Os mísseis russos que se tornaram alvo de disputa entre EUA e Turquia
- 20 abril 2019
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A Turquia, dona do
segundo maior Exército entre os 29 países que compõem a Otan
(Organização do Tratado do Atlântico Norte), está prestes a adquirir
mísseis antiaéreos S-400.
Os S-400 são os mísseis "terra-ar" mais
avançados do mundo e se tornaram motivo de uma disputa entre Turquia e
Estados Unidos que pode ameaçar a aliança militar das potências
ocidentais. Isso porque os S-400 são fabricados na Rússia, o principal rival da organização fundada em 1949 justamente para se opor à então União Soviética.
Troca de farpas
"Não ficaremos de braços cruzados enquanto os aliados da Otan compram armas dos nossos adversários", advertiu o vice-presidente dos EUA, Mike Pence, durante um encontro organizado há poucos dias em Washington para celebrar o aniversário de 70 anos da Otan.A resposta da Turquia foi no mesmo tom.
"Os Estados Unidos devem escolher. Querem seguir sendo aliado da Turquia ou arriscar nossa amizade unindo forças com terroristas para minar a defesa do seu aliado da Otan contra seus inimigos?", disse o vice-presidente turco, Fuat Oktay, no Twitter.
Apesar de não ter especificado quais terroristas, tudo indica que Oktay se referia ao líder religioso Fethullah Gulen, que atualmente vive nos EUA e é acusado pelo governo turco de estar por trás da tentativa de golpe de Estado na Turquia em 2016.
Mas a resposta turca pode se referir também ao apoio de Washington às milícias curdas na Síria. Curdos e turcos disputam território e esse conflito também contribuiu para aumentar a tensão não apenas entre Turquia e EUA mas também entre turcos e aliados da Otan.
De qualquer forma, a troca de farpas não fez o governo da Turquia mudar de ideia. O ministro turco Mevlut Cavusoglu (Relações Exteriores) assegurou que o negócio com a Rússia – avaliado em US$ 2,5 bilhões – não seria cancelado.
Ao mesmo tempo que o governo do presidente Recep Tayyip Erdogan se afasta do bloco europeu, há também uma aproximação com a Rússia de Vladimir Putin.
A compra dos S-400, um sistema integrado que tem alcance de 400 quilômetros e que é capaz de driblar, de forma simultânea, até 80 alvos, incluindo drones, aviões e mísseis de alto alcance, é só um dos exemplos mais recentes e visíveis dessa aproximação entre russos e turcos.
Como funciona o S-400
1. O radar de vigilância de longo alcance rastreia os objetos e envia informações para o veículo de comando, que avalia os alvos potenciais;2. O alvo é identificado e o veículo de comando ordena o lançamento de um míssil;
3. Os dados são enviados para o veículo de lançamento mais bem colocado e envia os mísseis terra-ar;
4. O radar de engajamento, ou combate, ajuda a guiar os mísseis em direção ao alvo
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O governo turco sustenta que precisa das armas russas para defender o país de rebeldes curdos e de militantes islâmicos, que diz serem suas principais ameaças.
Mas, como explica Jonathan Marcus, repórter de assuntos diplomáticos e de segurança da BBC, a compra atrai muitos problemas políticos e práticos.
Segundo Marcus, esse sistema tem características que não permitem integrá-lo com o resto do sistema antiaéreo da Otan. Dada a localização estratégica da Turquia no flanco leste da Otan, isso é bastante problemático, afirma o jornalista.
A Turquia, além disso, também estava em processo de adquirir o que Marcus descreve como "o mais avançado avião de guerra de todo o arsenal americano, o F-35".
E, segundo ele, os "Estados Unidos temem que, se a Turquia operar tanto os F-35 quanto os S-400, os russos poderiam conseguir informações cruciais que lhes permitiriam entender melhor as características da aeronave e, portanto, como derrotá-la".
Por esse motivo, os EUA já suspenderam a entrega dos F-35 até que a questão dos mísseis russos seja resolvida.
Moscou, por sua vez, não se posicionou.
Mas essa disputa relacionada ao armamento militar é "mais uma das muitas diferenças que enfrentam Washington e Ancara e reforça a percepção de que a Turquia é um membro cada vez menos confiável do clube da Otan", observa Jonathan Marcus.
Boas notícias para a Rússia que viu suas relações com a Otan também se deterioraram, em especial, pela anexação da Crimeia à Rússia que foi condenada por diferentes países – em 2014, Moscou assumiu o controle da península ucraniana, depois de meses de tensão com Kiev e após a saída de um líder pró-Rússia.
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