terça-feira, 14 de janeiro de 2020

Poema No Meio do Caminho, de Carlos Drummond de Andrade


Poema No Meio do Caminho, de Carlos Drummond de Andrade


Rebeca Fuks
Revisão por Rebeca Fuks • Doutora em Estudos da Cultura
O poema No Meio do Caminho é uma das obras-primas de autoria do escritor brasileiro Carlos Drummond de Andrade.
Os versos, publicados em 1928 na Revista de Antropofagia, abordam os obstáculos (pedras) que as pessoas encontram na vida.
Assim que publicado o poema foi profundamente criticado pela sua simplicidade e repetição. Com o passar do tempo, os versos foram sendo compreendidos pelo público e pela crítica e atualmente No meio do caminho é uma espécie de cartão postal da obra de Carlos Drummond de Andrade.

O que significa o poema No Meio do Caminho

No meio do caminho tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
tinha uma pedra
no meio do caminho tinha uma pedra.

Nunca me esquecerei desse acontecimento
na vida de minhas retinas tão fatigadas.
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
no meio do caminho tinha uma pedra.
O poema acima foi publicado em julho de 1928 no número 3 da Revista de Antropofagia dirigida por Oswald de Andrade e causou polêmica, pois recebeu duras críticas de várias pessoas. Muitas das críticas eram fundamentadas na utilização da redundância e repetição que foram usadas pelo poeta. Por exemplo, a expressão "tinha uma pedra" é usada em 7 dos 10 versos do poema.
O poema, mais tarde, veio a integrar o livro Alguma poesia (1930), já caracteristicamente drummoniano: com uma linguagem simples, coloquial, um discurso acessível e despojado.
Sendo um dos nomes mais conhecidos do modernismo brasileiro, Carlos Drummond de Andrade marcou a literatura brasileira por expressar de maneira inspiradora as profundas inquietações que atormentam o ser humano.
O poema muitas vezes abordava corajosamente a condição humana de maneira irônica ou sarcástica.
Para alguns, o poema No Meio do Caminho é considerado como o produto de um gênio, para outros é descrito um poema monótono e sem sentido. É possível afirmar que as críticas e ofensas feitas ao autor foram pedras no meio do seu caminho.

Análise do poema No Meio do Caminho

As pedras mencionadas nesta poesia podem ser classificadas como obstáculos ou problemas que as pessoas encontram na vida, descrita neste caso como um "caminho". Essas pedras podem impedir a pessoa de seguir o seu percurso, ou seja, os problemas podem impedir de avançar na vida.
Os versos "nunca me esquecerei desse acontecimento na vida de minhas retinas tão fatigadas" transmitem uma sensação de cansaço por parte do autor, e do acontecimento que ficará sempre na memória do poeta. Assim, as pedras mencionadas também podem indicar um acontecimento relevante e marcante para a vida de uma pessoa.

Interpretação biográfica

Uma das teorias sobre a gênese do poema No Meio do Caminho remonta para a própria biografia de Carlos Drummond de Andrade.
Drummond se casou em 26 de fevereiro de 1926 com a amada Julieta. Um ano depois nasceu o primeiro filho do casal: Carlos Flávio. Por uma tragédia do destino, o menino sobreviveu apenas por meia hora.
Entre janeiro e fevereiro de 1927 foi encomendado ao escritor um poema para o primeiro número da Revista de Antropofagia. Drummond, imerso na sua tragédia pessoal, mandou então o tal polêmico poema No Meio do Caminho. A publicação da revista saiu no ano a seguir, em 1928, consagrando o trabalho poético do autor.
O teórico Gilberto Mendonça Teles sublinha o fato da palavra pedra conter as mesmas letras da palavra perda (trata-se da presença da hipértese, uma figura de linguagem ). O poema teria sido então uma espécie de túmulo para o filho e também uma lição de como o Drummond escolheu processar esse triste acontecimento pessoal.

Ouça o poema No Meio do Caminho

Que tal ouvir os clássicos versos de Drummond declamados?

Descubra Carlos Drummond de Andrade

Nascido em 31 de outubro 1902 em Itabira, interior de Minas Gerais, Carlos Drummond de Andrade foi um dos maiores nomes da poesia brasileira.
Sua primeira infância foi passada no interior, em Itabira, ao lado dos pais, os proprietários rurais Carlos de Paula Andrade e Julieta Augusta Drummond de Andrade. Muitos anos mais tarde, Drummond viria a dar o segundo nome da filha em homenagem a sua mãe.
Carlos Drummond de Andrade e a filha única, Maria Julieta.
Carlos Drummond de Andrade e a filha, Maria Julieta Drummond de Andrade.
Aos 14 anos, Drummond foi para Belo Horizonte onde ficou em um colégio interno. Quatro anos mais tarde foi a vez de se mudar para Nova Friburgo, no Rio de Janeiro, em busca de melhores oportunidades de ensino.
O jovem poeta acabou por se formar no curso de Farmácia da Escola de Odontologia e Farmácia de Belo Horizonte embora tenha desde 1921 investido na sua carreira jornalística e literária.
Lançou em 1925 A Revista, publicação essencial do modernismo mineiro. Publicou no Diário de Minas onde mais tarde veio a ser redator. Mais tarde veio a se tornar funcionário público.
No serviço público atuou, a princípio, como auxiliar de gabinete da Secretaria do Interior. Depois assumiu a chefia do gabinete do Ministério da Educação. Entre 1945 e 1962 atuou como funcionário do Serviço Histórico e Artístico Nacional.
Na vida pessoal o poeta casou com Dolores Dutra de Morais e foi pai de Maria Julieta Drummond de Andrade e de Carlos Flávio Drummond de Andrade.
O poeta faleceu no Rio de Janeiro em 1987. Há quem diga que a sua morte tenha sido de alguma forma influenciada pelo falecimento da filha, que morreu apenas doze dias antes do pai.

Obras publicadas

  • No Meio do Caminho, 1928
  • Alguma Poesia, 1930
  • Poema da Sete Faces, 1930
  • Cidadezinha Qualquer e Quadrilha, 1930
  • Brejo das Almas, 1934
  • Sentimento do Mundo, 1940
  • Poesias e José, 1942
  • Confissões de Minas (ensaios e crônicas), 1942
  • A Rosa do Povo, 1945
  • Poesia até Agora, 1948
  • Claro Enigma, 1951
  • Contos de Aprendiz (prosa), 1951
  • Viola de Bolso, 1952
  • Passeios na Ilha (ensaios e crônicas), 1952
  • Fazendeiro do Ar, 1953
  • Ciclo, 1957
  • Fala, Amendoeira (prosa), 1957
  • Poemas, 1959
  • A Vida Passada a Limpo, 1959
  • Lições de Coisas, 1962
  • A Bolsa e a Vida, 1962
  • Boitempo, 1968
  • Cadeira de Balanço, 1970
  • Menino Antigo, 1973
  • As Impurezas do Branco, 1973
  • Discurso da Primavera e Outras Sombras, 1978
  • O Corpo, 1984
  • Amar se Aprende Amando, 1985
  • Elegia a Um Tucano Morto, 1987

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