Porões das redes sociais que pedem Lula morto assustam pela desumanidade
Tudo
envolvendo o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva parece
contraditório por natureza. Nesta quarta-feira (7), a Justiça do Paraná
determinou a transferência do petista para São Paulo, onde poderia
dividir a cela com outro preso – e, numa penitenciária como Tremembé,
poderia até incluir nomes famosos. Porém, ao mesmo tempo em que estar
perto da família era um direito até então negado ao ex-presidente, os
aliados de Lula pediram que a transferência fosse cancelada, por falta
de condições para abrigá-lo em segurança. Após uma sessão rápida, o
Supremo Tribunal Federal (STF) acatou o pedido e ele deve permanecer em
Curitiba por mais algum tempo.
Não
é novidade que o petista desperta amores e ódios. Porém a cada novo
episódio envolvendo a prisão dele fico impressionado como as pessoas
conseguem enxergar apenas o que lhes convêm, seja para inocentá-lo, seja
para condená-lo. Ter um ex-presidente sob cárcere não é algo comum nas
democracias. É pouco usual e, portanto, natural que tudo envolvendo Lula
apareça com certo ineditismo. Ele não é um preso comum e insistir nessa
tese é uma falha grave de quem o trata como um mero pária da nação.
Como
ex-presidente, o petista teria direito a uma Sala de Estado Maior para
cumprir a pena. Não acontece em Curitiba, onde ele está preso na
superintendência da Polícia Federal desde abril de 2018. Não deve
acontecer em Tremembé, visto que nem mesmo a juíza que determinou a
transferência pediu esse espaço. No entanto, se é um direito ele não
permanecer junto a presos comuns, alocá-lo em cela coletiva é, no
mínimo, um desrespeito à própria legislação. Infelizmente, é notório que
o antipetismo é tão forte que, no submundo das redes sociais, essa
possibilidade de Lula dividir cela com qualquer outra figura do sistema
carcerário foi registrada como uma celebração. Não dá para agir assim.
Parte
desse ambiente de “comemoração” vem sendo construído ao longo dos anos
e, aos poucos, vai ganhando contornos cada vez mais desumanos. Tanto que
é possível até ver brasileiros ansiando para que o ex-presidente venha a
ser vítima de um atentado na cadeia, algo que, infelizmente, tem
acontecido com frequência nos complexos penais nos diversos rincões do
país. Tais comentários, inclusive, geraram a reação de aliados de Lula,
que temem pela vida do petista, em caso do mesmo ser tratado como um
preso comum.
A
súbita transferência de Lula para Tremembé está sendo questionada
judicialmente pela defesa do ex-presidente. Como a família dele mora na
região da Grande São Paulo, esse direito de estar perto dos parentes já
vinha sendo negado desde a prisão dele. Agora, aparentemente sem estar
dentro do radar, a Justiça determinou a transferência. Em um processo
eivado de questionamentos, esse é apenas mais um para o rol de dúvidas
levantadas por aqueles que veem problemas nele. Até que a ida para São
Paulo seja confirmada – ou negada em definitivo -, muita tensão
circulará o noticiário em torno da decisão.
Já
que essa novela não parece estar perto do fim, é sempre importante
fazer uma reflexão. Lula está longe de ser o anjo de candura pintada por
aliados, mas também não é o demônio desenhado pelo antipetismo. Esses
extremos são, portanto, algo difícil de lidar. Talvez por isso minha
gastrite tenha ficado atacada ultimamente.
Este texto integra o comentário desta quinta-feira (7) para a RBN Digital, veiculado às 7h e às 12h30. BN
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