quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

O que é a metadona?


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Produzida em laboratório, a metadona tem um efeito mais prolongado que a heroína, é um poderoso analgésico e é tomada apenas uma vez ao dia sem que o paciente tenha sintomas de "ressaca", sendo esta a sua grande propriedade. É administrada por via oral e permite um melhor controlo sanitário.
A metadona não causa danos físicos no cérebro, nos rins e nos ossos. Sintomas característicos do consumo de droga como dores de cabeça, diarreia, perda da libido, dificuldades em urinar, dores nas articulações ou nervosismo são aliviados com a sua administração. Nas mulheres os programas de substituição com metadona permitem normalizar o ciclo menstrual que o consumo de heroína desregra.
Mas a metadona pode causar obstipação, suores, pele irritada, hipersensibilidade hepática e perda de apetite. A metadona tem alto poder aditivo, ainda que este seja inferior ao da heroína. Por ser tóxica e poder gerar comportamentos a sua administração tem de ser cuidadosa e vigiada por técnicos. A toma de doses extra de metadona e a mistura com sedativos ou álcool aumentam o risco de overdose.
As vantagens da prescrição de metadona integrada em bons programas de tratamento são a redução do uso de droga ilícita, a diminuição do consumo de opiáceos ilegais, dos comportamentos criminosos e da mortalidade dos toxicodependentes. Além disso, os doentes organizam mais facilmente outros aspectos das suas vidas.
A metadona não tem os efeitos euforizantes da heroína. Como não produz os mesmos efeitos psicológicos e exige uma única dose diária é compatível com uma vida activa, estável e organizada. A maior estabilidade dos pacientes resulta da supressão dos sintomas do síndrome de abstinência e do acompanhamento psicoterapêutico incluído nos programas de tratamento. A administração legal também evita que os toxicodependentes estejam em contacto com pessoas e ambientes do consumo de heroína.
Os pacientes de programas de substituição com metadona podem aceder a programas de baixo, médio ou alto limiar. No baixo limiar é fornecida metadona e assistência médica e social básica. Destina-se a toxicodependentes a viver em condições muito degradadas, muitas vezes doentes e com um percurso muito longo. O objectivo é redução de danos e riscos. Se a evolução for boa poderão passar a programas de alto limiar. No médio limiar há seguimento médico e psicossocial. No alto limiar as normas são muito mais estreitas e o seu incumprimento pode levar à expulsão do programa. A oferta de cuidados de saúde é mais ampla que nos outros programas.
Em Portugal, os programas de substituição com metadona são, essencialmente, programas de alto limiar. Nos programas de alto limiar o grau de exigência com os pacientes é elevado. Existe controlo à urina para detectar a tomada de drogas. É também importante a ocupação em termos sociais, pois o programa de alto limiar serve de suporte para os pacientes terem um desempenho social. Discute-se a abstinência como fim possível.
As probabilidades de sucesso de um programa de substituição com metadona dependem muito do acompanhamento dado aos utentes. Os programas funcionam bem desde que não se entenda que a solução passa somente pela prescrição de metadona. Esta é apenas uma parte do tratamento que exige outras intervenções.
O programa é bom se houver apoio psicoterapêutico, reabilitação psicossocial e melhores cuidados de saúde. Se estas dimensões não estiverem presentes não se pode falar em tratamento.

A maior parte dos toxicodependentes não têm apenas um problema de dependência física e psíquica da heroína. Para além da dependência carregam muitas vezes situações de vida graves. A metadona não é uma cura por si só e, tratar estas pessoas não passa só pela sua prescrição. 

terça-feira, 27 de janeiro de 2015

Tutela e Curatela

Tutela e Curatela

O que é tutela?
É o encargo atribuído pela Justiça a um adulto capaz, para que proteja, zele, guarde, oriente, responsabilize-se e administre os bens de crianças e adolescentes cujos pais são falecidos ou estejam ausentes até que completem 18 anos de idade.


O que é curatela?

É o encargo atribuído pelo Juiz a um adulto capaz, para que proteja, zele, guarde, oriente, responsabilize-se e administre os bens de pessoas judicialmente declaradas incapazes, que em virtude de má formação congênita, transtornos mentais, dependência química ou doenças neurológicas estejam incapacitadas para reger os atos da vida civil, ou seja, compreender a amplitude e as conseqüências de suas ações e decisões (impossibilitadas de assinar contratos, casar, vender e comprar, movimentar conta bancária, etc).

Quem é o tutor e o que dele se espera?
O tutor é um cuidador. Os cuidadores podem ser primários ou secundários. Os cuidadores primários são o pai e a mãe. Os tutores são cuidadores secundários, ante a impossibilidade dos pais, seja em função de óbito (morte), ausência ou destituição do poder familiar, de fazê-lo. São eles designados pelo Juiz, assumindo o compromisso legal de zelar pelos direitos e garantias do menor tutelado, promovendo-lhe a educação, saúde, moradia, lazer, convívio familiar, etc.


O tutor é o representante legal da criança ou adolescente tutelado. É o tutor que administra o patrimônio (pensão, aluguéis, contratos...) do tutelado, suas despesas e dívidas e o representa nos atos da vida civil, tais como: matricula na escola ou cursos, autoriza viagens, autoriza internamentos hospitalares e cirurgias, etc; responsável também pela função afetiva, anteriormente desempenhada pelos pais


Quem é o curador e o que dele se espera?


O curador também é um cuidador secundário. É o adulto capaz que se responsabiliza perante o Juiz pela pessoa do interditado, o representando e zelando por seus direitos e garantias fundamentais. Assim como o tutor, é ele quem administra os bens, pensão ou aposentadoria (caso o interditado possua), protege e vela pelo bem-estar físico, psiquico, social e emocional do interditado.

Quem pode ser tutor?

Pode assumir a Tutela qualquer parente da criança ou adolescente. Em caso de não haver parentes ou destes serem desconhecidos, poderá ser tutor uma pessoa próxima, desde que seja idônea, não tenha causas que venham contra os interesses do tutelado, e que esteja disposta a zelar pelo mesmo.
Se o tutelado possuir bens imóveis, o tutor, antes de assumir a Tutela, deve comprovar que também possui renda ou bens compatíveis com o patrimônio que irá administrar pelo tutelado; procedimento denominado de especialização da hipoteca legal.


Quem pode ser curador?

Seus pais; o cônjuge ou algum parente próximo, ou ainda, na ausência destes, o Ministério Público podem pedir a Curatela de um adulto com mais de 18 anos de idade considerado juridicamente incapaz.




Quem pode ser tutelado?

Crianças e adolescentes com menos de 18 anos de idade, cujos pais faleceram, sejam desconhecidos ou que tenham perdido legalmente o poder parental de seus filhos; em função de maus tratos, negligência ou falta de condições para prover o sustento destes, ou por algum motivo estejam ausentes.


Quem pode ser curatelado?



Pessoa maior de 18 anos de idade que devido a alguma enfermidade, doença mental ou dependência química a impeça temporaria ou permanentemente de reger e discernir os atos da vida civil, bem como exprimir sua vontade, ou ainda, os pródigos (pessoas esbanjadoras ou compulsivas que colacam em risco seus bens e/ou patrimônio, bem como a sobrevivência de seus dependentes e da família).


Quais os deveres do tutor?

Cabe ao tutor reger a vida da criança ou adolescente, protegê-lo quando necessário, velar por ele e administrar-lhe os bens. Deve defendê-lo, prover alimentação, saúde e educação de acordo com seus recursos e condições.


Quais os deveres do curador?

Cabe ao curador reger a pessoa do interditado, protegê-lo, velar por ele e administrar-lhe os bens.
Deve defendê-lo, prover alimentação, saúde e educação de acordo com suas condições.


E se o tutor e/ou curador falecer?

Em caso de falecimento do tutor e/ou curador, o fato deve ser informado imediatamente e solicitada a substituição do falecido por outra pessoa, junto ao Juiz onde foi feito o processo.
Tal comunicação e substituição é necessária para dar continuidade a administração dos bens, recebimento de pensão ou rendas, etc. A demora na substituição poderá causar prejuízos materais ao tutelado e interditado.

O tutor e/ou curador pode ser substituído?


Sim, o tutor e/ou curador pode ser substituído se não cumprir com as atribuições legais e judicialmente determinadas decorrentes do compromisso assumido na Justiça para com o tutelado e/ou curatelado, seja por incapacidade, ineficiência ou por negligência.
Além disso, pode-se e deve-se pedir a substituição do tutor e/ou curador se, porventura, este tenha que se ausentar, faleça, seja acometido por doença ou sofra acidente que o impossibilite de exercer suas funções.


O que é pecúlio previdenciário e por que o tutelado ou o curatelado o recebe?

O pecúlio previdenciário é um direito, estabelecido pela lei sob a forma de pensão, aposentadoria ou benefício, visando suprir materialmente as despesas do beneficiário, contribuindo para sua manutenção. Se o tutelado ou curatelado a ele tiver direito, cumpre ao tutor ou curador pleiteá-lo ou requerer junto ao orgão previdenciário.
Este pagamento se encerra quando o tutelado atinge a maioridade civil (completar 18 anos), ou for emancipado, ou se estiver cursando o ensino superior até 24 anos de idade. No caso do curatelado, o benefício previdenciário é encerrado quando este falece.

O que são e para que servem as sindicâncias?



Sindicâncias são atividades de natureza psicossocial realizadas periodicamente pela Equipe Técnica do Ministério Público mediante autorização do Promotor de Justiça.
Psicólogos e/ou Assistentes Sociais realizam visitas domiciliares e institucionais, além de entrevistas com as pessoas envolvidas e familiares com a finalidade de realizar o estudo psicossocial do caso, mediante emissão de relatórios.

Neste estudo é abordado o cotidiano dos tutelados e curatelados, bem como a qualidade de vida e seu convívio com a nova realidade familiar e a comunidade. São abordados temas como: composição da estrutura e renda familiar, saúde, educação, etc.

Os relatórios emitidos subsidiam as decisões dos Promotores de Justiça, pois retratam com imparcialidade a situação em que se encontra o tutelado/curatelado e sua realidade familiar.

O que é a perícia?

Nos casos de interdição, antes de se pronunciar sobre a curatela, o juiz encaminha o curatelando para ser examinado por um médico especialista de sua confiança, nomeando-o como perito.


Este médico, além de avaliar clinicamente o curatelando, responderá aos quesitos formulados pelo Juiz, pelo Promotor de Justiça e pelo Advogado ou Defensor Público que o representa no processo, sobre a gravidade da doença e se ela afeta a capacidade do curatelando de se determinar na vida e reger os atos da vida civil.

O laudo emitido pelo médico será encaminhado para o Juiz que o anexará no processo.




O que é prestação de contas? (tutela)


A prestação de contas é um relatório apresentado na forma contábil e encaminhado para o juízo periodicamente pelo advogado ou defensor público que representa o tutor e o tutelado, contendo a descrição dos ganhos financeiros e despesas administradas pelo tutor em prol do tutelado.

Na sentença de nomeação do tutor também está indicada a periodicidade de apresentação deste procedimento, que via de regra é anual, porém pode ser semestral, trimestral, etc, conforme a necessidade e a critério do juízo.

A prestação de contas também é obrigatória quando houver a substituição do tutor ou quando o tutelado completar a maioridade civil, ocasião em que a tutela será extinta.


O que é prestação de contas (curatela) ?
A prestação de contas é um relatório apresentado na forma contábil e encaminhado para o juízo periodicamente pelo advogado ou defensor público que representa o curador e o curatelado, contendo a descrição dos ganhos financeiros e despesas administradas pelo curador em prol do curatelado.
Na sentença de nomeação do curador também está indicada a periodicidade de apresentação deste relatório, que via de regra é anual, porém pode ser semestral, trimestral, etc, conforme a necessidade e a critério do juízo.

A prestação de contas também é obrigatória quando houver a substituição do curador, levantamento da interdição ou quando o curatelado falecer, ocasião em que a curatela será extinta.



Como fazer prestação de contas?




No relatório de prestação de contas devem ser anexados os respectivos comprovantes de pagamento das despesas citadas, notas fiscais ou recibos.

As despesas geralmente incluem os gastos realizados com alimentação, material escolar, roupas, lazer, cursos, remédios, dentista, médico, psicólogo, despesas com água, energia elétrica e/ou outros.

Todos os gastos devem ser comprovados mediante a apresentação dos recibos e notas fiscais, os quais podem estar separados mês a mês (janeiro, fevereiro, março...).

E se o tutor ou curador não administrar corretamente os bens ou o pecúlio previdenciário do tutelado ou interditado?


Caso haja irregularidades na prestação de contas ou suspeita de que o dinheiro ou recursos esteja sendo usado para outros fins que não o bem estar e os cuidados com o tutelado ou curatelado, o tutor ou curador poderá responder a processo judicial nas Varas Cíveis ou, em caso de negligência e/ou maus tratos, responder a processo criminal.

Qualquer pessoa pode realizar uma denúncia ao Ministério Público em caso de suspeita de irregularidades.


Qual é a responsabilidade do Tutor/Curador em relação aos atos praticados pelo tutelado/curatelado?


Caso o tutelado ou curatelado cometa algum ato que cause dano a terceiro o tutor ou o curador será responsabilizado financeiramente pelo prejuízo.
Porém, se o tutor ou o curador não tiver patrimônio algum, poderá ser responsabilizado o patrimônio do tutelado ou curatelado, desde que existente.
Destaca-se a possibilidade do tutor ou curador reaver do tutelado ou curatelado, juridicamente, o valor pago em indenização perante terceiro.
A imputação de eventuais indenizações poderá ser mitigada ou até mesmo excluída se elas vierem a privar o tutelado ou curatelado e os que dele dependerem, dos meios necessários à sua subsistência.



Em caso do cometimento de ato infracional pelo tutelado ou de crime pelo curatelado, apenas estes responderão perante a Justiça; cabendo ao tutor ou ao curador providenciar advogado ou defensor público.


Atualização: Damtom G P Silva ( dansilva@mp.pr.gov.br )

segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

Linda!... Linda!...

(Foto: mid-day.com)
(Foto: mid-day.com)

Estudo revela que maioria dos jovens extremistas da França é de família ateísta


  • 09/01/2015 20h42atualização
  • Brasília Alex Rodrigues - Repórter da Agência Brasil*Edição: Armando Cardoso

A maioria dos jovens franceses que aderiram a grupos radicais islâmicos não foi criada em famílias seguidoras do Alcorão, mas em famílias ateístas. A informação consta de estudo feito pelo centro de Prevenção Contra os Desvios Sectários ao Islã (Cpdsi).
Conforme os dados, 160 famílias foram entrevistadas. Elas fazem parte de um universo entre 700 e mil jovens que o Ministério do Interior da França estima terem aderido a organizações como o Estado Islâmico (Isis) e a Al Qaeda. Alguns chegaram a viajar para países como Síria e Iraque e tomar parte em ações armadas.
Entre as famílias ouvidas, 128 (80% do total) classificam-se como ateias. Dessas, ao menos 12 afirmaram manter na memória a lembrança de traumas provocados pela intolerância racial ou religiosa, como o Holocausto judeu ou a perseguição ao povo argelino, de onde descendem muitos dos jovens nascidos na França ou naturalizados franceses que aderem à luta jihadista.
A maior parte das 160 famílias está na terceira geração de cidadãos nascidos na França. Apenas 16 delas (10%) relataram que os avós dos jovens recrutados nasceram em outros países, especialmente em ex-colônias francesas, como Argélia e Marrocos. Para os responsáveis pelo estudo, isso minimiza os sentimentos "de falta de raízes ou de não pertencimento" que, até recentemente, influenciava jovens que se deixavam atrair por discursos radicais.
O estudo indica que 84% das famílias são de classe média (67%) ou alta (17%). Os jovens têm, em sua maioria (43%), entre 18 e 21 anos. Nas faixas de 15 a 18 anos e de 21 a 28 anos, estão, respectivamente, 20% e 37% dos jovens arregimentados. Segundo os pesquisadores, são raros os casos de pessoas com mais de 30 anos que aderem às causas dos grupos radicais.
Com base nos relatos das famílias, os pesquisadores concluíram que, ao contrário do passado, quando os radicais conseguiam atrair, com mais facilidade, filhos de imigrantes e de famílias desestruturadas, atualmente jovens de famílias bem estabelecidas é que são recrutados.
Incluem-se nesse perfil principalmente aqueles que os pesquisadores classificam de "hipersensíveis”, que são mais suscetíveis a questionamentos sobre o sentido da vida e do lugar e papel no mundo.
Os pesquisadores afirmam que a internet transformou-se em ambiente propício e muito usado pelos extremistas islâmicos para doutrinar jovens. E que, em geral, os pais notam o processo de ruptura, pois os filhos já não querem mais ver os amigos, nem ir às aulas ou manter as habituais atividades de lazer.
Suspeitos do ataque ao jornal satírico Charlie Hebdo, em Paris, onde, na última quarta-feira (7), morreram 12 pessoas, os irmãos Saïd e Chérif Kouachi se encaixam em alguns aspectos do estudo relativos à descrição dos jovens recrutados.
Segundo a imprensa internacional, embora tenham nascido na França os dois cresceram em um centro educativo de Treignac. Mais velhos, viviam de empregos mal remunerados. Foram recrutados em Paris, nos anos 2000 e treinados pela Al Qaeda.
Os dois eram conhecidos e monitorados pelas forças de segurança da França. Chérif, inclusive, foi condenado, em 2008, a três anos de prisão. Na ocasião, foi retratado pela promotoria como jovem movido pela “ira contra os infiéis” e que já havia manifestado a intenção de agir em território francês. Seus vizinhos, contudo, descrevem-no como prestativo e educado.
Em abril do ano passado, o governo francês anunciou um plano para tentar convencer jovens franceses a não se unirem a grupos radicais islâmicos que lutavam contra o regime do presidente sírio, Bashar al-Assad, rastreando e monitoramento a atuação de militantes extremistas nas redes sociais. Na manhã de hoje (9), o presidente da França, François Hollande, disse que o país "está em guerra contra o terrorismo, não contra uma religião ou uma civilização".

*Com informações da Agência Lusa
O texto foi alterado às 20h42 para correção no segundo parágrafo

De onde vem o dinheiro que financia grupos extremistas islâmicos?

De onde vem o dinheiro que financia grupos extremistas islâmicos?Reuters

Renda do grupo Estado Islâmico vem do petróleo, impostos e roubos
Há um ano, o grupo hoje conhecido como Estado Islâmico era pouco lembrado no cenário internacional, a não ser por aqueles interessados a tornar-se combatentes ou entre estudiosos que acompanham a situação na Síria e no Iraque.
Mesmo quando emergiu, o grupo era considerado apenas mais um entre os vários agrupamentos envolvidos no conflito da Síria. Em janeiro de 2014, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, minimizou a capacidade e o perigo representados por aqueles combatentes agitando bandeiras da Al-Qaeda em Falluja e em outras áreas no Iraque e na Síria.
Mas, poucos meses depois, o grupo Estado Islâmico assumia o controle de um vasto território no norte dos dois países.
Leia mais: De onde vem o dinheiro que financia o 'Estado Islâmico'?
O ex-secretário de Defesa Chuck Hagel descreveu o grupo como mais "sofisticado e bem financiado" do que qualquer outro. "Eles são mais do que um grupo terrorista... eles são tremendamente bem financiados".
No caso do Estado Islâmico, há um foco maior da comunidade internacional sobre suas finanças - a receita que o grupo obtém através de petróleo, tributação, extorsão e roubos.
Parte considerável dos ataques aéreos da coalizão liderada pelos Estados Unidos atingiu as refinarias de petróleo e as rotas de contrabando que, acredita-se, seriam o meio de sobrevivência financeira do grupo, na crença de que cortar as fontes de financiamento acabaria por precipitar seu fim.
Uma sólida gestão financeira é o centro do sucesso de qualquer organização terrorista ou insurgente, representa sua força vital - mas é também uma das vulnerabilidades mais significativas.

Doadores

Garantir e manter um financiamento confiável é a chave para que eles evoluam de grupos radicais secundários a reconhecidas organizações terroristas - de uma existência baseada no "boca a boca" a um modelo mais planejado e organizado.
Grupos de sucesso são muitas vezes definidos não só pela experiência militar e capacidade de recrutar combatentes, mas também pela habilidade como gestores financeiros.
Em geral, grupos terroristas podem recorrer a financiamento a partir de duas fontes primárias. Internamente, fundos são gerados pela tributação de moradores, empresas e vias de transporte, recursos provenientes de sequestro e resgate, e sobre lucros do comércio.
O financiamento externo é fornecido por doadores simpáticos à causa, sejam eles pessoas endinheiradas que vivem na região - muitas vezes, em países do Golfo Pérsico - ou membros da comunidade de expatriados.
Leia mais: Quem apoia o Estado Islâmico?
Às vezes, doações também são transferidas entre grupos terroristas com diretrizes semelhantes. Por exemplo, o grupo nigeriano Boko Haram teria recebido US$ 250 mil do grupo Al-Qaeda no Magrebe Islâmico em 2012.
Em uma carta de 2005, o ex-vice-líder da Al-Qaeda Ayman al-Zawahiri pediu que a Al-Qaeda no Iraque transferisse US$ 100 mil já que muitas de suas próprias linhas de financiamento tinham sido cortadas.
Enquanto doações podem ser uma fonte inicial de financiamento, elas são vulneráveis a atuação de autoridades e a oferta não é confiável. Já o financiamento interno é menos suscetível a sanções da comunidade internacional.

Drogas

O grupo Al-Shabab, na Somália, é um bom exemplo disso. Enquanto o grupo recebe algum financiamento limitado de fontes externas, desenvolveu um negócio de exportação de carvão altamente eficaz que gera até US$ 80 milhões por ano, segundo a ONU.
AP
Cultivo de papoula tem crescido no Afeganistão, gerando renda ao Talebã
O Al-Shabab também domina outra ferramenta de financiamento - impostos sobre negócios, pessoal e de transporte. Como o 'Estado Islâmico', o al-Shabab controla território e população, operando uma forma de quase-governo nas áreas sob seu comando - elevando impostos e oferecendo, em troca, alguns serviços, especialmente de segurança e de justiça.
O grupo Estado Islâmico promete serviços e fornecimento de alimentos para muçulmanos nas áreas sob seu controle.
O controle do território também permite o avanço de negócios lucrativos, como o cultivo de ópio no Afeganistão. Apesar dos mais de US$ 7 bilhões gastos na luta contra o tráfico de drogas no país, o cultivo da papoula atingiu o seu maior nível, com o Talebã explorando a posição do Afeganistão como fornecedor de mais de 90% da produção mundial de ópio para ganhar até US$ 150 milhões por ano.
Mas nem todos os grupos controlam territórios onde a população pode ser taxada ou extorquida. A Al-Qaeda no Magreb Islâmico, que controla regiões inabitadas do Saara e do Sahel na África, obtém seu financiamento a partir de duas fontes principais.
Uma é o sequestro de turistas estrangeiros e trabalhadores em um comércio que acredita-se ter rendido ao grupo perto de US$ 100 milhões em cinco anos. Outra é o controle de rotas de contrabando de drogas que são trazidas da América Latina, por barco ou avião, pela "Highway 10" - referência a uma rota que praticamente segue o 10º paralelo no Atlântico, da costa da Venezuela até a África Ocidental.
A Rede Haqqani, com base na região da fronteira entre o Afeganistão e o Paquistão, também depende de contrabando como uma das suas principais fontes de financiamento.

Sequestro

O sequestro para a exigência de resgate é cada vez mais usado por grupos terroristas. Estima-se que a Al-Qaeda na Península Arábica, baseada no Iêmen, tenha ganho US$ 20 milhões dessa forma, entre 2011 e 2013.
AFP
Serge Lazarevic (centro) passou três anos em cativeiro em Mali antes de ser libertado; Philippe Verdon (direita) foi morto pelos sequestradores
A ONU destaca a rentabilidade desse comércio e estima que grupos terroristas tenham arrecadado US$ 120 milhões em pagamentos de resgate entre 2004 e 2012.
Só o Estado Islâmico teria arrecadado até US$ 45 milhões apenas no ano passado.

Estado Islâmico: conheça o grupo radical que espalha terror pela Síria e Iraque


Grupo radical deseja criar um governo próprio no Oriente Médio e ainda quer chegar à Turquia.


Um grupo radical deseja criar um governo próprio no Oriente Médio. O autoproclamado Estado Islâmico tem espalhado o terror pela Síria e Iraque. E ainda quer chegar à Turquia.
Nesta semana, eles mostraram a crueldade de que são capazes: decapitaram um jornalista americano diante das câmeras, para todo mundo ver. O correspondente Rodrigo Alvarez mostra de onde eles vêm e o que pretendem.

Depois de quase dois anos em poder dos extremistas, o jornalista americano James Foley está agora de joelhos, em um deserto, prestes a ser executado.
"Convoco meus amigos, família e pessoas queridas a se voltarem contra meus verdadeiros assassinos: o governo dos Estados Unidos", diz Foley na gravação.
Foley foi condenado sem julgamento. Não cometeu crime nenhum. E o algoz nem tenta provar o contrário, apenas atua conforme o planejado, na propaganda terrorista gravada com duas câmeras, e um microfone no colarinho da vítima.
Depois do jornalista, o algoz assume o comando da cena. Em um inglês perfeito, com sotaque britânico, ele aponta o dedo para câmera e fala diretamente ao presidente americano: “Qualquer tentativa sua, Obama, de negar aos muçulmanos o direito que eles têm de viver em segurança sob o governo islâmico vai resultar em derramamento de sangue do seu povo".
Em poucos instantes, a faca na mão do terrorista é usada para decapitar o americano. É bárbaro, assustador e faz parte da rotina do grupo que se autodenomina Estado Islâmico. Decidido a criar um país novo a que eles chamam de 'califado'.
Depois que o vídeo correu o mundo, os Estados Unidos admitiram ter feito uma missão secreta com soldados e aviões na tentativa de resgatar James Foley e outros prisioneiros, mas voltaram de mãos vazias.
As autoridades americanas foram acusadas de falharem ainda mais gravemente porque passaram anos vendo o terrorismo crescer monstruosamente na Síria, e no Iraque, sem fazer praticamente nada. E os alertas foram inúmeros. Os próprios terroristas divulgam pela internet a selvageria, em vídeos que, muitas vezes, lembram superproduções do cinema americano.
Os combatentes do Estado Islâmico atacam carros em movimento e executam os motoristas.
Fazem caçadas a homens desarmados. Matam pelas costas. Fazem fuzilamentos em série. Matam soldados iraquianos que, como eles, são muçulmanos.
Nos últimos três anos, os extremistas se aproveitaram do vazio de poder criado pela guerra civil da Síria, se infiltraram entre os rebeldes sírios, roubaram armas enviadas pelos americanos para tentar derrubar o regime do ditador Bashar Al-Assad, enfrentaram os próprios rebeldes de quem foram aliados e tomaram mais de 30% da Síria, inclusive campos de petróleo, que agora ajudam a financiar o terrorismo. Em junho, os extremistas avançaram pelo Iraque, conquistaram, entre outras, a segunda maior cidade iraquiana, Mosul. E estão a 100 quilômetros de Bagdá.
Há duas semanas, para conter o avanço dos extremistas, a Força Aérea Americana atacou o Iraque pela primeira vez em quase três anos. Segundo Barack Obama, foi para proteger cidadãos americanos que trabalham na região e milhares de iraquianos cercados pelo Estado Islâmico.
Depois da execução do jornalista James Foley, Obama ganhou mais um argumento. O secretário de Defesa americano, Chuck Hagel, agora diz que o Estado Islâmico não é 'apenas um grupo terrorista'. "Eles unem ideologia com sofisticação militar e são extremamente bem financiados. Vai além de tudo o que nós já vimos", ele afirma.
Seriam, portanto, mais organizados, ricos e perigosos até do que a rede terrorista Al-Qaeda, que derrubou as Torres Gêmeas do World Trade Center em 11 de setembro de 2001.
Um documentário produzido pelo canal de notícias da revista canadense Vice mostra em detalhes as ambições e a crueldade dos extremistas na Síria. O documentarista foi guiado por Abu Mosa, o homem que se apresenta como assessor de imprensa do Estado Islâmico.
Abu Mosa aparece na gravação enfrentando as tropas do ditador sírio Bashar al-Assad e desafiando os Estados Unidos: "Não sejam covardes, atacando nossos homens com veículos não-tripulados. Mandem seus soldados, como aqueles que humilhamos no Iraque".
Dias depois, naquele mesmo lugar, as cabeças de 15 soldados sírios foram expostas em praça pública. O comandante de toda essa barbárie é Abu-Bakr al-Baghdadi, também conhecido como "príncipe dos fiéis". Ele assumiu o mesmo nome do primeiro sucessor do profeta Maomé, e fez uma de suas poucas aparições públicas em uma mesquita. Foi quando se autoproclamou "o califa dos muçulmanos".
O documentário mostra também combatentes que vieram da Europa. Abdullah, o "Belga", ensina ódio ao filho na frente da câmera. "Por que matamos os infiéis?", o Abdullah pergunta. "Porque eles matam muçulmanos", o menino hesita, mas responde.
Fiscais do Estado Islâmico proíbem propagandas com fotografias nas lojas. Proíbem a venda de bebidas alcoólicas. E quem é preso por descumprir a lei do califado sabe que o mínimo que pode acontecer é levar chibatadas. Mas para quem comete crimes graves, como um homem apanhado com drogas, a pena é de morte.
"Queiram ou não, vamos estabelecer a lei islâmica nesta terra", diz o combatente Abu Laith.
Quer dizer então que o Estado Islâmico representa os muçulmanos do mundo? Representa, por exemplo, os palestinos que rezam pacificamente em uma mesquita em Jerusalém? Representam os trabalhadores turcos que lavam seus pés antes de entrar na mesquita azul em Istambul?
Apesar do que disseram os assassinos do americano James Foley, apesar da propaganda desse grupo extremista que se autodenomina Estado Islâmico, eles não representam os muçulmanos do mundo. E as lideranças islâmicas fazem questão de deixar isso bastante claro.
Em Hamala, o líder mulçumano mais importante da Palestina, o mufti Mohamed Hussein, disse ao Fantástico que a mensagem de Deus está sendo distorcida pelos extremistas. "Eles não praticam os ensinamentos do Islã, é um grande erro usar a violência em nome de uma religião que prega a justiça e a compaixão", disse.
O marinheiro Burak aprendeu que, aos olhos de Deus, todos os seres humanos têm a mesma importância. "Nossa religião diz que temos que ser sempre boas pessoas, temos que acreditar no nosso Deus e nos profetas, Maomé, Jesus...Todos eles", afirma.
Os extremistas já fizeram ataques dentro do país e, há dois meses no Iraque, sequestraram 49 diplomatas turcos, que nunca mais foram vistos. A violência praticada em nome da religião não é mais novidade na Turquia. Quando Istambul ainda se chamava Constantinopla, no século XV, a principal igreja da cidade foi cenário de uma batalha sangrenta entre muçulmanos e cristãos, e acabou transformada em mesquita. Na Hagia Sophia, ou Santa Sofia, as marcas da violência aparecem até hoje nas cruzes de ferro e de mármore arrancadas para que ninguém se lembrasse que o templo, um dia, tinha sido uma igreja.
Na religião defendida a bala pelos extremistas do Estado Islâmico, a mensagem do Alcorão, o livro que, segundo a tradição islâmica, foi revelado por Deus a Maomé, fica restrita a algumas linhas que, segundo estudiosos, foram mal interpretadas.
“Destruímos a cruz que ficava no alto da igreja. O lugar virou um centro islâmico onde rezamos para Alá", diz o extremista.
Mas é justamente no suposto Centro Islâmico que as crianças se esquecem de Deus, e só falam em terrorismo. "Prometemos a vocês carros-bomba e explosivos", diz um menino. "Vamos destruir todos aqueles que forem contra o Estado Islâmico. Vamos lutar por Abu-Bakr al-Baghdadi".

O radicalismo islâmico do grupo terrorista EIIS