- 09/01/2015 20h42atualização
- Brasília Alex Rodrigues - Repórter da Agência Brasil*Edição: Armando Cardoso
A maioria dos jovens franceses que aderiram a grupos radicais islâmicos não foi criada em famílias seguidoras do Alcorão, mas em famílias ateístas. A informação consta de estudo feito pelo centro de Prevenção Contra os Desvios Sectários ao Islã (Cpdsi).
Conforme os dados, 160 famílias foram entrevistadas. Elas fazem parte de um universo entre 700 e mil jovens que o Ministério do Interior da França estima terem aderido a organizações como o Estado Islâmico (Isis) e a Al Qaeda. Alguns chegaram a viajar para países como Síria e Iraque e tomar parte em ações armadas.
Entre as famílias ouvidas, 128 (80% do total) classificam-se como ateias. Dessas, ao menos 12 afirmaram manter na memória a lembrança de traumas provocados pela intolerância racial ou religiosa, como o Holocausto judeu ou a perseguição ao povo argelino, de onde descendem muitos dos jovens nascidos na França ou naturalizados franceses que aderem à luta jihadista.
A maior parte das 160 famílias está na terceira geração de cidadãos nascidos na França. Apenas 16 delas (10%) relataram que os avós dos jovens recrutados nasceram em outros países, especialmente em ex-colônias francesas, como Argélia e Marrocos. Para os responsáveis pelo estudo, isso minimiza os sentimentos "de falta de raízes ou de não pertencimento" que, até recentemente, influenciava jovens que se deixavam atrair por discursos radicais.
O estudo indica que 84% das famílias são de classe média (67%) ou alta (17%). Os jovens têm, em sua maioria (43%), entre 18 e 21 anos. Nas faixas de 15 a 18 anos e de 21 a 28 anos, estão, respectivamente, 20% e 37% dos jovens arregimentados. Segundo os pesquisadores, são raros os casos de pessoas com mais de 30 anos que aderem às causas dos grupos radicais.
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Incluem-se nesse perfil principalmente aqueles que os pesquisadores classificam de "hipersensíveis”, que são mais suscetíveis a questionamentos sobre o sentido da vida e do lugar e papel no mundo.
Os pesquisadores afirmam que a internet transformou-se em ambiente propício e muito usado pelos extremistas islâmicos para doutrinar jovens. E que, em geral, os pais notam o processo de ruptura, pois os filhos já não querem mais ver os amigos, nem ir às aulas ou manter as habituais atividades de lazer.
Suspeitos do ataque ao jornal satírico Charlie Hebdo, em Paris, onde, na última quarta-feira (7), morreram 12 pessoas, os irmãos Saïd e Chérif Kouachi se encaixam em alguns aspectos do estudo relativos à descrição dos jovens recrutados.
Segundo a imprensa internacional, embora tenham nascido na França os dois cresceram em um centro educativo de Treignac. Mais velhos, viviam de empregos mal remunerados. Foram recrutados em Paris, nos anos 2000 e treinados pela Al Qaeda.
Os dois eram conhecidos e monitorados pelas forças de segurança da França. Chérif, inclusive, foi condenado, em 2008, a três anos de prisão. Na ocasião, foi retratado pela promotoria como jovem movido pela “ira contra os infiéis” e que já havia manifestado a intenção de agir em território francês. Seus vizinhos, contudo, descrevem-no como prestativo e educado.
Em abril do ano passado, o governo francês anunciou um plano para tentar convencer jovens franceses a não se unirem a grupos radicais islâmicos que lutavam contra o regime do presidente sírio, Bashar al-Assad, rastreando e monitoramento a atuação de militantes extremistas nas redes sociais. Na manhã de hoje (9), o presidente da França, François Hollande, disse que o país "está em guerra contra o terrorismo, não contra uma religião ou uma civilização".
*Com informações da Agência Lusa
O texto foi alterado às 20h42 para correção no segundo parágrafo
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