Esse foi um artigo que escrevi em novembro de 2003. Faz muito tempo. Reencontrei-o em alguns sites ainda. Vou reproduzi-lo aqui nessa época natalina. Vale a pena a reflexão.
QUE LIÇÕES PODEMOS TIRAR DE INSTANTES
Da primeira vez que li “Instantes” – mostrado ao fim deste artigo – senti um frio na barriga. No auge de meus 17 anos, rebelde e precoce, senti que a vida valia um pouco mais do que eu estava pagando por ela.
Como muitas outras pessoas, também o recortei e o guardei na carteira. Durante algumas crises e situações difíceis o tomei por uma oração e por um estímulo. Em outras, o li em mesas de bares em comemorações com amigos e até em noites de prazer com namoradas e amantes. Já o li em pura e simples solidão, só para me lembrar daquele friozinho que sentira anos antes.
Talvez o grande mérito de “Instantes” seja resumir toda a essência do
“ser criança novamente”. Todos temos um moleque dentro de nossos
corações, e, como diria Milton e Brant, “toda vez que o adulto balança,
ele vem pra me dar a mão”.
É um poema triste que celebra a alegria. Tenho certeza de que muitos já
se emocionaram ao lê-lo ou de que foram definitivamente marcados por
suas palavras em uma época ou outra da vida.
Se o lermos com bastante atenção, ele nos revelará alguns segredos que não estamos acostumados a escutar por aí.
“Se eu tivesse outra vida pela frente trataria de cometer mais erros”
é, sem dúvida, uma bela frase que se resume em um acertado conselho:
Erre.
Nossos erros deveriam ser estudados cuidadosamente e considerados como
presentes do acaso, estimulantes para a nossa criatividade,
oportunidades que só nós tivemos o privilégio de receber. Encare o erro
como parte ou início do processo em busca do acerto.
Empresas como a 3M incentivam seus funcionários a errar, ou melhor, a experimentar. Não é a toa que ela é considerada uma das empresas mais criativas do mundo.
O poema nos dá a entender, em diversas passagens, o nada convencional “quebre as regras!” Não existe melhor conselho para quem quer fazer florescer sua criatividade, um produto que é vendido caro hoje em dia. Empresas de todo os setores procuram hoje pelo empreendedor criativo, uma raridade no mercado, uma espécie em extinção.
O criador da expressão “pensamento lateral”, Doutor Edward de Bono,
estudou a fundo a criatividade e acerca dela disse que não é
simplesmente uma maneira de fazer melhor as coisas. Sem ela, somos
incapazes de fazer pleno uso das informações e experiências que já estão
disponíveis e estão presas a antigas estruturas, padrões, conceitos e
percepções.
De Bono defende a teoria de que nosso cérebro forma padrões com muita
facilidade, e uma vez formados, escapar deles é a chave para o processo
criativo. Pense no seguinte exemlpo: Há poucos anos, se pensássemos na
palavra computador, nosso cérebro nos remeteria a uma máquina branca e
fria, que era, no mínimo, feia. Eram os que existiam na época. Como o
poema nos disse: quebre as regras, e, Steve Jobs, criador da Apple
Computadores, o fez criando um novo produto: um computador que tinha,
além de pentes de memória e placas de rede, design. Ponto para a
criatividade.
O poema vai ainda mais longe e suas lições parecem fazer cada vez mais sentido ao longo dos anos. Em um tempo em que países do mundo inteiro diminuem a jornada semanal de trabalho e que a grande vedete do momento é a “qualidade de vida” ele manda seu recado: “Divirta-se”. De que vale a vida se não houver diversão? O dinheiro é só um meio, o fim ainda é o prazer de estar vivo.
Talvez, falar em diversão dessa maneira lhe soe um tanto demagógico:
muito bonito e simples de falar, mas, difícil cumprir. Quando você
trabalha várias horas por dia aturando um ambiente hostil e competitivo,
em que parte entra a diversão?
Seguindo mais um conselho das linhas de Instantes: relaxe. A diversão
não vem de fora para dentro, mas parte em sentido contrário, tendo
início dentro de cada um de nós. A maneira como vemos as coisas é
peculiar, inerente à nossa experiência de vida, valores e estado de
espírito. A realidade pode ser única, mas a maneira pela qual a
percebemos é que faz toda a diferença entre quem só vê problemas e quem
só vê oportunidades.
Confúcio disse certa vez: “escolha um trabalho que você ame e não terá que trabalhar um único dia na sua vida”. Tendo em vista a origem da palavra trabalho – tripauli, instrumento de tortura da antiguidade – ele estava dando um valioso conselho aos profissionais de hoje. Acrescentaria às suas palavras o seguinte comentário: aprenda a gostar do que faz e se divertirá mais.
Tomar mais sorvete e menos lentilha só depende de você.
Para mim, a estrofe que mais manifesta o sentimento de liberdade é “começaria a andar descalço no começo da primavera e continuaria assim até o fim do outono”. Parece ser daquelas cenas que povoam nossos sonhos ou que remetem-nos ao idílio de trabalhar na praia gerindo uma pequena pousada, longe do estresse e da poluição das grandes cidades. Quem nunca teve vontade de largar tudo em busca de um sonho não está sendo criativo o suficiente ou não leu Instantes como ele merecia ter sido lido.
Mais uma lição legada pelo velho poema: “Sonhe”.
Sem sonhos não há motivação para continuar a ir em frente. Você deve
caminhar para chegar a algum lugar. Infelizes aqueles que caminham só
para não parar.
Se Walter Elias Disney não tivesse como lema “seguir pela vida sonhando”
não teríamos a Disneylândia, nem o Epcot Center, nem o Mickey, nem a
Minie, nem o Pateta. Personagens que povoaram nossa infância e fizeram
com que pudéssemos exercer nosso direito de sermos crianças.
O que seria das empresas sem sonhos. Lembre-se de que elas não passam de um amontoado de tijolos, brita, papel e cimento alimentadas pelos sonhos de seus integrantes. No momento em que seus colaboradores perderem a vontade ou a motivação para sonhar, acredite, venda suas ações.
O poema ainda nos traz uma última lição.
Sempre acreditei, e você, pode ser que ainda acredite, que Instantes fora escrito por ninguém menos do que Jorge Luis Borges, brilhante escritor argentino. Há poucos meses, porém, descobri algo que me deixou estarrecido e de certa forma, órfão. Li em uma revista que o poema em questão não era de Borges e sim de uma ilustre desconhecida chamada Nadine Stair. A própria viúva do escritor admitiu na imprensa o embuste. Pasmem!
Será que tudo em que acreditei desde o momento em que pus os olhos naquelas palavras fora ilusão?
Instantes, a partir daquele momento, estranhamente, ficou ainda mais especial. Continuarei acreditando nas suas palavras e em que em todos nós há uma Nadine Stair adormecida. Alguém que, sem rosto, nos sorri, nos dá ânimo nas horas difíceis e nos deleita ainda mais nas agradáveis.
Não importa quem o escreveu, certas coisas já estão latentes dentro de nós esperando apenas que alguém as traduza. Instantes poderia ter sido escrito por qualquer um de nós: “Nadines Stairs” anônimas e comuns.
INSTANTES
Se eu pudesse viver a minha vida novamente, na próxima trataria de cometer mais erros.
Não tentaria ser tão perfeito, relaxaria mais.
Seria mais tolo ainda do que tenho sido, na verdade bem poucas coisas levaria a sério.
Seria menos higiênico.
Correria mais riscos, viajaria mais, contemplaria mais entardeceres, subiria mais montanhas, nadaria mais rios.
Iria a mais lugares onde nunca fui, tomaria mais sorvete e menos lentilha, teria mais problemas reais e menos problemas imaginários.
Eu fui uma dessas pessoas que viveu sensata e produtivamente cada minuto da vida, claro que tive momentos de alegria.
Mas se pudesse voltar a viver, trataria de ter somente bons momentos.
Porque, se não sabem, disso é feita a vida, só de momentos, não percas o agora.
Eu era um desses que nunca ia a parte alguma sem um termômetro, uma
bolsa de água quente, um guarda-chuva e um pára-quedas. Se voltasse a
viver, começaria a andar descalço no começo da primavera e continuaria
assim até o fim do outono.
Daria mais voltas na minha rua, contemplaria mais amanheceres e brincaria com mais crianças, se tivesse outra vez uma vida pela frente.
Mas já viram, tenho oitenta e cinco anos e sei que estou morrendo.
(Nadine Stair)