quinta-feira, 26 de maio de 2011

Extraído de: Defensoria Pública da Bahia - 18 de Outubro de 2010

Ouvidoria Entrevista: Petilda Vazquez




No assédio moral, o medo e o temor de represálias são elementos estruturantes e as pressões são naturalizadas . Baixa auto-estima, humilhações, constrangimentos, depressão, suicídio, violação aos direitos e à saúde dos/as trabalhadores/as. Essas são algumas das conseqüências diretas das variadas formas de Assédio Moral no trabalho. Para tratar desse assunto, entrevistamos a pesquisadora do Núcleo de Estudos Interdisciplinares sobre a Mulher NEIM/UFBA, especialista em Relações de Trabalho Madison University, Petilda Serra Vazquez. Nessa entrevista, Petilda, que também é doutora em ciências sociais na área de Trabalho e Sindicalismo pela Universidade de Campinas (UNICAMP), afirma que vivenciamos um período de intensa precarização do trabalho. No próximo dia 27, a partir das 14h, no Amaralina Praia Hotel, ela participará da mesa Assédio moral no serviço público: características, impactos e formas de combate, coordenada pela Ouvidoria Cidadã como parte das atividades da Semana do Servidor.

Os estudos em torno do tema Assédio Moral são recentes, embora o problema seja antigo. Como conceituar essa questão na contemporaneidade?

Quando falamos em assédio moral, lidamos com símbolos de subjetividade. São questões que se relacionam com sujeito, com sua condição de classe, de cultura, de geração, enfim. Implica em campo de valor. Existem valores compartilhados pelo coletivo de forma mais pactuada e existem valores que são mais íntimos. A ênfase que é dada a valores depende essencialmente do sujeito e das condições na qual ele se insere. Posto isso, partimos da premissa de que assédio tem a ver com agressão, desrespeito com valores que são seus. E isso está imiscuído diretamente nas relações de trabalho. Falar em Assédio é tratar essencialmente das relações de poder. No Brasil, temos que perceber os laços históricos por trás dessa relação para compreendermos a questão do assédio hoje. Temos uma tradição muito cruel na relação de subordinação, de dominação, de poder, de quem manda e de quem obedece. Está fincada na nossa colonização.

Como funciona a relação entre a flexibilidade e o assédio?

Somos pautados pela racionalidade produtiva. É ela quem organiza o trabalho, que gere as pessoas. As metas de produção são pressões que o trabalhador sofre para dar conta das necessidades impostas. As pressões por metas, as avaliações de desempenho, a própria polivalência que é a idéia de que o trabalhador pode e deve somar muitas funções e atribuições. E tudo isso é naturalizado, levando ansiedade ao sujeito e outras humilhações. Cria-se um ambiente constrangedor porque ele maltrata as pessoas nas suas possibilidades, estabelecendo sérios riscos a integridade física e psíquica de quem trabalha.

A flexibilidade funciona na lógica do empregador. Para o capital é maior rentabilidade, maior lucro. Grosso modo, falar em racionalidade produtiva é ver até onde o sujeito agüenta todo esse conjunto de pressões que perfazem o assédio moral. O trabalhador precisa ser flexibilizado. Em contrapartida temos a perda de direitos adquiridos. Em pleno século XXI estamos desregulamentando algo que já se mostrou doentio séculos antes, na Inglaterra.

Quer dizer, dentro dessa lógica de racionalidade as pessoas são treinadas para se mostrar eficiente, cedem o máximo. O assédio é, assim, uma estética da ideologia da competência. É aí onde ele se inscreve. Nesse círculo em que você precisa dizer e mostra que é competente, que não está cansado, que aceita sempre desafios, que pode acumular tarefas.

É comum o trabalhador se submeter a essa situação temeroso de represálias, como demissão?

O medo é um elemento estrututante. Temos um número muito grande de desempregados. A nossa sociedade está nos dizendo o tempo todo que não é lugar para os bons, mas para excelentes. Isso traduz elementos da sociedade de competência e o exército de reserva faz que você se submeta a todo tipo de assédio. Acontece que, embora esse medo seja incompatível com a vida, com as nossas aspirações, é ele que tem precarizado todas as nossas relações. É dessa questão que não podemos fugir.

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