Poema No Meio do Caminho, de Carlos Drummond de Andrade
Poema No Meio do Caminho, de Carlos Drummond de Andrade
Revisão por Rebeca Fuks
• Doutora em Estudos da Cultura
O poema No Meio do Caminho é uma das obras-primas de autoria do escritor brasileiro Carlos Drummond de Andrade.
Os versos, publicados em 1928 na Revista de Antropofagia, abordam os obstáculos (pedras) que as pessoas encontram na vida.
Assim que publicado o poema foi profundamente criticado pela sua
simplicidade e repetição. Com o passar do tempo, os versos foram sendo
compreendidos pelo público e pela crítica e atualmente No meio do caminho é uma espécie de cartão postal da obra de Carlos Drummond de Andrade.
O que significa o poema No Meio do Caminho
No meio do caminho tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
tinha uma pedra
no meio do caminho tinha uma pedra.
Nunca me esquecerei desse acontecimento
na vida de minhas retinas tão fatigadas.
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
no meio do caminho tinha uma pedra.
O poema acima foi publicado em julho de 1928 no número 3 da Revista de Antropofagia
dirigida por Oswald de Andrade e causou polêmica, pois recebeu duras
críticas de várias pessoas. Muitas das críticas eram fundamentadas na
utilização da redundância e repetição que foram usadas pelo poeta. Por exemplo, a expressão "tinha uma pedra" é usada em 7 dos 10 versos do poema.
O poema, mais tarde, veio a integrar o livro Alguma poesia (1930), já caracteristicamente drummoniano: com uma linguagem simples, coloquial, um discurso acessível e despojado.
Sendo um dos nomes mais conhecidos do modernismo brasileiro,
Carlos Drummond de Andrade marcou a literatura brasileira por expressar
de maneira inspiradora as profundas inquietações que atormentam o ser
humano.
O poema muitas vezes abordava corajosamente a condição humana de maneira irônica ou sarcástica.
Para alguns, o poema No Meio do Caminho é
considerado como o produto de um gênio, para outros é descrito um poema
monótono e sem sentido. É possível afirmar que as críticas e ofensas
feitas ao autor foram pedras no meio do seu caminho.
Análise do poema No Meio do Caminho
As pedras mencionadas nesta poesia podem ser classificadas como
obstáculos ou problemas que as pessoas encontram na vida, descrita neste
caso como um "caminho". Essas pedras podem impedir a pessoa de seguir o
seu percurso, ou seja, os problemas podem impedir de avançar na vida.
Os versos "nunca me esquecerei desse acontecimento na vida de minhas
retinas tão fatigadas" transmitem uma sensação de cansaço por parte do
autor, e do acontecimento que ficará sempre na memória do poeta. Assim,
as pedras mencionadas também podem indicar um acontecimento relevante e
marcante para a vida de uma pessoa.
Interpretação biográfica
Uma das teorias sobre a gênese do poema No Meio do Caminho remonta para a própria biografia de Carlos Drummond de Andrade.
Drummond se casou em 26 de fevereiro de 1926 com a amada Julieta. Um
ano depois nasceu o primeiro filho do casal: Carlos Flávio. Por uma
tragédia do destino, o menino sobreviveu apenas por meia hora.
Entre janeiro e fevereiro de 1927 foi encomendado ao escritor um
poema para o primeiro número da Revista de Antropofagia. Drummond,
imerso na sua tragédia pessoal, mandou então o tal polêmico poema No Meio do Caminho. A publicação da revista saiu no ano a seguir, em 1928, consagrando o trabalho poético do autor.
O teórico Gilberto Mendonça Teles sublinha o fato da palavra pedra
conter as mesmas letras da palavra perda (trata-se da presença da
hipértese, uma figura de linguagem ). O poema teria sido então uma
espécie de túmulo para o filho e também uma lição de como o Drummond
escolheu processar esse triste acontecimento pessoal.
Ouça o poema No Meio do Caminho
Que tal ouvir os clássicos versos de Drummond declamados?
Descubra Carlos Drummond de Andrade
Nascido em 31 de
outubro 1902 em Itabira, interior de Minas Gerais, Carlos Drummond de
Andrade foi um dos maiores nomes da poesia brasileira.
Sua
primeira infância foi passada no interior, em Itabira, ao lado dos
pais, os proprietários rurais Carlos de Paula Andrade e Julieta Augusta
Drummond de Andrade. Muitos anos mais tarde, Drummond viria a dar o
segundo nome da filha em homenagem a sua mãe. Carlos Drummond de Andrade e a filha, Maria Julieta Drummond de Andrade.Aos
14 anos, Drummond foi para Belo Horizonte onde ficou em um colégio
interno. Quatro anos mais tarde foi a vez de se mudar para Nova
Friburgo, no Rio de Janeiro, em busca de melhores oportunidades de
ensino.
O jovem poeta acabou por se formar no curso de Farmácia da Escola de
Odontologia e Farmácia de Belo Horizonte embora tenha desde 1921
investido na sua carreira jornalística e literária.
Lançou em 1925 A Revista, publicação essencial do modernismo
mineiro. Publicou no Diário de Minas onde mais tarde veio a ser
redator. Mais tarde veio a se tornar funcionário público.
No serviço público atuou, a princípio, como auxiliar de gabinete da
Secretaria do Interior. Depois assumiu a chefia do gabinete do
Ministério da Educação. Entre 1945 e 1962 atuou como funcionário do
Serviço Histórico e Artístico Nacional.
Na vida pessoal o poeta casou com Dolores Dutra de Morais e foi pai
de Maria Julieta Drummond de Andrade e de Carlos Flávio Drummond de
Andrade.
O poeta faleceu no Rio de Janeiro em 1987. Há quem diga que a sua
morte tenha sido de alguma forma influenciada pelo falecimento da filha,
que morreu apenas doze dias antes do pai.
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