quinta-feira, 26 de dezembro de 2019

Por quem os sinos dobram: as lições do melhor livro de Hemingway

Por quem os sinos dobram: as lições do melhor livro de Hemingway

 

“A morte de qualquer homem me diminui, porque sou parte do gênero humano. E por isso não perguntes por quem os sinos dobram; eles dobram por ti”. É com essa citação, tirada de um poema de John Donne, poeta inglês do século 17, que Ernest Hemingway marcou o começo de uma de suas obras mais importantes.
A linguagem dos sinos, como aprendi em várias passagens por cidades históricas repletas de igrejas, é cheia de nunces. Um sino pode tocar para marcar o horário de uma missa. Mas também pode fazê-lo para avisar de uma emergência, como um incêndio, chamar para um dia de procissões, avisar de um nascimento ou relatar uma morte. Nos repiques dos sinos há informações que hoje poucos conhecem. Quando os sinos começam uma canção fúnebre é possível saber se quem morreu era homem ou mulher e até a hora que será o velório.
Essa linguagem, cheia de mensagens cifradas, leva a pergunta óbvia, assim que os sinos de uma igreja começam um cântico fúnebre: por quem os sinos dobram? Ou, em outras palavras, quem morreu? O poema de John Donne, ao mostrar a conexão entre tudo que existe, deixa claro que quem morreu foi você.
“Nenhum homem é uma ilha, isolado em si mesmo; todos são parte do continente, uma parte de um todo. Se um torrão de terra for levado pelas águas até o mar, a Europa ficará diminuída, como se fosse um promontório, como se fosse o solar de teus amigos ou o teu próprio”. Morremos um pouco a cada morte que presenciamos.
por quem os sinos dobram
Hemingway não poderia ter escolhido citação melhor para começar seu livro, escrito e publicado no começo da década de 1940. Na obra, que foi listada como um dos 100 melhores livros do século 20 pelo jornal Le Monde, ele conta a história de Robert Jordan, um norte-americano que vive na Espanha durante a Guerra Civil, ocorrida entre 1936 e 1939.
Ele acaba se envolvendo no conflito, do lado dos republicados, e recebe a missão de implodir uma ponte, tarefa considerada fundamental numa batalha contra os nacionalistas, que tinham o apoio do nazifascismo na Itália e na Alemanha. É bom lembrar que pouco depois começou a Segunda Guerra Mundial, conflito em que a Guerra Civil Espanhola se insere e do qual foi praticamente um prelúdio.
Toda a trama se passa ao longo de três dias, enquanto Robert Jordan, um professor que se identifica com os ideais da luta contra o fascismo, aguarda o momento para cumprir sua missão e lida com os desafios para conseguir explodir a ponte, tarefa em que ele conta com a companhia de guerrilheiros, ciganos e camponeses.
Boa parte da história se passa na relação entre essas pessoas durante os dias necessários até que a missão possa ser realizada. Há tempo, inclusive, para um relacionamento entre Robert e uma cigana, Maria, alguns anos mais tarde representados por Gary Cooper e Ingrid Bergman, no filme de 1943 – a atriz sueca foi indicada ao Oscar pela atuação.
por quem os sinos dobram
Enquanto isso, o personagem testemunha a selvageria, a violência e as mortes dos dois lados do conflito, seja por seus próprios olhos ou pelos relatos das pessoas que ele conhece, como a cigana Pilar, uma espécie de líder do grupo rebelde. Há momentos de extrema violência, com destaque para a execução de soldados fascistas pelas tropas revolucionárias.
Como em outras obras de Hemingway, o personagem principal é uma espécie de alter-ego do escritor, que também participou da Guerra Civil Espanhola, além de ter servido como motorista de ambulância durante a Primeira Guerra Mundial. Uma grande parte da beleza da obra de Hemingway está na mistura de elementos reais com ficcionais, além, claro, na forma usada para narrar os acontecimentos.
Aos 61 anos e numa manhã de julho, Ernest Hemingway acordou cedo, pegou uma arma que ele usava para caçar pombos, colocou na própria boca e atirou. Aos policiais, sua esposa, Mary, que estava dormindo na hora que ouviu o disparo, disse que a morte teria sido acidental – ela acreditava que Hemingway teria dado um tiro sem querer, enquanto limpava a arma. Só meses depois ela conseguiu aceitar que o marido tinha se suicidado.
Em Por Quem os Sinos Dobram, Robert Jordan se desfaz de uma arma que tinha sido de seu avô, que lutara na Guerra Civil Americana, e com a qual seu pai havia se matado. História parecida com a do autor, que recebeu pelo correio, enviada pela mãe, a arma com que seu pai tinha se matado e que antes pertencera a seu avô, que também lutou numa guerra.
Hemingway sempre escreveu sobre a morte e sobre a vida, mas é em Por Quem os Sinos Dobram que aprendemos que cada perda, mesmo que distante, é uma pequena morte para cada um de nós.

quarta-feira, 25 de dezembro de 2019

Antonio Vivaldi - La Stravaganza Op.4

As Pombas


  
As Pombas


Raimundo Correia
 


Vai-se a primeira pomba despertada...
Vai-se outra mais... mais outra... enfim dezenas
De pombas, vão-se dos pombais, apenas
Raia, sanguínea e fresca, a madrugada...

E, à tarde, quando a rígida nortada
Sopra, aos pombais, de novo, elas serenas,
Ruflando as asas, sacudindo as penas,
Voltam todas em bando e em revoada...

Também dos corações, onde abotoam,
Os sonhos, um por um, céleres voam,
Como voam as pombas dos pombais:

No azul da adolescência as asas soltam,
Fogem... Mas aos pombais as pombas voltam,
E eles ao coração não voltam mais.

(Maranhão - 1860-1911)

Joseph Haydn / Symphony No. 45 in F-sharp minor "Farewell" (Mackerras)

(FULL) Beethoven Symphony No.6 "Pastorale" And Egmont Overture Op.68 - L...

terça-feira, 24 de dezembro de 2019

Santo Antônio de Jesus - Triste Bahia..




evangelista da silva






Que em mim mais doi...


É retornar aquelas plagas onde nasci


E ter que olhar para todos os lados


E não reconhecer ninguém...





Hoje sinto em mim um vazio...


Perdi pai, mãe, avós...


E poucos e raros amigos...


Só me falta deixar esta porra desta vida.





Para que, em definitivo esqueçam que existi...


Assim só me resta à morte e ser esquecido


Cônscio de que nada fiz para "Deus"...


Nada construí para à vida...







Bahia, 17 de junho de 2014.

A Lista - Osvaldo Montenegro




É Natal






                                                                   
 evangelista da silva

Afora a canalhice por negociarem Cristo Jesus...
Mesmo assim, ainda assim, é Natal...

É Natal na Fé e Esperança.
É Natal em toda a desgraça que nos cerca!...

Mas se de uma coisa pudesse eu,
Oh Deus!...

Quem me dera escolher e ter de volta
Poucos amigos que aqui não mais são vistos...

Visto que antes de mim foram tragados pela morte.
Como tanto confundem nesta vida Amor e Amizade,

Fico na imensa saudade de alguns poucos lembrar...
O Zé Rubens, O Elion Jorge, O meu Irmão, - Bebel...

Mas como nesta vida tudo passa...
Até a dor, o amargor, a alegria, a desgraça e cachaça...

Entorpeço-me nestas tardes de dezembro,
Onde o vento da saudade sopra em meu peito,

Com a marca e registro de uma certa tristeza
Ao ver desmaiar o sol enquanto surge o luar...

É Nata!...
Apesar de tanta desgraça neste planeta lindo em cores...

É Natal!...
É Natal nesta tribo primata recheada de crimes e horrores!...



O Ciclo



(evangelista da silva)


A vida nunca volta.
Avança!
Passa
A todo o vapor!...

E a todo o momento
Se nos esquecemos de que ficamos para trás.

Assim, só se nos resta doces e amargas recordações...
E estamos sempre a lembrar
Sem querer...

É mais um Natal em mim...
Neste ciclo entre 12 meses de uma existência,
Tudo muda:

Amigos, poucos que eram, se foram para sempre...
Sem ao menos se despedir em um abraço talvez!...
O carinho de um Amor se perdera ao longo do infinito...

Assim vários foram os adeuses!...

A poesia não é pessimista!...
Por certo o realismo transcende o subjetivismo de alguns...
Emaranhado nos corações românticos é mais um Natal de plena Desgraça...

Aqui se escarra na face do irmão e arrancam-lhe o pescoço...
Aqui pede-se documento para logo após desferirem alguns tiros;
E nem por isso o assassino disfarça-se de Papai Noel a enganar Crianças...

É festa: dançam, embriagam-se, comem exageradamente e vomitam...
Gargalham e escarnecem dos outros às suas atrocidades...

Eu, que não bebo, que não danço, que não sei rir...
Observo este teatro cínico e criminoso!...

Até quando?... Até enquanto eu puder ver e sentir mais um Natal...

Ainda assim é Natal!...
É Natal para sorrir e chorar...

É Natal para refletir a que ponto se pode reconhecer o monstro
Que fere e mata e se diz ser humano.

Mas é Natal!...
Glória Jesus nosso verdadeiro e sublime
Irmão.

É Natal!...

Bahia, 21 de dezembro de 2013

quarta-feira, 18 de dezembro de 2019

Versos Íntimos

Versos Íntimos



Augusto dos Anjos


Vês! Ninguém assistiu ao formidável
Enterro de sua última quimera.
Somente a Ingratidão – esta pantera –
Foi tua companheira inseparável!

Acostuma-te à lama que te espera!
O homem, que, nesta terra miserável,
Mora, entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera.

Toma um fósforo. Acende teu cigarro!
O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
A mão que afaga é a mesma que apedreja.

Se alguém causa inda pena a tua chaga,
Apedreja essa mão vil que te afaga,
Escarra nessa boca que te beija!

sábado, 14 de dezembro de 2019

RECEITAS PARA FINS DE SEMANA / RECIPES FOR WEEKENDS

Photo by essaseoutras.com.br
RECEITAS PARA FINS DE SEMANA

CULINÁRIA TRADICIONAL

MASSA DE PANETONE CASEIRO

*Receita simples para fazer massa de panetone caseiro, nada de ingrediente caro e nem de maquina que ninguém tem em casa. Basta um forno no seu fogão, uma bacia ou tigela - a receita de massa de panetone caseiro é simples e fácil de preparar. O recheio (trufas, frutas cristalizadas, etc...) é por sua conta. 

INGREDIENTES PARA A ESPONJA

15g de Fermento Biológico fresco (não substitua por outro)
3 colheres (sopa) de farinha de Trigo (sem fermento)
3 colheres (sopa) de água

INGREDIENTES PARA A MASSA 

4 colheres (sopa) de açúcar
3 colheres (sopa) de leite em Pó
2 xícaras (chá) de farinha de Trigo
60g de manteiga em temperatura ambiente (5 colheres de sopa)
1 colher (chá) de essência de panetone
4 colheres (sopa) de água
3 gemas
1/2 xícara (chá) de frutas cristalizadas e uvas passas

   MODO DE PREPARO DA ESPONJA

1 - Numa tigela amasse o fermento, adicione a água e a farinha de trigo.
2 - Misture tudo muito bem e cubra com um plástico filme.
3 - Deixe descansar por 20 minutos.
*DICA: Se o tempo estiver frio, deixe-o descansar dentro do forno desligado.

MODO DE PREPARO DA MASSA

1 - Numa tigela ou bacia grande, coloque a farinha de trigo, a manteiga, o leite em pó, o açúcar, a essência de panetone, as gemas, a água e o sal.
*DICA: Se você quiser deixar seu panetone mais profissional, adicione 1 colher (sopa) de glucose e um sachê pequeno de melhorador de farinha.
2 - Misture um pouco e em seguida adicione a esponja que ficou descansando.
3 - Com a ajuda de uma colher de pau ou espatula, vá mexendo a massa e amassando.
4 - Depois comece a ir trabalhando a massa com as mãos, por cerca de 15 minutos ou até que ela fique bem lisa e homogênea.
*DICA: Você pode usar uma batedeira com gancho para fazer esse trabalho.
5 - Abra a massa numa bancada e coloque as frutas cristalizadas e as uvas passas no meio dela.
*DICA: Quando a massa estiver ficando firme, você pode untar as mãos com margarina para ajudar a trabalhar melhor.
6 - Trabalhe a massa para que as frutas cristalizadas fiquem bem espalhadas por toda a massa.
7 - Faça uma bola com a massa e acomode-a numa forma de panetone de 500g.
8 - Deixe descansar dentro do forno desligado por 1 hora ou até que cresça bastante.
9 - Passado esse tempo de descanso, faça um corte em forma de X no topo da massa, com a ajuda de uma faca ou navalha.
10 - Em seguida leve para assar em forno preaquecido, 180ºC por cerca de 45 minutos ou até dourar.
*DICA: Após retirar do forno, deixe seu panetone esfriar em cima de uma tela ou grade que permita passagem de ar por baixo dele. Assim seu panetone não ficará embatumado.

COMO TRUFAR PANETONE

INGREDIENTES

1 panetone (pode ser chocotone)
250g de chocolate ao leite ou meio amargo
1 caixinha de creme de leite
6 gotas de essência de rum

MODO DE PREPARO 

1 - Primeiro você deve cortar a parte de cima do panetone como se fosse uma tampa.
2 - Com a ajuda de uma faca retire o miolo. Reserve.
3 - Derreta o chocolate em banho maria ou no microondas.
4 - Acrescente o creme de leite e a essência de rum.
5 - Em seguida pique grosseiramente o miolo do panetone ou do panetone e acrescente ao creme de chocolate.
6 - Recheie o panetone ou o chocotone, tampe e leve à geladeira por meia hora.

7 - Para finalizar você pode decorar regando chocolate por cima e decorando com gotas de chocolate, confete, coco ralado e etc

quinta-feira, 12 de dezembro de 2019

OBJETIVOS DO NOVO CPC E OS PRINCÍPIOS AO FAZER A PETIÇÃO INICIAL.

OBJETIVOS DO NOVO CPC E OS PRINCÍPIOS AO FAZER A PETIÇÃO INICIAL.


08/05/2016 às 00h40
Por Ivonildo Reis Santos
 

1 – INTRODUÇÃO
O novo Código de Processo Civil brasileiro tem o intuito de modernizar e agilizar o desenvolvimento do processo judicial brasileiro, pois a sociedade brasileira tem questionado a demora excessiva da atual justiça, segundo o ministro Fux que afirma: justiça retardada é justiça denegada. Em razão disso, faz-se necessário a modernização do Processo como instrumento de realização do Direito Material.
Em uma primeira análise, o novo Código se visualiza como uma legislação extremamente organizada e inovadora, visando a agilidade dos procedimentos, dando maior liberdade às partes, com a possibilidade, inclusive, de ajustarem um negócio jurídico no processo, além disso, importantes princípios foram impulsionados na nova legislação tais como: princípios constitucionais.
O âmbito jurídico acredita que, todos os meios e esforços de estudo se posicionam para tornar o processo em legítimo instrumento que serve à sociedade, transformando-o em meio efetivo. Como qualquer instrumento inovador, o novo Código de Processo Civil requer um tempo de adaptação e aceitação. Apenas com a utilização dos dispositivos e intensificação de estudos aprofundados é que será possível constatar mudanças jurídicas e sociais positivas. Acredita-se que, com a nova legislação aliada a uma mudança cultural e educacional da sociedade brasileira, num futuro, será possível alcançar os “alicerces” que justificam a criação do novo Código.
No CPC de 1973, eram três as condições da ação: legitimidade das partes, interesse de agir e possibilidade jurídica do pedido. Contudo como o exame do último pode se confundir com a análise do mérito, o novo CPC traz como condições apenas a legitimidade e o interesse de agir, nos termos do artigo 337, XI do Novo CPC.
Para que a atividade jurisdicional contenciosa seja exercida é necessário que o interessado a provoque, pois prevalece o "princípio da inércia". A petição inicial é o instrumento pelo qual o interessado invoca a atividade jurisdicional, fazendo surgir o processo. Nela, o interessado formula sua pretensão, o que acaba por limitar a atividade jurisdicional, pois o juiz não pode proferir sentença de natureza diversa da pedida, bem como condenar o réu em quantidade superior ou em objeto diverso do demandado.
Os princípios mais importante do novo código de processo civil que devem ser observados na petição inicial são: Princípio da inércia: o juiz não pode abrir ação de oficio tem que ser provocado pela parte ou seja, pela iniciativa da parte a qual tem posição proativa, de ataque ao réu ; Princípio do impulso: e aquele em que o juiz impulsiona o processo para dar andamento , que ocorrera após ter tomado conhecimento mediante a petição inicial, despacha positivamente a ação que tomara curso processual legal; Princípio da correlação: o juiz está adstrito a sentenciar a demanda judicial com correlação ao pedido do autor ,ou seja tem que haver um vínculo estrito entre o pedido e a sentença : Princípio da eventualidade: a parte tem que alegar tudo de todo o direito na petição inicial, ou seja fazer o pedido completo. Princípio da iniciativa: é a inciativa das partes que dá andamento ao processo.
2 - OS OBJETIVOS DO NOVO CPC.
Um dos principais objetivos do novo Código de Processo Civil brasileiro é de modernizar e agilizar o desenvolvimento do processo judicial que se encontrava caótico devido a sua má aplicação.
A sociedade brasileira há muito questiona a morosidade excessiva de sua justiça, com o novo CPC haverá uma celeridade maior ao Processo, sem com isso cercear o direito, constitucionalmente protegido, ao contraditório e à ampla defesa.
“Há mudanças necessárias, porque reclamadas pela comunidade jurídica, e correspondentes a queixas recorrentes dos jurisdicionados e dos operadores do Direito, ouvidas em todo país”.
O NCPC, por sua vez, criando um sistema processual pautado pela simplificação, organização, flexibilização, adequação e efetividade, busca implementar mecanismos para solucionar (ou ao menos amenizar) tais problemas. Nas palavras de Trícia Navarro Xavier Cabral (in Poderes do Juiz no Novo CPC. Revista de Processo. V. 208, p. 278), “o Projeto do novo CPC procurou não só aprimorar as técnicas processuais, mas mexer na própria fisionomia do processo, para que este pudesse ser mais maleável e adaptável aos diversos tipos de conflitos sociais levados a juízo, permitindo um tratamento individualizado às demandas judiciais quando assim o caso merecesse, trazendo mais fluidez ao processo”.
Os objetivos precípuos do novo CPC são:
1) {C}Estabelecer expressa e implicitamente verdadeira sintonia fina com a Constituição Federal (A parte geral e inicial do CPC contempla as normas fundamentais do processo, elencando vários princípios constitucionais, entre eles o contraditório.).
Art. 1º O processo civil será ordenado, disciplinado e interpretado conforme os valores e os princípios fundamentais estabelecidos na Constituição da República Federativa do Brasil, observando-se as disposições deste Código.
Isso significa que o Código vai traduzir uma tendência já trabalhada na doutrina especializada, do “direito processual constitucional”, integrando nosso ordenamento jurídico e instituindo o processo civil sob os ditames da Lei Maior.
Segundo Humberto Dalla Bernardina de Pinho (2010, p. 52): agora a hermenêutica passa a ser neoconstitucionalismo, pressupondo que as normas podem assumir a feição de regras ou princípios. As regras devem ser interpretadas de acordo com os Princípios. Havendo colisão de regras, usa-se a hermenêutica tradicional. Havendo uma contraposição de princípios, é preciso recorrer à técnica da ponderação, buscando ou uma composição destes ou a solução que melhor se adeque ao espírito constitucional.
2) criar condições para que o juiz possa proferir decisão de forma mais coerente à realidade fática subjacente à causa.
Pretendeu-se converter o processo em instrumento incluído no contexto social em que produzirá efeito o seu resultado. Deu-se ênfase à possibilidade de as partes porem fim ao conflito pela via da mediação ou da conciliação. Entendeu-se que a satisfação efetiva das partes pode dar-se de modo mais intenso se a solução é por elas criada e não imposta pelo juiz.
3) simplificar, resolvendo problemas e reduzindo a complexidade de subsistemas, como, por exemplo, o recursal.
Bastante simplificado foi o sistema recursal. Essa simplificação, todavia, em momento algum significou restrição ao direito de defesa. Em vez disso deu, de acordo com o objetivo tratado no item seguinte, maior rendimento a cada processo individualmente considerado.
Com os mesmos objetivos, consistentes em simplificar o processo, dando-lhe, simultaneamente, o maior rendimento possível, criou-se a regra de que não há mais extinção do processo, por decisão de inadmissão de recurso, caso o tribunal destinatário entenda que a competência seria de outro tribunal. Há, isto sim, em todas as instâncias, inclusive no plano de STJ e STF, a remessa dos autos ao tribunal competente.
4) dar todo o rendimento possível a cada processo em si mesmo considerado;
Com o objetivo de se dar maior rendimento a cada processo, individualmente considerado, e, atendendo a críticas tradicionais da doutrina, deixou, a possibilidade jurídica do pedido, de ser condição da ação. A sentença que, à luz da lei revogada seria de carência da ação, à luz do Novo CPC é de improcedência e resolve definitivamente a controvérsia. Na mesma linha, tem o juiz o poder de adaptar o procedimento às peculiaridades da causa. Com a mesma finalidade, criou-se a regra, a que já se referiu, no sentido de que, entendendo o Superior Tribunal de Justiça que a questão veiculada no recurso especial seja constitucional, deve remeter o recurso do Supremo Tribunal Federal; do mesmo modo, deve o Supremo Tribunal Federal remeter o recurso ao Superior Tribunal de Justiça, se considerar que não se trata de ofensa direta à Constituição Federal, por decisão irrecorrível.
5) finalmente, sendo talvez este último objetivo parcialmente alcançado pela realização daqueles mencionados antes, imprimir maior grau de organicidade ao sistema, dando-lhe, assim, mais coesão.
Objetivo de organizar internamente as regras e harmonizá-las entre si foi o que inspirou, por exemplo, a reunião das hipóteses em que os Tribunais ou juízes podem voltar atrás, mesmo depois de terem proferido decisão de mérito: havendo embargos de declaração, erro material, sendo proferida decisão pelo STF ou pelo STJ com base nos artigos 543-B e 543-C do Código anterior.
Estes foram organizados e se deram alguns passos à frente, para deixar expressa a adequação das novas regras à Constituição Federal da República, com um sistema mais coeso, mais ágil e capaz de gerar um processo civil mais célere e mais justo.
“Para Hugo de Brito Machado, a nova lei processual poderá resolver alguns problemas, mas com certeza muitos outros serão por ela criados, porque as vantagens de uma nova lei podem ser apontadas por quem elabora o seu projeto, enquanto as desvantagens só podem ser apontadas por quem vivencia a sua aplicação. ”
Inexiste dúvida de que um, senão o maior, dos objetivos é a celeridade, a fim de que se alcance a tão almejada duração razoável do processo, princípio também consagrado no art. 4º da nova legislação. Mas, ao lado da celeridade encontra-se a garantia do contraditório efetivo, previsto em diversos artigos da nova legislação.
Assim, o novo Código pretende enxugar o excesso de formalidade e casuísmo conferido ao antigo código. Neste sentido, abrirá espaço para a conciliação e um número menor de recursos ou meios impugnativos. O novo Código de Processo Civil deve buscar a maior celeridade no processo, porém não poderá buscar isso a todo o custo, sob pena de se suprimir princípios e garantias constitucionais. Pois se de um lado há o clamor por uma maior celeridade processual, por outro há o aspecto da segurança jurídica e da prestação jurisdicional com eficiência.
Como se pode depreender da leitura dos primeiros artigos do Capítulo I, do Livro I do projeto do novo CPC, fica evidente o objetivo de que os princípios e garantias fundamentais do processo civil, previstos logo ali, nada mais significam do que se tem denominado na doutrina contemporânea como “neoprocessualismo”, que é, exatamente, a aplicação das premissas do neoconstitucionalismo ao processo civil. Fica, agora, de forma expressa a obrigatoriedade do respeito aos princípios constitucionais, como os fundamentos da República Federativa do Brasil.
“Com o novo código, teremos procedimentos descomplicados e justiça mais célere, com claros ganhos para o cidadão brasileiro — comentou o presidente do Senado, Renan Calheiros, em solenidade. ”
É claro que havia necessidade de uma reforma, mas questiona-se se seria preciso um novo código. Talvez uma renumeração geral dos dispositivos e a adoção de mecanismos de celeridade, sem prejuízo de manter assegurado o direito das partes, fosse o suficiente e, certamente, o mais lógico e menos custoso.
3 - OS PRINCÍPIOS MAIS IMPORTANTES DO NOVO CPC AO FAZER A PETIÇÃO INICIAL.
O direito de ação faz parte do sistema constitucional de garantias, próprias do Estado de direito, o exercício do direito de ação resulta na instauração do processo. O que importa ressaltar é que o acesso a jurisdição, sob a perspectiva constitucional, é direito extraordinário e amplo quanto ao seu exercício, na medida em que qualquer afirmação que o autor faça acerca de lesão ou ameaça a direito que entenda de sua titularidade pode se constituir em pretensão suficiente para exercer essa garantia.
No novo Código de Processo Civil são condições da ação apenas o interesse processual e a legitimidade, excluindo-se a possibilidade jurídica do pedido. A rigor, as hipóteses de impossibilidade jurídica que constituam verdadeira questão processual, de admissibilidade, são enquadráveis na falta de interesse de agir.
As condições da ação não seriam questões de mérito nem seriam propriamente questões de admissibilidade; seriam, simplesmente, questões relacionadas à ação.
INTERESSE PROCESSUAL – A condição da ação consistente no interesse processual se compõe de dois aspectos, ligados entre si, que se podem traduzir no binômio necessidade-utilidade, embora haja setores na doutrina que prefiram traduzir esse binômio por necessidade-adequação. O interesse processual está presente sempre que a parte tenha a necessidade de exercer o direito de ação para alcançar o resultado que pretende, relativamente a sua pretensão e, ainda mais, sempre que aquilo que se pede no processo seja útil sob o aspecto prático.
O interesse processual nasce, portanto, da necessidade da tutela jurisdicional do Estado, invocada pelo meio adequado, que determinará o resultado útil pretendido, do ponto de vista processual. É importante esclarecer que a presença do interesse processual não determina a procedência do pedido, mas viabiliza a apreciação do mérito, permitindo que o resultado seja útil.
O processo jamais será utilizável como simples instrumento de indagação ou consulta acadêmica. Só o dano ou o perigo de dano jurídico, representado pela efetiva existência de uma lide, é que autoriza o exercício do direito de ação. Assim, se não estiver presente o interesse não há possibilidade de se utilizar do processo, e deve-se ainda proporcionar uma adequação da medida, a fim de que se possa obter a tutela jurisdicional, sendo a adequação entendida como sendo a relação existente entre a situação lamentada pelo autor ao vir a juízo e o provimento jurisdicional concretamente solicitado.
O provimento, evidentemente, deve ser apto a corrigir o mal de que o autor se queixa, sob pena de não ter razão de ser. Quem alegar, por exemplo, o adultério do cônjuge não poderá pedir a anulação do casamento, mas o divórcio, porque aquela exige a existência de vícios que inquinem o vínculo matrimonial logo na sua formação, sendo irrelevantes fatos posteriores. O mandado de segurança, ainda como exemplo não é medida hábil para a cobrança de créditos pecuniários.
LEGITIMIDADE DAS PARTES – Autor e réu devem ser partes legítimas, isso quer dizer que, quanto ao primeiro, deve haver ligação entre ele e o objeto do direito afirmado em juízo. Para que se compreenda a legitimidade das partes, é preciso estabelecer-se um vínculo entre o autor da ação, a pretensão trazida em juízo e o réu.
Legitimados ao processo são os titulares dos interesses que estiverem em conflito, pois em princípio, é titular da ação tão somente a própria pessoa que se diga titular do direito subjetivo material o qual pretende ver tutelado, e por outro lado só pode ser demandado aquele que seja titular da obrigação correspondente.
Segundo Theodoro Júnior, “legitimados ao processo são os sujeitos da lide, isto é, os titulares dos interesses em conflito”, de forma que se observa tratar-se até aqui de tema bastante complexo, e que por si só estaria a merecer estudo mais aprofundado.
Em todo o transcurso do processo as condições da ação devem estar presentes, ou seja, desde da petição inicial até o trânsito em julgado. Assim sendo sempre será verificado a presença dos elementos da ação independente da fase processual que se encontre o processo. Uma vez a falta de algum deles acarretar, como supracitado, a extinção do processo sem análise meritória.
A petição inicial – O direito de agir, que é abstrato e geral, e que consiste no direito de invocar a tutela jurisdicional do Estado para decidir sobre uma pretensão, manifesta-se em concreto por meio de uma petição escrita do autor ao juiz. É o ato inicial do processo, e do qual os demais atos derivam e se sucedem em direção a sentença.
A função jurisdicional, portanto, embora seja uma das expressões da soberania do Estado, só é exercida mediante provocação da parte interessada.
Ao fazer uma petição inicial é necessário que se observe princípios basilares em sua construção, é primordial que estes princípios estejam consubstanciados a estrutura da ação e pedido do autor, além disso o novo CPC vem inaugurando e privilegiando os princípios constitucionais. Deve-se ressaltar que os requisitos da petição inicial devem ser analisados em consonância com os princípios que regem o processo civil, em especial os princípios da informalidade e simplificação.
Princípio da ação: É estabelecido que aquele que busca o direito deve provocar o sistema judiciário, e assim, a partir deste estímulo inicial, o poder público poderá agir na busca da realização da justiça.
Princípio da ação, ou princípio da demanda, ou princípio da iniciativa das partes, indica que o Poder Judiciário, órgão incumbido de oferecer a jurisdição, regido por outro princípio (inércia processual), para movimentar-se no sentido de dirimir os conflitos intersubjetivos, depende da provocação do titular da ação, instrumento processual destinado à defesa do direito substancial litigioso.
Humberto Theodoro Júnior (2012, p. 35) define dois princípios intimamente ligados com a temática da petição inicial e que, modernamente, informam o processo civil mercê da reunião de preceitos tanto de um quanto de outro, não obstante o distanciamento das concepções clássicas. São eles: o princípio inquisitivo e o princípio dispositivo.
Para o autor:
Caracteriza-se o princípio inquisitivo pela liberdade da iniciativa conferida ao juiz, tanto na instauração da relação processual como no seu desenvolvimento. Por todos os meios a seu alcance, o julgador procura descobrir a verdade real, independentemente de iniciativa ou colaboração das partes. Já o princípio dispositivo atribui às partes toda a iniciativa, seja na instauração do processo, seja no seu impulso. As provas só podem, portanto, ser produzidas pelas próprias partes, limitando-se o juiz à função de mero espectador.
Ato contínuo, aduz que o Código de Processo Civil consagra o princípio dispositivo, mas reforça a autoridade do Poder Judiciário, armando-o de poderes para prevenir ou reprimir qualquer ato atentatório à dignidade da Justiça (Ministro Alfredo Buzaid, Exposição de Motivos, nº 18).
Princípio da inércia: o juiz não pode abrir ação de oficio tem que ser provocado pela parte ou seja, pela iniciativa da parte a qual tem posição proativa, de ataque ao réu. A petição inicial é o instrumento formal da ação, pelo qual o autor deduz em juízo sua pretensão, fazendo assim nascer o processo. Primeiro ato da relação processual e do procedimento, segundo Costa Machado (2007, p.289). É através da petição inicial que se quebra o princípio da inércia e se traduz o princípio do acesso à justiça e do dispositivo - a função jurisdicional só é exercida mediante a provocação da parte interessada.
O artigo 2º norteia o Princípio Dispositivo (da inércia ou da demanda). Consubstancia que a jurisdição apenas atua quando provocada por algum interessado, ressalvadas hipóteses legalmente previstas, recordando que a inércia da jurisdição não importa passividade do juiz na condução do processo, o qual deverá sempre perseguir a verdade. O juiz deve pautar-se pela isonomia e distância das partes, sendo um valor de absoluta relevância ao processo; logo, a medida denota alto comprometimento à imparcialidade do juiz e ao processo justo-isonômico.
Princípio do impulso: é aquele em que o juiz impulsiona o processo para dar andamento, que ocorrera após ter tomado conhecimento mediante a petição inicial, em conformidade com o ato despacha positivamente a ação que tomara curso processual legal. Após a instalação do processo, cabe ao juiz dar continuidade e progresso, até o esgotamento da função jurisdicional (esgotamento de ações que o poder judiciário pode exercer).
O princípio do impulso, segundo o qual uma vez instaurado o processo por iniciativa da parte ou interessado, este se desenvolve por iniciativa do juiz, independente de nova manifestação de vontade da parte. O juiz, que representa o Estado promove e determina que se promovam atos processuais de forma que o processo siga sua marcha em direção a solução do sistema jurídico para aquela lide. Essa regra dispõe que o processo civil começa por iniciativa da parte, mas se desenvolve por impulso oficial.
Princípio da correlação: o juiz está adstrito a sentenciar a demanda judicial com correlação ao pedido do autor, ou seja, tem que haver um vínculo estrito entre o pedido e a sentença.
O princípio da correlação ou da congruência consiste naquele que informa o sistema processual de que a sentença deve estar estritamente relacionada ao pedido pela parte, não podendo o magistrado proferir um julgado sem uma efetiva "ponte" com o pedido. Parece até óbvio a existência de tal norma principiológica; ao autor será entregue aquilo que é objeto de sua pretensão, pela concessão e reconhecimento do órgão jurisdicional.
A importância do uso mencionado princípio, além de conceder objetividade em relação ao objeto do processo a ser alcançado, decorre também da comunhão que é encontrada entre os princípios da congruência e do contraditório. Como bem lembra José dos Santos Bedaque (2002:35), a finalidade de não poder se obter pretensões não submetidas ao debate é evitar que a parte se encontre surpreendida e veja desrespeitado o seu direito ao contraditório e à ampla defesa.
Princípio da eventualidade: a parte tem que alegar tudo de todo o direito na petição inicial, ou seja fazer o pedido completo. Pelo princípio da eventualidade, as partes, autor e réu, devem prequestionar toda a matéria que reputem necessárias ao deslinde neste caso, não se pode fazer prova do que não restou questionamento.
O Princípio do Acesso à Justiça: O art. 16 da Declaração dos Direito do Homem, de 1789, estabelece que toda sociedade, onde a garantia dos direitos não é assegurada, não goza de uma Constituição. O certo é que a garantia do acesso à justiça não se restringe apenas a propositura de ações judiciais, mas resguarda principalmente o direito de defesa, pois nele deve estar as possibilidades reais de as partes no processo serem ouvidos e influírem na atividade jurisdicional.
As partes têm direito de obter em prazo razoável a solução integral do mérito, incluída a atividade satisfativa. Isso leva a crer que o direito à jurisdição em prazo razoável é uma exigência para a tutela jurisdicional efetiva. Além disso, a tutela deve ser prestada por meio de uma jurisdição adequada. A tutela não deve ser apenas adequada, mas também efetiva, assim dispõe o art. 5º, LXXVIII, da Constituição Federal (efetividade processual).
  • Novo Código de Processo Civil 2015.

Referências

WAMBIER, Luiz Rodrigues. Curso avançado de processo civil: teoria geral do processo. 14. Ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2014.
SANTOS, Moacyr Amaral. Primeiras Linhas de Direito Processual Civil. 27. Ed. São Paulo: Saraiva, 2011.
JUNIOR, Humberto Theodoro. Curso de Direito Processual Civil. 55. Ed. São Paulo: Editora Forense, 2014.
MACHADO, Hugo de Britto. O novo CPC.
.



Ivonildo Reis Santos
Estudante de Direito - Brasília, DF

quinta-feira, 28 de novembro de 2019

TRF-4 reconhece união estável com prova exclusivamente testemunhal


sábado, 23 de novembro de 2019

Baixa autoestima! Ela pode nos distanciar das possibilidades de viver um amor saudável

Baixa autoestima! Ela pode nos distanciar das possibilidades de viver um amor saudável

Um único fator separa as pessoas felizes das infelizes: o senso de merecimento. Uma visão negativa de si mesmo e um baixo senso de valor levam as pessoas a uma vida muito aquém do seu potencial.

A baixa autoestima interfere diretamente na qualidade do nosso relacionamento com a gente mesma, com o outro e com o mundo.
Nossas primeiras relações de afeto com nossos cuidadores exercem papel fundamental na maneira como vemos o mundo, como nos amamos e o valor que nos damos na vida adulta.
A nossa autoestima está muito ligada à forma como somos olhadas em nossa infância, principalmente pelos nossos pais e cuidadores. Quando somos amados e validados por simplesmente ser quem somos, temos grandes possibilidades de nos tornar adultos seguros, com uma visão positiva de nós mesmos.
    

Uma criança não tem uma visão ampla e abrangente para avaliar os acontecimentos, portanto, quando ela vive em ambiente de constante crítica, julgamentos, ofensas, piadas depreciativas a seu respeito, em geral, ela internaliza este tratamento como uma grande possibilidade afetiva e acaba se tratando da mesma maneira como se acostumou a ser tratada.
A ideia para esse artigo surgiu em um dia daqueles, de ócio, em que só queremos deitar e esquecer da vida.

Trocando de canal na TV, surpreendi-me com o filme água com açúcar “Noiva em fuga”, que acabara de começar.
Confesso que foi curioso assistir a um filme “Sessão da tarde”, com os olhos de hoje! A primeira vez que assisti ainda não era psicóloga, mas desta vez, analisar traços de personalidade da personagem principal, assim como seu sistema familiar, trouxeram-me um toque de profundidade e colocaram meus planos de só assistir a um filme “água com açúcar” por água abaixo.
Para quem não assistiu, vou relatar brevemente a essência do filme, segundo o meu olhar:
Maggie Carpenter, representada por Julia Robert, é uma garota estigmatizada na pequena cidade em que vive, já que foge da Igreja pela terceira vez, na hora do casamento, abandonando seus parceiros, atônitos, no altar.
O filme inicia com um jornalista, Ike Graham (Richard Gere), enviado à cidade para fazer a reportagem sobre a noiva em fuga. Maggie é uma garota que brilha, atrai olhares e pessoas. É alegre, sedutora, divertida, bonita, engraçada, cheia de vida, entre outras várias características carismáticas e cativantes.
Entretanto, não parece ter recebido auxílio e orientação de sua família. Na verdade, a mãe faleceu e o pai, um alcoólatra, não possuía condições psicológicas para auxiliá-la, então sempre fazia piadas depreciativas e humilhantes sobre suas fugas.

Ela, tão acostumada com esse tipo de comportamento, começou a achar natural ser ridicularizada, e até ria junto com aqueles que faziam piadas dela.

Maggie parece não ter recebido dentro de casa o cuidado necessário para a construção de um bom olhar e tratamento para consigo, não aprendeu a olhar para suas verdadeiras necessidades de mulher.
Brenne Brown, uma assistente social e pesquisadora, diz que, intrigada em entender qual a diferença entre as pessoas felizes e as pessoas infelizes, realizou uma longa pesquisa, até encontrar qual era o fator que as separava.
Após analisar os resultados dos dados obtidos, ela descobriu que um único fator separava as pessoas felizes das infelizes: o senso de merecimento. Percebeu ainda que as pessoas felizes acreditavam que mereciam ser felizes, enquanto as infelizes acreditavam que não.
Uma visão negativa de si mesma e um baixo senso de valor e merecimento levam as pessoas a viverem uma vida muito aquém do seu potencial de alegria, prazer, amor e felicidade, simplesmente por acreditarem que merecem pouco e, algumas vezes, nada.
No caso de Maggie, fica bem claro que a sua baixa autoestima se espalha por outras áreas, além da afetiva, quando o filme mostra os belíssimos trabalhos que faz com luminárias e lustres que ficam guardados no fundo de casa.

Quando não nos damos valor e não temos uma visão generosa e positiva de nós mesmos, temos dificuldade em apresentar nossos talentos ao mundo, por acreditarmos que nada que venha de nós pode ser suficientemente bom.

Um outro ponto que me chamou bastante a atenção foi a dificuldade da personagem em ter uma identidade definida. A cada novo namorado, ela se transformava em uma nova mulher, com gostos e atividades completamente diferentes. Como não havia uma identidade definida e sólida, internamente construída, a personagem do filme tomava para si gostos e hobbies de seus namorados, perdida em seus desejos, necessidades e anseios.
A personagem mal conseguia saber os tipos de ovos que gostava de comer pela manhã e a cada troca de namorado, mudava hábitos, gostos e preferências, deixando seu ponto de referência totalmente no outro, em vez de se conectar consigo mesma.
É exatamente este o ponto mais importante que quero ressaltar com este texto: Maggie Carpenter aqui representa as inúmeras mulheres que, apesar de lindas, atraentes, talentosas, inteligentes, não conseguem ter uma visão positiva de si mesmas, não conseguem se amar e vivenciam relações amorosas que lhes oferecem a mesma quantidade de amor que se dão.
“Amar a si mesma(o) é o início de um romance que vai durar a vida inteira.” Oscar Wilde
As pessoas mais românticas costumam fantasiar um amor de filme, com companheirismo, amizade, cuidado, aceitação, mimos e agrados.
Quantas de nós já suspiramos com um livro, filme ou até mesmo com um relato de uma história de um amor que nos fez bem?
Desta forma, criamos a crença de que todo o amor que não recebemos em casa e não pudemos nos dar até hoje, deverá vir de fora, de uma relação, de um parceiro e depositamos nesse amor que ainda não chegou, ou que pensamos ser o ideal, todas as nossas expectativas, acreditando que ele solucionará todos os nossos problemas internos de baixa autoestima, e que, então, seremos felizes para sempre!
A personagem do filme tinha muito medo de compromisso, pelo fato de se perder no outro e por faltar uma identidade e um autoconhecimento que lhe possibilitasse colocar limites e dizer não.

A falta de uma estrutura familiar que a envolvesse com o amor que necessitava propiciou o desenvolvimento desse medo que a fazia, constantemente, fugir dos seus pretendentes.

Quantas de nós também sabotamos relacionamentos que poderiam dar certo e escolhemos aqueles que não nos trarão nutrição? O que será que tem por trás deste comportamento?
Maggie, antes do tradicional final feliz da década de 90, resolve passar um tempo sozinha, investir em seu trabalho e descobrir qual é o tipo de ovo que ela quer comer de manhã, independente de quem estiver ao lado dela.
Autoconhecimento, autovalidação, generosidade e empatia para conosco nos empodera e nos assegura de que somos capazes de fazer boas escolhas para nós mesmas.
O amor e o relacionamento que você tanto procura fora de você começa aí dentro. Antes de focar no externo, faça para você o que deseja receber do outro!
Leve-se à praia, convide-se para jantar, acolha-se, respeite-se, ame-se, cuide de você como o seu bem mais precioso.
Nós falamos muito sobre as mulheres neste artigo, mas os homens também vivem isso. Fazer escolhas amorosas erradas não é privilégio das mulheres!

Como a vida é um eco, uma vez que este trabalho é bem feito, a vida e os seus relacionamentos respondem à altura. Acredite!


Direitos autorais da imagem de capa: filme “Noiva em fuga”.