EUA X Irã: quais as chances de uma 3ª Guerra e de o Brasil ser envolvido?
Especialistas não acreditam que as tensões entre Estados Unidos e Irã escalem para um conflito de proporções mundiais e dizem que as consequências para o país podem ser de ordem econômica
Especialistas ouvidos pelo Correio acreditam
que a resposta para as duas perguntas é não. Uma Terceira Guerra, em
moldes semelhantes ao que foram as duas primeiras, se mostra
praticamente impossível na configuração geopolítica atual.
Já
em relação às consequências ao Brasil, se elas ocorrerem, devem ser do
ponto de vista econômico, mas não na forma de ataques bélicos. "Vi
alguns comentários de pessoas se perguntando se o Brasil cogita enviar
tropas (para a região). Para mim, isso é impensável", diz o professor de
relações internacionais do Ibmec Ricardo Caichiolo.
A importância do Irã
Para
o especialista, o primeiro impacto da crise é uma elevação do preço do
petróleo, que afeta não só o Brasil, mas toda a economia global. Um
possível prejuízo especificamente brasileiro seria na relação comercial
com o Irã.
O professor lembra que o Brasil é
um grande exportador de milho, carne e soja para o país persa. E mais:
além de comprar esses produtos, o Irã exerce grande influência sobre
países do Oriente Médio. "Quando se alia aos Estados Unidos, o Brasil
pode gerar para si um problema, afetando também a relação comercial com
outros países contrários à postura norte-americana", analisa.
A
decisão do governo iraniano de chamar para explicações a encarregada de
negócios do Brasil no país não deve ser vista como uma grave ameaça,
segundo Caicholo. "Não acredito que seja uma questão para alarme. O Irã
não gostou da posição brasileira, mas convocar o Brasil não deixa de ser
uma prática diplomática. Quando algo que não agrada o país foi
manifestado, é direito desse país chamar algum representante. É natural,
depois da nota emitida pelo Itamaraty", diz.
E uma Terceira Guerra?
Com
relação a um conflito armado de grandes proporções, envolvendo vários
países, Caichiolo explica que essa possibilidade é remotíssima devido ao
atual "xadrez político internacional". Uma guerra assim afetaria o
comércio internacional, a economia e outros países importantes e
influentes, que não têm interesse algum em deixar que a crise chegue a
esse ponto.
O analista político Lucas Fernandes, da BMJ
Associados, concorda que uma guerra mundial, atualmente, está
descartada. "Quando pensamos em guerras mundiais, na qual
transferiríamos contingentes grandes do Exército, por exemplo,
percebemos que isso mudou. O próprio ataque dos EUA foi feito por meio
de drone, sem presença física. A natureza da guerra mudou bastante",
comenta.
Apesar de o Irã informar
que há diferentes cenários de retaliação e ter lançado mísseis em duas
bases americanas no Iraque, Fernandes acredita que o próprio Congresso
dos Estados Unidos já tem se manifestado para frear as ações de Donald
Trump. "Por enquanto, cogitar [uma guerra] em cima do imponderável. A
própria Câmara dos EUA está tentando minar as ações do Trump, tentando
reduzir o poder autocrático de ações de guerra dele. O Congresso deles
está mobilizado para isso", ressalta.
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