sexta-feira, 10 de abril de 2020

“Para quando eu me for”, um texto para quem não tem medo de se emocionar

“Para quando eu me for”

“Para quando eu me for”, um texto para quem não tem medo de se emocionar

Morrer é uma surpresa. Sempre. Nunca se espera. Nem mesmo o paciente terminal acha que vai morrer hoje ou amanhã. Na semana que vem talvez, mas apenas se a semana que vem continuar sendo na semana que vem.
Nunca se está pronto. Nunca é a hora. Nunca vamos ter feito tudo o que queríamos ter feito. O fim da vida sempre vem de surpresa, fazendo as viúvas chorarem e entediando as crianças que ainda não entendem o que é um velório (Graças a Deus).
Com meu pai não foi diferente. Na verdade, foi mais inesperado. Meu pai se foi com 27 anos, a idade que leva muitos músicos famosos. Jovem. Moço demais. Meu pai não era músico nem famoso, o câncer parece não ter preferência. Ele se foi quando eu ainda era novo, descobri o que era um velório justamente com ele. Eu tinha 8 anos e meio, o suficiente pra sentir saudade pelo resto da vida. Se ele tivesse morrido antes, não haveriam lembranças. Nem dor. Mas também não haveria um pai na minha história. E eu tive um pai.
Tive um pai que era duro e divertido. Que me colocava de castigo com uma piadinha pra não me magoar. Que me dava um beijo na testa antes de dormir. Hábito esse que eu levei para os meus filhos. Que me obrigou a amar o mesmo time que ele e que explicava as coisas de um jeito melhor que a minha mãe. Sabe? Um pai desses que faz falta.
Ele nunca me disse que ia morrer, nem quando já estava deitado cheio de tubos. Meu pai fazia planos para o ano que vem mesmo sabendo que não veria o próximo mês. No ano que vem iríamos pescar, viajar, visitar lugares que nenhum de nós conhecia. O ano que vem seria incrível. Eu vivi esse sonho com ele.
Acho, tenho certeza na verdade, que ele pensava que isso daria sorte. Supersticioso. Pensar no futuro era o jeito dele se manter otimista. O desgraçado me fez rir até o final. Ele sabia. Ele não me contou. Ele não me viu chorar a sua perda.
E de repente o ano que vem acabou antes de começar.
Minha mãe me pegou na escola e fomos ao hospital. O médico deu a notícia com toda a sensibilidade que um médico deixa de ter com os anos. Minha mãe chorou. Ela também tinha um pingo de esperança. Como disse antes, todo mundo tem. Eu senti o golpe. Como assim? Não era só uma doença normal dessas que a gente toma injeção? Pai, como eu te odiei. Você mentiu pra mim. Não fiquei triste, pai, fiquei com raiva. Me senti traído. Gritei de raiva no hospital até perceber que meu pai não estava lá pra me colocar de castigo. Chorei.
Mas aí meu pai foi meu pai de novo. Trazendo uma caixa de sapato debaixo dos braços, uma enfermeira veio me consolar. Dentro, dezenas de envelopes lacrados com frases escritas onde deveriam ficar os nomes dos destinatários. Entre as lágrimas e os soluços não consegui entender direito o que estava acontecendo. E então a mesma enfermeira me entregou uma carta. A única fora da caixa.
“Seu pai me pediu pra entregar essa pessoalmente e te dizer pra abrir. Ele passou a semana inteira escrevendo tudo isso e disse que era pra você. Seja forte.” Disse a enfermeira com um abraço.
PARA QUANDO EU ME FOR dizia o envelope que ela me entregou. Abri.Filho,
Se você está lendo eu morri. Desculpa, eu sabia.
Não queria te dizer que ia acontecer, não queria te ver chorar. Parece que consegui. Acho que um homem prestes a morrer tem o direito de ser um pouco egoísta.
Bom, como eu ainda tenho muito pra te ensinar, afinal você não sabe de nada, deixei essas cartas. Você só pode abrir quando o momento certo chegar, o momento que eu escrevi no envelope. Esse é o nosso combinado, ok?
Eu te amo. Cuida da sua mãe, você é o homem da casa agora.
Beijo, pai.
PS: Não deixei cartas para sua mãe, ela já ficou com o carro.
E com aqueles garranchos, afinal naquela época não era tão fácil imprimir como é hoje em dia, ele me fez parar de chorar. Aquela letra porca que uma criança de 8 anos mal entendia (eu, no caso) me acalmou. Me arrancou um riso do rosto. Esse era o jeito do meu pai de fazer as coisas. Que nem o castigo com uma piadinha para aliviar.
Aquela caixa se tornou a coisa mais importante do mundo. Proibi minha mãe de abrir, de ler. Mas elas eram minhas, só pra mim. Sabia decorado todos os momentos da vida em que eu poderia abrir uma carta e ler o que meu pai tinha deixado. Só que esses momentos demoraram muito pra chegar. E eu esqueci.
Sete anos e uma mudança depois eu não tinha ideia de onde a caixa tinha ido parar. Eu não lembrava dela. Algo que você não lembra não faz falta. Se você perdeu algo da sua memória, você não perdeu. Simplesmente não existe. Como dinheiro que depois você acha no bolso da bermuda.
E então aconteceu. Uma mistura de adolescência com o novo namorado da minha mãe desencadeou o que meu pai sabia que um dia aconteceria. Minha mãe teve vários namorados, sempre entendi. Ela nunca casou de novo. Não sei ao certo o motivo, mas gosto de acreditar que o amor da vida dela tinha sido meu pai. Mas esse namorado era ridículo. Eu sentia que ela se rebaixava pra ele. Que ele fazia pouco da mulher que ela era. Que uma mulher como ela merecia algo melhor do que um cara que ela tinha conhecido no forró.
Me lembro até hoje do tapa que veio acompanhado da palavra “forró”. Eu mereci, admito. Os anos me mostraram isso. Na hora, enquanto a pele da minha bochecha ardia, lembrei da minha caixa e das minhas cartas. De uma carta em específico que dizia PARA QUANDO VOCÊ TIVER A PIOR BRIGA DO MUNDO COM A SUA MÃE.
Corri para o quarto e revirei minhas coisas o suficiente para levar outro tapa na cara da minha mãe. Encontrei a caixa dentro de uma mala de viagem na parte de cima do armário. O limbo. Procurei entre os envelopes. Passei por PARA QUANDO VOCÊ DER O PRIMEIRO BEIJO e percebi que havia pulado essa, me odiei um pouco e decidi que a leria logo depois, e por PARA QUANDO VOCÊ PERDER A VIRGINDADE, uma que eu esperava abrir logo, logo. Achei o que procurava e abri.
Pede desculpa.
Eu não sei o motivo da briga e nem quem tem razão. Mas eu conheço a sua mãe. Então a melhor maneira de resolver isso é com um humilde pedido de desculpas. Do tipo rabinho entre as pernas.
Ela é sua mãe, cara. Te ama mais do que tudo nessa vida. Sabe, ela escolheu parto normal porque alguém disse que era melhor pra você. Você já viu um parto normal? Pois é, quer demonstração de amor maior que essa?
Pede desculpa. Ela vai te perdoar. Eu não seria tão bonzinho.
Beijo, pai.
Meu pai passava longe de um escritor, era bancário, mas as palavras dele mexeram comigo. Havia mais maturidade nelas do que nos meus quatorze anos de vida. O que não era muito difícil por sinal.
Corri para o quarto da minha mãe e abri a porta. Já estava chorando quando ela, chorando também, virou a cabeça pra me olhar nos olhos. Não lembro o que ela gritou pra mim, algo como “O que você quer?”, mas lembro que andei até ela e a abracei, ainda segurando a carta do meu pai. Amassando o papel já velho entre os meus dedos. Ela me abraçou de volta e ficamos em silêncio por não sei quantos minutos.
A carta do meu pai fez ela rir alguns momentos depois. Fizemos as pazes e conversamos um pouco sobre ele. Ela me contou umas manias estranhas que ele tinha, como comer salame com geleia de morango. De algum modo, senti que ele estava ali. Eu, minha mãe e um pedaço do meu pai, um pedacinho que ele deixou naquele papel. Que bom.
Não demorou muito e li PARA QUANDO VOCÊ PERDER A VIRGINDADE.
Parabéns, filho.
Não se preocupa, com o tempo a coisa fica melhor. Toda primeira vez é um lixo. A minha foi com a puta mais feia do mundo, por exemplo.
Meu maior medo é você ler o envelope e perguntar da sua mãe antes da hora o que é virgindade. Ou pior, ler o que eu acabei de escrever sem nem saber o que é punheta (você sabe, não sabe?). Mas isso também não será problema meu, não é mesmo?
Beijo, pai.
Meu pai acompanhou minha vida toda. De longe, sim, mas acompanhou. Em incontáveis momentos suas palavras me deram aquela força que ninguém mais conseguia dar. Ele sempre dava um jeito de me arrancar um sorriso em um momento de tristeza ou de clarear meus pensamentos num momento de raiva.
PARA QUANDO VOCÊ CASAR me emocionou, mas não tanto quanto PARA QUANDO EU FOR AVÔ.
Filho, agora você vai descobrir o que é amor de verdade. Vai descobrir que você gosta bastante da sua mulher, mas que amor mesmo é o que você vai sentir por essa coisinha aí que eu não sei se é ele ou ela. Sou um cadáver, não um vidente.
Aproveita. É a melhor coisa do mundo. O tempo vai passar rápido, então esteja presente todos os dias. Não perca nenhum momento, eles não voltam mais. Troque as fraldas, dê banho, sirva de exemplo. Acho que você tem condições de ser um pai tão incrível quanto eu.
A carta mais dolorida da minha vida foi também a mais curta do meu pai. Acredito que ele sofreu para escrever aquelas quatro palavras o mesmo que eu sofri por ter vivido aquele momento. Demorou, mas um dia eu tive que ler PARA QUANDO SUA MÃE SE FOR.
Ela é minha agora.
Uma piada. Um palhaço triste que esconde o choro por trás do sorriso de maquiagem. Foi a única carta que não me arrancou um sorriso, mas entendi a razão.
Eu sempre respeitei o combinado com meu pai. Nunca li nenhuma carta antes do momento certo. Tirando PARA QUANDO VOCÊ SE DESCOBRIR GAY, claro. Nunca acreditei que o momento de ler essa carta chegaria, então abri muitos anos atrás. Ela foi uma das mais engraçadas, por sinal.
O que eu posso dizer? Ainda bem que morri.
Deixando as brincadeiras de lado e falando sério (é raro, aproveita). Agora semimorto eu vejo que a gente se importa muito com coisas que não importam tanto. Você acha que isso muda alguma coisa, filho?
Não seja bobo, seja feliz.
Sempre esperei muito pelo próximo momento. Pela próxima carta. Pela próxima lição que meu pai tinha pra me dar. Incrível como um homem que viveu 27 anos teve tanto pra ensinar pra um senhor de 85 como eu.
Agora, deitado na cama do hospital, com tubos no nariz e na traqueia (maldito câncer), eu passo os dedos por cima do papel desbotado da última carta. PARA QUANDO SUA HORA CHEGAR o garrancho quase invisível diz.
Não quero abrir. Tenho medo. Não quero acreditar que a minha hora chegou. Esperança, lembra? Ninguém acredita que vai morrer hoje.
Respiro fundo e abro.
Oi, filho, espero que você seja um velho agora.
Sabe, essa foi a carta mais fácil de escrever. A primeira que eu escrevi. A carta que me livrou da dor de te perder. Acho que estar perto do fim clareia a cabeça pra falar sobre o assunto.
Nos meus últimos dias eu pensei na vida que eu levei. Na minha curta vida, sim, mas que me fez muito feliz. Eu fui seu pai e marido da sua mãe. O que mais eu poderia querer? Isso me deu paz. Faça o mesmo.
Um conselho: não precisa ter medo.
PS: Tô com saudade.

terça-feira, 7 de abril de 2020

Existe espaço para literatura no Tribunal do Júri?


Existe espaço para literatura no Tribunal do Júri? 

Artigos Tribunal do Júri
Matheus Menna
7 de abril de 2020



Existe espaço para literatura no Tribunal do Júri?

Por Matheus Menna e Ana Carolina Soares Warde

Diz-se que o Direito e a Literatura são ficções. Que Direito é uma espécie de ficção essencial, enquanto que a literatura se trata de algo que está mais para o campo reflexivo, capaz de problematizar a realidade.

Se de um lado o Direito pretende aprisionar o presente a fim de projetar o futuro, a literatura propõe uma reflexão a partir da linguagem, transportando a realidade e possibilitando uma visão de mundo ampliada.

Alberto Manguel, na obra “No bosque do espelho: ensaios sobre as palavras e o mundo”, relata que: “De uma forma misteriosa, a aplicação das leis de uma sociedade é parecida com um ato literário: ela fixa a ação criminosa numa página, define-a com palavras, dá-lhe um contexto, que não é o do puro horror do momento, e sim o de sua recordação.”

Certa vez um grande advogado falou que os melhores livros sobre o Tribunal do Júri não falam sobre o Tribunal do Júri, eles falam sobre a alma humana. E por isso a necessidade de ler os clássicos.


Até porque, o tribuno nada mais é do que um contador de histórias. E só há um único jeito de ser um bom contador de histórias: lendo as melhores histórias.

Além de somar na qualidade da narrativa, a literatura nos traz conceitos dos mais belos, justamente em virtude do mencionado no segundo parágrafo deste texto: o conhecimento literário nos permite uma ampliação da visão de mundo.

Cem Anos de Solidão, de Gabriel García Marquez, através da corrente que ficou mundialmente conhecida como realismo mágico, possui uma das mais brilhantes narrativas que conhecemos. Capaz de prender o leitor do início ao fim, Cem Anos de Solidão agrega muito na bagagem intelectual do tribuno. Um dos fatos que faz-se necessário ressaltar da obra de Gabo é a importância de a história ter um bom começo, já que sua primeira frase ficou mundialmente conhecida: “Muitos anos depois, diante do pelotão de fuzilamento(…)”. Gabo conseguiu fazer uma metáfora da condição latino-americana ganhar um Nobel de Literatura.


O personagem Dom Quixote, criado por Miguel de Cervantes, conceitua a liberdade de uma forma linda e simples, ao afirmar, para seu fidalgo Sancho, ser a liberdade um dos bens mais preciosos e que por ela, da mesma forma que pela honra, se deve arriscar a vida. O mesmo personagem é também dono da célebre frase: “A liberdade, Sancho, não é um pedaço de pão.”

Eduardo Galeano, numa linha mais poética, ao ser questionado sobre o que é a utopia, responde com a sensibilidade que lhe é peculiar:


A utopia está lá no horizonte. Me aproximo dois passos, ela se afasta dois passos. Caminho dez passos e o horizonte corre dez passos. Por mais que eu caminhe, jamais alcançarei. Para que serve a utopia? Serve para isso: para que eu não deixe de caminhar.

Ainda sobre Galeano, este utiliza uma metáfora forte para explicar como funciona a justiça, ao dizer que:


A justiça é como uma serpente, só morde os pés descalços.

Qualquer semelhança com o que acontece no Brasil não é coincidência.

E o que dizer do erro de Otelo, personagem de William Shakespeare? Otelo conta para Desdêmona, sua esposa, que assassinou Cássio por saber que ele era seu amante. Ao ver Desdêmona chorar, Otelo possui certeza absoluta que ela o traiu. Contudo, Desdêmona chorou porque com Cássio morto, seria impossível provar que nunca houve traição. Shakespeare nos ensina que, para evitar o erro de Otelo, é preciso resistir à tentação de saltar para as conclusões, sendo necessário considerarmos motivos alternativos, diferentes daqueles que suspeitamos quando estamos contaminados pelas emoções.

Em Dom Casmurro, Machado de Assis foi capaz de plantar um questionamento que perdura até hoje na mente dos leitores: Capitu traiu ou não Bentinho? Propositalmente, tal pergunta não é respondida em seu livro, tendo ambos os lados teorias plausíveis para justificar se houve ou não traição. A dúvida acerca do que, de fato, aconteceu é uma característica desta história magnífica. Seria Machado de Assis um crítico ferrenho da busca incansável pela “verdade real dos fatos”?

Jorge Amado, no brilhante livro Capitães de Areia, demonstra, com uma narrativa capaz de prender o autor do início ao fim, que por trás de um “criminoso” existe toda uma história de vida que, por vezes, é capaz de justificar determinados atos. Jorge nos mostra que, para que um julgamento seja realizado de forma justa, faz-se necessário uma análise ampla acerca da vida do transgressor, sobretudo do contexto em que ele está inserido.

A obra de Fiódor Dostoiévski, Crime e Castigo, traz um olhar diferenciado e aprofundado na mente de um jovem que comete um assassinato e se vê perseguido por sua consciência. Nesta novela, o leitor é envolvido em inúmeras questões e detalhes que passam pela cabeça do assassino, identificando-se com traços psicológicos e morais do mesmo.

Dostoiévski expõe de maneira visceral as mazelas do indivíduo e da sociedade que o cerca: a polícia que prende um inocente que se intitulou o culpado pelo homicídio devido à pressão que sofria; a morte de uma senhora usurária, que emprestava dinheiro a juros altíssimos e maltratava a irmã mais nova, como justificativa para atingir seu potencial, o que não seria um ato moralmente condenável, mesmo que fosse contra a lei; a perturbação que essa ação causa ao personagem, fazendo com que o mesmo busque o “castigo” através de sua confissão como meio de aliviar sua consciência.

Tem-se, portanto, que a literatura complementa o direito, sobretudo porque uma boa narrativa é imprescindível ao mundo jurídico. Mas mais do que isso: a literatura é capaz de humanizar o Direito mostrando que este não precisa sempre desempenhar o papel de vilão da história.

Para o doutrinador Lenio Streck,


Há vários modos de dizer as coisas. Uma ilha é um pedaço de terra cercado por água, mas também pode ser um pedaço de terra que resiste bravamente ao assédio dos mares. É comum dizer que o galo canta para saudar a manhã que chega; mas, quem sabe, ele canta melancolicamente a tristeza pela noite que se esvai. (STRECK, Lenio Luiz; TRINDADE, André Karam. Direito e Literatura: da realidade da ficção à ficção da realidade. Ed. Atlas S.A, São Paulo, 2013, pg. 227)

Segundo o autor, olhando-se a operacionalidade, a realidade não nos toca; já as ficções sim. Neste contexto, alguns livros tocam mais sensivelmente o mundo jurídico: como falar em Processo Penal sem mencionar o famoso livro de Franz Kafka, O Processo, onde o personagem Josef K. remete ao paradigma da pessoa que é perseguida judicialmente sem conhecer as reais causas de tal persecução? Kafka, desta forma, denuncia o autoritarismo da Justiça que se vê com o poder nas mãos para condenar alguém, sem lhe ofertar meios – Constitucionais, pois não – de defesa à altura do aparato estatal.

Por fim, Os Miseráveis, de Victor Hugo, é uma verdadeira aula de criminologia. Destaca-se a homenagem feita por Cosette, que manda gravar no túmulo de seu pai adotivo, Valjean, um dos versos mais lindos que conhecemos:


Dorme.

Viveu na terra em luta contra a sorte

Mal seu anjo voou, pediu refúgio à morte

O caso aconteceu por essa lei sombria

Que faz que a noite chegue, apenas foge o dia!

Portanto, caros Leitores, seja pela importância de uma boa narrativa, pelos conceitos sensíveis que alguns autores são capazes de trazer, ou então pelas metáforas que podem – e devem – ser utilizadas, a resposta é: sim! Existe espaço para literatura no Tribunal do Júri.

sábado, 4 de abril de 2020

Demis Roussos-Jerusalem Of Gold

Quer sua vagina com cheiro e sabor naturalmente delicioso?

Quer sua vagina com cheiro e sabor naturalmente delicioso? Leia

Ok meninas, vamos falar sobre o sabor e o aroma da vagina. As mulheres têm impressões digitais bacterianas vaginais únicas, que dão um gosto distinto. Pergunte a qualquer homem que gosto tem uma vagina e você obteria toda uma gama de respostas que vão de salgado a amargo, sexy até leite doce.
O aroma e o sabor são uma combinação de fatores; o cheiro natural do seu corpo, a comida que você come, o cheiro de qualquer sabão que você usa e os sucos da sua vagina. Beber bastante água é essencial para melhorar o odor, fato. Então, você não preferiria ser aquela garota com cheiro e um gosto delicioso na buceta?
Lave a PPK!
O primeiro passo óbvio para ter fragrâncias particulares, deliciosas e perfumadas seria lavar-se pelo menos duas vezes por dia. Use um sabonete suave e sem perfume ou, melhor ainda, faça uma lavagem íntima especial com sabonete de valor Ph neutro.
Ar na bichinha!
Bactérias prosperam em lugares úmidos, então mantenha a área seca e use calcinhas de algodão em vez de tecidos sintéticos menos respiráveis. Calcinha de biquíni de algodão pode ser sexy também. Guarde seu fio dental e rendas para ocasiões especiais. Também é uma boa idéia lavar suas roupas com detergentes que não contenham corantes ou fragrâncias que irão colidir com o cheiro natural do seu corpo.
Não jogue perfume!
Embora possamos intuitivamente pensar que o perfume é uma maneira certa de fazer as coisas cheirarem bem, evite perfumes ao redor da área da vagina. Álcool e fragrâncias sintéticas do perfume podem piorar o odor vaginal e perturbar o equilíbrio do PH. Sim, pode mascarar o cheiro, mas isso é apenas temporário e definitivamente não vai fazer você se sentir melhor a longo prazo.
Depila isso!
O suor causa odores e pêlos pubianos retêm o suor. Ao se depilar, a chance de odor causado pelo suor é significativamente reduzida e, na minha opinião, uma vagina depilada é visualmente mais limpa e atraente.
Higienize bebê!
Usar lenços umedecidos de bebê depois de cada ida ao banheiro. Eles podem reduzir o trato urinário / infecções vaginais e são projetados para serem suaves para a pele. Então mantenha alguns lenços umedecidos à mão.
Coma!
Você sabia que os vegetarianos têm provado ter secreções de sabor melhor do que comedores de carne?! É verdade que o que você come afeta o sabor e o cheiro de lá. Experimente uma mistura de iogurte, amêndoas e mel no café da manhã e você terá gosto de sobremesa. Também é bom ter frutas ou legumes ricos em açúcares naturais; abacaxis, aipo, uvas vermelhas, suco de cranberry, melancia e muita água deixarão suas secreções com sabor doce e fresco. Geralmente, esses alimentos funcionarão  dentro de algumas horas de consumo, mas sugiro incluí-los um dia antes ou, melhor ainda, torná-lo parte de sua dieta básica! Dizem que comer doce também adoça a vagina.
Não coma!
Qualquer alimento que o deixe com peidos malcheirosos, mau hálito ou xixi fedorento deve ser evitado, já que não é nada óbvio que alimentos fedorentos e picantes façam com que você tenha um gosto bom ali. Cerveja, café,  comida picante e álcool tendem a azedar a vagina, enquanto os aspargos, alho e cebola crua farão com que cheire mal. Evite-os se você quiser fazer amor hoje.
Trate-se!
A infecção por fungos é uma causa de mau cheiro. Você precisará tratar antes de começar a provar e cheirar bem lá embaixo. Um creme como o Vagisil, que pode ser comprado em farmácias, pode eliminar o odor e a coceira. Se é um problema persistente e você acha que é uma infecção grave, é aconselhável consultar o seu médico.
Mergulhe!

Um antigo remédio para ter as vaginas saudáveis ​​é molhar um absorvente limpo em iogurte puro sem açúcar e depois inseri-lo na vagina por uma hora. Combatendo os insalubres, as bactérias saudáveis ​​do iogurte ajudam a eliminar qualquer odor de peixe e desagradável. Lembre-se de lavar bem a vagina depois de retirar o tampão. Uma nota importante para lembrar – iogurte aromatizado ou aqueles que contêm açúcar não deve ser usado com o risco de infecção por fungos. Lavagem com vinagre de maçã usando o In-m, uma ducha descartável, também é um santo remédio.
Dedicado a você que adora chupar uma bem docinha…

Vagina cheirosa, lisa, limpa… e saudável?

Higiene íntima


Vagina cheirosa, lisa, limpa… e saudável?

“Tem cheiro de bacalhau”, “Fede a peixe podre”, “É nojenta”: quantas vezes já não ouvimos essas frases a respeito da vagina? A relação das mulheres com o próprio corpo nunca foi das melhores. Muitas mulheres se incomodam com o odor e o corrimento e usam cada vez mais produtos para disfarçá-los ou eliminá-los.
A maioria dos produtos de higiene íntima é voltada para o público feminino. Existe um apelo para que a vagina se mantenha sempre cheirosa, limpa e lisa. Em nome da “higiene”, as mulheres passaram a se preocupar cada vez em deixar tudo sempre esterilizado. Para isso, elas utilizam uma porção de produtos, que variam entre absorventes pequenos fora do período menstrual, lenços umedecidos, sabonetes e cremes perfumados, ducha portátil e até a depilação total da vagina (o nome que usamos é virilha, mas há muito tempo não depilamos apenas a virilha). No entanto, o uso de inúmeros desses produtos, ao contrário do que muitos pensam, é prejudicial.
Primeiro é preciso explicar que o corrimento branco e diário é normal. Ele é formado por secreções vaginais, suor e sebo, substâncias produzidas na região genital que, aliadas aos micro-organismos naturais à região, ajudam a protegê-la.
O excesso de limpeza altera o pH e a flora natural do órgão sexual, deixando a mulher mais vulnerável a doenças. O uso de absorventes diários prejudica a circulação de ar e abafa o ambiente, tornando-o propício para a proliferação de fungos e bactérias. Outro problema é que os sabonetes e produtos perfumados possuem muitos produtos químicos. Além deles, a utilização de lenços agride a mucosa vaginal.
Algumas mulheres sofreram com o paradoxo: estar limpa e cheirosa X enfrentar problemas. A estudante Beatriz conta que usou sabonete íntimo e teve vários problemas de irritação. “Ele resseca muito a vagina e tira suas secreções naturais. Aliado a isso, o combo sabonete íntimo + alimentação ruim + calça jeans o dia inteiro + não se secar direito = fungos e candidíase na certa”, conta. A estudante Amanda já usou produtos de diversas marcas e todos aumentaram o corrimento.

Por que só mulheres?

A relação de homens e mulheres com seus órgãos sexuais é paradoxal. Enquanto os homens se orgulham e têm muita intimidade com o pênis, as mulheres seguem com vergonha.
Você já viu lencinhos umedecidos para pênis? Ou produtos de higiene peniana nas prateleiras das farmácias? É reservada às mulheres a função de estar sempre limpa, cheirosa e delicada.
Existe uma série de motivos que explicam essa “exigência”. Um deles é a má relação da mulher com o próprio corpo. A mulher não é ensinada a encarar seu corpo e seus odores como naturais. Essa
falta de intimidade, alinhada a uma falta de conhecimento sobre as secreções naturais, leva a mulher a enxergar odores e secreções como problemas a serem resolvidos.
Em 2009, a Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo) lançou um guia prático de conduta para a higiene genital feminina. Apesar de necessária por indicar os produtos corretos para a higiene e falar de algo muitas vezes deixado de lado na educação feminina, o documento reafirma o estereótipo de incômodo causado pelo cheiro do órgão. Em sua introdução, ele afirma: “A mulher, via de regra, sente-se insegura quanto à possibilidade de apresentar odores desagradáveis e fluxos genitais que, além de impregnar o ambiente, podem manchar
as vestes íntimas e as externas”. O texto demonstra a naturalização que essa preocupação feminina tem na sociedade.
A educação sexual repressiva também é um dos motivos da má-informação. É socialmente convencionado que a função sexual da mulher é agradar o parceiro e ponto. Daí surge a preocupação com a desaprovação do homem. A ideia de que a vagina é um órgão sujo e fedido, e de que isso pode afastar os homens, acaba fazendo com que muitas mulheres se preocupem excessivamente com isso.
Uma pesquisa da empresa SexWipes, realizada em São Paulo, revelou que apenas 56% dos homens fazem sexo oral na parceira e, desses, 35% têm nojo da vagina. E apenas alguns homens conversam sobe isso com suas parceiras. “Nenhum homem reclamou diretamente, acho que eles têm vergonha de falar sobre isso abertamente com as mulheres. Alguns fazem através de piadas e comentários em rodas de amigos”, conta Amanda. Ela diz começou a usar produtos de higiene íntima desde cedo. “Sempre quis usar os produtos que saiam na propaganda pra TV, além de me incomodar com o meu próprio cheiro”.
Outro motivo para esse uso é a correria. A mulher ganhou mais parceiros sexuais. Além disso, ela também ganhou uma longa jornada de trabalho fora de casa. Nessa rotina, para aguentar o dia todo “cheirosinha”, ela utiliza lenços, absorventes, sabonetes e tudo que garanta a higiene. É em nome da higiene que se reprime. Alguns desses produtos prometem prevenir doenças sexuais e melhorar o sexo. É balela. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) os classifica apenas como higienizadores.

Saúde

A vagina é um ambiente quente e úmido e, por isso, propício a infecções. O uso de produtos para higiene íntima é muito bem vindo quando ajuda a mulher a evitar essas doenças. Segundo ginecologistas, o uso do lenço uma vez ao dia não é prejudicial. E o sabonete ideal é o neutro, que mantém o pH entre 3,5 e 4,5 considerado o ideal. É importante lembrar que a limpeza não deve ser feita internamente.
Existe sim a secreção não natural e prejudicial à saúde da mulher, mas ela é bem diferente da que temos diariamente. Os sintomas que indicam problemas e infecções são os seguintes: corrimento amarelo, coceira, ardência e odor forte. Quando esses sintomas aparecem, não devemos disfarçar o cheiro para não desagradar às pessoas. Eles são sintomas de que há algo errado e é preciso procurar um médico e um tratamento.
Por isso, o autoconhecimento é necessário. Quando as mulheres conhecem o cheiro e as secreções naturais da vagina, elas saberão quando algo estiver errado.

Por Thaís Matos – Lado M

Como Preparar o Café da Manhã com a Sua Vagina

Tech by VICE

Como Preparar o Café da Manhã com a Sua Vagina


Mas não é só porque dá pra fazer que nós recomendamos que você faça.

por Janet Jay
10 Fevereiro 2015, 12:17pm
Iogurte feito com secreções vaginais se parece muito com o popular iogurte caseiro, como esse da foto.
A ideia surgiu quando uma amiga e eu conversávamos sobre as propriedades probióticas da vagina. "Por que existe um livro cheio de receitas feitas com porra e NADINHA no Google sobre cultivar líquido vaginal?", ela escreveu em uma mensagem para mim e algumas outras amigas.
Logo, sob o olhar reprovador do espírito de Julia Child, ela pegou uma colher, uma panela, um termômetro para doces e deu início a jornada para fazer iogurte a partir da sua vagina – o que há de mais radical em termos de culinária local.

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Cecilia Westbrook além de ser amiga pessoal minha, é médica/estudante de PhD da Universidade do Wisconsin. Já tínhamos feito piadas sobre a possibilidade de fazer iogurte a partir de secreções vaginais – piadas previsíveis sobre os benefícios dietéticos de se comer buceta, sobre chamar o produto de 'Queefer' [queef' é como os americanos chamam o barulho feito pelo ar ao sair da vagina] – mas então foi feita uma rápida busca no Google e: nada. Nem mesmo na literatura médica. A curiosidade bateu forte, e Westbrook se dedicou a pesquisar a coisa seriamente. Que escolha ela teria se não experimentar consigo mesma?
Toda vagina é lar de centenas de diferentes tipos de bactéria e organismos. Estes organismos – conhecidos como comunidade vaginal – produzem ácido lático, peróxido de hidrogênio e demais substâncias que mantém a vagina saudável. A bactéria dominante chama-se lactobacilo, que por acaso é a mesma utilizada na fabricação de leite, queijo e iogurte.
Mas Westbrook não fez seu próprio iogurte só pra poder fazer piadas incríveis. E certamente não foi porque ela estava com fome. Ela conhecia o bastante a química vaginal para saber que comer um tanto de iogurte feito a partir de seus sucos-de-mulher lhe faria bem. Sério.
Sua primeira fornada de iogurte tinha um gosto azedo, pungente, e que quase formigava na língua. Ela o comparou a iogurte indiano, e comeu-o com alguns mirtilos.
A razão eram bactérias probióticas que, quando ingeridas, podem ajudar a manter nossos intestinos saudáveis. Você com certeza já viu anúncios de iogurtes que supostamente fazem bem para sua digestão. Mas existem probióticos específicos para a vagina à venda também, que afirmam mantê-la saudável ao certificar que existam mais das "boas" bactérias do que das ruins lá embaixo.
"Você pode consumir probióticos oralmente e estas bactérias podem parar na sua vagina", disse Larry Forney, microbiólogo da Universidade de Idaho. "Assim sendo, a ideia toda de comer iogurte para tratar da vagina te faz pensar 'Espera, tem alguma coisa errada com o encanamento aqui?', mas de alguma forma a coisa funciona."
Teoricamente, ao menos. E o que poderia ser mais saudável do que retirar bactérias saudáveis da sua vagina, pensou Westbrook, e cultivar mais para ingerir posteriormente?
O "método de retirada" destas bactérias foi feito com uma colher de madeira. Ela determinou um controle positivo (feito com iogurte comprado mesmo como a cultura inicial) e um controle negativo (leite comum sem nenhum aditivo), e combinou seu ingrediente caseiro na terceira fornada de iogurte. Da noite para o dia, a mágica por trás da biologia rendeu uma tigela de responsa.
Sua primeira fornada de iogurte tinha um gosto azedo, pungente, e que quase formigava na língua. Ela o comparou a iogurte indiano, e comeu-o com alguns mirtilos.
Acabou que, no fim das contas, essa não é a melhor das ideias.
De acordo com Forney, "quando você pega secreções vaginais, não coleta só os lactobacilos. Você está pegando tudo". E é possível que, de um dia para o outro, ou de mulher para mulher, "o que você está usando no seu iogurte não seja mais dominado pelos lactobacilos e sim outra bactéria, as quais poderiam ser patogênicas", explicou.
Por vezes este desequilíbrio pode causar infecções fúngicas e outras coisinhas desagradáveis. Você não vai querer estes organismos no seu café da manhã. Até mesmo uma vagina saudável abriga organismos que podem ser problemáticos.
"É uma péssima ideia em linhas gerais", disse Forney. "Mas há um elemento aí que contem algum apelo: ela está usando bactérias da sua própria vagina."
Já que cada mulher tem um equilíbrio diferente entre bactérias e lactobacilos, os probióticos vaginais podem ter uma utilidade questionável. Agora se uma empresa ou universidade desenvolvessem probióticos personalizados para a flora microbial de cada vagina, seria bem mais eficaz do que o que encontramos no supermercado hoje, explicou Forney.
Os benefícios a saúde de ingerir seus próprios probióticos talvez não tenham sido tão diretos quanto Westbrook esperava, mas ao menos seu plano teve algum mérito. "Gosto do que ela faz em termos de princípios, mas é arriscado porque ela não sabe bem o que está fazendo e poderia acabar com um produto ruim", disse Forney.
O órgão responsável por alimentos e medicamentos dos EUA, a FDA, concorda. De acordo com Theresa Eisenman, assessora de imprensa do Centro de Segurança Alimentar e Nutrição Aplicada da FDA, "secreções vaginais não são consideradas 'alimento' e podem transmitir doenças humanas, um produto alimentício que contem secreções vaginais ou demais fluidos corporais é tido como adulterado".
Em outras palavras, assim como leite cru e alguns queijos fedorentos, você não encontrará o "Iogurte grego da Ceci" à venda logo.
Westbrook já tinha feito sua segunda fornada de iogurte ao saber que ninguém deveria usar coisas da sua vagina para fazer iogurte. Mas apesar da desaprovação de todos, de Forney à FDA, ela está bem. E não fará mais isso.
"De certa forma, é tão óbvio. Tipo, claro que você pode fazer iogurte com base na sua flora natural. Mas quem faria isso?", disse Westbrook. "É claro que a feminista dentro de mim quer falar algo sobre como há beleza no ato de ligar seu corpo ao que você come e explorar os poderes que a vagina tem. Parte disso é um lance meio hippie místico e tal, mas também tem a ver com se sentir à vontade com seu próprio corpo, especialmente em uma cultura que parece tão desconfortável com o corpo feminino."
Independente disso, Westbrook disse que sua segunda fornada estava ainda mais azeda, semelhante ao gosto de leite quase estragado – prova de que, infelizmente, comer iogurte feito com secreções vaginais não é o mesmo que comer buceta de verdade.
Tradução: Thiago "Índio" Silva

A PESTE E O MEDO DO FIM (evangelhista da silva)




(evangelhista da silva)





Hoje é sábado e sabidamente poderia ser qualquer dia. 
Menos um dia de domingo alegre e de alegrias cheio.
Um dia cheio de doces lembranças ainda que cinzentas.
E que a saudade, bisonha, amarga e triste  fosse...

Amanhecera como que todos mortos estivessem
Apesar de que muitos aguardam na fila da incerteza.
Hoje estamos às portas do grande hospital Brasil
Observando o maior delírio deste Manicômio.

Um vento virótico disseminou a terra inteira!
Mudando hábitos e provocando assustadoras mortes.
Os doutos nada podem fazer para conter a ira
De um terrível  minúsculo e multiplicador veneno.

E em um triste e tenebroso adeus os corpos tombam.
Desta vez não através de guerras, e bombas, e tiros.
Os covardes tremem de medo e cinicamente 'oram'.
Não por serem bons mas por serem vencidos em seu ódio.

É a patologia da ira sobre as grandes nações imperialistas.
É a Lei de causas e efeitos resplandecendo em cores e luz.
Fazendo ver aos residentes temporários que tudo passa.
E assim, impotentes, em pânico se desesperam e morrem. 



Santo Antônio de Jesus, 04/04/2020, às 11 h 05 min







sexta-feira, 3 de abril de 2020

O poço e os presídios


O poço e os presídios 


 O poço e os presídios 
O poço e os presídios 
O terror espanhol “O poço”, disponível no serviço de streaming Netflix, chamou a atenção de público e crítica, com muitas teorias e possíveis interpretações.
A estória se passa em um presídio vertical, chamado de “O poço”. Nesse bizarro experimento social, dois prisioneiros dividem cada andar. Não há qualquer conforto nas celas. Cada prisioneiro pode escolher levar um objeto.  O protagonista escolhe o clássico espanhol “Dom Quixote”, uma metáfora das atitudes do personagem ao longo da estória. 
A comida começa a ser servida em uma bandeja que transita pelos andares em um elevador. A refeição começa no primeiro andar com um fausto banquete, com vinhos, muitos pratos e sobremesa. À medida que a bandeja vai descendo os andares, cada um é obrigado pela fome a se servir dos restos dos outros. Nos últimos andares, pouco ou nada resta, levando os prisioneiros ao assassinato e ao canibalismo. Corpos apodrecem à vista de todos. 
Embora a interpretação mais correta seja de que o filme é uma representação da sociedade moderna, a realidade abordada não fica longe dos presídios ao redor do mundo. A falência do sistema prisional moderno tem suas particularidades em cada país. No Brasil, eventos como o massacre de Carandiru e a tragédia de Pedrinhas mostram que o terror é cotidiano nos presídios brasileiros:
Eu fecho os olhos e a imagem que me vem na cabeça é a de vários corpos estendidos no chão, alguns abertos, outro sem cabeça. A gente suporta ver porque não tem jeito mesmo, mas foi um negócio feio. Raimundo Nonato Pires, 56, foi preso por tráfico de drogas em 2013, mesmo ano em que o Complexo Penitenciário São Luís, conhecido como Pedrinhas, chegou ao seu auge de violência com rebeliões e 64 mortos. (Disponível aqui). 
Embora seja signatário de muitos tratados internacionais de Direitos Humanos, o país não se esforça para trazê-los à prática:
O Brasil é sujeito ativo de muitas violações de direitos humanos, ou seja, é autor de muitos ilícitos internacionais humanitários (…). Seja em razão da violência dos seus próprios agentes, seja por força de sua omissão, certo é que o Estado brasileiro já começou a responder por esses ilícitos. As primeiras ‘denúncias’ junto à Comissão Interamericana de Direitos Humanos (em Washington) (casos do presídio Urso Branco em Rondônia, assassinatos de crianças e adolescentes no Rio de Janeiro, Febem de São Paulo etc.) bem revelam o quanto a tutela interna dos direitos humanos está defasada. (BIANCHINI, GOMES, MOLINA, 2007, pg. 316).
O caso Urso Branco não fica nada a dever a filmes de terror:
O escrito de 7 de abril de 2004 e seus anexos, mediante o qual os peticionários das medidas apresentaram suas observações ao quinto relatório do Estado (supra visto 11). O escrito de 20 de abril de 2004 e seus anexos, mediante os quais a Comissão informou que “tem recrudescido a situação de extrema gravidade na Penitenciária Urso Branco”. A Comissão apresentou como anexo um escrito dos peticionários, e indicou que “segundo informado por referida comunicação, nos últimos dias vários internos da Penitenciária Urso Branco tem sido assassinados, alguns deles publicamente; foram produzidos esquartejamentos de cadáveres, e pedaços destes foram lançados contra autoridades e pessoas presentes no lugar; e aparentemente há mais de 170 pessoas como reféns em referida penitenciária, tudo isso relacionado a um motim que se teria produzido no local”. Em razão do anterior, a Comissão solicitou à Corte que “adote todas as medidas urgentes que considere adequadas para impulsionar o cumprimento das medidas provisórias […]”. Ademais, no escrito dos peticionários aportado como anexo pela Comissão, está indicado que no domingo 18 de abril de 2004 se deu um amotinamento na penitenciária, dia no qual se realizava as visitas aos reclusos e que estes “não permitiram que os familiares saíssem após o horário de visitas. ( In RESOLUÇÃO DA CORTE INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS DE 7 DE JULHO DE 2004; MEDIDAS PROVISÓRIAS A RESPEITO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL; CASO DA PENITENCIÁRIA URSO BRANCO).
Mudar essa pavorosa realidade é responsabilidade conjunta do Judiciário e Executivo, independentemente de ideologia política. Do contrário, o Brasil continuará colecionando condenações na Corte Interamericana de Direitos Humanos. 

REFERÊNCIAS
GOMES, Luiz Flávio. Direito Penal, vol. 01: Introdução e Princípios Fundamentais/Luiz Flávio Gomes; Antônio García-Pablos de Molina; Alice Bianchini. São Paulo – Editora Revista dos Tribunais, 2007.
PITOMBO, João Pedro. Anos após decapitações, Pedrinhas tem estrutura melhor, mas continua lotado. Reportagem publicada na Folha de São Paulo em 19/08/2019. Disponível aqui.

segunda-feira, 30 de março de 2020

Camus nos tempos do Coronavírus


Por Alain de Botton
(escritor e filósofo)

THE NEW YORK TIMES -19 de março de 2020







"Camus nos tempos do Coronavírus"



Camus nos lembra que o sofrimento é aleatório, o que é a coisa mais gentil que se pode dizer sobre isso.
Autor nos toca, em nossos tempos atuais, não porque é um vidente, mas porque avalia corretamente a natureza humana.
Para ele a peste está dentro de todos e ninguém é imune.
Em janeiro de 1941, Albert Camus começou a escrever uma história sobre um vírus que se propaga incontrolavelmente de animais para humanos e acaba destruindo metade da população de “uma cidade comum” chamada Orã, na costa argelina. “A Peste”, publicado em 1947, é descrito frequentemente como o maior romance europeu do pós-Guerra.
Um clima de normalidade estranha paira no ar quando o livro começa. Os habitantes da cidade levam vidas ocupadas, voltadas ao dinheiro e distantes da natureza. E então o horror tem início, no ritmo de um livro de suspense. O narrador, doutor Rieux, se depara com um rato morto. Depois outro e mais outro. Em pouco tempo a epidemia toma conta de Orã. A doença é transmitida de cidadão para cidadão, espalhando o pânico em todas as ruas.
Para escrever o livro, Camus mergulhou fundo na história das pestes. Ele leu sobre a Peste Negra, que dizimou estimados 50 milhões de pessoas na Europa no século 14, sobre a peste italiana de 1630, que fez 280 mil mortos nas planícies da Lombardia e do Vêneto, sobre a grande praga de Londres, em 1665, e sobre as pestes que devastaram cidades do litoral da China nos séculos 18 e 19.
Camus não escreveu sobre uma peste em particular, e seu livro tampouco foi apenas, como já foi sugerido, uma história metafórica sobre a ocupação nazista da França. Ele se interessou pelo tema porque pensava que os incidentes históricos reais aos quais chamamos pestes não passam de concentrações de uma precondição universal, instâncias dramáticas de uma regra perpétua —que todos os seres humanos correm o risco de ser exterminados aleatoriamente a qualquer momento, por um vírus, um acidente ou as ações de nosso próximo.
Os moradores de Orã se negam a aceitar a situação. Mesmo quando um quarto da cidade está morrendo, eles não param de imaginar razões por que isso não vai acontecer com eles. São pessoas modernas, com telefones, aviões e jornais. Com certeza não vão morrer como os miseráveis de Londres no século 17 ou
Cantão no século 18.
“É impossível que seja a peste —todos sabem que ela desapareceu do Ocidente”, fala um personagem. “Sim, todos sabiam disso”, acrescenta Camus, “exceto os mortos”.
Segundo Camus, quando se trata de morrer, não existe progresso na história, não há como escaparmos de nossa fragilidade. Estar vivos sempre foi e sempre será uma emergência; é uma “condição subjacente” verdadeiramente inescapável. Com ou sem peste, a peste sempre está presente, se o que queremos dizer com isso é a suscetibilidade à morte súbita, um evento que pode tornar nossas vidas instantaneamente sem sentido.
Foi isso que Camus quis dizer quando falou do “absurdo” da vida. Reconhecer esse absurdo não deve nos levar ao desespero, mas à redenção tragicômica, um abrandamento do coração, um afastar-se do julgamento e da moralização, aproximando-nos da alegria e gratidão.
“A Peste” não quer nos incutir pânico, porque o pânico sugere uma condição perigosa, mas de curto prazo, da qual poderemos com o tempo nos safar, voltando à segurança. Mas nunca pode haver segurança — e é por isso que, para Camus, devemos amar os outros seres humanos, condenados como nós, e trabalhar, sem esperança e sem desespero, pelo alívio do sofrimento. A vida é uma unidade de cuidados paliativos, nunca um hospital.
No auge do contágio, quando 500 pessoas por semana estão morrendo, um padre católico chamado Paneloux faz um sermão que explica a peste como sendo o castigo enviado por Deus pela depravação humana. Mas Rieux, o médico, acompanhou uma criança morrendo e sabe que a verdade é outra —o sofrimento é distribuído aleatoriamente, ele não faz sentido, é simplesmente absurdo, e essa é a coisa mais gentil que se pode dizer sobre ele.
O médico trabalha incansavelmente para reduzir o sofrimento daqueles que o cercam. Mas ele não é herói. “Isto tudo não diz respeito a heroísmo”, fala Rieux. “Pode parecer uma ideia ridícula, mas a única maneira de combater a peste é com decência.” Outro personagem pergunta o que é decência. “Fazer meu trabalho”, responde o médico.
Finalmente, depois de mais de um ano, a peste perde força. Os habitantes da cidade festejam. O sofrimento acabou. As coisas podem voltar ao normal. Mas Rieux “sabia que esta crônica não podia ser uma história de vitória definitiva”, escreve Camus. “Só podia ser um registro do que precisava ser feito e do que, sem dúvida, teria de ser feito novamente contra esse terror.” A peste, ele prossegue, “não morre nem desaparece nunca”; ela “aguarda com paciência nos quartos, nas adegas, nas malas, nos lenços e nos papéis” pelo dia em que novamente “acordará seus ratos para mandá-los morrer em alguma cidade feliz”.
Camus nos toca, em nossos tempos atuais, não porque é um vidente mágico capaz de apreender o que os melhores epidemiologistas não podem, mas porque avalia corretamente a natureza humana. Ele sabe, como nós não sabemos, que “cada um de nós tem essa praga dentro de si, porque ninguém no mundo está imune, ninguém”.
Tradução de Clara Allain

sexta-feira, 27 de março de 2020

Pesquisadores de Oxford projetam 478 mil mortes por covid-19 no Brasil

Pesquisadores de Oxford projetam 478 mil mortes por covid-19 no Brasil

O título acima pode ser uma novidade para você e para a quase totalidade dos brasileiros, para os quais ainda é difícil entender a pandemia de covid-19 e sua dinâmica de disseminação. Não é para a comunidade científica. A previsão consta de um estudo preliminar, publicado por pesquisadores da Universidade de Oxford, na Inglaterra, no dia 14 de março.
Vários portais científicos o reproduziram. Para preservar a necessária autenticidade, em prejuízo da estética e em nome da absoluta transparência, segue o link onde ele foi publicado pela primeira vez na internet (em inglês): https://osf.io/fd4rh/?view_only=c2f00dfe3677493faa421fc2ea38e295 
Embora tenha caráter preliminar, o trabalho vem de um importante centro de pesquisas, o Centro de Ciência Demográfica Leverhulme, ligado a uma universidade de grande prestígio. Leva a assinatura de oito cientistas: Jennifer Beam Dowd, Valentina Rotondi, Liliana Andriano, David M. Brazel, Per Block, Xuejie Ding, Yan Liu e Melinda C. Mills.
O nome da primeira delas, Jennifer Beam Dowd, mais a palavra "coronavirus", sem acento conforme exige a grafia inglesa, gerava no Google, às 15h desta quinta-feira (26), 687 mil resultados



Print screen do resultado da pesquisa no Google.
O número de resultados cresce a cada dia, sinal de que talvez seja uma tese digna de atenção. Ainda mais quando vem de uma universidade, diga lá Wikipédia... não, não precisa entrar. Tá no Google o total de prêmios Nobel e de primeiros-ministros britânicos que saíram de lá.


No total, 50 prêmios Nobel e 27 primeiros-ministros britânicos passaram por Oxford.
O estudo também foi citado em português, de modo discreto e inteligente, em esclarecedora reportagem da Piauí (dá um pulinho lá depois pra conferir). Se você ainda estiver aí, a gente segue porque agora  começa a parte mais interessante.
Congresso em Foco teve acesso ao estudo na mesma data em que foi publicado. Ou seja, dois dias depois de a nossa equipe entrar em regime de auto-quarentena. Optou por não publicar para não causar pânico. A decisão derivou do aprendizado internacional. Em situações de pandemia, o que se espera de um veículo de comunicação com o mínimo de responsabilidade social é colaborar com as autoridades de saúde em nome do bem comum. Não se trata de autocensura. Mas de evitar a disseminação da doença em escala global (que é o que define uma pandemia) e todas as consequências possíveis: internações hospitalares, óbitos, quebra de empresas, desemprego, desespero, fome, saques, revolta. Pandemia é coisa feia. Uma pesquisa banal em fontes públicas é suficiente para fazer você perder uma noite de sono.
Deixamos a íntegra disponível em nosso ambiente e repassamos o documento ao Ministério da Saúde, na esperança de obter explicações tranquilizadoras e de informações que nos ajudassem a conhecer melhor o assunto e cobrir os efeitos da pandemia no país informando ao máximo, com o menor prejuízo possível a quem mais importa nessa hora, a galera da linha de frente da batalha: médicos, outros profissionais de saúde e os gestores da crise nos diferentes órgãos públicos envolvidos, com papel preponderante do Ministério da Saúde.
Constrangido várias vezes de público pelo presidente Jair Bolsonaro, o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, era naquele momento um pêndulo importante da estabilidade político-institucional. Recebeu apoio dos presidentes da Câmara, do Senado e do Supremo Tribunal Federal para adotar as medidas técnicas necessárias, deixando de lado Bolsonaro, que perdeu a interlocução com os governadores, o Congresso, os principais grupos de comunicação e é, de modo crescente, questionado dentro de um território onde até aqui ainda reina com segurança, a Procuradoria-Geral da República, à qual cabe propor investigação contra a autoridade máxima da nação.
A ordem, nos gabinetes mais influentes do Legislativo, era grudar em Mandetta com o objetivo de protegê-lo de Bolsonaro e evitar o pior. Para não ser acusado de omisso, o Congresso em Foco usou o seu boletim de análise de cenários destinado a assinantes pagos, o Farol Político, para publicar informação de forma discreta, poucos dias antes da Piauí.


Trecho da edição 13 do Farol, distribuída em 19 de março.
Aqui congelamos a cena. Se você tiver um pouquinho de paciência, contamos a parte mais árida da história - o estudo técnico - e voltamos para fechar com Mandetta e a decisão de publicar o estudo.


Cabeçalho da publicação dos pesquisadores de Oxford.
No texto de Oxford (íntegra em inglês), que anexamos integralmente ao Farol Político da semana passada e enviamos a outras autoridades federais em busca de respostas, a contabilidade que fizeram Justus, o dono do Madero e o herdeiro do Giraffas  ganhou outra dimensão: 478.629 mortes.
O estudo sustenta, como tantos outros, que o crescimento e o impacto da pandemia de covid-19 estão relacionados com a composição etária da população. Mais velhos, mais riscos. Essa é uma das razões para a Itália, um país rico, ter tido muito mais óbitos do que a China. E mergulha na análise do que tem acontecido até agora, na expansão da pandemia em cada país, enfatizando "a necessidade de compreender a dinâmica de interação de cada população com a pandemia agora e no futuro".  
Ao fazer as projeções de expansão do vírus, considerando as características de diferentes países, o estudo trouxe preocupações específicas em relação ao Brasil. Após analisar as taxas de disseminação e mortalidade do covid-19 em várias nações, encontrou, no caso brasileiro, dois problemas: um percentual relativamente alto de idosos e, ao contrário de China e Europa, serviços de saúde precários.
Literalmente, afirma o estudo, numa tradução com alguma liberdade para adaptar:
"No Brasil, que tem 2,0% da população com idade de 80 anos ou mais, o cenário estimulado conduz dramaticamente a mais mortes (478.629), comparado a Nigéria (137.489), onde a mesma fração etária é somente 0,2%."


Trecho do documento original que projeta a quantidade de mortos por covid-19 no Brasil
O estudo também alertou para problemas nos registros de casos de covid-19:
"Neste momento, poucos países estão divulgando rotineiramente dados de covid-19 com informação demográfica chave, como idade, sexo e comorbidades".
Comorbidade ocorre quando duas ou mais doenças estão correlacionadas entre si. No caso da presente pandemia, é fundamental tratar de forma diferenciada os diabéticos, hipertensos e portadores de doenças respiratórias (COPD em inglês, DPOC em português). Ter esses dados poderia, sugerem os pesquisadores, refinar muito o controle preventivo do covid-19.
Insiste o trabalho, por fim, que "a concentração do risco de mortalidade nas faixas etárias mais velhas permanece como um dos melhores instrumentos para prever o fardo de casos críticos e assim o planejamento e a disponibilidade de leitos, pessoal especializado e outros recursos". 
Um dos gráficos do trabalho inclui o Reino Unido e os Estados Unidos, para os quais os prognósticos são também bastante preocupantes, e aponta na mesma direção: países com população mais idosa deverão ter um total de mortes maior que países com população mais jovem. O número total de mortes esperadas por grupo etário baseou-se na expectativa de que 40% da população de cada país seja infectada. No caso do Brasil, isso corresponderia a... se segura, amiga e amigo, que a coisa é pesada... 83,6 milhões. 
Imagem

Outro ponto levantado, igualmente em desfavor do Brasil: costumes familiares de muita proximidade física propiciam o espalhamento da doença. Segundo os autores, esse é o caso da Itália, onde existe contato físico direto e diário entre crianças, pais, avós e vizinhos. E aqui acrescento eu, para sua melhor compreensão: imagine então no caso da população brasileira, que em boa parte vive  em favelas e em aglomerações muito povoadas - sem falar dos presídios e da nossa vocação para abraçar, beijar, pegar na mão.
A íntegra pode ser acessada aqui
Transcrevemos tudo o que recebemos do Ministério da Saúde sobre o estudo, no último dia 17:
"Com base na evolução dos casos de coronavírus no Brasil, até o momento, estima-se que, sem a adoção das medidas propostas pela pasta para prevenção, o número de casos da doença dobre a cada três dias. O Ministério da Saúde trabalha com essa projeção. A evolução dos casos e mortes depende de uma série de fatores.
As capitais Rio de Janeiro e São Paulo já registram caso de transmissão comunitária, quando não é identificada a origem da contaminação. Com isso, o país entra em uma nova fase da estratégia brasileira, a de criar condições para diminuir os danos que o vírus pode causar à população. Em videoconferência com profissionais das Secretarias Estaduais de Saúde de todo o país, o Ministério da Saúde anunciou, na última sexta-feira (13), recomendações para evitar a disseminação da doença. As orientações deverão ser adaptadas pelos gestores estaduais e municipais, de acordo com a realidade local.
Atitudes adotadas no dia a dia, como lavar as mãos e evitar aglomerações, reduzem o contágio pelo coronavírus. O Ministério da Saúde recomenda a redução do contato social o que, consequentemente, reduzirá as chances de transmissão do vírus, que é alta se comparado a outros coronavírus do passado.
Não há uma regra única para todo o país. Cada região deve avaliar com as autoridades locais o que se deve fazer caso a caso. Neste momento, nós não temos o Brasil inteiro na mesma situação, por isso é importante analisar o cenário de casos e possíveis riscos. 
As medidas gerais válidas, a partir desta sexta-feira (13), a todos os estados brasileiros, incluem o reforço da prevenção individual com a etiqueta respiratória (como cobrir a boca com o antebraço ou lenço descartável ao tossir e espirrar), o isolamento domiciliar ou hospitalar de pessoas com sintomas da doença por até 14 dias, além da recomendação para que pacientes com casos leves procurem os postos de saúde. As unidades de saúde, públicas e privadas, deverão iniciar, a partir da próxima semana, a triagem rápida para reduzir o tempo de espera no atendimento e consequentemente a possibilidade de transmissão dentro das unidades de saúde.”
É muito pouco. Não perca tempo com debates científicos sobre “isolamento horizontal” (isto é, fica todo mundo em casa) ou “isolamento vertical” (confinamento apenas de populações vulneráveis). Só existe uma receita tecnicamente segura contra o covid-19: ficar em casa. Claro que trabalhadores de atividades essenciais precisam manter em funcionamento os serviços de saúde, a segurança pública, o abastecimento de atividades essenciais, mas isso precisa respeitar protocolos que, de modo geral, o Ministério da Saúde tem sido incapaz de divulgar e coordenar.


Eixão Sul, uma das principais vias de Brasília, DF.
Marcello Casal Jr./Agência Brasil
A desinformação prevalece e as pessoas recebem orientações desencontradas: o governador fala uma coisa, o prefeito outra e o presidente é objeto de notícia-crime, pelo“histórico das reiteradas e irresponsáveis declarações” sobre o tema. 
A pessoa, principalmente a mais simples, fica sem saber o que fazer. E Bolsonaro tenta convencê-la de que a culpa é dos governadores, que prejudicam a economia e fabricam o caos. Mestre das narrativas, ainda convence muita gente. 
A ciência não está do lado dele, contudo. Os governadores (nem todos, porque alguns vão muito mal) estão, de modo geral, aplicando o que se sabe para reduzir os danos das falas presidenciais, da descoordenação do Ministério da Saúde e de problemas que muitos estados e cidades enfrentam na ponta: faltam testes, leitos, pessoal e, sobretudo, informação.
Alerta – no caso de diabéticos, hipertensos, portadores de doenças respiratórias e idosos de 80 anos ou mais, é insuficiente fazer quarentena. Essa permite uma eventual – mas rara – saída controlada, mantendo distância mínima de um metro em relação a outra pessoa, evitando qualquer contato da mão com objetos compartilhados e adotando outras providências.
Para os grupos mais vulneráveis, o recomendável é isolamento total: desinfectar toda casa com álcool 70 (chão, paredes, móveis), não sair para nada e adotar outras medidas que, num modelo bem mais rígido que o prescrito pelo Ministério da Saúde, o Congresso em Foco descreveu aqui.   
Muito há a descobrir sobre a pandemia, muito mais poderíamos falar sobre essa parte mais técnica, mas precisamos voltar a Mandetta.


O ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta
Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil
De modo breve: Mandetta capitulou. Apoiado pelo Supremo e por praticamente todo o Congresso (esquerda, direita e centro), encampou o discurso de Bolsonaro, que resolveu subir no tom contra os governadores e a mídia e mandar as crianças brasileiras para escolas infectadas.
Infelizmente, ainda há muita coisa a contar. Deixamos para o próximo capítulo as razões que nos levaram à decisão de publicar no título acima uma informação pública que o Congresso em Foco jamais gostaria de ver nesta página.
Enquanto isso, em Brasília por exemplo, o transporte público continua a funcionar, os casos se avolumam e se ouve o barulho do relógio...
TIC TAC TIC TAC TIC TAC TIC TAC