Psicanálise – tudo sobre o método de Freud para lidar com a mente
24 de maio de 2018
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A psicanálise é um
método de tratamento de transtornos mentais, moldado pela teoria
psicanalítica. Fundada por Sigmund Freud (1856-1939), enfatiza processos
mentais inconscientes e é algumas vezes descrita como a “psicologia
profunda”. É comum a confusão entre psicanálise e psicologia, porém são
coisas bastantes distintas, é possível que um psicólogo seja
psicanalista, da mesma maneira que um psicanalista pode não ser um
psicólogo. A psicanálise
promove a consciência de padrões de emoções e comportamentos
inconscientes, desadaptativos e habitualmente recorrentes. Isso permite
que aspectos anteriormente inconscientes do self se integrem e promovam
um ótimo funcionamento da mente, cura e expressão criativa.
O que é psicanálise?
Sigmund
Freud foi o fundador da psicanálise e da abordagem psicodinâmica da
psicologia. Essa escola de pensamento enfatizava a influência da mente
inconsciente no comportamento. Freud acreditava que a mente humana era
composta de três elementos: o id, o ego e o superego. As
teorias de Freud sobre os estágios psicossexuais, o inconsciente e o
simbolismo dos sonhos continuam sendo um tema popular entre os psicólogos e os leigos. Apesar disso, seu trabalho é visto hoje com ceticismo por muitos. Muitas
das observações e teorias de Freud foram baseadas em casos clínicos e
estudos de casos, o que dificultou sua generalização para uma população
maior. Independentemente disso, as teorias de Freud mudaram a forma como
pensamos sobre a mente e o comportamento humanos e deixaram uma marca
duradoura na psicologia e na cultura.
História da Psicanálise
Outro teórico associado à psicanálise é
Erik Erikson. Erikson expandiu as teorias de Freud e enfatizou a
importância do crescimento ao longo da vida. A teoria do estágio
psicossocial da personalidade de Erikson permanece influente hoje em nossa compreensão do desenvolvimento humano. De
acordo com a American Psychoanalytic Association, a psicanálise ajuda
as pessoas a se entenderem, explorando os impulsos que muitas vezes não
reconhecem porque estão escondidos no inconsciente. Hoje, a psicanálise
engloba não apenas a terapia psicanalítica, mas também a psicanálise
aplicada (que aplica princípios psicanalíticos a configurações e
situações do mundo real), bem como a neuropsicanálise (que aplica a
neurociência a tópicos psicanalíticos, como sonhos e repressão). Enquanto
as abordagens freudianas tradicionais podem ter caído em desuso, as
abordagens modernas da terapia psicanalítica enfatizam uma aproximação
não crítica e empática. Os
clientes são capazes de se sentir seguros enquanto exploram sentimentos,
desejos, memórias e estressores que podem levar a dificuldades
psicológicas. Pesquisas também demonstraram que o auto-exame utilizado
no processo psicanalítico pode ajudar a contribuir para o crescimento
emocional a longo prazo.
Pressupostos da psicanálise
Em
resumo, Freud acreditava que as pessoas podiam ser curadas tornando
conscientes seus pensamentos e motivações inconscientes, obtendo assim
percepção. O objetivo da terapia psicanalítica é liberar emoções e
experiências reprimidas, isto é, conscientizar o inconsciente. É ter uma experiência catártica, de cura, para que a pessoa pode ser ajudada. Psicólogos psicanalistas veem problemas psicológicos como enraizados na mente inconsciente. Os sintomas manifestos
são causados por distúrbios latentes (ocultos). Causas típicas incluem
problemas não resolvidos durante o desenvolvimento ou trauma reprimido. O
tratamento se concentra em trazer o conflito reprimido à consciência,
onde o cliente pode lidar com isso.
Como podemos entender a mente inconsciente?
A psicanálise, além de ser uma teoria, é uma terapia. Esse estudo é comumente usado para tratar depressão e transtornos de ansiedade. Na
psicanálise como terapia, Freud teria um paciente deitado em um sofá
para relaxar e ele se sentaria atrás deste tomando notas enquanto
contava sobre seus sonhos e memórias de infância. A psicanálise seria um processo demorado, envolvendo muitas sessões com o psicanalista. Devido
à natureza dos mecanismos de defesa e à inacessibilidade das forças
determinísticas que atuam no inconsciente, a psicanálise, em sua forma
clássica, é um processo demorado. Isso geralmente envolve de duas a
cinco sessões por semana durante vários anos.
Essa
abordagem pressupõe que a redução dos sintomas por si só é
relativamente irrelevante. Se o conflito subjacente não fosse resolvido,
sintomas mais neuróticos seriam simplesmente substituídos. O analista geralmente
é uma “tela em branco”, revelando muito pouco sobre si mesmo, a fim de
que o cliente possa usar o espaço do relacionamento para trabalhar em
seu inconsciente, sem interferência externa.
Terminologias chave
A
psicanálise envolve diversos termos e idéias diferentes relacionados à
mente, personalidade e tratamento. Em um estudo de caso, o pesquisador
tenta observar muito intensamente todos os aspectos da vida de um indivíduo. Estudando cuidadosamente a pessoa tão de perto, a esperança é que o pesquisador possa entender como a história dessa pessoa contribui para seu comportamento atual. Embora
a esperança seja de que os insights obtidos durante um estudo de caso
possam se aplicar a outros, muitas vezes é difícil generalizar os
resultados porque os estudos de caso tendem a ser tão subjetivos. Para
isso, utiliza conceitos como os que você verá a seguir.
A Mente Consciente e Inconsciente
A
mente inconsciente inclui todas as coisas que estão fora da nossa
percepção consciente. Estes podem incluir memórias da primeira infância,
desejos secretos
e impulsos ocultos. Segundo Freud, o inconsciente contém coisas que
podem ser desagradáveis ou até mesmo inaceitáveis socialmente.
Porque essas coisas podem criar dor ou conflito, elas são enterradas no inconsciente. Embora
esses pensamentos, memórias e impulsos possam estar fora de nossa
consciência, eles continuam a influenciar o modo como pensamos, agimos e
nos comportamos. Em alguns casos, as coisas fora da nossa consciência
podem influenciar o comportamento de formas negativas e levar a
sofrimento psicológico. A
mente consciente inclui tudo o que está dentro da nossa consciência. Os
conteúdos da mente consciente são as coisas de que estamos cientes ou
que podem facilmente levar à consciência.
O Id, o Ego e o Superego
Id:
Freud acreditava que a personalidade era composta de três
elementos-chave. O primeiro destes a emergir é conhecido como o id. O id
contém todos os desejos inconscientes, básicos e primitivos. Ego: O segundo aspecto da personalidade a emergir é conhecido como o ego.
Esta é a parte da personalidade que deve lidar com as exigências da
realidade. Ela ajuda a controlar os impulsos do id e nos faz se
comportar de maneiras que são realistas e aceitáveis. Em vez de nos
envolvermos em comportamentos destinados a satisfazer nossos desejos e
necessidades, o ego nos força a satisfazer nossas necessidades de
maneiras socialmente aceitáveis e realistas. Além de controlar as
demandas do id, o ego também ajuda a encontrar um equilíbrio entre
nossos impulsos básicos, nossos ideais e a realidade. Superego:
O superego é o aspecto final da personalidade para emergir e contém
nossos ideais e valores. Os valores e crenças que nossos pais e a
sociedade inculcam em nós são a força orientadora do superego e se
esforçam para nos fazer se comportar de acordo com essas morais.
Os mecanismos de defesa do ego
Um
mecanismo de defesa é uma estratégia que o ego usa para se proteger da
ansiedade. Essas ferramentas defensivas agem como uma proteção para
evitar que os aspectos desagradáveis ou angustiantes do inconsciente
entrem na consciência. Quando algo parece excessivo ou mesmo inadequado,
os mecanismos de defesa ajudam a impedir que a informação entre na
consciência para minimizar o sofrimento.
Técnicas psicanalíticas
O
psicanalista usa várias técnicas como incentivo para o cliente
desenvolver insights sobre seu comportamento e os significados dos
sintomas, incluindo borrões de tinta, parapraxias, associação livre,
interpretação (incluindo análise de sonhos), análise de resistência e
análise de transferência.
1) Teste de Rorschach
Devido
à natureza dos mecanismos de defesa e à inacessibilidade das forças
determinísticas que operam no inconsciente, a mancha de tinta em si não
significa nada. Ela é ambígua e pouco clara. É o que o paciente lê nela
que é importante. Pessoas diferentes verão coisas diferentes dependendo
de quais conexões inconscientes elas fazem. O
borrão de tinta é conhecido como um teste projetivo, pois o paciente
“projeta” informações de sua mente inconsciente para interpretar a
mancha de tinta. No entanto, psicólogos comportamentais como B.F. Skinner criticaram este método como sendo subjetivo e não científico.
2) Deslizamento Freudiano
Os
pensamentos e sentimentos inconscientes podem ser transferidos para a
mente consciente na forma de parapraxias, popularmente conhecidas como
lapsos freudianos ou lapsos de língua. O deslizamento Freudiano acontece
quando nós revelamos o que realmente está em nossa mente dizendo algo
que não pretendíamos. Um
exemplo disso é quando uma pessoa chama o novo parceiro pelo nome de um
anterior. Freud acreditava que os deslizes da língua forneciam uma
percepção da mente inconsciente e que não havia acidentes. Todo
comportamento (incluindo os deslizes da língua) era significativo (ou
seja, todo o comportamento é determinado).
3) Associação Livre
Uma
técnica simples de terapia psicodinâmica é a associação livre. Nela, um
paciente fala sobre o que quer que venha à mente. Essa técnica envolve
um terapeuta lendo uma lista de palavras (por exemplo: mãe, infância,
etc.) e o paciente responde imediatamente com a primeira palavra que vem
à mente. Espera-se que fragmentos de memórias reprimidas surjam no curso da livre associação. A
associação livre pode não ser útil se o cliente demonstrar resistência e
relutar em dizer o que está pensando. Por outro lado, a presença de
resistência (por exemplo, uma pausa excessivamente longa) geralmente
fornece um forte indício de que o cliente está se aproximando de alguma
idéia reprimida importante em seu pensamento, e que uma sondagem
adicional do terapeuta é necessária. Freud
relatou que seus pacientes associavam ocasionalmente uma memória
emocionalmente intensa e vívida, como se quase revivessem a experiência.
Isso é, como um “flashback” de uma guerra ou uma experiência de
estupro. Uma lembrança tão estressante, tão real que parece que está
acontecendo de novo, é chamada de ab-reação. Se uma lembrança tão perturbadora ocorresse na terapia ou
com um amigo, e a pessoa se sentisse melhor após ela, aliviada ou
limpa, isso seria chamado de catarse. Frequentemente, essas experiências
emocionais intensas forneceram a Freud uma visão valiosa sobre os
problemas do paciente.
4) Análise dos Sonhos
De
acordo com Freud, a análise dos sonhos é “a estrada real para o
inconsciente”. Ele argumentou que a mente consciente é como um sensor,
mas é menos vigilante quando estamos dormindo. Como resultado, as idéias
reprimidas vêm à tona, embora o que lembramos possa ter sido alterado
durante o processo do sonho.
Como
resultado, precisamos distinguir entre o conteúdo do manifesto e o
conteúdo latente de um sonho. O primeiro é o que realmente nos
lembramos. O último é o que realmente significa. Freud acreditava que,
muitas vezes, o significado real de um sonho tinha um significado sexual
e, em sua teoria do simbolismo sexual, especulava sobre o significado subjacente dos temas comuns do sonho.
Aplicações clínicas
A
psicanálise (juntamente com o aconselhamento humanista rogeriano) é um
exemplo de terapia global (Comer, 1995, p. 143). Essas têm como objetivo
ajudar os clientes a produzir uma mudança importante em toda a sua
perspectiva de vida. Isso
se baseia na suposição de que a atual perspectiva desadaptativa está
ligada a fatores de personalidade profundamente arraigados. As terapias
globais contrastam com abordagens que se concentram principalmente na
redução de sintomas, como abordagens cognitivas e comportamentais, as
chamadas terapias baseadas em problemas. Transtornos de ansiedade, como fobias, ataques de pânico, transtorno obsessivo-compulsivo e transtorno de estresse pós-traumático,
são áreas óbvias em que a psicanálise pode ser considerada como
trabalho. O objetivo é ajudar o cliente a chegar a um acordo com seus
próprios impulsos id ou reconhecer a origem de sua ansiedade atual nas
relações da infância que estão sendo revividas na idade adulta. A depressão
pode ser tratada com uma abordagem psicanalítica até certo ponto. Os
psicanalistas relacionam a depressão à perda que toda criança
experimenta ao perceber nossa separação de nossos pais no início da
infância. A incapacidade de chegar a um acordo com isso pode deixar a
pessoa propensa a depressão ou episódios depressivos mais tarde na vida. O
tratamento envolve, então, em encorajar o cliente a lembrar-se dessa
experiência inicial e a desvendar as fixações que surgiram em torno
dela. Um cuidado especial é tomado com a transferência quando se
trabalha com clientes deprimidos, devido à sua grande necessidade de
depender dos outros. O objetivo é que os clientes se tornem menos
dependentes e desenvolvam uma maneira mais funcional de compreender e
aceitar a perda, rejeição ou mudança em suas vidas.
Avaliação crítica da psicanálise
A
terapia psicanalítica consome muito tempo e é improvável que forneça
respostas rapidamente. Por esse motivo, as pessoas devem estar
preparadas para investir muito tempo e dinheiro nesse tipo de abordagem. Trabalhar
com a psicanálise também pode levar as pessoas a descobrir algumas
memórias dolorosas e desagradáveis que foram reprimidas, o que lhes
causa mais sofrimento. Sendo assim, este tipo de terapia não funciona
para todas as pessoas e todos os tipos de transtornos. Fisher
e Greenberg (1977), em uma revisão da literatura, concluem que a teoria
psicanalítica não pode ser aceita ou rejeitada como um pacote. É uma
estrutura completa consistindo de muitas partes, algumas das quais devem
ser aceitas, outras rejeitadas e outras remodeladas para cada caso. Referências Comer, R. J. (1995). Psicologia anormal (2ª ed.). Nova Iorque: W. H. Freeman. Fisher, S., & Greenberg, R. P. (1977). A credibilidade científica das teorias e terapia de Freud. Columbia University Press. Fonagy, P. (1981). Várias entradas na área de psicanálise e psicologia clínica. Freud, S. (1916-1917). Palestras introdutórias sobre psicanálise. SE, 22: 1-182. Freud, A. (1937). O ego e os mecanismos de defesa. Londres: Hogarth Press e Instituto de Psicanálise. Noonan,
J. R. (1971). Reação obsessivo-compulsiva tratada por ansiedade
induzida. American Journal of Psychotherapy, 25 (2), 293. Prochaska,
J. e C. DiClemente (1984). A abordagem trans-teórica: Cruzando as
fronteiras tradicionais da terapia. Homewood, Illinois, Dow Jones-Irwin. Shapiro,
T., & Emde, R. N. (1991). Introdução: Algumas abordagens empíricas
para a psicanálise. Jornal da Associação Americana de Psicanálise, 39,
1-3.
Também pode ser de interesse: O que é Ego: saiba como ele influencia seu comportamento e sucesso Significado dos sonhos: sua importância para a psicologia
Neurolinguística, você usa, mesmo
não sabendo o que é, PNL(Programação Neurolinguística), Programação
Neurolinguística, manual do usuário do cérebro humano.
Um palestrante dirigiu-se a centenas de pessoas e disse:
- Existem dois tipos de pessoas no mundo. As que usam PNL e as que usam PNL(Programação Neurolinguística).
Fez-se um silêncio na plateia, alguns acharam que não haviam entendido,
pois ali havia também pessoas que apenas haviam ouvido falar
superficialmente no assunto.
Então ele repetiu: - Existem dois tipos de pessoas no mundo. As que usam PNL e as que usam PNL.
Mas o que é esta tal de PNL e porque no mundo inteiro se fala tanto
dela? Porque tantas pessoas relatam mudanças de vida através de seu uso?
Qual sua utilidade na prática? Boas perguntas. Vamos procurar
respondê-las.
A Programação Neurolinguística(PNL) é uma ciência, uma espécie de manual
do usuário do cérebro humano e como utilizá-lo para alcançar nossos
objetivos pessoais, familiares e profissionais. Possibilita conhecer a
estrutura do funcionamento da mente e como reprogramá-la através de uma
linguagem que os neurônios possam entendê-lo e colocá-lo em prática.
Serve para entender melhor as pessoas e a nós mesmos e comunicar-se de
um jeito que funciona, para chegarmos onde queremos de uma forma que
seja bom para todos. Tem sido utilizada em escolas do mundo todo, na
prática do dia a dia de advogados, médicos, psicólogos, comerciantes,
vendedores, pais e mães, jovens de todas as idades para obter mudanças
que antes não pareciam possíveis antes. Serve para superar ansiedades,
inseguranças, desenvolver habilidades de relacionamento, negociação e
solução de conflitos. É uma ciência porque estes resultados se repetem
em todos os lugares e cada vez mais. A pessoa aprende a conhecer suas
emoções e seus pensamentos, como e porque reage de determinadas formas e
como ter acesso a novas opções, novas alternativas mais ricas e
significativas em seus relacionamentos, seus negócios e em sua vida como
um todo.
A pessoa percebe como se dá o processo de aprendizagem de conteúdos e
atitudes e como fazer para aprender mais em menos tempo, de maneira mais
fácil e prazerosa. Aprende como usar a linguagem verbal e não verbal e
fazer as perguntas certas para cada tipo de informação omitida e como
fazê-las de maneira que o interlocutor manifeste cooperação ao
responder. Mostra como fazer perguntas e contar histórias com o objetivo
de ampliar a consciência de outras pessoas de maneira que abram a mente
para novos caminhos mais produtivos, com melhores resultados e mais
satisfação. Há meios específicos de funcionar para obter resultados e se
tornar mais eficiente e pode-se aprender isto e aplicar em qualquer
área da vida.
Um professor, por exemplo, poderá identificar como cada aluno aprende
melhor observando o movimento dos olhos, que lhe dão indicações precisas
de como estão processando as informações. Basta escutar uma ou duas
frases para ver com clareza se devem enfatizar para aquele aluno as
informações visuais, ou auditivas ou ainda ligadas às sensações,
sentimentos ou significado. Um professor perceberá que se usar apenas um
de três canais de comunicação, atingirá apenas um certo grupo de alunos
enquanto outro ficará a ver navios porque o professor não usou a
linguagem que eles entendem. Mas um professor que sabe falar todas as
três linguagens será mais eficiente no ensino aprendizagem de qualquer
conteúdo. Um pai ou mãe poderá influenciar mais fortemente e obter a
colaboração de seu filho se usar os recursos que a PNL ensina, pois é
frequente o fato de que três filhos diferentes precisam de um jeito
diferente para que cada um possa entender e ser influenciado da mesma
forma. Se souber chegar do jeito que cada um gosta e entende, as portas
se abrirão com mais facilidade.
Para alguns dizer isto é como falar grego, pois não tem uma experiência
análoga para entender como se processa isto ou tem medo de se
aventurarem no caminho das mudanças pois preferem continuar como estão,
pois se sentem mais seguros num terreno conhecido. Você já comeu manga?
Saberia como explicar como é o gosto de uma manga? Se lhe perguntasse
isto talvez você me respondesse: - Só comendo pra saber. Com a PNL
acontece o mesmo, só se pode saber pela experiência. É como tocar piano.
Você pode ler centenas de livros sobre como se toca piano, mas só vai
saber mesmo no momento em que sentar e colocar seus dedos nas teclas e
experimentar, desenvolvendo aos poucos suas habilidades. Ler apenas pode
dar uma ideia distante do que é isto. Uma única experiência de mudança
lhe possibilitará uma compreensão centenas de vezes mais ampla. A crença
positiva abrea as portas, pois atua sobre as capacidades e o
comportamento, tornando-o criativo. É preciso acreditar que a mudança é
possível, e que pode acontecer consigo, como acontece com os outros. E
se permitir trilhar o caminho.
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Dr. Deroní Sabbi - palestrante internacional, coach, psicólogo e escritor.
Publicado por: Deroní Sabbi
O texto publicado
foi encaminhado por um usuário do Brasil Escola, através do canal
colaborativo Meu Artigo. Para acessar os textos produzidos pelo site,
acesse: http://www.brasilescola.com.
Para
lá da cor, há a intensidade desta, porque era proporcional à dor, ao
desdém com que sentiu os olhos do mundo, e à coragem com que devolveu o
olhar.
Por DIOGO VAZ PINTO, do I Online
Mulher
e negra. Para começar nunca foi pouco. E se o gênio tantas vezes mostra
apreço pelas piores circunstâncias, há algumas décadas esta era das
combinações mais problemáticas nos EUA. Nina Simone aprendeu cedo com o que contava.No
seu primeiro recital, tinha ela dez anos, viu os pais serem retirados
dos seus lugares na primeira fila para que um casal branco os ocupasse.
Estava longe, naqueles dias, da presença ameaçadora da temperamental e
imprevisível artista que de um momento para o outro podia ir muito para
lá do tom desafiador e ofender ou até ser violenta com o público.
A
coisa chegaria a tal ponto que o dono de um dos clubes onde atuava com
alguma regularidade preferiu contratar seguranças para proteger os seus
clientes dos acessos explosivos que tanto podiam fazê-la abandonar o
palco ou virar-se em busca de um adversário. Mas daquela vez, na
biblioteca local de Tryon, na Carolina do Norte, era ainda a menina que
se limitou a levantar-se do piano para anunciar que se a queriam ver
tocar os seus pais deviam voltar à primeira fila. Alguns dos brancos que
estavam na plateia acharam graça, soltaram algumas risadas, mas os seus
pais foram devolvidos aos lugares. No dia seguinte, segundo revela no
seu livro de memórias de 1991, “I Put a Spell on You”, sentiu-se “como
se tivesse sido esfolada, e cada golpe, real ou imaginário, rasgou a
frio. Mas, a pele voltou a crescer um pouco mais forte, um pouco menos
inocente, um pouco mais negra”.
Ela nunca se alheou de um sentido
de dever em relação à população negra e até aos dias de hoje o seu
exemplo continua a servir de inspiração, tendo ficado célebre a frase em
que defendeu a obrigação de um artista refletir o espírito do seu
tempo. Negra, mas de um tom na paleta que torna pertinente a questão do
grau de negritude, com o nariz bastante largo, lábios maiores e o cabelo
armado, a Simone bastava a altivez com que se erguia e enfrentava os
olhares para bater de frente com o ideal de beleza que a sociedade esculpe e monumentaliza a todo o momento.
Daquilo
que pensava àquilo que se permitia dizer não parecia haver nenhum
fosso, e das suas afirmações ao poder da voz, ela foi a corajosa
antítese do que a sociedade espera de uma mulher negra.
“Para mim,
nós somos as criaturas mais belas em todo o mundo… os negros. Acredito
nisto em todos os seus sentidos”, disse. Mas se a sua negritude assume
uma importância a vários níveis, a determinação com que envergava a
própria pele não era apenas um desafio ao mundo, mas era também um
escudo e até, algumas vezes, uma máscara.
Com grande custo
pessoal, a sua coragem conta a história de uma mulher a quem nunca
deixaram esquecer como a aparência de uma pessoa, ao provocar um
contraste, se torna um desafio, e pode ser subtilmente criminalizada.
Mesmo nos dias que correm, de um negro espera-se uma personalidade que a
todo o momento vigie o seu temperamento, abandone qualquer postura
confrontacional. Como notou James Baldwyn – um dos mentores de Nina e o
escritor a quem é reconhecido o mérito de ter conseguido contar aos
brancos o que pensavam e sentiam os negros norte-americanos, aqueles que
sentem ainda o tom da pele como um estigma, algo que não os deixa
esquecer de que descendem de escravos – ao longo da história de um país
reconhecido pela sua prepotência e beligerância, “a única vez em que a
não-violência foi elogiada foi quando eram os negros a praticá-la”.
O papel de Nina Simone na
história tem sido questionado numa altura em que revelações novas sobre
a sua vida íntima expõem novos ângulos de uma vida que empresta à lenda
um subtexto complexo e rico. O dom quase sobrenatural que se revelou
quando começou a sentar-se ao piano, com apenas dois anos, aliado à
formação clássica que recebeu depois de um casal de brancos se ter
oferecido para pagar-lhe lições – deslumbrado ao vê-la acompanhar o coro
comunitário quando tinha apenas seis anos –, serviu-a como a ninguém
antes ou depois dela na hora de combinar a sedução da arte com a
urgência do protesto.
Beleza e terror encontraram através do seu
talento um inventivo e arrebatador meio de fusão. Simone estava tão à
frente do seu tempo que os próprios críticos de jazz reagiram com
perplexidade perante uma voz que ia uns passos além do horizonte que já
os confortava. Uma voz que não tinha o alcance ou a multitude de
registos das de outras cantoras, mas que tinha sido moldada pela dor e
humilhação que o mundo lhe causou, e sabia como mais nenhuma convocar em
palco os demónios de uma cultura que precisa ser embalada, levada a
sonhar para se deixar confrontar com os seus persistentes preconceitos, a
sua culpa pelo inferno construído diariamente contra todos os que
continuam a ver-se sentados nos bancos de trás da humanidade.
Passados
tantos anos, mesmo depois da sua morte em 2003, o tom da pele de
Simone, as suas feições e cabelo continuam a ser relevantes não porque
ela o quis, mas porque o mundo quis envergonhá-la por se parecer como
parecia. A força do seu caráter acabou por vingar-se orgulhosamente do
desprezo com que era olhada. E é por isto mesmo que tantas mulheres
negras, e não só, expressaram abertamente a sua indignação e raiva
quando Hollywood anunciou planos em relação a um filme baseado na vida
deste ícone cultural negro.
Não sendo possível separar a força
daqueles traços físicos nem a sua tez particularmente escura, e que
carrega o lado africano na sua identidade afro-americana, a pergunta que
se impunha era se a indústria cinematográfica tinha liberdade para
escolher uma atriz com uma compleição mais ‘agradável’ para a
generalidade do público? Não seria isso uma tentativa de apropriação do
legado de Nina Simone apagando precisamente o sentido em que este se
mantém atual e mais doloroso? A escolha de Zoe Saldana,
uma atriz negra de pele clara e feições tão ao gosto do padrão de
beleza europeia (dado falsamente como universal) não traía precisamente a
denúncia da injustiça de que a cantora se tornou uma porta-voz, e
contra um mundo que continua a servir-se de nuances para castigar a
diferença?
O filme “Nina” acabou desfeito em pedaços antes mesmo da estreia, prevista para abril. Foram repescados termos como blackface,
aludindo aos atores brancos que, desde meados do século XIX, pintavam a
cara de preto e exageravam o tamanho dos lábios para servir ao público o
estereótipo dos negros.
O debate ganhou força com as primeiras
imagens que surgiram da estrela de descendência dominicana encarnando
Simone. Saldana tinha já protagonizado dois mega-blockbusters – “Avatar”
(2009) e “Guardiães da Galáxia” (2014) – em que representava criaturas
alienígenas de pele azul e verde, mas, ironicamente, foi ao tentar
passar por uma mulher negra que atraiu as piores críticas. Não
exatamente pelo seu desempenho, mas por retirar a possibilidade de uma
atriz que tenha sofrido na pele algo semelhante ao que sofreu Simone
pudesse desempenhá-lo.
Foi Ta-Nehisi Coates – o jornalista
norte-americano que assumiu enorme projeção no atual debate sobre a
forma como os negros continuam a ter todos os motivos para viver com
medo no país – quem, num artigo na revista “The Atlantic”, denunciou a
hipocrisia da escolha dos produtores do filme “Nina”, notando que “há
algo de profundamente vergonhoso e doloroso no facto de mesmo nos dias
de hoje uma jovem Nina Simone se ver discriminada no casting de um filme
sobre a sua vida”.
Carl Gustav Jung (1875-1961) foi um psiquiatra suíço,
fundador da escola da Psicologia Analítica. Desenvolveu os conceitos da
personalidade extrovertida e introvertida, de arquétipos e do
inconsciente coletivo.
Carl Gustav Jung nasceu em Kesswil, na Suíça, no dia 26 de junho de
1875. Filho de um pastor protestante, com quatro anos, mudou-se com a
família para a Basiléia, na época, um grande centro cultural da Suíça.
Formação
Jung desistiu da carreira eclesiástica para estudar filosofia e
medicina na Universidade da Basiléia, onde ingressou em 1895 e logo
despertou o interesse pelos fenômenos psíquicos. Concluiu o curso em
1900.
Interessado nos problemas de transtornos de conduta, seguiu os
ensinamentos do psicólogo e neurologista francês Pierre Janet no
hospital de la Salpêtrière de Paris.
Em seguida, trabalhou como assistente do psiquiatra Eugen Bleuler, na
Clínica Bugholzli, em Zurique, médico que se tornou célebre pelos
estudos da esquizofrenia. Em 1902, Jung obteve o doutorado na
Universidade de Zurique, com a dissertação “Psicologia e Patologia dos
Fenômenos Chamados Ocultos”.
Jung e Freud
Em 1904, Jung montou um laboratório experimental onde iniciou a
aplicação de sua tese para o diagnóstico psiquiátrico, através da
associação das palavras. Identificou conteúdos psíquicos reprimidos para
o qual denominou de “complexo”, estudo esse muito explorado por Freud.
Em 1905 tornou-se livre docente de Psiquiatria na Universidade de
Zurique. Em 1907 iniciou seu contato com Freud. Em 1908, juntos com
Adler, Jones e Stekel, se reuniram no primeiro Congresso Internacional
de Psicanálise.
Dois anos mais tarde, o grupo fundou a Sociedade Psicanalítica
Internacional, da qual Jung se tornou o primeiro presidente e
posteriormente criou sucursais em vários países.
A publicação, em 1912, de seu livro Transformações e símbolos da Libido significou o início de suas divergências com Freud, que culminariam com o afastamento de Jung do movimento psicanalítico.
Na obra, Jung contesta os princípios da análise de Freud sobre a
grande influência que os traumas sexuais deixavam na vida humana. Por
outro lado, Freud não admitia que os fenômenos espirituais fossem usados
por Jung como fonte de estudos.
O relacionamento de Jung com Freud acabou de vez quando Jung publicou Psicologia do Inconsciente (1911) no qual faz alguns argumentos contra as ideias de Freud.
Psicologia Analítica
Carl Gustav Jung procurava entender o significado simbólico dos
conteúdos do inconsciente, a fim de fazer a distinção entre a psicologia
individual e a psicanálise, deu à sua disciplina o nome de “Psicologia
Analítica”.
Jung seguiu seu caminho e destacou-se no uso de técnicas de estudos
dos desenhos e dos sonhos. Ambos relacionados ao inconsciente humano.
Em Tipos Psicológicos (1920), Jung observou que conforme a
energia vital se dirigisse para o interior ou para o exterior,
resultaria no aparecimento de um dos dois tipos psicológicos
fundamentais: a introversão ou a extroversão.
Outros conceitos centrais da psicologia analítica são os complexos (conjunto de representações psíquicas cuja influência se manifesta sem nenhum controle do eu) e o do inconsciente coletivo.
Teoria dos arquétipos
Segundo Carl Jung, as sociedades humanas participam de arquétipos
comuns a todas elas, que se expressam através dos mitos, da arte, da
religião, dos sonhos e também da loucura e das doenças psíquicas.
Buscando determinar a natureza dos arquétipos, Jung penetrou numa
aventura espiritual que foi considerada, em algumas ocasiões, próxima do
misticismo, como destacou nos livros: Psicologia e Religião (1939) e Psicologia e Alquimia (1944).
Carl Gustav Jung faleceu em Zurique, na Suíça, no dia 6 de junho de 1961.
Possui
bacharelado em Biblioteconomia pela UFPE e é professora do ensino
fundamental. Desde 2008 trabalha na redação e revisão de conteúdos
educativos para a web.
Jacques Lacan é um dos principais
nomes no estudo e na intriga da psicanálise no mundo da ciência e da
própria filosofia, estando envolvido nas correntes de intelectuais que
nasceram e viveram em França nos anos 50 e 60. Controverso e diverso no
seu pensamento, o seu trabalho conceptual e investigativo chegou aos
ouvidos e olhos de vários, influindo até naqueles que hoje se afirmam
como os principais pensadores da atualidade. A sua visão da psicanálise é
voltada para um regresso (crítico) aos postulados de Sigmund Freud, mesmo sem descartar a linguística de Ferdinand de Saussure e a filosofia de Georg Friedrich Hegel.
Dos seus estudos, ensaios e palestras, nasceu o próprio Lacanismo, onde
está consagrada a sua visão científica e filosófica da psicanálise, do
estudo do ser e da própria realidade. A influência (e as diferenças) de Freud
Jacques Marie Émile Lacan nasceu a 13 de abril de 1901, na cidade
francesa de Paris. A sua formação académica e profissional decorreu
sempre à luz dos documentos originais onde constam os conceitos e as
propostas do austríaco Sigmund Freud. Essa abordagem levou-o a discordar
da visão tripartida da mente freudiana, procurando voltar-se para a teoria da relação dos objetos
na teoria da psicanálise, influenciada pela visão psicodinâmica
(introduzida também por Freud e que estuda as forças psicológicas que
influenciam o comportamento e o crescimento humano).
O foco vai também para o desenvolvimento infantil, embora se
concentre na construção da psique na relação com os outros, em essencial
com a família. Isto formula, assim, em grande parte a forma como se
relaciona com a sociedade e os seus diversos constituintes. Um exemplo
concreto disto é um adulto que tenha experienciado situações negativas
na sua infância e que espera que se repitam na sua idade adulta. Estas
imagens tornam-se os tais objetos, que, de forma
inconsciente, acompanham o ser humano até à plena fase do seu
amadurecimento. Os objetos acabam por funcionar como uma espécie de
previdentes quanto àquilo que o outro irá proporcionar ao eu. Estes
representam, assim, imagens apreendidas dos agentes educacionais de cada
sujeito, e influenciam indelevelmente o presente e o futuro.
Também à luz disso, Lacan analisou o próprio conceito de objeto transitório, popularizado pelo inglês Donald Woods Winnicott,
consistindo num que é capaz de transmitir conforto em situações
perturbadoras ou instáveis às crianças. Acredita-se que é desta fixação
pelo elemento que traz paz num momento de agitação que tem raízes o
fetichismo. Estes conceitos foram questionados, assim como todos aqueles
que foram estudados no período entre 1930 e 1980, e que se cruzaram com
as próprias visões do francês.
Assim, Lacan, e partilhando a base conceptual de Freud, começa por
refutá-la quando assume a própria interpretação dos sonhos como uma
constituição subjetiva, estando o inconsciente disposto como uma língua.
Assim, assume o próprio inconsciente como uma formação complexa e
sofisticada, comparando-se à própria consciência. No entanto, o ser,
perante a constituição da inconsciência, acaba por estar impedido de
estabelecer pontos de referência perante crises, fobias ou traumas e a
respetiva recuperação.
Para além disso, e quanto ao Complexo de Édipo, o
francês não obsta à presença deste no centro da psicanálise, embora o
percecione como o início do entendimento da criança de uma ordem
simbólica. Nesta, o complexo acaba por ser derrubado mesmo com o
crescente entendimento daquilo que a simbologia representa, a partir da
mente que possui e da sua utilização, tanto pelos estruturados
pensamentos como pelas refreadas emoções. O estado do espelho
O primeiro grande conceito introduzido por Lacan no seio da psicanálise foi este “estado do espelho“,
proeminente na formação do eu no âmbito do estudo e da experiência
psicanalítica. Providencial na infância, este estado diz respeito a um
fenómeno no qual a criança se torna consciente daquilo que é, à luz da
dualidade corpo-imagem, responsabilizando-se pelos primeiros conflitos
no seio desta. Um destes é precisamente a alienação,
onde se confrontam a experiência emocional e a aparência da criança, e
onde os primeiros “méconnaissances” se vão dando, em que o imaginário
tem as suas próprias formulações. Esta etapa é, também, a primeira da
formação do ego, através da objetificação do corpo. O choque entre os
movimentos ainda desordenados com a imagem que é observada no espelho
acaba por desencadear uma fragmentação na própria
interpretação que alcança o ego, em que a identificação com aquilo que
vê é responsável pela superação desta problemática. No entanto, a
comparação que vai estabelecendo com a imagem consolidada da mãe ou do
pai – o outro – pode também gerar alguma ira no seio da própria criança.
No fundo, o “estado do espelho” é decisiva para aquilo que é a tomada
de conhecimento da criança com o seu corpo e a eventual identificação
com a sua estrutura física, levando à formação do sentido integrado e
completo do eu. O outro
O francês, na conceção do outro, diverge da noção que Freud empreendeu, e aproxima-se daquela que o filósofo alemão Georg Hegel apregoou. O piscanalista destrinçava dois tipos de outro, em que um era o grande (A) e outro o pequeno
(a). Esta diferença permite um melhor posicionamento do eu na
realidade, em relação àquele que é o outro em concreto. Assim, e
enquanto o grande representa o que se transcende ao ilusório e que não
se assimila através da identificação, o pequeno é somente uma reflexo
projetado pelo ego, remetido ao imaginário. O discurso constrói-se,
desta forma, no outro, podendo assumir-se secundariamente como um
assunto enquanto se assume em pleno discurso como tal. O discurso
linguístico, assim como a própria linguagem, partem de um lugar fora do
próprio consciente e constroem-se a partir do inconsciente, lugar em que
o outro se cria e existe. Esta noção referencial está numa cena que
transcende aquilo que é visível e plenamente cognoscível, estando nas
estruturas assimiladas e recriadas. Este plano linguístico cruza-se com o
que o denominado “pai” da Linguística, o suíço Ferdinand de Saussure,
conceptualiza. Ainda sobre o outro, é a mãe a primeira a assumir esse
papel, a primeira a ouvir os choros do recém-nascido, embora seja também
ela parte do complexo de castração, no qual a criança
descobre que falta sempre um significante para que o outro se se molde
na totalidade. Esta incompletude, analisada numa linguagem simbólica e
semiótica, leva a que se denomine de “Outro barrado”, que impede que
esse outro vá para além daquilo que o ego perceciona. O falo
Este ponto da psicanálise de Lacan é aquele que tem gerado mais
curiosidade no seio da comunidade feminina, em especial nas teóricas
feministas. O que o francês propôs foi articular o haver do homem com o
ser da mulher, estando a estas verbalizações associada a presença e o conceito do falo.
No entanto, as críticas são permanentes, no sentido em que a tónica do
estudo psicanalista volta a girar em torno do falo. Apesar disso, outras
pensadoras não descartam a abertura para a discussão dos
posicionamentos igualitários e a problematização dos que são impostos
pela história e pela cronologia da ciência que Lacan suscita. As três ordens da psicanálise
O europeu, de forma a poder estruturar com mais minúcia e coerência o
seu estudo dentro da própria psicanálise, apresenta três ordens nas
quais o indivíduo surge como sujeito ativo e como potencial objeto de
estudo. Tudo começa pelo imaginário, onde se reúnem
todas as imagens criadas e expectativas associadas. Esta dimensão
cruza-se com o supramencionado estado do espelho e que alimenta também o
pendor narcisista do eu, estimulado pelo ego. As representações geradas
na mente, essencialmente de cariz visual, vão de encontro às estruturas
do simbólico, levando à criação da notação linguística.
Lacan considera que, no lado imaginário, a linguagem que prevalece é a
mesma que acaba por deturpar aquilo que o outro é, estando associado à
relação intrapessoal com o corpo e com a mente. Assim, o simbólico
permite descodificar e regularizar aquilo que o imaginário produz,
tornando possível uma análise cuidada e precisa quanto à verdadeira
identificação do sujeito consigo mesmo. Algo que sustenta esta noção é
também a existência dos conceitos de lei e de estrutura, impossíveis de
se conferirem sem a própria linguagem, conceitos-chave para regulamentar
aquilo que são os desejos internos e os lapsos em relação ao outro.
O lado simbólico acaba por ser o reflexo da cultura em que o ser
humano está inserido, ao contrário do reflexo da natureza que o
imaginário é. Elementos primordiais do simbólico são a morte e a lacuna,
providenciais naquilo que é a deteção de necessidades ou tendências
básicas e que podem estar mais ou menos ligadas ao imaginário, sendo que
alterações nas estruturas simbólicas não afetam as formulações em bruto
deste. Por último, existe o real, onde emana o
verdadeiro e o ser-em-si. No entanto, para Lacan, isto não é sinónimo de
realidade, estando fora daquilo que são os padrões simbólicos. O real
é, sim, um plano onde não existem ausências, estando sempre no seu lugar
e não desencandeando as possibilidades da ausência e da inexistência. O
gaulês considera o real como “o impossível”, porque é inatingível pela
imaginação e incapacitado de ser integrado pelo simbólico. Desta forma,
torna-se de impossível alcance, e é precisamente o objeto usado pela
ansiedade, ao qual o sujeito não consegue associar palavras nem
categorias e, por conseguinte, gerando essa apoquentação. O desejo
Para a noção de desejo, Lacan resgata a influência do filósofo alemão
Hegel e salienta a força continuada que está implícita no desejo, que
se localiza no inconsciente e que se torna na principal temática da psicanálise.
Tomando como objetivo desta o reconhecimento do desejo por parte de
cada um e a verdade subjacente a este, importa, na visão do
psicanalista, dar ao desejo uma existência própria, passível de ser
identificada e materializada para um discurso linguístico. No entanto, o
próprio discurso não consegue inteirar-se de toda a verdade do desejo,
deixando sempre algo mais ou menos do que realmente o desejo é.
No entanto, é possível diferenciar o desejo da necessidade e de procura,
sendo que a necessidade está ligada ao instinto biológico que depende
do outro para ser satisfeita, vindo a procura alicerçar essa ligação
entre a biologia e a entrada do outro no processo da satisfação da
própria necessidade. O desejo, por sua vez, não procura satisfação ou
amor, mas precisamente a diferença entre ambos, na separação entre a
satisfação e o amor de proveniência externa. Desta forma, é impossível
satisfazer o desejo, estando em constante pressão e concretizando-se
somente na sua reprodução como o próprio desejo reconhecido e
identificado. As manifestações deste são nomeados como os ímpetos, desencadeados a partir da relação do eu com uma lacuna que existe no seu interior, e que serão explorados de seguida.
Após a delimitação daquilo que é o desejo, a sua noção em concreto é desejar o desejo do outro (Désir de l’Autre),
sendo que o objeto em si é o próprio objeto desejado pelo ser humano e,
logo, por reconhecimento. Aquilo que, segundo Lacan, torna esse objeto
desejável é mesmo ser pretendido por outros. Estando o próprio desejo no
campo do outro, está descortinada a razão pela qual ele é inconsciente. O ímpeto
Num dos pontos em que concorda com Freud, Lacan afasta o ímpeto do
instinto, porque o primeiro nunca pode ser satisfeito e permanece como
uma espécie de rota para o sujeito seguir até à consolidação do desejo
em redor de um dado objeto. Os ímpetos, todos eles de cariz sexual,
constituem as bases culturais e simbólicas do desejo, sendo composto
pela pressão, pelo fim, pela fonte e pelo objeto, o circuito de condução dos próprios ímpetos. A linguística volta a ser importada e a trazer três vozes na estruturação do circuito, havendo a voz ativa (o ver), a reflexiva (o ver a si mesmo), e a passiva
(ser visto). Apesar da presença desta última, o ímpeto é praticamente
todo ele ativo, sendo o circuito a única via disponível de ir para além
do princípio do mero prazer. Contudo, Lacan volta a divergir de Freud em
pontos cruciais, defendendo que ímpetos incompletos não conseguem obter
uma organização consolidada, sendo que a sua parcialidade concerne
somente uma parte da impulsão sexual. Desta forma, representam apenas
aquilo a que se chama de “jouissance” (fruição).
Nesses ímpetos parciais ou incompletos, o gaulês distingue quatro tipos, sendo eles o oral (a zona erógena são os lábios, em relação aos seios), o anal (o ânus, em relação ao expelir das fezes), o escópico (os olhos, em relação ao que vê) e o invocatório
(os ouvidos, em relação ao que é dito). Enquanto os primeiros dois
derivam daquilo que se definiu como procura, os restantes provêm do
desejo. O dualismo que se afasta do psicanalista austríaco (ímpetos
sexuais e ímpetos do ego ligados à sobrevivência) mas também é
apologista daquilo que é uma ligação entre o imaginário e o simbólico.
Lacan conclui com a noção de que todas as pulsões são de morte, por
serem excessivas, destrutivas e repetitivas. Outras considerações
O psicanalista teceu algumas teorias quanto a várias temáticas, entre
elas sobre o teor da verdade. Desta feita, Lacan olhou para esta como
algo que se vai descobrindo através das estruturas e da devida
identificação e orientação do objeto em estudo. Nisto, acaba por beber
daquilo que é a noção de paradigma proposta pelo norte-americano Thomas Kuhn,
e acredita na existência de uma constelação de valores, técnicas e
crenças que se encontra no seio de cada comunidade. Este corpo permite
uma aproximação ao que é a verdade, questionando e visualizando a
verosimilhança dos diferentes símbolos.
No plano meramente clínico, apresentou a perspetiva de “sessão de
psicanálise de tempo variável”, flexibilizando consoante os diferentes
casos que lhe passavam pelas mãos e abdicando do previamente fixo de
cinquenta minutos (acredita-se que foi uma duração estipulada pelo
próprio Freud). O fundamento dessa alteração consistiu em sessões que se
alargavam e que eram interrompidas em momentos fulcrais da própria
análise do psicanalista. Isso também lhe permitiu analisar mais casos,
mais do que quaisquer seguidores da doutrina freudiana.
No que toca ao seu volume escrito, este foi compilado em 1966 pelo francês Jacques-Alain Miller e a própria obra (“Écrits“)
tornou-se numa das cem mais influentes do século XX, para o jornal Le
Monde. Nos anos 70, a mesma obra foi dividida em dois volumes e parte
dela foi traduzida para o inglês – por Alan Sheridan – e
publicada em 1977. Para além disso, também no jornal académico
“Lacanian Ink” foram divulgados alguns dos postulados do francês, em
plena esfera académica norte-americana. O registo é sobejamente
diferente daquele que foi empreendido nos seminários e nas palestras
dadas, gerando até alguma polémica. Para além disso, torna-se algo
impercetível pelas constantes referências a Hegel e ao também filósofo
mas franco-russo Alexandre Kojève (estudou a relação
entre o mestre e o escravo, com ligações ao estado do espelho e o papel
do outro neste), e por uma prosa que se fecha muito nos conceitos
científicos e psicoanalíticos.
Apesar do extenso trabalho de Lacan, interessa realçar que parte do
seu contributo é mais denotado nas artes e nas humanidades, nomeadamente
na literatura e na filosofia (o próprio papel do Outro é amiúde
explorado nesta área do saber). Em termos de legados institucionais,
destacam-se a escola de Ljubliana, na Eslovénia, e algumas sociedades de
psicanálise que incorporam as suas ideias, tanto no Reino Unido como na
própria América do Norte. Jacques Lacan foi, assim, um dos psicanalistas que,
não obstante partilhar pontos de partida com Sigmund Freud, assumiu
várias dissensões em relação às suas ideias. Ao inconsciente, conferiu
uma outra estrutura; ao desejo, uma nova abordagem; ao ser humano, uma
nova perspetiva. A psicanálise tomou uma lufada de ar fresco, apesar de
não estar imune a críticas vindas dos vários foros da sociedade. Porém, o
repertório que os diferentes psicanalistas trazem para a realidade, que
os lê, os interpreta e lhes atribui significados e contextos, é
seguramente valioso e impossível de passar incólume. Lacan atendeu a
pontos importantes e deixados em aberto e, mesmo que não tenha
conseguido respostas indiscutíveis a problemas intemporais, não se
coibiu de trazer a filosofia, a antropologia e a linguística como
disciplinas capazes de secundar este trabalho. De Freud, muitos
partiram, mas poucos aqueles que, sem concordar, permanecem como pontes
para novas fontes.
Da janela vejo o silêncio mórbido das ruas. Encontro-me frente a frente à tv. Observo o carnaval.
Um surto psicótico explode!... E as almas decaídas aprisionam os possessos Endiabrando os corpos em estereótipos catatônicos Que são conduzidos aos infernos.
É carnaval!...
A maioria dos mortais se desequilibram Enquanto atentos outros usurpam o transe infernal. E tudo acontece nesse instante: Cenas macabras desfilam em sangue e mortes... Dessa forma a infelicidade aumenta: Torturas, toxicodependência, e melancolia.
É carnaval!...
Das prisões às avenidas Favelas e nobres bairros... É um urro agonizante de desrealizações. E, nesta fúria satânica e neutralizante, Onde tudo se confunde, Vê-se alegorias, fantasias, arte, circo e palhaçadas!... Religião, zoada e perturbação musical.
Sim, é carnaval!...
Nesses instantes esquizofrênicos Ninguém para nada serve A não ser para lambuzar-se em merda.
Vai-se indo mais um carnaval!...
E neste frenesi torporizado Entre o real e o imaginário, Os manipuladores da emoção Deformam a realidade. Vendem felicidade e beleza. Pregam em tudo, pureza e simplicidade Enquanto a turba agitada e enlouquecida Agita-se em movimentos bruscos Ouvindo um som que vem dos infernos Criando a sinfonia perturbadora das notas musicais.
Um dos mais famosos dos seus anti-heróis foi
Rodion Raskólhnikov, que defendia a tese de que o homem extraordinário
tinha direito ao crime
10 mar 201614h27
Praticamente nenhuma das obras maiores do romancista russo Fédor
Dostoievski, falecido em 1881, visava apenas o entretenimento do seu
público leitor. Ao contrário. Seus livros, densos, estão repletos com
personagens-ideia, tipos humanos dos mais diversos escalões sociais que
exprimem não somente sentimentos, como as teorias sócio-políticas e
culturais que sacudiam a Rússia do século XIX. Um dos mais famosos dos
seus anti-heróis foi Rodion Raskólhnikov, figura central da novela Crime e Castigo, publicada em 1866, que defendia a estranha tese de que o homem extraordinário tinha "direito ao crime".
O assassino intelectual Raskolhnikov
Foto: Reprodução
Os embates ideológicos da Rússia Czarista
Um dos mais intensos debates em que a inteligência russa do século XIX
se engajou tratava de definir qual destino estava reservado ao grande
império dos czares. De um lado alinharam-se junto a Alexander Herzen, um
aristocrata liberal que emigrara para a Europa em auto-exílio, os que
defendiam o princípio de que a Rússia devia seguir as pegadas dos países
europeus mais avançados, importando deles não somente os direitos de
liberdade de pensamento e expressão (inexistentes no regime russo), como
também suas instituições políticas (fosse a monarquia constitucional de
modelo britânico ou a da republica francesa). O programa deles –
denominados por isto mesmo de zadponiki, Ocidentalistas, – de certo modo
era dar continuidade a política adotada muito tempo antes pelo czar
Pedro o Grande, que reinou de 1682 a 1725 e via o porvir da Rússia
ligado à Europa e não à Ásia.
Este posicionamento os conduziu de algum modo a menosprezar as
tradições e as instituições russas, tais como o Czarado e a Igreja
Russo-Ortodoxa, baluartes do atraso e da miséria russa frente aos demais
europeus.
Os Ocidentalistas foram desafiados pelos Eslavófilos (particularmente
Aksakov, Samarine, Khomyakov, Kireievski, Piotr Tchaadaev e Nikolai
Danilevski), intelectuais politicamente ultraconservadores que negavam
haver grandes virtudes nas culturas não-russa e que acreditavam ser a
nação dos czares portadora de um mensagem messiânica-cristã que não
deveria ser contaminada por idéias ou doutrina importadas do
estrangeiro.
Ao contrário, as virtudes russas - consolidadas pela existência da
autocracia e pelo Santo Sínodo da Igreja Ortodoxa - deviam ser exaltadas
e não espezinhadas como faziam os Ocidentalistas, (para eles,
intelectuais alienados distantes do povo russo).
Uniam-se ainda os Eslavófilos no seu desprezo pelo direito como
contrato, o desprezo pelo liberalismo, o desprezo pelo ocidente, o
horror pelo capitalismo. Sentiam-se os escudos da cultura eslava contra o
mundo latino-germano que imperava nas fronteiras européias da
Rússia.
O povo russo
Até a percepção que tinham dos habitantes das vastas estepes os
separava. Os Ocidentalistas, em geral, viam-nos como ‘violentos e
selvagens’, uma massa de gente bronca e de poucas luzes, isolada há
séculos numa redoma medieval, apartada de seus vizinhos da Europa e que
deveria ser integrada nos benefícios da civilização.
Para seus rivais, mesmo que o povo russo não fosse um poço de virtudes,
mantinha traços de pureza ainda não contaminada pelos efeitos mais
nocivos da modernidade. A aldeia camponesa composta pela izba, a morada
do mujique russo, era o exemplo da vida coletiva e fraterna exaltada
pelo cristianismo. Em cada vilarejo ou aldeia russa ‘havia tesouros a
serem protegidos’.
Permitir que o capitalismo avançasse sobre eles ou que os
revolucionários do movimento Narodnaia Volia ( A Vontade do Povo)
instigassem os camponeses na implantação de uma sociedade socialista,
causaria a destruição da natureza russa. Daquilo que fazia a Rússia ser
diferente das demais. Para evitar isso, era fundamental a manutenção da
aliança entre o Kremlin, a morada do czar, e a Sobor, a Catedral(*)
(*) Longe de se encerrar com o fim do século XIX ou a queda do regime
czarista em 1917, o confronto entre Ocidentalistas e Eslavófilos
prosseguiu no regime comunista, sendo que os primeiros se fizeram
representar por Leon Trotski e os segundo por Joseph Stalin, no embate
que se deu por ocasião daqueles que defendiam ‘a revolução permanente’ e
os que se alinharam a Stalin na política do ‘socialismo num só país’.
Cristianismo contra o egoísmo utilitário
Dostoievski que, quando escritor iniciante, manifestara simpatias pela
causa - o que o levou, em 1849, a uma pesada condenação de dez anos na
Sibéria, a kátorga - mudara de posição com os anos. Na prisão,
experiência que relatou no livro Recordações da casa dos mortos, percebera o enorme abismo que separava a gente miúda delinquente da pequena classe dos instruídos.
Tornou-se um defensor do eslavismo e da Doutrina do Pótchvenitchetsvo,
da necessidade dos intelectuais de se reaproximarem do povo, de sentir
de perto os dramas que lhe afligiam, entendendo que as ideias trazidas
de fora nada de bom faziam pela paz social da Rússia.
O niilismo, então em moda entre os estudantes e os raznochinets
(intelectuais radicais da década de 1860), era algo extremamente nocivo,
visto que injetava o veneno da subversão em veias exaltadas.
O resultado da adesão às teorias estrangeiras, particularmente às
socialistas, é que os jovens instruídos passavam a devotar um ódio cego
ao Czarado e à cultura russa, tida como inferior. Somente uma retomada
da fé nos valores do cristianismo ortodoxo e da originalidade do povo
russo, assegurava o escritor, poderia deter os efeitos nefastos das
novas teorias que não cessavam de penetrar clandestinamente no império
do autocrata.
O alvo crítico dele eram as teses de Chernichevski, um pensador
socialista utópico que era ídolo dos contestadores. O romancista se
opunha firmemente ao conceito de Egoísmo Racional ou utilitário,
absorvido de Jeremy Bentham e J.S.Mill, defendido pelo filósofo russo,
que assegurava haver uma reação socialmente positiva, proveitosa e
humanitária, quando um indivíduo pensasse somente em si ( pois
assim, aquele que se sentisse pessoalmente injustiçado e lutasse por uma
reparação, terminaria por alargar o espaço da liberdade coletiva).
Para Dostoievski a aceitação disto poderia redundar na mais ‘negra
iniquidade’, como ocorre com o seu personagem Raskólhnikov que, para
satisfazer um anseio egoísta, se converte num assassino.
Raskólhnikov e o ‘direito ao crime’
É em meio à novela Crime e Castigo (Terceira Parte, cap. V)
que o personagem central, o estudante Raskólhnikov expõe, ainda que
resumidamente, um artigo dele que fora publicado numa revista de
S.Petersburgo, intitulado Acerca do crime.
Nele defendeu a existência na sociedade, em qualquer uma, de uma Lei da
Natureza que determina a existência de dois tipos humanos: os homens
comuns e os homens excepcionais. Sendo que estes últimos são
limitadíssimos em número: "homens de ideias novas... nascem
pouquíssimos, são de uma escassez verdadeiramente estranha".
Para os extraordinários, não valeriam as regras que regem o todo
social. Esta grande personalidade, ainda que não encontre a absolvição
de seus atos mais nocivos entre a maioria da sociedade, pessoalmente,
frente a sua própria consciência, não se sente culpada caso os cometa.
No dizer de Raskolhnikov: "em minha opinião, concedem a si próprio a
autorização para saltarem por cima do sangue, atendendo unicamente a
teoria e ao seu conteúdo, repare bem".
Este ser fantástico se sente psicológica e moralmente imunizado frente a
qualquer dano que possa vir a causar – guerras ou assassinatos - em
vista de que seus atos não podem ser julgados ou entendidos pela gente
comum ou enquadrados pelas leis costumeiras. Somente a história é quem
poderá algum dia absolvê-lo.
Por conseguinte, este soberbo egocêntrico, se coloca acima do bem e do
mal. Um Napoleão, por exemplo, não hesitou em sacrificar milhares de
vidas para afirmar o seu poder. O que o movia era a certeza de ser
alguém excepcional, um ungido pelo destino a lançar-se em feitos e
obrigar-se a tarefas espetaculares. Missão que nenhum mortal ordinário
poderia sequer imaginar ou sonhar.
Idêntico se aplicaria aos notáveis cientistas. Não teria Kepler ou
Newton, por exemplo, o direito – e até o dever - de eliminar aqueles que
criariam obstáculos a que o mundo conhecesse suas valiosas descobertas?
A maioria das personalidades históricas de vulto (Licurgo, Sólon,
Maomé, Napoleão, etc.), argumentou Raskólhnikov, na verdade, "tinham
sido criminosos" por terem abolido as leis antigas outrora sagradas, e
certamente não se detiveram frente ao sangue derramado sempre que isto
lhes fora útil ou necessário.
O artigo fazia eco, ciente ou não, de uma conhecida passagem existente
nas famosas Lições da Filosofia da História Universal de Hegel, onde
trás que: "Estes indivíduos históricos, atentos aos seus grandes
interesses, trataram sem dúvida de maneira frívola, atropeladamente e
sem consideração outros interesses e direitos sagrados, que são por si
mesmo dignos de consideração. Sua conduta esta exposta por isso à
censura moral. Mas há um outro modo de entender estes homens. Uma grande
figura quando caminha, esmaga muitas flores, destrói por força muitas
coisas no seu passo.”
Os perigos do abandono do cristianismo
Por ter participado quando jovem do círculo Petrachevski – grupo
subversivo que se reunia, entre 1848-9, para fazer leituras de
socialistas franceses -, o escritor tinha experiência pessoal de como
poderia facilmente, partindo da defesa de uma causa justa, envolver-se
numa operação que demandaria violência.
Ele mesmo percebera a facilidade com a pureza do "genuíno idealismo
moral da juventude russa" poderia se perverter, terminando por servir a
fins monstruosos. O abandono da ética herdada da Bíblia, que não fazia
qualquer concessão a seres humanos extraordinários, para Dostoievski
estimulava o desatino e o crime. Ao "rejeitar Cristo, o coração humano
pode chegar à incríveis alturas..." nada positivas.
Deste modo, o escritor concluía a sua trajetória ideológica que saltara
de um anticzarismo libertário a um messianismo nacionalista,
anti-católico, anti-judaico e anti-socialista que acabou por servir de
inspiração doutrinária para o situacionismo dos Romanov (Dostoievski
chegou a trocar ativa correspondência com o Procurado do Santo Sínodo, o
ultra-reacionário Konstantin Pobedonóstsev, que foi, por igual, tutor
do czar Alexandre III). (*)
(*) Tal como o escritor, o ministro czarista considerava que a natureza
humana é pecaminosa, rejeitar os ideais ocidentais de liberdade e
independência como "perigosas ilusões da juventude niilista".
O temor a um novo cisma
De certo modo, as teses de Raskólhnikov, defendidas no artigo Acerca do crime...,
viriam embasar tanto a lógica dos regimes fascistas (o mais forte faz a
lei e submete os mais fracos a ela) como a do regime stalinista (a
implantação de um regime novo implica necessariamente no esmagamento
daqueles que se lhe opõe).
O que Dostoiévski temia, e nisto foi profético, é que as ideologias
importadas (o liberalismo, o darwinismo, o utilitarismo, o ateísmo e o
socialismo) provocariam fatalmente um imenso cisma na história nacional.
O que tinha em mente era evitar algo que ocorrera no passado, na época
do czar Alexei Mikhailovich, ocasião em que o Cristianismo Ortodoxo
viu-se abalado por uma Reforma Religiosa imposta pelo Patriarca Nikon,
inspirada na liturgia grega, em 1653.
Em reação a ela, deu-se o surgimento o Movimento Raskol, o dos Velhos
Crentes (raskolniki, provocadores do cisma), cristãos fundamentalistas,
que dividiram de modo inapelável a estrutura religiosa da nação.
Concluiu o escritor que se nada fosse feito para evitar o novo cisma
que ganhava forças no país ao longo do século XIX, o Partido Ateu,
composto por niilistas, populistas e comunistas, após por abaixo os
valores básicos da Velha Rússia (a obediência ao czar e a fé na igreja
ortodoxa) tomaria o poder com conseqüências assombrosas e impensáveis.
E, se por acaso, escreveu ele no Diário de um Escritor, os
russos aplicassem os ensinamentos daqueles professores ocidentais –
ainda que seus objetivos fossem ‘filantrópicos e grandiosos’ – no afã
"de destruir a velha sociedade e construí-la de novo, o resultado seria
uma tamanha escuridão, tamanho caos, cego e inumano, que toda a
estrutura ruiria ao som das maldições da humanidade antes que pudesse
ser concluída a tarefa".
Ernesto Rafael Guevara de la Serna
nasceu no dia 14 de junho de 1928, em Rosário, na Argentina.
Primogênito entre os cinco filhos de Ernesto Lynch e Célia de la Serna y
Llosa, teve sua formação ministrada principalmente pela mãe, figura
forte em seu desenvolvimento político,
pois apesar de ser católica, cultivava um ideal esquerdista em sua
família, e mantinha relações com outras mulheres também muito
politizadas.
Che Guevara, após ser capturado por forças bolivianas. Foto: CIA / via Wikimedia Commons
Desde cedo Ernesto sofreu com crises freqüentes de asma, sua bombinha
era companheira inseparável. Devido à doença, estudou inicialmente em
casa, acompanhado pela figura materna, em meio a obras de Marx, Engels e Lênin. Na adolescência ele já cultivava o hábito da leitura, ao lado de autores como Júlio Verne,
Baudelaire e Neruda, entre outros. Aos 12 anos, por causa dos surtos
asmáticos, sua família mudou para Córdoba, onde morava próximo a uma
favela. Apesar das barreiras sociais vigentes entre as classes mais
prósperas na Argentina, Ernestito, como era conhecido, fez muitos amigos
entre os favelados. A partir de 1944, a situação financeira da família
começa a declinar e Che Guevara vai trabalhar como funcionário público,
prosseguindo com os estudos. Ao entrar na Universidade, muda-se com os
familiares para Bogotá e segue estudando Medicina, com um interesse
especial pela lepra,
e trabalhando para ajudar nas despesas de casa. Nessa época ele é
dispensado pelo Exército por não possuir os atributos físicos
necessários para o serviço militar.
Após a Segunda Guerra Mundial,
cresce a oposição a Juan Domingo Perón, e Guevara participa dos
protestos. Em 1951, ele inicia ao lado do amigo Alberto Granado e da
antiga companheira, a moto chamada por eles de “La Poderosa”, a viagem
que irá mudar a sua vida. Ao longo de um tour pela América Latina,
não exatamente por pontos turísticos, mas por minas de cobre, aldeias
indígenas e leprosários, convivendo com os oprimidos, olhando a
realidade de um outro ponto de vista, mais crítico, durante oito meses,
Ernesto modifica sua visão política, antes nacionalista, e escreve um
diário sobre esta jornada fundamental em sua vida. No Peru ele pôde dar
vazão á sua dedicação especial aos leprosos, quando então decide se
especializar nesta doença. Indignado com as injustiças sociais que
testemunhou, Guevara retorna para a Argentina, conclui o curso de
Medicina e passa a se dedicar à política. Em julho de 1953, ele dá
início à segunda travessia pela América Latina, passando pela Bolívia,
Peru, Equador, Colômbia, Panamá, Costa Rica, El Salvador e Guatemala, com seu amigo Ricardo Rojo.
Na Guatemala Guevara conhece sua futura esposa, a peruana Hilda Gadea
Acosta e o futuro amigo Ñico Lopez. É ele que posteriormente o
apresentará a Raúl Castro, no México. Ernesto presencia, na Guatemala, a
dominação norte-americana se impor com tanta facilidade, instalando no
comando do país um ditador subserviente aos interesses imperialistas,
que, inconformado com a passividade da população local, percebe
imediatamente o quanto é fundamental combater essa política dominadora.
Através dessas experiências, Guevara tece sua consciência política e
opta pelo caminho revolucionário. Em 1954, dá-se o tão esperado encontro
entre Ernesto e Raúl Castro, que o apresenta a seu irmão Fidel Castro.
Este é, neste momento, o líder do grupo M26, ou Movimento Guerrilheiro
26 de julho, alusão à tomada do Quartel Moncada, em 1953, durante a qual
Fidel tentou render o mais conhecido reduto de presos políticos em
Santiago. Guevara está entre os 82 seguidores de Fidel que partem ao
lado deste para Cuba, em 1956, depois de um célebre debate político
entre Castro e Guevara, que se estendeu ao longo de uma noite inteira, e
que definiu a participação de Ernesto neste movimento revolucionário
que tentaria obter o controle de Cuba. Apenas doze deles resistem à
morte em Sierra Maestra, após o desembarque em Cuba, no dia 25 de
novembro de 1956. Apesar dos reveses, a vitória sobre a ditadura de
Fulgêncio Batista foi completa. Guevara se torna um cidadão cubano em
1959 e transforma-se em um homem poderoso, o segundo na hierarquia.
Muitos especialistas acreditam que sua formação marxista-leninista
influenciou decisivamente Fidel na opção pelo comunismo soviético e na
oposição aos Estados Unidos. Outros crêem que a reação radical dos EUA é
que levou ao alinhamento com a URSS.
Vídeo em que Che Guevara afirma, em discurso na ONU em 11/12/1964 a ocorrência de fuzilamentos na ilha de Cuba: "Fuzilamentos? Sim! Fuzilamos e continuaremos fuzilando!”
Embora tendo em Cuba todos os privilégios de um homem no poder, Che
desejava levar a toda a América Latina o sonho revolucionário, e queria
para isso o apoio cubano. Assim, abandona o governo e segue como guerrilheiro
atrás dos seus sonhos. Mas, ao contrário da vitória cubana, ele agora
só alcança derrotas – na Argentina, em 1964, quando vários membros de
seu grupo são mortos; a outra no Congo Belga, depois chamado de Zaire e
hoje conhecido como República Democrática do Congo; e finalmente na
Bolívia, quando é morto, em nove de outubro de 1967. Apesar de ter
entrado na Bolívia oculto, sem a barba e a boina que tinham se tornado
características tradicionais dele, em novembro de 1966, ele não
conseguiu escapar de seus algozes. Seu objetivo era criar um campo de
treinamento da guerrilha, em um deserto no Sudeste do país. Mas foi
preso no dia 08 de outubro, pelo exército boliviano, treinado pelos
norte-americanos, e no dia seguinte executado com a autorização do
presidente do país, o general René Barrientos, em uma escola da aldeia
de La Higuera.
Com dúvidas sobre a identidade do guerrilheiro, seus executores
amputaram suas mãos, na tentativa de reconhecer o corpo. Seus restos
mortais ficaram por algum tempo ocultos, sendo encontrados em 1997,
quando se comemorava os trinta anos de sua partida, enterrados no
aeroporto de Vallegrande. As mãos foram misteriosamente contrabandeadas
para Cuba. Hoje, Guevara é conhecido mundialmente como um dos mais
célebres revolucionários de esquerda e até a revista Time Magazine o
considerou uma das cem pessoas mais famosas do século XX.