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Produzida em laboratório, a metadona tem um
efeito mais prolongado que a heroína, é um poderoso analgésico e é tomada apenas
uma vez ao dia sem que o paciente tenha sintomas de "ressaca", sendo esta a sua
grande propriedade. É administrada por via oral e permite um melhor controlo
sanitário.
A metadona não causa danos físicos no cérebro,
nos rins e nos ossos. Sintomas característicos do consumo de droga como dores de
cabeça, diarreia, perda da libido, dificuldades em urinar, dores nas
articulações ou nervosismo são aliviados com a sua administração. Nas mulheres
os programas de substituição com metadona permitem normalizar o ciclo menstrual
que o consumo de heroína desregra.
Mas a metadona pode causar obstipação, suores,
pele irritada, hipersensibilidade hepática e perda de apetite. A metadona tem
alto poder aditivo, ainda que este seja inferior ao da heroína. Por ser tóxica e
poder gerar comportamentos a sua administração tem de ser cuidadosa e vigiada
por técnicos. A toma de doses extra de metadona e a mistura com sedativos ou
álcool aumentam o risco de overdose.
As vantagens da prescrição de metadona
integrada em bons programas de tratamento são a redução do uso de droga ilícita,
a diminuição do consumo de opiáceos ilegais, dos comportamentos criminosos e da
mortalidade dos toxicodependentes. Além disso, os doentes organizam mais
facilmente outros aspectos das suas vidas.
A metadona não tem os efeitos euforizantes da
heroína. Como não produz os mesmos efeitos psicológicos e exige uma única dose
diária é compatível com uma vida activa, estável e organizada. A maior
estabilidade dos pacientes resulta da supressão dos sintomas do síndrome de
abstinência e do acompanhamento psicoterapêutico incluído nos programas de
tratamento. A administração legal também evita que os toxicodependentes estejam
em contacto com pessoas e ambientes do consumo de heroína.
Os pacientes de programas de substituição com
metadona podem aceder a programas de baixo, médio ou alto limiar. No baixo
limiar é fornecida metadona e assistência médica e social básica. Destina-se a
toxicodependentes a viver em condições muito degradadas, muitas vezes doentes e
com um percurso muito longo. O objectivo é redução de danos e riscos. Se a
evolução for boa poderão passar a programas de alto limiar. No médio limiar há
seguimento médico e psicossocial. No alto limiar as normas são muito mais
estreitas e o seu incumprimento pode levar à expulsão do programa. A oferta de
cuidados de saúde é mais ampla que nos outros programas.
Em Portugal, os programas de substituição com
metadona são, essencialmente, programas de alto limiar. Nos programas de alto
limiar o grau de exigência com os pacientes é elevado. Existe controlo à urina
para detectar a tomada de drogas. É também importante a ocupação em termos
sociais, pois o programa de alto limiar serve de suporte para os pacientes terem
um desempenho social. Discute-se a abstinência como fim possível.
As probabilidades de sucesso de um programa de
substituição com metadona dependem muito do acompanhamento dado aos utentes. Os
programas funcionam bem desde que não se entenda que a solução passa somente
pela prescrição de metadona. Esta é apenas uma parte do tratamento que exige
outras intervenções.
O programa é bom se houver apoio
psicoterapêutico, reabilitação psicossocial e melhores cuidados de saúde. Se
estas dimensões não estiverem presentes não se pode falar em
tratamento.
A maior parte dos toxicodependentes não têm
apenas um problema de dependência física e psíquica da heroína. Para além da
dependência carregam muitas vezes situações de vida graves. A metadona não é uma
cura por si só e, tratar estas pessoas não passa só pela sua prescrição.
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