sábado, 23 de novembro de 2019

Você sabia que é possível trocar uma válvula do coração sem fazer cirurgia?

Você sabia que é possível trocar uma válvula do coração sem fazer cirurgia?

Um procedimento minimamente invasivo pode ser uma possibilidade para que o paciente restabeleça a sua vida plena rapidamente

A medicina é uma área que evoluiu exponencialmente ao longo dos tempos e que permanece em constante mudança e crescimento. Foram muitas conquistas e tratamentos realizados. Um dos destaques é a cirurgia de válvula, que é realizada há muito tempo e é considerada uma cirurgia de grande porte. Hoje em dia, com a área de Medicina Intervencionista, o procedimento pode ser realizado de maneira tecnicamente mais simples e menos agressivo para o paciente.

Mas, o que são válvulas?


Pois bem, o coração é um músculo, ele pulsa e sua função é fazer o sangue circular. Mas, na hora em que ele pulsa, o sangue vai para qual direção? O que garante que o sangue circule em uma direção só é um jogo de válvulas. O coração possui quatro válvulas. Quando esse músculo bate, a válvula se abre, para permitir que o sangue vá para frente e quando o coração relaxa (se prepara para outro batimento) ela se fecha, para evitar que o sangue volte. Então, a circulação é sempre feita em uma única direção e as válvulas que se abrem e se fecham garantem que a cada batimento cardíaco o sangue circule numa direção só. Essas válvulas são: 
  • Válvula pulmonar;
  • Tricúspide;
  • Aórtica;
  • Mitral.​
Válvula pulmonar é aquela que fica entre o coração e o pulmão. A Válvula tricúspide é aquela que fica dentro do coração separando o átrio do ventrículo, à direita. A válvula aórtica é aquela que separa o coração da aorta, que é a principal artéria do organismo. E a válvula mitral é aquela que fica dentro do coração separando átrio de ventrículo, à esquerda.

O coração tem duas metades, a metade esquerda e a metade direita. A metade direita é aquela que recebe o sangue que vem dos órgãos e manda para o pulmão, para ser oxigenado. A metade esquerda é aquela que recebe o sangue que veio do pulmão, oxigenado, e na próxima pulsação manda para o organismo receber esse sangue rico em oxigênio.

A válvula pulmonar e a tricúspide são aquelas que ficam no lado direito do coração. As válvulas aórtica e mitral ficam no lado esquerdo do coração. As válvulas precisam se abrir plenamente para permitir a passagem de sangue e elas precisam fechar completamente para evitar que o sangue volte. 

Às vezes, essas válvulas têm problemas, elas não abrem suficientemente, logo o coração precisa fazer muito mais força do que de costume para vencer o obstáculo da válvula que não se abre plenamente. Outras vezes, elas não se fecham inteiramente e o sangue volta. Quando a válvula não se abre totalmente, chamamos de estenose ou obstrução. Quando a válvula não se fecha plenamente nós chamamos de insuficiência ou regurgitação – que é quando o sangue volta. 

As quatro válvulas do coração podem apresentar esses dois tipos de problemas. Na população adulta um dos problemas mais comuns é a estenose da válvula aórtica, quando essa válvula abre pouco e o coração precisa fazer muito mais força para vencer essa obstrução.

E outro problema comum é a insuficiência da válvula mitral, o coração bate e ao invés do sangue ir para frente ele volta para trás, porque a válvula não se fecha totalmente.
Há outras doenças que acometem as válvulas. Mas, esses são os problemas mais comuns nos adultos e principalmente em idosos, doenças da própria válvula que acontecem por degeneração da válvula. 

Quando não optar pela cirurgia? 


A partir da quinta e até a nona ou décima década de vida, há uma predileção por acometimento dos problemas da estenose aórtica e da regurgitação mitral. São doenças degenerativas e há relação com idades mais avançadas, exatamente porque a degeneração da válvula é um problema crônico, que acontece ao longo dos anos. À medida que o tempo vai passando, vamos acumulando problemas, doenças.

Por exemplo, aos 80 anos de vida é comum que a pessoa já tenha tido enfermidades, outras doenças como diabetes ou Parkinson, que já tenham passado por cirurgias cardíacas anteriormente. Nestes casos, em que há outras comorbidades, quando ocorre o problema da válvula, a cirurgia tradicional cardíaca com frequência afigura-se um tratamento de alto risco. É comum que a pessoa acabe não fazendo a cirurgia cardíaca, porque além do problema com o coração, há problemas de outra natureza, o que aumenta muito a chances de complicações da cirurgia. 

É nessa hora que o tratamento através da medicina intervencionista, minimamente invasiva, é aplicado. Para reduzir os riscos do tratamento.

Quando as válvulas começam a não funcionar corretamente, o coração precisa trabalhar mais do que de costume, se você tem uma obstrução, o coração precisa fazer muito mais força para bombear o sangue, quando você tem regurgitação, ele também precisa fazer muito mais força, porque o sangue ao invés de ir para frente, ele vai para trás e o músculo tem que bater dobrado, para poder mandar o sangue para frente já que uma parte vai para trás.

O coração tem uma reserva, mas chega uma hora em que essa reserva acaba e é nesse momento, que a gente começa a apresentar sintomas: cansaço, falta de ar, pode haver desmaio e dor no peito.

Essas doenças (estenose e obstrução) quando não tratadas podem causar a falha do coração, a um ponto, que às vezes é irreversível e pode levar a morte. Inclusive, um dos riscos da estenose aórtica não tratada é a morte subida.  Mas a boa noticia é que são problemas corrigíveis, nesse caso se você detecta precocemente, as chances de se resolver o problema são grandes.

Diagnóstico


O diagnóstico é feito através da consulta médica, os problemas nas válvulas do coração apresentam o que conhecemos por sopro. No consultório, o médico consegue ouvir o coração do paciente e ao escutar e detectar o sopro, o diagnóstico é confirmado através do exame de ecocardiograma. Basicamente, com uma consulta médica e um exame o paciente já recebe um diagnóstico dos problemas de válvulas.

Procedimento


Quando a válvula está obstruída (estenótica ou insuficiente), ela não funciona plenamente, logo, você tem um problema mecânico dentro do coração.  Portanto, você tem que corrigir a válvula e não há um remédio que faça essa correção. Quando chega naquele ponto, em que realmente a reserva do coração esgotou, é preciso trocar a válvula, fazer uma substituição no local ou fazer algum tipo de procedimento para restabelecer o funcionamento dessa válvula.
O tratamento tradicional é cirúrgico e feito há muito tempo e é considerada uma cirurgia de grande porte. Às vezes, acontece de um paciente necessitar da cirurgia, porém, há outras condições que o impedem de ser submetido a um tratamento desse nível.  Para atender essa população que precisa fazer um tratamento, mas que não pode fazer algo cirúrgico, de criar algum outro tipo de abordagem minimamente invasiva e é isso o que é feito através do cateterismo. Hoje, nós temos a possibilidade de fazer as correções das válvulas através do próprio cateterismo sem corte, minimamente invasivo. Na cirurgia tradicional, o cirurgião vê diretamente o coração, trabalha diretamente nele e troca a válvula cardíaca. 

No procedimento feito pela medicina Intervencionista, são realizados pequenos orifícios que chegam ao coração, utilizando-se sondas que realizam o procedimento. Ou seja, uma maneira menos agressiva na maioria dos casos.

Por que que demorou mais tempo para criar a medicina intervencionista que a cirúrgica? Porque só recentemente, a tecnologia evoluiu aponto de miniaturizar os instrumentos para que eles coubessem dentro dessas sondas e que os médicos pudessem trabalhar dentro do coração através dessas ferramentas mais delicadas. Além disso, como na medicina intervencionista não é possível enxergar o coração com os próprios olhos, os médicos e engenheiros tiveram que desenvolver também outras tecnologias para fazer os profissionais visualizarem tudo o que há dentro do coração para mais segurança e conhecimento durante um procedimento.

Há riscos?


Todo tratamento cardíaco envolve riscos.  Toda vez que falamos do risco de um tratamento, nós temos que comparar com o risco da doença. E com o risco da alternativa. A doença já está naquela fase de que não tratar é arriscadíssimo? Sim. Então, o risco da doença é alto.

Agora, é escolhido qual tipo de tratamento. Há o minimamente invasivo e aquele cirúrgico. O risco do minimamente invasivo é menor do que o risco cirúrgico? Sim. Foi escolhido o tratamento de menor risco, agora, significa dizer que ele é isento de riscos? Não.

Pós-operatório


Quando a opção é realizar um procedimento minimamente invasivo, a internação, de um modo geral é mais breve do que quando é feito um tratamento cirúrgico, mas sempre demanda internação. O pós-operatório também é mais tranquilo, porque não há a recuperação própria da cirurgia. 

Independente do método de um procedimento lembre-se que quando um problema é diagnosticado em fase inicial as chances de cura ou de retardo da doença são maiores e para isso mantenha as consultas com o seu médico regulares e os exames em dia.

​Fonte: dr. Pedro Alves Lemos Neto, cardiologista do Einstein

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