Tomar consciência é o primeiro passo para curar ou mudar
Tomar consciência é, acima de tudo, um despertar. É abrir os olhos do nosso interior para tornar consciente o inconsciente
e, assim, poder dar o passo e iniciar a tão necessária revolução
pessoal. Só então seremos capazes de nos curar, de nos desprendermos do
que machuca e, simplesmente, avançar em direção ao que merecemos.
São muitos os filósofos e sociólogos que definem a sociedade atual como uma entidade adormecida. Vivemos centrados no nosso “eu”, mas é um “eu” que os outros se encarregaram de “drogar” através
das linhas do consumismo. Um interesse alheio que tem explorado essa
eterna insatisfação, através da qual sempre ansiamos alcançar muito mais
do que já temos.
Talvez seja assim. Talvez sejamos uma sociedade tipo “Matrix”, sempre mergulhados em um estado de apatia indefinível. Uma atmosfera interior na qual saciamos vazios emocionais através do prazer da comida,
em que aliviamos a solidão com relações efêmeras ou onde nos limitamos a
fugir do tédio através da catarse momentânea dos nossos jogos de
celular. Talvez.
Algumas pessoas podem pensar deste modo; no entanto, existe algo que fica cada vez mais em evidência: são muitas as pessoas que buscam dar um verdadeiro sentido à sua existência. Para
isso, elas não hesitam em cultivar a sua essência através de leituras,
iniciando terapias, aproveitando as abordagens de diversas perspectivas
psicológicas para encontrar essa compreensão, esse “insight” ou
“iluminação” para se desconectar do ordinário e alcançar o
extraordinário.
Propomos que você reflita sobre isso: propomos um DESPERTAR.
Tomar consciência, um passo necessário para o nosso crescimento pessoal
Na psicoterapia, um dos aspectos primordiais no processo de cura é, sem dúvida, conseguir que a pessoa tome consciência dos verdadeiros problemas que geram seu desconforto.
Quando uma pessoa chega para consultar um psicólogo, por regra geral
ela é bastante clara sobre quais são os focos “externos” de seu
desconforto, de sua infelicidade (meu
parceiro não me entende, meus pais me oprimem, meu chefe me subestima,
não tenho trabalho e a sociedade parece ter se esquecido de mim…).
No entanto, o bom profissional deverá sempre acompanhar essa pessoa para novos “despertares” internos que irão conferir um controle autêntico e muito mais pleno à sua vida. Mas este não é um processo necessariamente fácil.
É preciso tempo para alcançar isso que a Terapia Gestalt define como “awareness” (dar-se conta de algo) ou
que até mesmo a cultura japonesa traduz como “satori”, um processo de
compreensão profunda que requer descascar as camadas, as demãos e os
antigos elos enferrujados para ignorar todos os bloqueios que impedem o
surgimento do nosso verdadeiro ser, nossa verdadeira essência ainda
adormecida.
A tomada de consciência também foi um aspecto essencial nas teorias de Piaget. Ele
a definiu como o processo delicado e complexo pelo qual as pessoas
passam de um conhecimento instrumental da nossa realidade a uma
conceitualização muito mais intimista, abstrata e significativa das
coisas. Atualmente estas abordagens continuam bastante presentes, e
estão profundamente enraizadas na ideia de “despertar”, da compreensão
ou “insight” que o próprio Lao Tse definiu através de quatro fases: sono, vigília, autoconsciência e consciência objetiva.
Trata-se, como podemos ver, de uma viagem interior muito semelhante ao que Platão definiu no mito da caverna. É passar desse universo das sensações, do autoengano e das sombras para uma esfera muito mais elevada, livre e autêntica. A seguir iremos explicar como conseguir isso.
O alívio do despertar ou a reconstrução
Agora há pouco citamos Piaget. Em seus
textos sobre psicologia genética ele cita um conceito que pode ser de
grande utilidade: o inconsciente cognitivo. Apesar de nos fazer lembrar
um pouco as teorias freudianas, o pai da epistemologia genética nos
oferece uma abordagem valiosa para refletir: a tomada de consciência não é realmente um “despertar”, nem uma iluminação.
Não se trata apenas de tornar consciente o inconsciente, mas de dar a ele uma nova construção. Por exemplo, eu posso tomar consciência de uma de minhas limitações: minha incapacidade de colocar limites
ou de dizer “NÃO”. Tornar essa dimensão consciente não servirá de nada
se eu não lhe der um propósito, que não é outro senão o de exercer a
mudança, reconstruir essa parte do “eu” para me curar, para ter um maior
controle sobre a minha realidade ao sair dessa caverna de “sombras” e
infelicidade.
Agora vamos ver como podemos gerar este processo de despertar e reconstrução.
As três fases do caminho para tomar consciência
Este processo de tomada de consciência
pode parecer simples. E é em aparência, no entanto, requer acima de tudo
que sejamos sinceros com nós mesmos em todo momento.
- O primeiro passo neste despertar requer abrir os olhos da nossa zona mais íntima e profunda. Falamos do mundo emocional. Pergunte a si mesmo o que você está sentindo neste instante, explore as sensações, os sentimentos, pergunte também ao seu corpo, às suas dores de cabeça, a este mal-estar no estômago… Traduza em palavras todos esses sintomas (medo, angústia, inquietação, insegurança…)
- O segundo passo requer que você observe o que acontece no seu exterior. Olhe para o seu presente e preste atenção no óbvio, isso que às vezes nos recusamos a olhar de frente: meu parceiro mostra frieza, tenho amigos que se preocupam comigo, estou investindo tempo e esforços em coisas que não valem a pena… etc.
- O terceiro passo é mais complexo. Você já sabe o que sente, sabe o que acontece no seu exterior. É hora de aprofundar nas suas barreiras defensivas, em seus preconceitos, em suas atitudes, aquelas que te dizem erroneamente que é melhor aguentar do que mudar, que é melhor virar o rosto, ficar quieto/a e calar por medo de que as coisas mudem demais.
Enfrente a si mesmo. Nós somos os nossos piores inimigos, então não servirá de nada tomar consciência de suas fraquezas se você não se atreve a transformá-las em pontos fortes. Seja responsável, reúna coragem e cure a si mesmo: exerça a mudança.
Imagens cortesia de Nuck Asher, Art New Age.
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