Ritmo
Pesquisa faz mapa pelo pesquisador, procura-se pelo avesso - um espelho 
menos frio que o tradicional. Tato de vísceras, tudo aflora de dentro 
pra fora até que o traço se enovele no estômago. Bem servido de 
entendimento o homem dorme, sonha, ronca, folga de seu próprio 
conhecimento, distrai. Mas ainda é ritmo abrir os olhos, espichar corpo,
 bocejo, sempre ritmo: a escova no dente, a colherinha acelerando 
turbilhão no cafezinho. Alimentado o corpo tende às escaras, prega ponto
 em final de pensamento. Pela palavra, um pedaço de carne lançado no 
mundo, volta-se ao corpóreo aprendizado: saber é contato. No flap-flap 
das folhas Aurélio enumera, cadencia: movimento ou ruído que se repete 
no tempo a intervalos regulares, alternados, sucessão periódica e 
regular de fases ou variações no curso de algum processo, repetição, 
fisiologia, música, ordenamento de sons percebido ou considerado segundo
 as diferenças de acentuação e de duração de cada um deles, qualquer 
padrão desse ordenamento característico de um tipo ou gênero de música. 
Ponto. Conhecimento pautado, humano gosta de exemplo, apontar resposta 
em corpo alheio: como vaivém do pêndulo, as ondas na praia e etecétera 
sempre comprimida pra carregar infinito. Vibrar essa ideia na garganta, o
 corpo um instrumento, palavra outro. União daquelas que ressoa 
infinito, repetindo. Infinitivo é ar, primeira conjugação. Quem respira 
sabe: ritmo é sangue, fluxo. Coração apenas tum-tum. Osso com osso 
articula, junta sem limo range, movimento estala, cachorro cava-esconde 
no quintal, cada rói em seu lugar. Músculo alongado desarticula, tira 
água de joelho, chora por cotovelo, rouba erres do erro e o que não era 
pode ser, reconstrói, deslancha o impossível. Frase precisa ginga pra 
fazer valer poema, é assim, está pelo pêlo, corpo mais corpo sabe tudo 
de balanço, encontro de poro com poro apura ritmo, tudo muito à flor da 
pele, e, pelo que se sabe, vai-e-vem vai bem pra ensinar. Isso é isso. O
 resto é roto, lençol amassado. Arrumadeira encruada diz nojo, mas goza 
pelo nariz. E máquina de lavar bate-bate o aprendizado pra quem só 
entende as coisas limpas: sexo é a anatomia do ritmo.
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