quem nasce para o conquistar
E não para quem sonha que pode conquistá-lo, ainda que tenha razão.
Tenho sonhado mais que o que Napoleão fez.
Tenho apertado ao peito hipotético mais humanidades do que Cristo,
Tenho feito filosofias em segredo que nenhum Kant escreveu.
Mas sou, e talvez serei sempre, o da mansarda,
Ainda que não more nela;
Serei sempre o que não nasceu para isso;
Serei sempre só o que tinha qualidades;
Serei sempre o que esperou que lhe abrissem a porta ao pé de uma parede sem porta,
E cantou a cantiga do Infinito numa capoeira,
E ouviu a voz de Deus num poço tapado.
Crer em mim? Não, nem em nada.
Derrame-me a Natureza sobre a cabeça ardente
O seu sol, a sua chuva, o vento que me acha o cabelo,
E o resto que venha se vier, ou tiver que vir, ou não venha.
Escravos cardíacos das estrelas,
Conquistamos todo o mundo antes de nos levantar da cama;
Mas acordamos e ele é opaco,
Levantamo-nos e ele é alheio,
Saímos de casa e ele é a terra inteira,
Mais o sistema solar e a Via Láctea e o Indefinido
(Come chocolates, pequena;
Come chocolates!
Olha que não há mais metafísica no mundo senão chocolates.
Olha que as religiões todas não ensinam mais que a confeitaria.
Come, pequena suja, come!
Pudesse eu comer chocolates com a mesma verdade com que comes!
Mas eu penso e, ao tirar o papel de prata, que é de folha de estanho,
Deito tudo para o chão, como tenho deitado a vida.)
Mas ao menos fica da amargura do que nunca serei
A caligrafia rápida destes versos,
Pórtico partido para o Impossível.
Mas ao menos consagro a mim mesmo um desprezo sem lágrimas,
Nobre ao menos no gesto largo com que atiro
A roupa suja que sou, sem rol, pra o decurso das coisas,
E fico em casa sem camisa.
(Tu que consolas, que não existes e por isso consolas,
Ou deusa grega, concebida como estátua que fosse viva,
Ou patrícia romana, impossivelmente nobre e nefasta,
Ou princesa de trovadores, gentilíssima e colorida,
Ou marquesa do século dezoito, decotada e longínqua,
Ou cocote célebre do tempo dos nossos pais,
Ou não sei quê moderno – não concebo bem o quê -
Tudo isso, seja o que for, que sejas, se pode inspirar que inspire!
Meu coração é um balde despejado.
Como os que invocam espíritos invocam espíritos invoco
A mim mesmo e não encontro nada.
Chego à janela e vejo a rua com uma nitidez absoluta.
Vejo as lojas, vejo os passeios, vejo os carros que passam,
Vejo os entes vivos vestidos que se cruzam,
Vejo os cães que também existem,
E tudo isto me pesa como uma condenação ao degredo,
E tudo isto é estrangeiro, como tudo.)
Vivi, estudei, amei e até cri,
E hoje não há mendigo que eu não inveje só por não ser eu.
Olho a cada um os andrajos e as chagas e a mentira,
E penso: talvez nunca vivesses nem estudasses nem amasses nem cresses
(Porque é possível fazer a realidade de tudo isso sem fazer nada disso);
Talvez tenhas existido apenas, como um lagarto a quem cortam o rabo
E que é rabo para aquém do lagarto remexidamente
Fiz de mim o que não soube
E o que podia fazer de mim não o fiz.
O dominó que vesti era errado.
Conheceram-me logo por quem não era e não desmenti, e perdi-me.
Quando quis tirar a máscara,
Estava pegada à cara.
Quando a tirei e me vi ao espelho,
Já tinha envelhecido.
Estava bêbado, já não sabia vestir o dominó que não tinha tirado.
Deitei fora a máscara e dormi no vestiário
Como um cão tolerado pela gerência
Por ser inofensivo
E vou escrever esta história para provar que sou sublime.
Essência musical dos meus versos inúteis,
Quem me dera encontrar-me como coisa que eu fizesse,
E não ficasse sempre defronte da Tabacaria de defronte,
Calcando aos pés a consciência de estar existindo,
Como um tapete em que um bêbado tropeça
Ou um capacho que os ciganos roubaram e não valia nada.
Mas o Dono da Tabacaria chegou à porta e ficou à porta.
Olho-o com o desconforto da cabeça mal voltada
E com o desconforto da alma mal entendendo.
Ele morrerá e eu morrerei.
Ele deixará a tabuleta, eu deixarei os versos.
A certa altura morrerá a tabuleta também, os versos também.
Depois de certa altura morrerá a rua onde esteve a tabuleta,
E a língua em que foram escritos os versos.
Morrerá depois o planeta girante em que tudo isto se deu.
Em outros satélites de outros sistemas qualquer coisa como gente
Continuará fazendo coisas como versos e vivendo por baixo de coisas como tabuletas,
Sempre uma coisa defronte da outra,
Sempre uma coisa tão inútil como a outra,
Sempre o impossível tão estúpido como o real,
Sempre o mistério do fundo tão certo como o sono de mistério da superfície,
Sempre isto ou sempre outra coisa ou nem uma coisa nem outra.
Mas um homem entrou na Tabacaria (para comprar tabaco?)
E a realidade plausível cai de repente em cima de mim.
Semiergo-me enérgico, convencido, humano,
E vou tencionar escrever estes versos em que digo o contrário.
Acendo um cigarro ao pensar em escrevê-los
E saboreio no cigarro a libertação de todos os pensamentos.
Sigo o fumo como uma rota própria,
E gozo, num momento sensitivo e competente,
A libertação de todas as especulações
E a consciência de que a metafísica é uma consequência de estar mal disposto.
Depois deito-me para trás na cadeira
E continuo fumando.
Enquanto o Destino mo conceder, continuarei fumando.
(Se eu casasse com a filha da minha lavadeira
Talvez fosse feliz.)
Visto isto, levanto-me da cadeira. Vou à janela.
O homem saiu da Tabacaria (metendo troco na algibeira das calças).
Ah, conheço-o; é o Esteves sem metafísica.
(O Dono da Tabacaria chegou à porta.)
Como por um instinto divino o Esteves voltou-se e viu-me.
Acenou-me adeus, gritei-lhe Adeus ó Esteves!, e o universo
Reconstruiu-se-me sem ideal nem esperança, e o Dono da Tabacaria sorriu.

( Álvaro de Campos) heterônimo de Fernando Pessoa )

Maria Bethânia - DVD "Carta de Amor" Completo

O guardador de rebanhos



O guardador de rebanhos
 

 
Num meio-dia de fim de primavera, tive um sonho como uma fotografia.
Vi Jesus Cristo descer à terra.
Veio pela encosta de um monte,  tornado outra vez menino,
a correr e rolar-se pela erva e arrancar flores para as deitar fora,
e a rir de modo a ouvir-se de longe.
 
Tinha fugido do céu.
Era nosso de mais para fingir-se de segunda pessoa da Trindade.
No céu, era tudo falso, tudo em desacordo com flores e árvores e pedras.
No céu tinha que estar sempre sério e de vez em quando se tornar outra vez homem e subir para a cruz, e estar sempre a morrer  com uma coroa toda roda de espinhos e os pés, espetados por um  prego com cabeça,
E até com um trapo à roda da cintura como os pretos nas ilustrações.
Nem se quer o deixavam ter pai e mãe como as outras crianças.
O seu pai era duas pessoas - um velho chamado José, que era carpinteiro e que não era pai dele,
E o outro pai, era uma pomba estúpida,
A única pomba feia do mundo, porque não era do mundo nem era pomba.
E a sua mãe não tinha amado antes de ter. Não era mulher; era uma mala em que ele tinha vindo do céu.
E queriam que ele que só que só nascera da mãe, e nunca tivera pai para amar com respeito,
Pregasse a bondade e a justiça!
 
Um dia em que Deus estava a dormir
E o Espírito Santo andava a voar, ele foi a caixa dos milagres e roubou três.
Com o primeiro, fez que ninguém soubesse que ele  tinha fugido.
Com o segundo, criou-se eternamente humano e menino.
Com  o terceiro, criou um Cristo eternamente na cruz e o deixou pregado na cruz que há no céu e serve de modelo às outras.
Depois, fugiu para o sol e desceu pelo primeiro raio que apanhou.
Hoje, vive na minha aldeia comigo.
É uma criança bonita, de riso e natural.
Limpa o nariz ao braço direito,
Chapinha nas poças de água,
Colhe as flores e gosta delas e esquece-as.
Atira pedras aos burros,
Rouba frutas dos pomares,
E foge a chorar e a gritar dos cães.
E, porque sabe que elas não gostam,
E que toda gente acha graça,
Corre atrás das raparigas que vão em ranchos pelas estradas,
com as bilhas às cabeças e levanta-lhes as saias.
 
A mim, ensinou-me tudo.
Ensinou-me a olhar para as coisas.
aponta-me todas as coisas há nas flores.
Mostra-me como as pedras são engraçadas
Quando a gente as tem nas mãos
E olha devagar para elas.
Diz-me muito mal de Deus.
Diz que ele é um velho estúpido e doente,
sempre a escarrar no chão
E a dizer indecências.
A Virgem-Maria leva as tardes da eternidade a fazer meia.
E o Espírito-Santo, coça-se com o bico
E empoleira-se nas cadeiras e suja-as.
Tudo no céu é estúpido como a Igreja Católica.
Diz-me que Deus não percebe nada.
Das coisas que criou -
"Se é que ele as criou, do que duvido" -
"Ele diz, por exemplo, que os seres cantam á sua glória,
Mas os seres não cantam nada.
Se cantassem seriam cantores.
Os seres existem e mais nada,
E por isso, se chamam seres."
E depois, cansado de dizer mal de Deus,
O menino Jesus adormece nos meus braços,
E eu o levo ao colo para casa.
 
...................................................................................
 
Ele mora comigo na minha casa, ao meio do outeiro.
Ele é a Eterna Criança, o deus que faltava.
Ele é o humano, que é natural, 
Ele é o divino que sorri e que brinca.
E por isso, que eu sei com toda certeza, 
Que ele é o Menino Jesus verdadeiro.
 
E a criança tão humana, que é divina, 
É esta minha cotidiana vida de poeta,
E é porque ele anda sempre comigo, que eu sou poeta sempre,
E que o meu mínimo olhar
Me enche de sensação
E o mais pequeno som, seja do que for,
Parece falar comigo.
 
A Criança Nova que habita onde vivo,
Dá-me uma mão a mim
E a outra a tudo que existe
E assim vamos os três pelo caminho que houver, 
Saltando e cantando, e rindo, e gozando nosso segredo comum que é o de saber por toda parte
Que não há mistério no mundo
E que tudo vale a pena.
 
A Criança Eterna acompanha-me sempre.
A direção do meu olhar, é o seu dedo apontando.
O meu ouvido atento alegremente a todos os sons
São as cócegas que ele me faz, brincando nas orelhas.
 
Damo-nos tão bem um com o outro,
Na companhia de tudo,
Que nunca pensamos um no outro,
Mas vivemos juntos e dois,
Como um acordo intimo,
Como a mão direita e a esquerda.
 
Ao anoitecer, brincamos as cinco pedrinhas
No degrau da porta de casa,
Graves como convém a um deus e a um poeta,
E como se cada pedra
Fosse todo um universo
E fosse por isso um grande perigo para ela
Deixá-la cair no chão.
 
Depois, eu conto-lhe histórias de coisas só dos homens
E ele sorri, porque tudo é incrível.
Ri dos reis e dos que não são reis,
E tem pena de ouvir falar das guerras,
E dos comércios, e dos navios
Que ficam no fundo do mar dos altos mares.
Porque ele sabe que a tudo isso, falta àquela verdade
Que uma flor tem ao florescer
W que anda com a luz do sol
A variar os montes e os vales
E a fazer doer os olhos e os muros caiados.
 
Depois ele adormece, e eu deito-o.
Levo-o ao colo para dentro de casa
E deito-o, despindo-o lentamente
E como seguindo um ritual muito limpo
E todo materno até ele estar nu.
 
Ele dorme dentro da minha alma
E às vezes acorda de noite
E brinca com os meus sonhos.
Vira uns de pernas pro ar,
Põe uns em cima dos outros, 
E bate as palmas sozinho,
Sorrindo para o meu sono.
 
...................................................................................
 
Quando eu morrer, filhinho,
Seja eu a criança, o mais pequeno.
Pega-me tu ao colo
E leva-me para dentro da tua casa,
Despe-me meu ser cansado e humano
E deita-me na tua cama.
E conta-me histórias, caso eu acorde,
Para eu tornar adormecer.
E dá-me sonhos teus para eu brincar
Até que nasça qualquer dia
que tu sabes qual é.
 
...................................................................................
 
Esta é a história do meu Menino Jesus.
Por que razão que se perceba
Não há de ser ela  mais verdadeira
Que tudo quanto os filósofos pensam
E tudo quanto as religiões ensinam? 
(Alberto Caeiro)

terça-feira, 14 de janeiro de 2020

Max Weber: biografia e teorias


Max Weber: biografia e teorias


Rebeca Fuks
Rebeca Fuks 
 
Doutora em Estudos da Cultura
 
Max Weber (1864-1920) foi um dos pilares da sociologia e é tido, até os dias de hoje, como um dos nomes-chave para dessa ciência que estava começando a se desenvolver.
Com a sociologia dando os seus primeiros passos no final do século XIX, o contributo de Max Weber com a criação do método subjetivista/compreensivo foi essencial para que a disciplina se consolidasse.

Biografia de Max Weber

Origem

Max Weber nasceu em 21 de abril de 1864 em Erfurt, na Alemanha, durante o processo de unificação do território. Ele era o filho mais velho de Max, um político liberal, e Helene Weber, uma calvinista.
Weber entrou para a Universidade de Heidelberg em 1882, mas precisou interromper os estudos dois anos mais tarde para fazer um ano de serviço militar em Strassburg.
O rapaz começou a estudar direito e logo depois teve o interesse despertado pela filosofia e pela história. De volta à vida universitária, acabou por concluir os seus estudos na Universidade de Berlim.

Um grande nome para a sociologia

Um dos pioneiros da sociologia econômica, o estudioso relacionou o protestantismo com o capitalismo. O intelectual também escreveu teses de doutorado e pós-doutorado sobre a história agrária da Roma antiga e o desenvolvimento das sociedades comerciais medievais, para além de ter estudado também o funcionamento da bolsa de valores.
Com muito sucesso no meio acadêmico, virou professor catedrático de economia política em Freiburg em 1895 e, no ano a seguir, em Heidelberg. Manteve-se lecionando até 1900, quando se afastou por motivos de saúde, e regressou à sala de aula somente em 1918.
Weber foi um dos fundadores da Associação Alemã de Sociologia. Politicamente ativo, fez parte da União Social Protestante de esquerda liberal.

A Primeira Guerra Mundial

Durante a Primeira Guerra Mundial, Weber atuou como diretor de uma série de hospitais militares na região de Heidelberg.
Poucas pessoas sabem, mas o sociólogo serviu como consultor alemão durante a criação do Tratado de Versalhes (1919), que fez com que a Primeira Guerra Mundial tivesse fim.

Vida pessoal

Max Weber contraiu o matrimônio em 1893 com Marianne Schnitger, uma prima de segundo grau, igualmente socióloga, que viria a ser sua biógrafa e editora.

Dificuldades enfrentadas por Weber

Max sofreu ao longo de toda a vida com severas crises de depressão, o que fez inclusive com que ele se afastasse da universidade por alguns longos períodos.
O sociólogo faleceu em 14 de junho de 1920, em Munique, vítima de uma pneumonia.

Teorias weberianas

A sociologia compreensiva

Weber foi autor de uma sociologia que teceu severas críticas ao positivismo e rompeu acabou por romper mesmo com essa corrente filosófica.
Max criou uma espécie de sociologia subjetivista, compreensiva, não tão preocupada com os fatos sociais e sim com com as interações sociais.
Weber analisou o funcionamento da sociedade e do estado alemão e as dinâmicas interpessoais inclusive pensando em questões como a burocracia e a dominação. Ao contrário de muitos dos seus colegas que acreditavam em leis sociológicas globais, Max julgava que todas as leis estavam baseadas numa realidade sociológica local e cultural.
Outra distinção importante é que enquanto o status quo compreendia a sociedade como entidade responsável por moldar o indivíduo, Weber teve a atitude oposta e passou a pensar no individuo como o responsável por moldar a sociedade.
Para ele, as ações individuais são ações sociais e esses gestos moldam as sociedades onde vivemos.

As ações sociais

As chamadas ações sociais que permeiam as interações sociais são definidas por Max Weber como:
Uma ação que quanto ao seu sentido visado pelo agente ou pelos agentes, se refere ao comportamento de outros orientando-se por este em seu curso.
Uma ação social está diretamente relacionada com a interação com o outro (ou com a expectativa da interação com o outro).
De acordo com o intelectual, o indivíduo deve ser pensado como elemento fundamental e fundante da realidade social.
Para Max Weber existiam quatro tipos de ações sociais:
  • referente à fins: esse tipo de ação tem como objetivo um fim específico (por exemplo, preciso ir ao supermercado para ter ingredientes para cozinhar o jantar)
  • referente à valores: nesse tipo de ações as atitudes influenciam as nossas crenças morais
  • afetiva: ações que a nossa cultura nos ensinou a fazer e que reproduzimos (como, por exemplo, entregar presentes no dia do natal)
  • tradicional: são as ações convencionais cotidianas, isto é, a forma como nos vestimos, o que comemos, os lugares que frequentamos

A Escola de Chicago

Max Weber foi um dos precursores da Escola de Chicago (também conhecida como Escola Sociológica de Chicago), uma das pioneiras e mais renomadas escolas de sociologia que nasceu nos Estados Unidos durante os anos 10.
O grupo foi fundado por Albin W. Samll e reuniu o corpo docente do Departamento de Sociologia da Universidade de Chicago além de ter recebido uma série de contribuições de intelectuais externos.
O grupo, financiado pelo empresário John Davison Rockefeller, produziu entre 1915 e 1940 uma série de estudos sociológicos centrados na vida das grandes cidades norte-americanas. Esse movimento foi essencial pra a criação do ramo da Sociologia Urbana.

Ravel "Bolero" : 정명훈 & Seoul Philharmonic Orchestra

Poema No Meio do Caminho, de Carlos Drummond de Andrade


Poema No Meio do Caminho, de Carlos Drummond de Andrade


Rebeca Fuks
Revisão por Rebeca Fuks • Doutora em Estudos da Cultura
O poema No Meio do Caminho é uma das obras-primas de autoria do escritor brasileiro Carlos Drummond de Andrade.
Os versos, publicados em 1928 na Revista de Antropofagia, abordam os obstáculos (pedras) que as pessoas encontram na vida.
Assim que publicado o poema foi profundamente criticado pela sua simplicidade e repetição. Com o passar do tempo, os versos foram sendo compreendidos pelo público e pela crítica e atualmente No meio do caminho é uma espécie de cartão postal da obra de Carlos Drummond de Andrade.

O que significa o poema No Meio do Caminho

No meio do caminho tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
tinha uma pedra
no meio do caminho tinha uma pedra.

Nunca me esquecerei desse acontecimento
na vida de minhas retinas tão fatigadas.
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
no meio do caminho tinha uma pedra.
O poema acima foi publicado em julho de 1928 no número 3 da Revista de Antropofagia dirigida por Oswald de Andrade e causou polêmica, pois recebeu duras críticas de várias pessoas. Muitas das críticas eram fundamentadas na utilização da redundância e repetição que foram usadas pelo poeta. Por exemplo, a expressão "tinha uma pedra" é usada em 7 dos 10 versos do poema.
O poema, mais tarde, veio a integrar o livro Alguma poesia (1930), já caracteristicamente drummoniano: com uma linguagem simples, coloquial, um discurso acessível e despojado.
Sendo um dos nomes mais conhecidos do modernismo brasileiro, Carlos Drummond de Andrade marcou a literatura brasileira por expressar de maneira inspiradora as profundas inquietações que atormentam o ser humano.
O poema muitas vezes abordava corajosamente a condição humana de maneira irônica ou sarcástica.
Para alguns, o poema No Meio do Caminho é considerado como o produto de um gênio, para outros é descrito um poema monótono e sem sentido. É possível afirmar que as críticas e ofensas feitas ao autor foram pedras no meio do seu caminho.

Análise do poema No Meio do Caminho

As pedras mencionadas nesta poesia podem ser classificadas como obstáculos ou problemas que as pessoas encontram na vida, descrita neste caso como um "caminho". Essas pedras podem impedir a pessoa de seguir o seu percurso, ou seja, os problemas podem impedir de avançar na vida.
Os versos "nunca me esquecerei desse acontecimento na vida de minhas retinas tão fatigadas" transmitem uma sensação de cansaço por parte do autor, e do acontecimento que ficará sempre na memória do poeta. Assim, as pedras mencionadas também podem indicar um acontecimento relevante e marcante para a vida de uma pessoa.

Interpretação biográfica

Uma das teorias sobre a gênese do poema No Meio do Caminho remonta para a própria biografia de Carlos Drummond de Andrade.
Drummond se casou em 26 de fevereiro de 1926 com a amada Julieta. Um ano depois nasceu o primeiro filho do casal: Carlos Flávio. Por uma tragédia do destino, o menino sobreviveu apenas por meia hora.
Entre janeiro e fevereiro de 1927 foi encomendado ao escritor um poema para o primeiro número da Revista de Antropofagia. Drummond, imerso na sua tragédia pessoal, mandou então o tal polêmico poema No Meio do Caminho. A publicação da revista saiu no ano a seguir, em 1928, consagrando o trabalho poético do autor.
O teórico Gilberto Mendonça Teles sublinha o fato da palavra pedra conter as mesmas letras da palavra perda (trata-se da presença da hipértese, uma figura de linguagem ). O poema teria sido então uma espécie de túmulo para o filho e também uma lição de como o Drummond escolheu processar esse triste acontecimento pessoal.

Ouça o poema No Meio do Caminho

Que tal ouvir os clássicos versos de Drummond declamados?

Descubra Carlos Drummond de Andrade

Nascido em 31 de outubro 1902 em Itabira, interior de Minas Gerais, Carlos Drummond de Andrade foi um dos maiores nomes da poesia brasileira.
Sua primeira infância foi passada no interior, em Itabira, ao lado dos pais, os proprietários rurais Carlos de Paula Andrade e Julieta Augusta Drummond de Andrade. Muitos anos mais tarde, Drummond viria a dar o segundo nome da filha em homenagem a sua mãe.
Carlos Drummond de Andrade e a filha única, Maria Julieta.
Carlos Drummond de Andrade e a filha, Maria Julieta Drummond de Andrade.
Aos 14 anos, Drummond foi para Belo Horizonte onde ficou em um colégio interno. Quatro anos mais tarde foi a vez de se mudar para Nova Friburgo, no Rio de Janeiro, em busca de melhores oportunidades de ensino.
O jovem poeta acabou por se formar no curso de Farmácia da Escola de Odontologia e Farmácia de Belo Horizonte embora tenha desde 1921 investido na sua carreira jornalística e literária.
Lançou em 1925 A Revista, publicação essencial do modernismo mineiro. Publicou no Diário de Minas onde mais tarde veio a ser redator. Mais tarde veio a se tornar funcionário público.
No serviço público atuou, a princípio, como auxiliar de gabinete da Secretaria do Interior. Depois assumiu a chefia do gabinete do Ministério da Educação. Entre 1945 e 1962 atuou como funcionário do Serviço Histórico e Artístico Nacional.
Na vida pessoal o poeta casou com Dolores Dutra de Morais e foi pai de Maria Julieta Drummond de Andrade e de Carlos Flávio Drummond de Andrade.
O poeta faleceu no Rio de Janeiro em 1987. Há quem diga que a sua morte tenha sido de alguma forma influenciada pelo falecimento da filha, que morreu apenas doze dias antes do pai.

Obras publicadas

  • No Meio do Caminho, 1928
  • Alguma Poesia, 1930
  • Poema da Sete Faces, 1930
  • Cidadezinha Qualquer e Quadrilha, 1930
  • Brejo das Almas, 1934
  • Sentimento do Mundo, 1940
  • Poesias e José, 1942
  • Confissões de Minas (ensaios e crônicas), 1942
  • A Rosa do Povo, 1945
  • Poesia até Agora, 1948
  • Claro Enigma, 1951
  • Contos de Aprendiz (prosa), 1951
  • Viola de Bolso, 1952
  • Passeios na Ilha (ensaios e crônicas), 1952
  • Fazendeiro do Ar, 1953
  • Ciclo, 1957
  • Fala, Amendoeira (prosa), 1957
  • Poemas, 1959
  • A Vida Passada a Limpo, 1959
  • Lições de Coisas, 1962
  • A Bolsa e a Vida, 1962
  • Boitempo, 1968
  • Cadeira de Balanço, 1970
  • Menino Antigo, 1973
  • As Impurezas do Branco, 1973
  • Discurso da Primavera e Outras Sombras, 1978
  • O Corpo, 1984
  • Amar se Aprende Amando, 1985
  • Elegia a Um Tucano Morto, 1987

Afrescos do Teto da Capela Sistina


Afrescos do Teto da Capela Sistina


Sónia Cunha
Sónia Cunha 
 
Licenciada em História da Arte 
 
Na Capela Sistina encontra-se uma das obras mais emblemáticas de toda a Renascença Italiana e que hoje é uma das mais famosas do mundo. O teto da Capela Sistina foi pintado com a técnica afresco por Michelangelo Buonarroti, obra que foi encomendada pelo Papa Júlio II (1443- 1513).
Como Michelangelo tinha declarada preferência pela escultura, que considerava como a arte maior, e se reconhecia como um escultor acima de tudo, foi com relutância que ele aceitou a convocatória do Papa.
A obra começou a ser realizada em 1508 e terminou em 1512, naquilo que foi uma impressionante empreitada, tendo em conta que o artista terá feito a totalidade da obra sozinho e deitado.

Análise das Pinturas do Teto

A divisão principal do teto está feita em nove painéis que representam cenas do livro do Gênesis. Esta escolha do tema teológico estabelece uma ligação entre os primórdios da história do homem e a vinda de Cristo, sendo que a figura de Cristo não se encontra presente na composição pictórica do teto.
Teto da Capela Sistina
Teto da Capela Sistina
As figuras, ainda que pictóricas, são influenciadas pela escultura e percebe-se a importância que o desenho tem na obra do artista. Da mesma forma, as imagens revelam o domínio do artista na representação e conhecimento da anatomia humana.
As figuras são predominantemente fortes, enérgicas, poderosas, mas também elegantes. Ao longo do espaço imagens gigantescas e musculadas contorcem-se quase de forma impossível, atribuindo movimento a toda a composição e também uma energia positiva.
Essa vivacidade da composição é certamente um reflexo do momento histórico que a Itália vivia e que em breve se espalharia por toda Europa. Não era apenas a renascença da arte clássica que se respirava, mas também uma redescoberta da filosofia grega e do humanismo romano.
Uma nova Europa estava nascendo, deixando para trás a Idade Média e entrando na Idade Moderna, onde o centro do 'mundo' passa a ser o Homem.
Os nove painéis contam a história da criação. O primeiro representa a luz sendo separada das trevas; o segundo retrata a criação do sol, da lua e dos planetas e o terceiro representa a terra sendo separada do mar.

A criação de Adão

O quarto painel é a criação de Adão, uma das imagens mais difundidas e reconhecidas mundialmente. Aqui Adão está languidamente recostado, como se com preguiça e quase que obrigando Deus a um último esforço para conseguir tocar nos dedos de Adão e assim lhe poder dar a centelha da vida.
Ao contrário da figura "preguiçosa" de Adão, Deus é dotado de movimento e energia e até os seus cabelos se movem com a brisa invisível. Debaixo do seu braço esquerdo, Deus leva a figura de Eva que intimamente segura no seu braço e pacientemente espera que Adão receba a centelha da vida para também ela poder recebê-la.
Criação de Adão
Criação de Adão
Veja a análise mais detalhada da obra A Criação de Adão.
No quinto painel (e central) vemos por fim a criação de Eva; no sexto temos a expulsão do paraíso de Adão e Eva; no sétimo está representado o sacrifício de Noé; no oitavo o dilúvio universal e no nono, que é o último, a embriaguez de Noé.
Ladeando os painéis temos ainda a representação alternada de Profetas (Zacarias, Joel, Isaías, Ezequiel, Daniel, Jeremias e Jonas) e Sibilas (Délfica, Eritrea, Cumana, Pérsica e Líbica). Esta é uma justaposição entre cristianismo e paganismo, naquilo que alguns historiadores consideram ter sido uma forma sutil encontrada pelo artista para criticar a Igreja.
Os painéis, e restante composição pictórica, estão emoldurados por elementos arquitetônicos pintados (incluindo figuras escultóricas) com extremo realismo e com os quais as figuras interagem. Alguns sentam-se, outros recostam-se, nesses elementos de arquitetura falsa.
Nos quatro cantos do teto temos ainda a representação das quatro grandes salvações de Israel, e espalhadas pelo centro da composição, vemos ainda vinte figuras masculinas nuas sentadas, conhecidas como os “Ignudi”, nome atribuído pelo próprio artista.
Estas figuras aparecem em pares de quatro rodeando cinco dos nove painéis do teto, nomeadamente no “embriaguez de Noé”, no “sacrifício de Noé”, na “criação de Eva”, na “separação da terra do mar” e na “separação da luz e da escuridão”. Porém, não se sabe exatamente o que representam nem qual a razão da sua inclusão.

O Juízo Final

Mais de vinte anos depois, Michelangelo regressou à Capela Sistina para executar O Juízo Final (1536-1541) um afresco pintado na parede do altar da Capela. Este trabalho foi encomendado a Michelangelo pelo Papa Clemente VII (1478- 1534), mas a obra só teria início após a morte desse Papa e já sob o pontificado de Paulo III (1468- 1549).
Contrastando com a vitalidade, o ritmo e a energia radiante dos afrescos do teto, a representação do Juízo Final é sombria e uma composição de corpos sem real estrutura. No total estão representados trezentos e noventa e um corpos, originalmente retratados a nu (incluindo a Virgem).
O Juízo Final
O Juízo Final
A composição é dominada pela figura central de um Cristo juiz implacável e temível. Como fundo temos um céu que se rasgou e na parte inferior vemos como os anjos tocam as trombetas anunciando o Juízo Final.
Ao lado de Cristo a Virgem olha para o lado, como que recusando-se a enxergar o caos, a miséria, o sofrimento e como todos os pecadores vão ser lançados no inferno.
Uma das figuras representadas é São Bartolomeu que em uma mão segura a faca do seu sacrifício e na outra a sua pele esfolada, e na qual Michelangelo decidiu conceber seu autorretrato. Assim, a cara deformada da pele esfolada é a do próprio artista, talvez uma metáfora para representar a sua alma torturada.
São Bartolomeu
São Bartolomeu - Detalhe do Juízo Final
As diferenças entre as pinturas do teto e da parede do altar estarão relacionadas com a diferente contextualização cultural e política na época em que a obra foi realizada.
A Europa vivia uma crise espiritual e política, começavam os anos da Reforma que dariam lugar à cisão dentro da Igreja, e parece que esta composição serve como aviso que os inimigos da Igreja estão condenados. Não há perdão, pois Cristo é implacável.
Como todas as figuras desta obra foram pintadas a nu, nos anos que se seguiram a controvérsia foi aumentando de tom, pois muitos foram os que acusaram a Igreja de hipocrisia e consideravam a pintura de pornografia.
Durante mais de vinte anos os difamadores da obra fizeram questão de espalhar a ideia de que a Igreja estava albergando em uma das suas principais instalações uma obra pornográfica, fazendo também campanha insistente para que as pinturas fossem destruídas.
Temendo o pior, a Igreja, na pessoa do Papa Clemente VII (1478- 1534) encomendou que alguns nus fossem repintados, em uma tentativa de preservar a obra original, impedindo assim a sua destruição. Esse trabalho foi realizado por Daniele da Volterra no ano da morte de Michelangelo.

Trabalhos de Restauração

As mais recentes intervenções (1980 e 1994) de restauração na Capela Sistina, focadas na limpeza dos afrescos, revelaram um lado de Michelangelo que estava sendo ignorado pelos historiadores, não intencionalmente.
Até então apenas a forma e o desenho eram louvados nessa obra, atribuindo-se o foco ao desenho em detrimento da cor. Porém, a limpeza de séculos de sujeira e fumo de velas revelou uma vibrante paleta de cores na obra original de Michelangelo. Dessa forma provando que o artista não só era um gênio do desenho e da escultura, mas também um excelente colorista ao nível do próprio Leonardo Da Vinci.
Restauração
Detalhe do Antes e Depois da Restauração

A Capela Sistina

A Capela Sistina (1473-1481) situa-se na residência oficial do Papa, no Palácio Apostólico no Vaticano, e a sua construção foi inspirada no Templo de Salomão. É lá que o Papa conduz missa pontualmente, e é também aí que o Conclave se reúne para eleger um novo Papa.
A Capela serviu de atelier para alguns dos maiores artistas da Renascença italiana, não só Michelangelo, mas também Rafael, Bernini e Botticelli.
Mas é inegável que hoje a simples menção do nome da Capela nos remete para os seus grandiosos afrescos do teto e altar executados por Michelangelo.
Capela Sistina

Michelangelo Buonarotti

Michelangelo (1475-1564) foi um dos maiores vultos da Renascença e é considerado um dos maiores gênios da arte de todos os tempos. Ainda em vida já assim era considerado, e a si próprio ele atribuía capacidades acima da média.
Alegadamente de trato difícil a sua genialidade foi, no entanto, reconhecida quando ele era ainda muito jovem. Frequentou a oficina de Domenico Ghirlandaio e aos quinze anos Lourenço II de Médici o tomou sob a sua proteção.
Humanista e fascinado pela herança clássica (que à data experimentava o seu mais importante revivalismo artístico), a obra de Michelangelo centra-se na imagem humana como essencial veículo de expressão. Nessa preferência é também evidente a forte influência no artista da escultura clássica.

Escultura O Pensador de Auguste Rodin


Escultura O Pensador de Auguste Rodin


O Pensador é uma escultura do artista francês Auguste Rodin. A peça original faz parte de uma composição chamada A Porta do Inferno, que foi inspirado na poema Divina Comédia de Dante Alighieri, a obra foi inciada em 1880, mas só foi totalmente finalizada em 1917. Antes mesmo da Porta ser terminada Rodin já havia feito outras versões de O Pensador, incluindo a famosa escultura de 1904.

A Porta do Inferno

A Porta do Inferno é uma obra em bronze encomendada pelo Museu de Artes Decorativas de Paris. A porta retrata os principais personagens da Divina Comédia, e o tema foi escolhido pelo próprio Rodin. A obra é composta por mais de cento e cinquenta figuras, que variam de 15 cm até um metro.
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O Pensador na Porta do Inferno
Algumas dessas figuras se tornaram esculturas independentes, incluindo O Pensador. Inicialmente chamada de O Poeta, essa figura ilustra Dante Alighieri meditando sobre o seu poema épico perante a entrada do Inferno. A Porta do Inferno se encontra na França no Musée Rodin.

O Pensador

O Pensador
O Pensador
A primeira estatua em grande escala do O Pensador foi terminada em 1902, mas só foi apresentada ao publico em 1904. A escultura foi feita em bronze e tem 1.86 metros de altura, ela tornou-se propriedade da cidade de Paris graças a ação de um grupo de admiradores de Rodin.
O Pensador foi colocado em frente ao Panteão Nacional em Paris no ano de 1906, onde permaneceu até 1922, quando foi transferido para o Musée Rodin, antigo Hotel Biron. Existem mais de 20 cópias da escultura espalhadas por diversos museus ao longo do mundo. No Brasil o Instituto Ricardo Brennand no Recife possui um replica ampliada da escultura.
O Pensador retrata um homem nu, sentado e apoiando a cabeça em uma das mãos, enquanto a outra descansa sobre o joelho. A pose da figura leva à ideia de uma meditação profunda ao mesmo tempo que o corpo forte do homem retratado passa a noção que ele pode tomar uma grande ação.
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Detalhe do O Pensador
Essa dualidade da meditação e da possível ação é marcante na escultura e faz com que o momento do pensamento seja ainda mais potente. Por isso a escultura tem sido associada à filosofia, ao momento de reflexão que está sempre em tensão com a possibilidade da ação.
A inspiração para a escultura foi o poeta Dante Alighieri, que encara o inferno abaixo de si enquanto reflete sobe o seu poema épico e sobre o próprio inferno. As principais referências para Rodin foram as esculturas de Michelangelo, o escultor francês procurava no O Pensador o mesmo carácter heroico das obras do mestre italiano.
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David de Michelangelo
No ano de 1875 Rodin fez uma viagem para a Itália onde entrou em contato com as obras dos metres renascentistas, como Donatello e Michelangelo. Essa viagem foi essencial para a carreira de Rodin e influenciou diversas de suas obras.

A técnica de Rodin

Uma das principais inovações do artista francês reside nas técnicas usadas para a esculta. Ao contrário do tradicional, ele pedia a seus modelos para andar pelo atelier, dessa forma ele conseguia captar movimentos, mesmo sua obra sendo estática.
Num primeiro momento Rodin fazia um esboço em argila, quando o esboço estava pronta ele passava a escultura para gesso ou bronze, mudando as suas medidas conforme o plano para a obra final. Rodin continuava a trabalhar em suas obras mesmo quando o molde de gesso estava pronto, uma prática incomum para a época. O molde de gesso era geralmente transformado em uma escultura de bonze ou mármore.

Musée Rodin

Localizado em Paris, o Musée Rodin foi inaugurado em 1919 no Hôtel Biron. Rodin usou o local como oficina a partir de 1908. Posteriormente o artista doou a suas obras além de sua coleção particular de outros artistas para a prefeitura de Paris, com a a condição que elas fossem expostas no Hôtel Biron.
As suas principais esculturas como O Pensador e a Porta do Inferno se encontram atualmente no Musée Rodin, boa parte das esculturas estão expostas no jardim. O museu conta com mais de 70 mil visitantes por ano.