1957: Morria o maestro Arturo Toscanini
Em 16 de janeiro de 1957, morreu o grande mestre
italiano da música, que regeu por mais de 40 anos. Elogiado por sua
genialidade e respeitado como poucos, sua carreira como maestro começou
por acaso e no Brasil.
Poucos tiveram uma carreira como a dele: diretor do Scala de Milão, regente nas principais salas de concertos do mundo, como a Metropolitan Opera de Nova York e o Festival de Salzburgo, diretor da Filarmônica de Nova York, famoso e temido por sua impiedosa precisão.
Sua carreira como maestro começou por acaso e no Brasil. Em 1885, aos 19 anos, ele participava de uma turnê como violoncelista, quando o dirigente abandonou a orquestra no Rio de Janeiro.
Toscanini assumiu a batuta e teve grande sucesso. Consta que ele nem precisou de partitura para reger a obra, o que continuou fazendo a vida inteira, tal era a sua memória musical. Ele conhecia as peças nota por nota, percebendo todo e qualquer erro, por mínimo que fosse. Exigente por natureza, não havia músico que satisfizesse o alto padrão por ele imposto.
A busca do fogo e da perfeição
Friedelind Wagner assistiu a um ensaio de Fidelio em Salzburgo, com a participação da cantora Lotte Lehmann. Segundo ela, todos haviam trabalhado horas seguidas e não havia como satisfazer Arturo Toscanini. Em seu desespero, Lotte Lehmann foi conversar com ele. "Mas mestre, por que a interpretação não é do seu agrado?" Ele só respondeu: "Manca il fuoco!" – falta fogo. Ou seja, ele esperava dos músicos e cantores, após cinco horas de ensaio, ou mesmo que fossem 24 horas, o mesmo 'fogo' que punha em seu trabalho e exigia de si mesmo", lembra a neta de Richard Wagner.
Nascido em 25 de março de 1867 em Parma, Arturo Toscanini conseguiu estabelecer uma ligação entre os séculos 19 e 20, entre a era do romantismo e a contemporânea. Manteve contato e trabalhou com os principais compositores do final do século 19, com Verdi, Respighi e Puccini.
O disco, o novo instrumento de difusão da música, deve ao maestro Arturo Toscanini as primeiras gravações orquestrais de qualidade. Friedelind Wagner: "Teve peças musicais que ele gravou 10 ou 20 vezes e que nunca saíram sob a forma de disco, porque algum detalhe mínimo não lhe agradava. Era quando o maestro interrompia a gravação, batia com a mão na testa e dizia – 'mas eu sou um idiota!'. Ele nunca esteve satisfeito consigo mesmo".
Horowitz – um dos poucos músicos que respeitava
A exatidão insuperável de Arturo Toscanini tornou suas interpretações especialmente dinâmicas e transparentes, momentos áureos da história dos concertos, mesmo que o resultado nunca tenha atingido a perfeição que ele tanto buscava. Pouquíssimos músicos compraziam seu alto padrão artístico. Um deles foi seu genro, o pianista Vladimir Horowitz. Com os outros dirigentes, não tinha complacência.
Friedelind Wagner relembra: "Certa vez, Toscanini estava em Nova York, escutando música no rádio e os apresentadores anunciavam: o Dr. Kousewitzky rege isso e aquilo, agora o Dr. Rodjensky regerá tal concerto, e depois o Dr. Stokowsky vai reger não-sei-o-quê... Toscanini balançou a cabeça e disse – 'todos doutores, mas nenhum maestro!'"
Sua posição frente à vida era tão incondicional como em relação a seu trabalho. Quando os fascistas assumiram o poder, Toscanini virou as costas à Europa para sempre. Os simpatizantes do regime italiano foram por ele punidos com desprezo perpétuo. Tscanini morreu em 16 de janeiro de 1957, aos 90 anos, em Nova York.
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