sábado, 29 de maio de 2021

Por que a Bandeira de Santo Antônio de Jesus é Preta


Por que a Bandeira de Santo Antônio de Jesus é Preta





Bandeira ondulada preta realista Vetor Premium

*Raymundo Evangelhista______________ 

Hoje estão comemorando, cinicamente, a mercê do descaso , desrespeito, violência e exploração do nosso povo, o aniversário de emancipação política da cidade das Palmeiras Colonial, terra dos Tupinambás e Negros remanescentes, - Santo Antônio de Jesus. A história do meu povo não se baseia em seus causos; mas sim, nos seus descasos. No ostracismo político protagonizado por Agentes Públicos ao longo do tempo, aqui em minha querida e amada terra natal, - Santo Antônio de Jesus. No século XVIII, adentrando o século XIX, mais precisamente nos idos de 1880, em 29 de maio, hastearam a 'bandeira preta' de uma liberdade que ainda está por vir. Abolicionistas existiram por aqui; assim também como os mantenedores da miséria e infâmia do nosso povo. Naquela época o Pe Mateus Vieira de Azevedo, o maior escravocrata destas plagas, condicionou os nossos irmãos negros a obedecerem as ordens da Igreja de Roma, sendo um dos seus soldados na escravatura. Assim cantara em versos o nosso maior poeta, Silvestre Evangelista dos Santos, em seu poema e livro ititulados, Roma Condenada A Morte. De tal forma o Pe Mateus Vieira de Azevedo escravizou o nossos antepassados que trabalhavam arduamente nestas terras em nome da Instutuição Igreja Católica. A agricultura era o fervor da economia de então. Os negros, em troca de jabá com farinha e água, aravam a terra, cultivavam o plantio de cana de açúcar, fumo, café, laranja, mandioca e tudo mais. Além de carregar nas costas fardos de fumo, sacos de farinha, café e toda a produção agrícola. Ainda não existia o trem de ferro que ligava Santo Antônio de Jesus a Nazaré/São Roque. Em 30 de julho de 1881 o trem desliza nos trilhos rumo a Nazaré. Amenizando o sofrimento dos negros, burros, cavalos e bois de canga. E às margens do rio Sururu, balançava-se em uma rede aos peidos e roncos o Maior Escravocrata Institucional aqui em Santo Antônio de Jesus. O Pe. Mateus Vieira de Azevedo, que habitava e comandava os escravos, nossos irmãos. Não é preciso ler o grande livro do eminente sociólogo Roberto Freire, Casa Grande & Senzala, para entender as mazelas sociais em Santo Antônio de Jesus. Tampouco nos delirar na afirmação do historiador Paul Veyne ao afirmar que a história é a história das práticas e das crenças. Vale lembrar que práticas e crenças primárias criam o processo de abortamento de ideias e cerceiam a liberdade de construção de vida de um povo através de si mesmo.

"Preto é a sombra da negação. A bandeira preta é a negação de todas as bandeiras. É a negação da nação, que bota a raça humana contra ela mesma e recusa a união de toda a humanidade. Preto é o humor da raiva e ódio a todos os crimes contra a humanidade feitos no nome de um estado ou outro. É a raiva e ódio ao insulto à inteligência humana feitos em pretensas, hipócritas e baratas caridades dos governos. Preto é também a cor da tristeza; a bandeira preta que cancela a nação também chora pelas vítimas incontáveis assassinadas em guerras, externas e internas, para a glória eterna e estabilidade de algum estado sangüinário. Ela chora por aqueles cujo trabalho é roubado (taxado) para pagar a carnificina e opressão de outros seres humanos. Não lamenta só a morte dos corpos mas o aleijamento do espírito abaixo de autoritários e hierarquizados sistemas, lamenta os milhões de células cerebrais desativadas sem chance de acordar para o mundo. É uma cor de tristeza inconsolável. Mas preto também é lindo. É uma cor de determinação, de resolução, de força, a cor pela qual todos são esclarecidos e definidos. Preto é o cerco misterioso de germinação, fertilidade, a terra de crescimento para o que evolui, renova, refresca e reproduz na escuridão. A semente escondida na terra, a estranha jornada do esperma, o secreto crescimento do óvulo no útero, toda essa escuridão cerca e protege. Então preto é negação, é raiva, é ódio, é lamentação, é beleza, é esperança, é o nascimento de novas formas de vida e o relacionamento com a Mãe Terra. A Bandeira Negra significa tudo isso, estamos orgulhosos de carregá-la e olhar para o dia em que esse símbolo não vai mais ser necessário.

________________________________ escrito por Howard Ehrlichdo livro “Reinventing Anarchy”.


Desta forma, a bandeira de Santo Antônio de Jesus é preta pelo fato de que o preto é luz que brota na escuridão. A vida não é justa dividindo os seres humanos em sociedade de classes. E toda a forma de viver exige respeito e dignidade humana. A bandeira de Santo Antônio de Jesus é preta porque o preto é o feto em plena escuridão. A razão e o desequilíbrio se opõem. É a partir do feto que veremos a luz em sua plenitude. E na imensidão do infinito nos faz brotar em nossas consciências a negação, raiva, ódio, lamentação, beleza, esperança, e nascimento de novas formas de relacionamento sem desequilíbrio social e desencanto para com a vida. E fora do útero Materno da Nossa Querida e amada Mãe, - Santo Antônio de Jesus, sofremos ataques constantes por parte do banditismo que aqui se instalou para que vivamos a mercê da sua subjugação e negativismo. A nossa bandeira é preta porque não aceitamos ordens estatais como desmando e controle de um povo que nasce para perseguir a liberdade.



*Raimundo José Evangelista da Silva nasceu em Santo Antônio de Jeus. É poeta, professor e bel. em direito. Graduou-se em Letras e Literaturas de Língua Portuguesa pela Universidade Católica do Salvador em 1989, logo especializando-se em Linguística Textual pela UFBA e Instituto Anísio Teixeira em 1993. Bacharel em Direito pela FABAC - Faculdade Baiana de Ciências - Lauro de Freitas/BA em 2011. Especializou-se em Advocacia Criminal pela Faculdade Verbo Jurídico/RS em 2018. Tem 5 livros de poesias publicados; crônicas e poesias publicadas em Blogger Raymundo Evangelhista, Recanto das Letras, Pensador, Jornal A Tarde, Jornal da Bahia, Tribuna da Bahia, Facebook, Instagram e Twitter.


Santo Antônio de Jesus, 29 de maio de 2021, às 1h.

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