quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Transplante renal ainda é esperança para muitos baianos


Transplante renal ainda é esperança para muitos baianos

22 novembro 2009Sem comentários
Cerca de 2.603 crônicos renais no estado da Bahia aguardam na fila de espera, na expectativa de receber um órgão “novo”. Esses dados disponibilizados pela Secretaria de Saúde do Estado (SESAB) foram baseados até o mês de julho deste ano. A meta para o país é de 8 captações por milhão de pessoas (pmp), mas o estado está abaixo do esperado, realizando no primeiro semestre apenas 52 transplantes entre doadores vivos e cadáveres.
Apesar desta informação muitos pacientes renais não perdem a esperança. Bento Raimundo Souza Tavares está na fila de espera há três anos, e realiza hemodiálise a cerca de dez anos. “Minha deficiência renal é hereditária. Meu pai morreu a 20 anos fazendo hemodiálise e eu não quero que isso aconteça comigo, mas tenho consciência que a carência na doação de órgão é muito grande aqui no estado”, disse o aposentado de 52 anos.
Procedimento de hemodiálise realizado em crônico renal
Procedimento de hemodiálise realizado em crônico renal
A hemodiálise é um procedimento que filtra o sangue. Através deste processo são retiradas dos rins substâncias que quando em excesso trazem prejuízos ao corpo, como a uréia, potássio sódio e água. Ela é feita com a ajuda de um dialisador (capilar ou filtro), que é formado por um conjunto de pequenos tubos chamados “linhas”. Durante a hemodiálise, parte do sangue é retirado do corpo, passa através da linha em um lado, onde o sangue é filtrado e retorna ao paciente pela linha do lado oposto. Atualmente tem havido um grande progresso em relação à segurança e a eficácia das máquinas de hemodiálise, tornando o tratamento bastante seguro. Existem alarmes que indicam qualquer alteração que ocorra no sistema (detectores de bolhas, alteração de temperatura e do fluxo do sangue, etc).
Segundo Eraldo Moura, Coordenador do Sistema Estadual de Transplantes da Bahia (SETB), o que mais retarda a esperança de recuperação dos pacientes crônicos renais é a falta de conhecimento das pessoas que acham que sua vida pode ser ceifada pelo simples fato de ser um doador. De acordo com Moura essa informação precisa ser desmistificada. “Para o médico chegar à conclusão que o paciente estar com morte encefálica (perdas das funções cerebrais), já foi feito uma série de exames rigorosos que comprovam o falecimento do cérebro. Mas, pelo fato dos familiares saberem que o coração está em funcionamento, eles acreditam na possibilidade de reação vital dos seus entes queridos. O que é impossível. E preferem não doar, restringindo o tempo de vida dos enfermos que estão na fila à espera de órgãos”, falou o médico.
Outra dificuldade à ser realizado transplante renal é a compatibilidade entre o doador e o receptor. “O nefrologista solicita do paciente e do doador exames de sangue para uma avaliação do grau de compatibilidade entre os grupos sanguíneos. O Prometa HLA, um tipo de exame, mede o percentual compatível da genética entre o doador e o receptor. Isto significa que quanto mais próximo da igualdade o transplantado consumirá menos medicamentos. Parentes até 3º grau são os mais compatíveis, os mais próximos aos 80% são irmãos. Pais chegam a 50% e outros 25%”, afirmou Moura.
O coordenador admite que um dos fatores que mais contribui para a Bahia ter um número pequeno de transplante renal é a baixa quantidade de equipes ativas no estado. Somente quatro hospitais são atuantes. “Apenas os hospitais Português, São Rafael e Espanhol, que são unidades privadas de caráter filantrópico, atuam na rede complementar de saúde. A única pública, Hospital Ana Nery, foi inaugurada em outubro de 2008, realizando apenas três transplantes de rins, cujo doadores tiveram morte encefálica”, disse.
O presidente da Associação dos Renais Crônicos da Bahia (ACREBA), Gerson Barreto, que é transplantado desde 1982 (rim doado pelo irmão), afirma que em síntese, a Bahia não tem, verdadeiramente, um programa efetivo de transplante em hospital público, porque são as doações de ‘rim cadáveres’ que alavanca todo o processo das cirurgias renais. “O procedimento começou tão errado em Salvador que, na época, foi inaugurada a Central de Captação de Órgão sem ter um laboratório de imunogenética. Hoje este laboratório funciona no Hospital das Clínicas, no qual são feitos os exames de compatibilidade nos pacientes. Eles captam os órgãos aqui para examiná-los em Pernambuco ou Ceará”. Barreto acredita que se fosse realizado todo procedimento no estado não seria necessário a saída do órgão nem dos pacientes. “Na Bahia, 3.606 pessoas estão na fila à espera de um transplante de órgão e tecido, o que proporciona a saída dos nossos pacientes para serem transplantados em outras regiões”, afirmou insatisfeito com a situação.
No entanto, com a nova regulamentação técnica do Sistema Nacional de Transplante, Eraldo Moura acredita que irá aumentar em 20%, o número de doações, porém todas as centrais têm seis meses para adequar as mudanças. Ele vê esta portaria como um progresso no sistema de transplante e destaca um dos maiores ganhos de todas as alterações. “Foi um avanço sem dúvida. A portaria tem como objetivo fazer com que todo o País tenha os mesmos critérios, enquanto antes os critérios eram estabelecidos por cada Estado. Nossos requisitos nos diferenciavam dos demais estados. Por exemplo, antes aqui não fazia transplante de um doador com hepatite para um paciente com hepatite, isso fazia com que a gente perdesse doador para outras cidades, o que acirrava mais a nossa fila e consequentemente a nossa espera. É aí que está à importância da regulamentação na utilização de doadores limítrofes, ou seja, com alguma doença prévia”.

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