Antropologia
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A antropologia (do grego ἄνθρωπος, anthropos, "ser humano"; e λόγος, logos, "razão", "pensamento", "discurso", "estudo") é a ciência que tem como objeto o estudo sobre o ser humano e a humanidade de maneira totalizante, ou seja, abrangendo todas as suas dimensões.[1]
A divisão clássica da antropologia distingue a antropologia cultural da antropologia física (ou biológica), já a divisão norte-americana, conhecida como Four Fields ("quatro campos"), divide a antropologia em arqueologia, linguística, antropologia física e antropologia cultural.[2] Cada uma destas, em sua construção, abrigou diversas correntes de pensamento.
Pode-se afirmar que há poucas décadas a antropologia conquistou seu lugar entre as ciências. Primeiramente, foi considerada como a história natural e física do homem e do seu processo evolutivo, no espaço e no tempo. Se por um lado essa concepção vinha satisfazer o significado literal da palavra, por outro restringia o seu campo de estudo às características físicas do ser humano. Essa postura marcou e limitou os estudos antropológicos por largo tempo, privilegiando a antropometria, ciência que trata das mensurações das propriedades físicas do ser humano.
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A divisão clássica da antropologia distingue a antropologia cultural da antropologia física (ou biológica), já a divisão norte-americana, conhecida como Four Fields ("quatro campos"), divide a antropologia em arqueologia, linguística, antropologia física e antropologia cultural.[2] Cada uma destas, em sua construção, abrigou diversas correntes de pensamento.
Pode-se afirmar que há poucas décadas a antropologia conquistou seu lugar entre as ciências. Primeiramente, foi considerada como a história natural e física do homem e do seu processo evolutivo, no espaço e no tempo. Se por um lado essa concepção vinha satisfazer o significado literal da palavra, por outro restringia o seu campo de estudo às características físicas do ser humano. Essa postura marcou e limitou os estudos antropológicos por largo tempo, privilegiando a antropometria, ciência que trata das mensurações das propriedades físicas do ser humano.
Índice
- 1 Divisões e campo
- 2 Considerações
- 3 História da Antropologia
- 3.1 Primórdios
- 3.2 O século XVIII
- 3.3 O século XIX
- 3.4 O século XX
- 3.5 Outros movimentos
- 4 Áreas de estudo em antropologia
- 5 Conceitos e métodos da antropologia
- 6 Ver também
- 7 Referências
- 8 Ligações externas
Divisões e campo
Considerações
Para pensar as sociedades humanas, a antropologia preocupa-se em detalhar, tanto quanto possível, os seres humanos que as compõem e com elas se relacionam, seja nos seus aspectos físicos, na sua relação com a natureza, seja na sua especificidade cultural. Para o saber antropológico o conceito de cultura abarca diversas dimensões: universo psíquico, os mitos, os costumes e rituais, suas histórias peculiares, a linguagem, valores, crenças, leis, relações de parentesco, política, economia, arte, entre outros tópicos.Embora o estudo das sociedades humanas remonte à Antiguidade Clássica, a antropologia nasceu, como ciência, efetivamente, da grande revolução cultural iniciada com o iluminismo.
História da Antropologia
Embora a grande maioria dos autores concorde que a antropologia se tenha definido enquanto disciplina só depois da revolução iluminista, a partir de um debate mais claro acerca de objeto e método, as origens do saber antropológico remontam à Antiguidade Clássica, atravessando séculos. Enquanto o ser humano pensou sobre si mesmo e sobre sua relação com o "outro", pensou antropologicamente. A Antropologia é o estudo do ser humano como ser biológico, social e cultural. Sendo cada uma destas dimensões por si só muito ampla, o conhecimento antropológico geralmente é organizado em áreas que indicam uma escolha prévia de certos aspectos a serem privilegiados como a “antropologia física ou biológica” (aspectos genéticos e biológicos do ser humano), “antropologia social” (organização social e política, parentesco, instituições sociais), “antropologia cultural” (sistemas simbólicos, religião, comportamento) e “arqueologia” (condições de existência dos grupos humanos desaparecidos). Além disso podemos utilizar termos como antropologia, etnologia e etnografia para distinguir diferentes níveis de análise ou tradições acadêmicas.Para o antropólogo Claude Lévi-Strauss (1970:377), a etnografia corresponde “aos primeiros estágios da pesquisa: observação e descrição, trabalho de campo”. A etnologia, com relação à etnografia, seria “um primeiro passo em direção à síntese” e a antropologia, “uma segunda e última etapa da síntese, tomando por base as conclusões da etnografia e da etnologia”.
Qualquer que seja a definição adotada, é possível entender a antropologia como uma forma de conhecimento sobre a diversidade cultural, isto é, a busca de respostas para entendermos o que somos a partir do espelho fornecido pelo “outro”; uma maneira de se situar na fronteira de vários mundos sociais e culturais, abrindo janelas entre eles, através das quais podemos alargar nossas possibilidades de sentir, agir e refletir sobre o que, afinal de contas, nos torna seres singulares, humanos.
Primórdios
Homero, Hesíodo e os filósofos pré-socráticos já se questionavam a respeito do impacto das relações sociais sobre o comportamento humano; ou vendo este impacto como consequência dos caprichos dos deuses, como enumera a Odisseia de Homero e a Teogonia de Hesíodo, ou como construções racionais, valorizando muito mais a apreensão da realidade no dia a dia da experiência humana, como preferiam os filósofos pré-socráticos. Foi, sem dúvida, na Antiguidade Clássica que a "medida Humana" se evidenciou como centro da discussão acerca do mundo. Os gregos deixaram inúmeros registros e relatos acerca de culturas diferentes das suas, assim como os chineses e os romanos. Nestes textos nascia, por assim dizer, a antropologia, e no século V a.C. um exemplo disto se revela na obra de Heródoto, que descreveu minuciosamente as culturas com as quais seu povo se relacionava. Da contribuição grega fazem parte também as obras de Aristóteles (acerca das cidades gregas) e as de Xenofonte (a respeito da Índia).Entre os romanos merece destaque o poeta Lucrécio, que tentou investigar as origens da religião, das artes e se ocupou da discurso. Outro romano, Tácito analisou a vida das tribos germânicas, baseando-se nos relatos dos soldados e viajantes. Salienta o vigor dos germanos em contraste com os romanos da sua época. Agostinho de Hipona, um dos pilares teológicos do catolicismo, descreveu as civilizações greco-romanas "pagãs", vistas como moralmente inferiores às sociedades cristianizadas. Em sua obra já discutia, de maneira pouco elaborada, a possibilidade do "tabu do incesto" funcionar como norma social, garantia da coesão da sociedade. É importante salientar que Agostinho, no entanto, privilegiou explicações sobrenaturais para a vida sociocultural.
Embora não existisse como disciplina específica, o saber antropológico participou das discussões da filosofia, ao longo dos séculos. Durante a Idade Média muitos escritos contribuíram para a formação de um pensamento racional, aplicado ao estudo da experiência humana, como fez o administrador francês Jean Bodin, estudioso dos costumes dos povos conquistados, que buscava, em sua análise, explicações para as dificuldades que os franceses tinham em administrar esses povos. Com o advento do movimento iluminista, este saber foi estruturado em dois núcleos analíticos: a antropologia física (ou biológica), de modo geral considerada ciência natural, e a antropologia cultural, classificada como ciência social.
O século XVIII
Até o século XVIII, o saber antropológico esteve presente na contribuição dos cronistas, viajantes, soldados, missionários e comerciantes que discutiam, em relação aos povos que conheciam, a maneira como estes viviam a sua condição humana, cultivavam seus hábitos, normas, características, interpretavam os seus mitos, os seus rituais, a sua linguagem. Só no século XVIII, a Antropologia adquire a categoria de ciência, partindo das classificações de Carlos Lineu e tendo como objeto a análise das "raças humanas".O legado desta época foram os textos que descreviam as terras (a fauna, a flora, a topografia) e os povos "descobertos" (hábitos e crenças). Algumas obras que falavam dos indígenas brasileiros, por exemplo, foram: a carta de Pero Vaz de Caminha ("Carta do Descobrimento do Brasil"), os relatos de Hans Staden, "Duas Viagens ao Brasil", os registros de Jean de Léry, a "Viagem a Terra do Brasil", e a obra de Jean-Baptiste Debret, a "Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil. Além destas, outras obras falavam ainda das terras recém-descobertas, como a carta de Cristóvão Colombo aos Reis Católicos. Toda esta produção escrita levantou uma grande polémica acerca dos indígenas. A contribuição dos missionários jesuítas na América (como Bartolomeu de las Casas e Padre Acosta) ajudaram a desenvolver a denominada "teoria do bom selvagem", que via os índios como detentores de uma natureza moral pura, modelo que devia ser assimilado pelos ocidentais. Esta teoria defendia a ideia de que cultura mais próxima do estado "natural" serviria de remédio aos males da civilização.
O século XIX
No século XIX, por volta de 1840, Boucher de Perthes utiliza o termo homem pré-histórico para discutir como seria sua vida cotidiana, a partir de achados arqueológicos, como utensílios de pedra, cuja idade se estimava bastante remota. Posteriormente, em 1865, John Lubock reavaliou numerosos dados acerca da Cultura da Idade da Pedra e compilou uma classificação em que enumerava as diferenças culturais entre o Paleolítico e Neolítico.Com a publicação de dois livros, A Origem das Espécies, em 1859, e A descendência do homem, em 1871, Charles Darwin principia a sistematização da teoria evolucionista. Partindo da discussão trazida à tona por estes pesquisadores, nascia a antropologia física ou biológica.
A antropologia evolucionista
Marcada pela discussão evolucionista, a antropologia do século XIX privilegiou o darwinismo social, que considerava a sociedade europeia da época como o apogeu de um processo evolucionário, em que as sociedades aborígines eram tidas como exemplares "mais primitivos". Esta visão usava o conceito de "civilização" para classificar, julgar e, posteriormente, justificar o domínio de outros povos. Esta maneira de ver o mundo a partir do conceito civilizacional de superior, ignorando as diferenças em relação aos povos tidos como inferiores, recebe o nome de etnocentrismo. É a visão Etnocêntrica, o conceito europeu do homem que se atribui o valor de "civilizado", fazendo crer que os outros povos como os das ilhas da Oceania, estavam "situados fora da história e da cultura". Esta afirmação está muito presente nos escritos de Pauw e Hegel.Com fundamento nestas concepções, as primeiras grandes obras da antropologia consideravam, por exemplo, o indígena das sociedades não europeias como o primitivo, o antecessor do homem civilizado: afirmando e qualificando o saber antropológico como disciplina, centrando o debate no modo como as formas mais simples de organização social teriam evoluído, de acordo com essa linha teórica essas sociedades caminhariam para formas mais complexas como as da sociedade europeia.
Nesta forma de apreender a experiência humana, todas as sociedades, mesmo as desconhecidas, progrediriam em ritmos diferentes, seguindo uma linha evolutiva. Isso balizou a ideia de que a demanda colonial seria "civilizatória", pois levaria os povos ditos "primitivos" ao "progresso tecnológico-científico" das sociedades tidas como "civilizadas". Há que ver estes equívocos como parte da visão de mundo que pretendiam estabelecer as diretrizes de uma lei universal de desenvolvimento.
Mas não se pode generalizar e atribuir as características acima a todos os autores que se aparentaram a essa corrente. Cada autor tem suas próprias nuances. Durkheim, por exemplo, procurou nas manifestações totêmicas dos nativos australianos a forma mais simples e elementar de religiosidade, mas não com o pensamento enquadrado numa linha evolutiva cega: se nossa sociedade era dita mais complexa, ele atribuía isso às diversas tendências da modernidade de que somos fruto, e a dificuldade de determinar uma tendência pura na nossa religião, escamoteada por milhares de anos de teologia
O método concentrava-se numa incansável comparação de dados, retirados das sociedades e de seus contextos sociais, classificados de acordo com o tipo (religioso, de parentesco, etc), determinado pelo pesquisador, dados que lhe serviriam para comparar as sociedades entre si, fixando-as num estágio específico, inscrevendo estas experiências numa abordagem linear, diacrônica, de modo a que todo costume representasse uma etapa numa escala evolutiva, como se o próprio costume tivesse a finalidade de auxiliar esta evolução. Entendiam os evolucionistas que os costumes se demarcavam como substância, como finalidade, origem, individualidade e não como um elemento do tecido social, interdependente de seu contexto.
Vale ressaltar que apesar da maior parte dos evolucionistas terem trabalhado em gabinetes, um dos mais conhecidos pensadores dessa corrente, Lewis Henry Morgan, tinha contato com diversas tribos do norte dos Estados Unidos. Seria exagerado creditar a autores dessa corrente compilações cega das culturas humanas, isso seria uma simplificação enorme, ao mesmo tempo que se deixaria de aproveitar esses estudos clássicos da antropologia.
Autores e obras
A antropologia difusionista
A antropologia difusionista reagiu ao evolucionismo e foi sua contemporânea. Valorizava a compreensão natural da cultura, em termos de origem e extensão, de uma sociedade a outra. Para os difusionistas, o empréstimo cultural seria um mecanismo fundamental de evolução cultural. O difusionismo acreditava que as diferenças e semelhanças culturais eram consequência da tendência humana para imitar e a absorver traços culturais, como se a humanidade possuísse uma "unidade psíquica", tal como defendia Adolf Bastian.Autores e obras
- Friedrich Ratzel
- Grafton Elliot Smith
- William James Perry
- William H. R. Rivers
- Fritz Graebner - Methode del Ethnologie, 1891
- Fr. Wilhelm Schmidt, fundador da revista Anthropos
O surgimento da "linhagem francesa"
Com Émile Durkheim começam os fenómenos sociais a serem definidos como objetos de investigação sócio-antropológica e, a partir da análise da publicação de Regras do "Método Sociológico", em 1895, começa-se a pensar que os fatos sociais seriam muito mais complexos do que se pretendia até então. No final do século XIX, juntamente com Marcel Mauss, Durkheim se debruça nas representações primitivas, estudo que culminará na obra "Algumas formas primitivas de classificação", publicada em 1901. Inaugura-se então a denominada "linhagem francesa" na Antropologia.O século XX
Com a publicação de "As formas elementares da vida religiosa" em 1912, Durkheim, ainda apegado ao debate evolucionista, discute a temática da religião. Marcel Mauss publica com Henri Hubert, em 1903, a obra Esboço de uma teoria geral da magia, em que forja o conceito de mana. Inicialmente centrada na denominada "Etnologia", a Antropologia Francesa, arranca, como disciplina de ensino, no Institut d´Ethnologie du Musée de l´Homme em Paris, a partir de 1927. No início, a disciplina se vinculara ao Museu de História Natural, porque se considerava a antropologia como uma subdisciplina da história natural. Ainda existia um determinismo biológico, segundo o qual se considerava que as diferenças culturais eram fruto das diferenças biológicas entre os homens.Nos Estados Unidos, Franz Boas desenvolve a ideia de que cada cultura tem uma história particular e considerava que a difusão de traços culturais acontecia em toda parte. Nasce o relativismo cultural, e a antropologia estende a investigação ao trabalho de campo. Para Boas, cada cultura estaria associada à sua própria história. Para compreender a cultura é preciso reconstruir a sua própria história. Surgia o culturalismo, também conhecido como "particularismo histórico". Deste movimento surgiria posteriormente a escola antropológica da Cultura e Personalidade.
Paralelamente a estes movimentos, na Inglaterra, nasce o funcionalismo, que enfatiza o trabalho de campo (observação participante). Para sistematizar o conhecimento acerca de uma cultura é preciso apreendê-la na sua totalidade. Para elaborar esta produção intelectual surge a etnografia. As instituições sociais centralizam o debate, a partir das funções que exercem na manutenção da totalidade cultural.
A antropologia britânica: funcionalismo e seus desdobramentos
Ver artigo principal: Antropologia funcionalista
O funcionalismo inspirava-se na obra de Durkheim.
Advogava um estreito paralelismo entre as sociedades humanas e os
organismos biológicos (na forma de evolução e conservação) porque em
ambos os casos a harmonia dependeria da interdependência funcional das
partes. As funções eram analisadas como obrigações, nas relações
sociais. A função sustentaria a estrutura social, permitindo a coesão, fundamental, dentro de um sistema de relações sociais.
Autores e obras
- Alfred Radcliffe Brown - Estrutura e Função na Sociedade Primitiva (1952) e Sistemas Políticos Africanos de Parentesco e Casamento, org. c/ Daryll Forde - 1950
- Audrey Richards - Chisungu: a girl's initiation ceremony among the Bemba of Northern Rhodesia (1956)
- Bronislaw Malinowski - Os Argonautas do Pacífico Ocidental (1922) e Uma teoria científica da cultura
- Edmund Leach - Sistemas Políticos da Alta Birmânia (1954).
- Evans-Pritchard - Bruxaria, Oráculos e Magia entre os Azande (1937) e Os Nuer (1940)
- Hilda Kuper - The Swazi: a South African Kingdom (1963)
- Lucy Mair - Primitive Government (1962)
- Max Glukman - Ordem e rebelião na África tribal (1963)
- Meyer Fortes - Sistemas Políticos Africanos, editado com Evans-Pritchard (1940), The Dynamics of Clanship among the Tallensi (1945)
- Raymond Firth - Nós, os Tikopia (1936) e Elementos de organização social (1951)
- Victor Turner - Cisma e continuidade em uma sociedade africana (1957) e O processo ritual (1969]
Escola sociológica francesa
O grupo de Durkheim visava constituir uma ciência propriamente social. O debate francês se inspira sobre a tradicional questão de saber como ocorre o processo de diferenciação social nas sociedades industriais no contexto de organização das sociedades nacionais e das instituições republicanas[3].Autores e obras
- Denise Paulme - Organisation sociale des Dogon (Soudan français) (1940)
- Émile Durkheim - As Formas Elementares da Vida Religiosa (1912)
- Germaine Tillion - L’Algérie en 1957 (1957)
- Germaine Dieterlen - Renard Pâle. Ethnologie des Dogon (1965).
- Henri Hubert - Esboço de uma teoria geral da magia (1904), em coautoria com Marcel Mauss
- Lucien Lévy-Bruhl - A mentalidade primitiva (1922)
- Marcel Mauss - Ensaio sobre a Dádiva (1925), As Técnicas do Corpo (1934)
- Marcel Griaule - Dieux d´Eau e em coautoria com Germaine Dieterlen, Le Renard Pâle
- Maurice Leenhardt - Do Kamo. La personne et le mythe dans le monde mélanésien (1947)
- Michel Leiris - África Fantasma (1934)
A antropologia estrutural
Ver artigo principal: Antropologia estrutural
A antropologia estrutural nasce na década de 1940. O seu principal teórico é Claude Lévi-Strauss.
Centraliza o debate na ideia de que existem regras estruturantes das
culturas na mente humana, e assume que estas regras constroem pares de
oposição para organizar o sentido.
Para fundamentar o debate teórico, Lévi-Strauss recorre a duas fontes principais: a corrente psicológica criada por Wilhelm Wundt e o trabalho realizado no campo da linguística, por Ferdinand de Saussure, denominado estruturalismo. Influenciaram-no, ainda, Durkheim, Jakobson (teoria linguística), Kant (idealismo) e Marcel Mauss.
Para a Antropologia estrutural, as culturas definem-se como sistemas de signos partilhados e estruturados por princípios que estabelecem o funcionamento do intelecto. Em 1949, Lévi-Strauss publica "As estruturas elementares de parentesco", obra em que analisa os aborígines australianos e, em particular, os seus sistemas de matrimônio e parentesco. Nesta análise, Lévi-Strauss demonstra que as alianças são mais importantes para a estrutura social que os laços de sangue. Termos como exogamia, endogamia, aliança, consanguinidade passam a fazer parte das preocupações etnográficas.
Autores e obras
- Claude Lévi-Strauss - As estruturas elementares do parentesco (1949), Pensamento selvagem (1962), Antropologia estrutural (1958), Antropologia estrutural dois (1973), O cru e o cozido (1964), Do mel às cinzas (1966), A origem das maneiras de mesa (1968), O Homem Nu (1971)
- Françoise Héritier - O Exercício do Parentesco (1981)
- Louis Dumont - Homo hierarquicus (1966)
- Pierre Bourdieu - Esboço de uma teoria da prática (1972)
- Pierre Clastres - A Sociedade Contra o Estado (1974) e Arqueologia da Violência: Estudos de Antropologia Política (1977)
- Philipe Descola - La nature doméstique (1986), As Lanças do Crepúsculo (1993)
O particularismo histórico
Também conhecida como culturalismo, esta escola estadunidense, defendida por Franz Boas, rejeita, de maneira marcante, o evolucionismo que dominou a Antropologia na segunda metade do século XIX. Na perspectiva de Boas, cada cultura tem uma história particular e a difusão cultural se processa em várias direções. Consolida-se o conceito de relativismo cultural, vendo também a evolução como fenômeno que pode decorrer do estado mais simples para o mais complexo.Autores e obras
A escola de cultura e personalidade
Criada por estudiosas estadunidenses, discípulos de Franz Boas, influenciadas pela Psicanálise e pela obra de Nietzsche, esta escola concebe a cultura como detentora de uma "Personalidade de base", partilhada por todos os membros. Estabelece uma tipologia cultural. Haveria culturas dionisíacas (centradas no êxtase) e apolíneas (estruturadas no desejo de moderação); pré-figurativas, pós-figurativas, co-figurativas.Autores e obras
- Gregory Bateson - Naven (1936), Balinese Character, a Photographic Analysis (1942)
- Margaret Mead - Crescendo na Nova Guiné (1930), Sexo e Temperamento em três sociedades primitivas (1935)
- Ralph Linton - The Study of Man (1936)
- Ruth Benedict - Padrões de Cultura (1934), O Crisântemo e a Espada (1946)
A antropologia interpretativa e Debates pós-modernos
Com cerca de vinte livros publicados, Clifford Geertz é provavelmente, depois de Claude Lévi-Strauss, o antropólogo cujas ideias causaram maior impacto na segunda metade do século XX, não apenas no que se refere à própria teoria e à prática antropológica, mas também fora de sua área, em disciplinas como a psicologia, a história e a teoria literária. Considerado o fundador de uma das vertentes da antropologia contemporânea - a chamada antropologia interpretativa ou antropologia hermenêutica. Sua tese começa defendendo o estudo de "quem as pessoas de determinada formação cultural acham que são, o que elas fazem e por que razões elas crêem que fazem o que fazem".Principais ideias
A antropologia interpretativa analisa a cultura como hierarquia de significados, pretendendo que a etnografia seja uma "descrição densa", de interpretação escrita e cuja análise é possível por meio de uma inspiração hermenêutica. É crucial a leitura da leitura que os "nativos" fazem de sua própria cultura. (ver principais obras e publicações em português) Uma das metáforas preferidas de Geertz, para definir o que fará a antropologia interpretativa, é a leitura das sociedades enquanto textos ou como análogas a textos. A interpretação ocorre em todos os momentos do estudo, da leitura do "texto", pleno de significado, que é a sociedade na escrita do texto/ensaio do antropólogo, por sua vez interpretado por aqueles que não passaram pelas experiências do autor do texto escrito. Todos os elementos da cultura analisada devem portanto ser entendidos à luz desta textualidade, imanente à realidade cultural.Na década de 1980, o debate teórico na Antropologia ganhou novas dimensões. Muitas críticas a todas as escolas surgiram, questionando o método e as concepções antropológicas. No geral, este debate privilegiou algumas ideias: a primeira delas é que a realidade é sempre interpretada, ou seja, vista sob uma perspectiva subjetiva do autor, portanto a antropologia seria uma interpretação de interpretações. Da crítica das retóricas de autoridade clássicas, fortemente influenciada pelos estudos de Michel Foucault, surgem metaetnografias, ou seja, a análise antropológica da própria produção etnográfica. Contribuiu muito para esta discussão a formação de antropólogos nos países que então eram analisados apenas pelos grandes centros antropológicos.
A Antropologia "pós-moderna" privilegia a discussão acerca do discurso antropológico, mediado pelos recursos retóricos presentes no modelo das etnografias. Politiza a relação observador-observado na pesquisa antropológica, questionando a utilização do "poder" do etnógrafo sobre o "nativo", e crítica os paradigmas teóricos e da "autoridade etnográfica" do antropólogo. A pergunta essencial é: quem realmente fala na etnografia? O nativo? Ou o nativo visto pelo prisma do etnógrafo? A etnografia passa a ser desenvolvida como uma representação polifónica da polissemia cultural - e nela deveriam estar claramente presentes as vozes dos vários informantes.
Autores e obras
- Clifford Geertz - A Interpretação das Culturas (1973), Obras e Vidas, o Antropólogo Como Autor (1988)
- Denis Tedlock - Popul Vuh: The Mayan Book of the Dawn of Life (1985)
- George Marcus - Writing Culture: the poetics and politics of ethnography (1986)
- James Clifford - Writing Culture: the poetics and politics of ethnography (1986)
- Michel Fischer - Anthropology as Cultural Critique (1999)
- Paul Rabinow - Reflections on Fieldwork in Morocco (1977)
- Renato Rosaldo - Ilongot Headhunting: 1883-1974: A Study in Society and History (1980), Culture and Truth: The Remaking of Social Analysis (1989)
- Vincent Crapanzano - Tuhami: Portrait of a Moroccan (1983)
Outros movimentos
Outros movimentos significativos, na história do século XX, para a teoria antropológica foram as escolas Cognitiva, Simbólica e Marxista[4], além das críticas feministas, pós-coloniais e decoloniais.Autores e obras
- Arturo Escobar - Encountering Development: The Making and Unmaking of the Third World (1995)
- Bruno Latour - A Vida de Laboratório - A Produção dos Fatos Científicos, em coautoria com Steve Woolgar (1979), Jamais Fomos Modernos (1983)
- Donna Haraway - Manifesto ciborgue. Ciência, tecnologia e feminismo-socialista no final do século XX (1985).
- Frantz Fanon - Pele Negra, Máscara Branca (1952)
- Jean Comaroff - Body of Power, Spirit of Resistance: The Culture and History of a South African People (1985), Ethnography and the Historical Imagination (1992), em coautoria com John Comaroff
- Johannes Fabian - O Tempo e o Outro (1983)
- John Comaroff - Of Revelation and Revolution (1991), em coautoria com Jean Comaroff
- Marshall Sahlins - Cultura e Razão Prática e Metáforas Históricas e Realidades Míticas
- Marilyn Strathern - O Gênero da Dádiva (1988)
- Michael Taussig - O diabo e o fetichismo da mercadoria na América do Sul (1980), Xamanismo, Colonialismo e o Homem Selvagem (1987),
- Sherry Ortner - Life and Death on Mt. Everest (1999)
- Talal Asad - Anthropology & the Colonial Encounter (1973) e Genealogies of Religion: Discipline and Reasons of Power in Christianity and Islam (1993)
- Tim Ingold - The perception of the environment: essays on livelihood, dwelling and skill (2000), Estar Vivo (2011)
Áreas de estudo em antropologia
Ver artigo principal: Áreas de estudo em Antropologia
Antropologia da arte
Ver artigo principal: Antropologia da arte
Antropologia da imagem
Ver artigo principal: Antropologia da imagem
Antropologia das emoções
Ver artigo principal: Antropologia das emoções
Antropologia jurídica
Ver artigo principal: Antropologia do direito
Antropologia forense
Ver artigo principal: Antropologia forense
Antropologia médica e da saúde
Ver artigo principal: Antropologia da saúde
Antropologia e psicologia
Ver artigo principal: Antropologia e psicanálise
Antropologia comportamental
Ver artigo principal: Antropologia comportamental
Antropologia visual
Ver artigo principal: Antropologia visual
Antropologia da religião
Ver artigo principal: Antropologia da religião
Antropologia da infância
A antropologia da infância tem uma compreensão de como as crianças se dedicam às propostas pedagógicas, criando um novo olhar sobre experiências de reflexão contextual. Elas, então, começam a ser entendidas como atores sociais relevantes, já que não apenas são submetidas aos ensinamentos, mas criam sentidos e atuam sobre o que vivenciam.Diante desse contexto, temos uma relação com a ideia trazida por Cohn (2005) que é:
"Ao contrário de seres incompletos, treinando para a vida adulta, encenando papéis sociais enquanto são socializados ou adquirindo competências e formando sua personalidade social, passam a ter um papel ativo na definição de sua própria condição. Seres sociais plenos ganham legitimidade como sujeito nos estudos que são feitos sobre eles. Vejamos como essas mudanças afetam os estudos antropológicos em três aspectos: a criança como ator social, a criança como produtor de cultura, e a definição da condição social da criança". (COHN, 2005, p. 21).Para essa autora é importante estudar as crianças, pois, assim, é possível compreender a experiência cultural dos adultos, uma vez que esses naturalizaram seus espaços, poderes e relações pessoais. Diferentemente, as crianças veem as relações de outro ponto de vista, com novas ideias, valores e relações. Ainda segundo Cohn (2005), a criança passa a ter um papel efetivo diante à sociedade,além de conseguir perceber a autoridade dos adultos, as regras do seu mundo e as culturas infantis.