domingo, 29 de julho de 2018

O que são doenças psicossomáticas? por Professor Felipe de Souza | Dicas Práticas, Doenças Mentais


O que são doenças psicossomáticas? por Professor Felipe de Souza | Dicas Práticas, Doenças Mentais

 

07/01/2017

As doenças com “fundo emocional”, as doenças da psique.

No início da psicanálise, na verdade, antes do início da psicanálise, Freud – que morava em Viena, Áustria – foi estudar com Charcot em Paris. Charcot havia ficado mundialmente conhecido pelos seus trabalhos na Salpetrière, especialmente com pacientes histéricas.
Em resumo, podemos dizer que Charcot conseguiu demonstrar que a histeria não era uma doença orgânica, física. Com a hipnose, ele podia tirar o sintoma da paciente e até inserir um novo sintoma.

Hoje em dia, às vezes ouvimos falar de alguém que foi ao médico e ouviu dele que a sua doença era de fundo emocional ou que o que o paciente estava sentindo era um sintoma nervoso, de estresse, ansiedade. Todas estas causas (fundo emocional, nervoso, etc) significam o mesmo: a origem do sintoma não é orgânica, não está no físico, no corpo. É, portanto, uma doença psicossomática.

Definição de psicossomática

 

A palavra psicossomática é de origem grega. É uma junção de duas palavras gregas: psique (psico – alma) e soma (corpo). E, deste modo, uma doença psicossomática é aquela que não é exclusivamente somática, corporal, mas tem origem na psique, na alma. Evidente que é difícil dizer com clareza o que é a psique. Porém, a ideia é simples: a psique inclui tudo o que não conseguimos localizar no corpo de uma maneira específica: nossas emoções, sentimentos, pensamentos. Mesmo com as descobertas da neurociência, ainda há muitas questões a serem esclarecidas quanto à localização no cérebro.

De todo modo, fica fácil de entender se pegarmos um exemplo.
Por exemplo, você acordar certa manhã e começa a sentir dores de cabeça e dores no corpo. Você vai até um médico e ele constata que o que você está sentindo foi causado por um vírus, o vírus da dengue. Neste caso, os sintomas são explicados por um agente físico, um vírus.

Agora, se em outro momento da sua vida você vai até o médico e reclama de dores de cabeça e, depois de muitos exames e testes, ele chega à conclusão de que não há nada errado no seu corpo, ele pode então dizer que a dor de cabeça é uma doença psicossomática. Como disse, talvez não seja esta a palavra utilizada, talvez o doutor use o estresse, a ansiedade ou as emoções como causas.

Mas as palavras utilizadas são indiferentes. O que se deve distinguir é entre uma causa que é física e uma causa que não é física. Ou melhor, até o momento ainda é complicado de localizar no sistema nervoso, por isso, usamos o termo que ficou consagrado na história (psique ou alma).

O sentido das doenças psicossomáticas

 

Se formos sinceros conosco, em nosso mundo interno, veremos que em muitas circunstâncias podemos ter tido doenças psicossomáticas. Uma dor de cabeça, uma tosse, intestino preso ou solto demais, azia, entre outros. Contudo, será que podemos encontrar um sentido neste tipo de manifestação? Ou seja, será que cada doença psicossomática tem um significado?
Por exemplo, alguns autores argumentam que dores de cabeça (sem origem física) são resultado de um comportamento excessivamente autocrítico ou perfeccionista.

Então, teríamos:
– dores de cabeça psicossomáticas = autocrítica, perfeccionismo
A ideia é interessante e poderíamos ir listando outros sentidos:
– intestino preso = problemas mal resolvidos
– tosse e alergias respiratórias = irritação com algo no ambiente
E assim por diante. Este tipo de quadro de significados das doenças emocionais é interessante porque seria uma saída para a cura. Se eu estou sentindo dor de cabeça, avalio se estou me criticando. Se é verdade que estou me criticando, tento parar de me criticar para que a dor de cabeça cesse. Se eu estou com o intestino preso, é porque tenho que resolver um problema. Se resolver o problema, o intestino volta a funcionar normalmente.


Ou seja, teríamos a elucidação da causa psíquica e teríamos então um “remédio” para que a causa fosse eliminada e o sintoma curado.
A questão é que, desde a psicanálise, ficou comprovado que estes sentidos gerais são muito gerais. Em outras palavras, o sentido, o significado será individual. Pode talvez ser verdade que dores de cabeça tem relação com autocrítica, porém, ainda que seja verdade na maioria dos casos, não será verdade na totalidade deles. E, assim, alguns casos ficarão excluídos da possibilidade de cura.
De fato, se a doença é uma doença da alma, da psique, o tratamento a ser buscado não é com o médico, pois o médico não encontrará nada a ser tratado no corpo. O caminho é procurar fazer uma terapia da psique: psicoterapia com um profissional da psicologia.

Observação: em muitos casos é recomendável realmente fazer um check-up para ver se não se trata de um problema orgânico.
Com a psicoterapia, a pessoa terá à sua disposição um profissional que saberá conduzir na elucidação do significado individual, particular, único do sintoma.
Por exemplo, como disse, pode ser verdade que uma alergia é sinal de uma irritação (emocional) com um estímulo ambiental. Mas para uma pessoa, o que irrita é o vizinho, enquanto para outra o que irrita é o seu companheiro…
Na psicoterapia, portanto, será possível descobrir melhor e mais a fundo as causas do sintoma .

sábado, 28 de julho de 2018

Psicólogo, Psicanalista ou Psiquiatra?


Conheça as diferenças e semelhantes entre as áreas de atuação. 
Olá amigos!
Uma dúvida muito comum em nossa área é a respeito da diferença entre psicologia, psicanálise e psiquiatria. No vídeo abaixo, explico as diferença entre as três através da formação necessária para atuar. E, no texto, complemento com mais informações.

Psicologia

A psicologia é normalmente definida como a ciência que estuda os pensamentos, sentimentos e comportamentos. Esta é uma definição básica e geral. A atuação do profissional, depois de fazer a graduação em psicologia e ter o registro no Conselho Federal de Psicologia, pode ser inserida dentro da área da saúde: trabalhar em consultórios e clínicas, hospitais e instituições de saúde. Porém, não está restrita apenas à saúde. Muitos profissionais optam por trabalhar em outros setores, como nas empresas e indústrias, em escolas e faculdades, no âmbito da justiça, etc.
Portanto, temos que entender que a psicologia é uma área incrivelmente ampla. Como gosto de dizer, aonde encontramos uma pessoa, o psicólogo ou a psicóloga poderá trabalhar.

Psicanálise

O psicanalista é aquele que fez análise (pessoal), estudou as obras dos psicanalistas mais importantes e fez e/ou faz supervisão para melhor atender os seus pacientes. O processo de formação não é tão claro quanto a formação em psicologia ou psiquiatria pois não temos uma faculdade de psicanálise. Os Institutos de Psicanálise normalmente exigem que a pessoa tenha uma graduação prévia, de preferência em psicologia ou medicina.
A área de atuação, na grande maioria dos casos, está ligada à atuação em consultórios e clínicas. Duas outras áreas podem se abrir como possibilidades: a atuação no ensino (dando aulas de psicanálise ou pesquisando) e a atuação em instituições e empresas – o que já é bem mais raro, pois a psicanálise foi pensada no atendimento individual. Mas existem autores que defendem a possibilidade de trabalho em grupo, além do que a psicanálise também influenciou as teorias sobre os arranjos sociais e institucionais.

Psiquiatria

Para ser psiquiatra, o profissional tem que ter feito a graduação em medicina e a residência em psiquiatria. Antigamente, esta era uma das áreas menos valorizadas (entre os próprios médicos), pois o profissional geralmente trabalhava em hospitais psiquiátricos.
A partir da metade do século passado (1950), com o contínuo desenvolvimento de drogas para o tratamento das doenças mentais, e com o processo de desinstitucionalização – fechamento os hospitais psiquiátricos pelo tratamento muitas vezes desumano – a profissão do psiquiatra voltou-se mais para o atendimento individual em consultórios ou clínicas. Também é comum a atuação no sistema de saúde.
Como digo no vídeo, o psiquiatra pode receitar remédios (o profissional da psicologia não pode e o psicanalista também não, a menos que seja médico). Mas, evidentemente, o tratamento não precisa ser através de medicamentos.

Conclusão

A área psi é uma área de reunião de saberes. Falamos de psicologias, no plural, devido às múltiplas abordagens existentes. Dentro da psicanálise, encontramos também linhas de pensamento que nem sempre concordam entre si. E, na psiquiatria – embora aparente certa uniformidade devido ao atual uso de medicação como via de modificação mental e comportamento – também temos diversas linhas de atuação, pois a ideia predominante atualmente é apenas uma das possibilidades de pensamento, basta estudarmos a longa e profícua história da psiquiatria no século XX.

Psicólogo Clínico e Online (CRP 06/145929), Mestre (UFSJ), Doutor (UFJF), Instrutor de Mindfulness e Pós-Doutorando (Unifesp), Coach e Presidente do Instituto Felipe de Souza. Como Professor no site Psicologia MSN venho ministrando dezenas de Cursos de Psicologia, através de textos e Vídeos em HD. Faça como centenas de alunos e aprenda psicologia através de Cursos em Vídeo e Ebooks! Loja de Vídeos e Ebooks. Você pode também agendar uma sessão de Coaching Online via Skype, Relacionamentos ou Carreira (faculdade), fazer o Programa de 8 Semanas de Mindfulness Online e Orientação Profissional Online. E não se esqueça de se inscrever em nosso Canal no Youtube! Email - psicologiamsn@gmail.com - Atendimento presencial na Av. Paulista: Agendar - Whatsapp (11) 9 8415-6913

Diferença entre terapia com psicólogo e psicanalista


Conheça mais sobre a psicanálise e os outros 5 tipos de psicoterapia listadas pela Associação Psicológica Americana
Olá amigos!
A pergunta sobre a diferença entre a terapia com psicólogo e psicanalista aparece muito aqui no site, assim como a dúvida sobre o que é psicologia e o que é psicanálise. Neste texto, procurarei responder da maneira mais simples possível sobre esta diferença.

Como é uma sessão de psicanálise

1) Terapia psicanalítica

Em primeiro lugar, é preciso fazer uma distinção. Não existe, no Brasil, um curso de graduação em psicanálise. Portanto, você nunca vai encontrar alguém graduado em psicanálise. A formação ligada aos Institutos Internacionais de Psicanálise (IPA) ou os Institutos de linhas como a lacaniana irão formar psicanalistas, tendo em vista alguns critérios.
Para ser psicanalista, em geral, o profissional tem que ser formado em medicina ou psicologia. (Algumas formações aceitam formandos de outras áreas). Porém, apesar de não ser uma graduação, normalmente, uma formação decente durará uns bons anos.
A formação se assenta sob o tripé: estudo aprofundado das teorias, análise didática – o analista faz análise – e supervisão, os seja, o analista é auxiliado por um profissional mais capacitado nos primeiros atendimentos.
Com isso dito, podemos desfazer um primeiro mal entendido. Um psicólogo pode ser psicanalista ou atender dentro do que chamamos abordagens psicoterapêuticas psicodinâmicas. Assim como um psiquiatra (médico especializado em psiquiatria) também pode estudar psicanálise e atender como psicanalista.
O site da Associação Psicológica Americana nos informa sobre este tipo de terapia:
“Terapias psicoanalíticas e psicodinâmicas: “Esta abordagem foca na mudança de comportamentos problemáticos, sentimentos e pensamentos através da descoberta dos seus significados e motivações inconscientes. As terapias de orientação psicanalítica são caracterizadas por um trabalho entre o terapeuta e o paciente (transferência). Os pacientes aprendem sobre si mesmo explorando as interações da relação terapêutica.
Enquanto a psicanálise é fortemente identificada com Sigmund Freud, ela tem sido ampliada e modificada desde as suas primeiras formulações. As terapias psicanalíticas possuem ampla base de pesquisa confirmando a sua eficácia”.
Portanto, a psicanálise – segundo a Associação Psicológica Americana e de acordo com centenas de pesquisas – funciona. Mas como será uma consulta com um psicanalista ou com um terapeuta de linha psicanalítica?
Bem, o padrão é que a análise faça uso do divã. Após algumas sessões iniciais, conhecidas como entrevistas preliminares, o paciente deita-se no divã e o psicanalista senta-se um pouco atrás, de modo que o paciente não vê diretamente o analista.
O tempo da sessão (50 minutos) é utilizado para que o paciente possa dizer o que quiser. O termo técnico é associação livre. Porém, como se sabe, as associações não são livres. O paciente vai falar do que lhe aflite, incomoda, instiga. E, a partir do que disser, o analista irá conduzindo as sessões com interpretações e perguntas.
Importante notar que uma psicanálise não é necessariamente silenciosa, ou seja, o analista não vai ficar calado o tempo todo. Ele ou ela pode ficar mais quieto do que em outros tipos de terapia, mas se o silêncio for total, provavelmente se trata de alguém que não conhece os princípios de interpretação.

Como é uma sessão com psicólogo(a)

Bem, responder essa pergunta faz com que tenhamos que explicar que existem diversas linhas dentro da psicologia. Acima, vimos uma delas: a psicanálise ou psicoterapia psicodinâmica. Podemos explicar a existência de tantas linhas pelo fato de terem sido desenvolvidas em países e culturas diferentes e, também, por terem pressupostos diferentes sobre o melhor modo de estudar o ser humano.
Dada a nossa complexidade, podemos estudar o nosso funcionamento através de uma série de perspectivas: através das doenças mentais, através da saúde, através do corpo, através da fala, através da memória, através da motivação… etc
Abaixo, vou mencionar os tipos de terapia que são descritos pelo site da APA, Associação Psicológica Americana. As sessões duram de 30 minutos a 1 hora e não fazem uso do divã.
Conheça também – Curso Grátis de Psicanálise

2) Terapia Comportamental:

Esta abordagem foca no papel da aprendizagem no desenvolvimento tanto de comportamentos normais como anormais.
Ivan Pavlov fez importantes contribuições para a terapia comportamental ao descobrir o condicionamento clássico ou a aprendizagem por associação. O famoso experimento com os cães, por exemplo, comprovou o condicionamento: após um certo número de emparelhamento, o estímulo do som de um sino foi associado fisiologicamente com o estímulo da comida.
Dessensibilização é uma outra forma clássica de condicionamento. Um terapeuta pode ajudar um cliente com fobia a se expor ao evento que causa-lhe medo para que, aos poucos, o estímulo que antes despertava a ansiedade não mais o faça.
Dois outros importantes pensadores foram E. L. Thorndike e B. F. Skinner que estabeleceram o conceito de comportamento operante: o comportamento é emitido de acordo com eventos anteriores e posteriores. Descobrindo a lógica do funcionamento do que reforça (aumenta) e do que pune (diminui) o comportamento, torna-se possível alterá-lo.
Dentro da terapia comportamental, notamos uma série de variações desde o seu surgimento na década de 1950. Uma variação importante é a terapia cognitiva-comportamental, que foca na mudança de comportamentos como de pensamentos (cognição).

3) Terapia Cognitiva

Segundo a APA, a terapia cognitiva enfatiza o que as pessoas pensam mais do que as pessoas fazem. Os terapeutas cognitivos defendem a tese de que o pensamento disfuncional leva a emoções disfuncionais ou a comportamentos disfuncionais. Portanto, ao mudar os pensamentos que deram origem a emoções e comportamentos negativos, as pessoas podem finalmente mudar.
Dois importes teóricos da terapia cognitiva são Albert Ellis e Aaron Beck.
Cursos em Vídeo:

4) Terapia humanista

De acordo com a APA, a terapia humanista enfatiza a capacidade de cada um de decidir racionalmente e desenvolver o seu máximo potencial. O respeito e a consideração pelos outros é também um tema importante.
Filósofos humanistas como Soren Kirkegaard, Jean-Paul Sartre e Martin Buber influenciaram o desenvolvimento da psicologia humanista. Dentro da terapia humanista, temos, por sua vez, 3 tipos de terapia:
Terapia centrada no cliente: rejeita a ideia de que o terapeuta é uma autoridade nas experiênciais internas do cliente (usa-se o termo cliente e não paciente). Assim, os terapeutas conseguem ajudar os seus clientes ao mudar a ênfase de suas preocupações, cuidados e interesses. Criada por Carl Rogers.
Gestalt-Terapia: enfatiza o que chama de organismo total (holístico), através da importância de se estar consciente do aqui e do agora e aceitar a responsabilidade por si mesmo. Elaborada por Fritz Pearls.
Terapia existencial ou existencial-humanista: foca-se na liberdade, na autodeterminação e na busca por sentido. Autores importantes são Abraham Maslow e Viktor Frankl.

5) Terapia holística ou integrativa

Na faculdade de psicologia, aprendemos que é importante definir uma linha de atuação para ser um psicólogo clínico. A vantagem é óbvia: com a especialização aprendemos em profundidade a teoria e a prática de uma abordagem terapêutica.
Entretanto, segundo ainda a Associação Psicológica Americana – que é semelhante ao Conselho Federal de Psicologia, em certo sentido, nos informa que diversos psicólogos clínicos atuam no que é chamado nos EUA de terapia holística ou interativa:
“Muitos terapeutas não se limitam a uma única abordagem. Ao invés, eles ligam elementos de diferentes abordagem e constroem o tratamento de acordo com as necessidades dos clientes”.

Conclusão

Depois de termos visto que existem diversas linhas dentro da psicologia e até que muitos psicólogos podem a vir utilizar mais de uma abordagem para realizar os seus atendimentos clínicos, a questão da diferença entre psicanálise a psicoterapia continua em aberto.
E por dois motivos: primeiro, porque um psicólogo pode também ser um psicanalista. E, segundo, porque teríamos que comparar a psicanálise com cada linha da psicologia – o que tornaria nossa exposição demasiadamente longa.
Uma outra questão igualmente importante para quem estiver escolhendo ou para escolher uma terapia é a lembrança de que a personalidade do terapeuta influi sim no tratamento. Basta lembramos que podemos ir em um oftalmologista para fazer um óculos. Mas mesmo em uma consulta com um oftalm., teoricamente objetiva, pode dar certo ou dar errado de acordo com a interação com a personalidade do profissional.
Portanto, se você não se adaptou a uma terapia, pode ser a linha de terapia que não lhe agradou. Mas, igualmente, pode ser pelo fato de você não ter se adaptado à personalidade do terapeuta, ou seja, não houve empatia.
Dúvidas, sugestões, comentários, por favor, escreva abaixo!

Psicólogo Clínico e Online (CRP 06/145929), Mestre (UFSJ), Doutor (UFJF), Instrutor de Mindfulness e Pós-Doutorando (Unifesp), Coach e Presidente do Instituto Felipe de Souza. Como Professor no site Psicologia MSN venho ministrando dezenas de Cursos de Psicologia, através de textos e Vídeos em HD. Faça como centenas de alunos e aprenda psicologia através de Cursos em Vídeo e Ebooks! Loja de Vídeos e Ebooks. Você pode também agendar uma sessão de Coaching Online via Skype, Relacionamentos ou Carreira (faculdade), fazer o Programa de 8 Semanas de Mindfulness Online e Orientação Profissional Online. E não se esqueça de se inscrever em nosso Canal no Youtube! Email - psicologiamsn@gmail.com - Atendimento presencial na Av. Paulista: Agendar - Whatsapp (11) 9 8415-6913

9 razões para fazer terapia


Uma pergunta muito comum que ouço com frequência no consultório é a respeito do fim da terapia. A avaliação de quanto tempo vai durar a terapia ou o que a terapia vai proporcionar em termos de mudança e autoconhecimento é tão variável quanto são os indivíduos.
Quando nós acumulamos uma vasta experiência clínica, como a que tive nestes mais de oito anos atendendo pessoas de todas as idades e lugares do Brasil e do mundo, não podemos de deixar de nos espantar como as pessoas são extremamente diferentes. Frequentemente nos esquecemos disso e achamos que “todo homem é igual”, que “toda mulher faz ou pensa assim” ou então pensamos que existem tipos ou grupos de pessoas parecidas.
A verdade é que a individualidade é um fato. Mesmo alguém perdido, que mais imita os outros do que tem sua própria perspectiva, ainda assim tem a sua imitação própria.
Voltando à nossa questão sobre as razões para se fazer uma terapia e – igualmente – de que modo termina ou para que fim vai, pesquisei em livros de diversos autores. Como sou um estudioso da obra de C. G. Jung, não podia deixar de escolher um trecho de seu livro “A Psicologia e a Alquimia” (no qual ele analisa mais de 800 sonhos de um paciente de sua clínica). Neste trecho, ele diz o seguinte:
“No processo analítico, isto é, no confronto dialético do consciente e do inconsciente constata-se um desenvolvimento, um progresso em direção a uma certa meta ou fim cuja natureza enigmática me ocupou durante anos a fio. Os tratamentos psíquicos podem chegar a um fim em todos os estágios possíveis do desenvolvimento, sem que por isso se tenha o sentimento de ter alcançado uma meta. Certas soluções típicas e temporárias ocorrem:
1) depois que o indivíduo recebeu um bom conselho;
2) depois de uma confissão mais ou menos completa;
3) depois de haver reconhecido um conteúdo essencial, até então inconsciente, cuja conscientização imprime um novo impulso à sua vida e às suas atividades;
4) depois de libertar-se da psique infantil após um longo trabalho efetuado;
5) depois de conseguir uma nova adaptação racional a condições de vida talvez difíceis ou incomuns;
6) depois do desaparecimento de sintomas dolorosos;
7) depois de uma mudança positiva do destino, tais como exames, noivado, casamento, divórcio, mudança de profissão, etc;
8) depois da redescoberta de pertencer a uma crença religiosa ou de uma conversão;
9) depois de começar a erigir uma filosofia de vida (“filosofia”, no antigo sentido da palavra”). Se bem que a esta enumeração possam ser introduzidas diversas modificações, ela define de um modo geral as principais situações em que o processo analítico ou psicoterapêutico chega a um fim provisório, ou às vezes definitivo  (JUNG, p. 18).
Podemos notar então 9 razões e 9 fins para a terapia. Como ele mesmo menciona, poderíamos fazer modificações a respeito de cada um destes pontos. Neste texto, pretendo comentar cada uma destas 9 razões com as minhas palavras e com a minha experiencia clínica.

Razão 1: Um conselho

No dia-a-dia é muito comum ouvirmos que o psicólogo pode dar um conselho que vai ajudar a resolver uma situação. A verdade é que os psicólogos não gostam muito de falar que dão conselhos, seja porque “se conselho fosse bom, não se dava…” ou porque a ideia de aconselhar é antiga e indica uma prática não científica. Poderíamos colocar uma outra palavra no lugar como uma dica, uma indicação, uma sugestão.
Um exemplo pessoal pode ajudar a deixar claro. Pouco antes de fazer psicologia, eu sentia dúvidas de qual faculdade fazer, pois todas pareciam muito interessantes. Em uma única consulta de Orientação Profissional, a psicóloga me deu o seguinte “conselho”: pense em cada uma das faculdades que você quer fazer e imagine se você gostaria de acordar pela manhã e ir trabalhar como sendo aquele profissional, digamos, psicólogo, jornalista, historiador, professor de literatura…
Este conselho bastou para que eu visse que, embora gostasse de todas aquelas disciplinas das ciências humanas, o lado profissional era fundamental para a minha decisão.

Razão 2: Uma confissão

Jung traz o termo confissão que era muito utilizado no contexto religioso (ainda é no meio católico). Para não misturarmos a religião aqui, podemos dizer que o que ele quer expressar é o que chamamos de desabafo: quando passamos por uma situação difícil emocionalmente e precisamos desabafar, ou seja, contar para alguém o que está se passando. Como em muitos casos é complicado contar para parentes ou amigos, o psicólogo pode cumprir este papel de ouvinte de um desabafo mais ou menos completo.
Após relatar tudo o que está passando em seu relacionamento, uma de minhas pacientes sentiu um alívio imenso e pode entender uma série de questões que a fizeram mudar o seu comportamento. De modo que ter colocado para fora (é sempre melhor para fora do que para dentro) foi fundamental para que ela melhorasse a sua qualidade de vida naquele momento.

Razão 3: Conscientização

O inconsciente é o desconhecido, ou seja, é o que nós não sabemos de nós mesmos, mas que, ainda assim, nos afeta diariamente e à noite nos sonhos. Em certas ocasiões da vida, como na adolescência, na passagem para a vida adulta e na metade da vida, notamos uma atividade do inconsciente que é maior do que outros períodos mais calmos. Isto não quer dizer que o inconsciente fique inativo por longos anos, mas apenas que os conflitos entre o consciente e o inconsciente são maiores ou menores.
Nestes períodos, reconhecer o que está faltando no ponto de vista da consciência é fundamental para a cura. Um de meus pacientes, depois do início da terapia, começou a conseguir conscientizar aspectos de sua personalidade que demonstravam uma grande tendência homossexual. Reconhecer este fato – que era visto de forma desagradável – foi o que lhe possibilitou aumentar o seu autoconhecimento e tomar a decisão que mudaria a sua vida.
Outra paciente, sempre fingindo ser a “boazinha”, a pessoa perfeita, mantinha dentro de si a sua própria sombra (sua raiva, seus desejos sexuais reprimidos, sua angústia). A tensão entre a perspectiva consciente e inconsciente estava tão grande que a estava incapacitando. Com isto, só a terapia pode fazer com que ela reconhecesse aspectos de si mesma que só via nas outras pessoas, pejorativamente.

Razão 4: Libertar-se da infância

Atualmente, vemos em nossa sociedade ocidental diversas pessoas que são adultas apenas na idade. Psiquicamente são tão crianças (no melhor dos casos adolescentes) que não assumem responsabilidades nem querer definir que rumo vão seguir. É neste sentido que Jung diz “libertar-se da psique infantil após um longo trabalho efetuado”, ou seja, conseguir seguir o desenvolvimento psíquico normal, que exige mais cedo ou mais tarde que rompamos a ligação simbiótica com os pais – e, mais frequentemente, com a mãe.
É muito comum vermos a diferença na maneira de lidar com o complexo familiar em uma família com 3, 4 irmãos. Alguns saem de casa rápido, casam-se logo e desligam-se da família de forma saudável e tranquila, enquanto outros nunca vão conseguir sair. A questão aqui não é que a pessoa tem que sair, mas a capacidade ou incapacidade de fazê-lo. Por exemplo, uma pessoa que quer ir fazer uma faculdade em outro estado (tem todas as condições) mas não faz por medo.

Razão 5: Sair de uma condição difícil

Muita gente procura o consultório porque está em um momento complicado. Podemos citar aqui muitas situações que causam sofrimento como o término de um relacionamento, o falecimento de alguém querido, mudança de cidade ou país, ou qualquer sofrimento psíquico que seja tão grande que paralise.
Uma de minhas pacientes perdeu um filho de apenas 8 anos. O garoto sofria de uma doença grave e o seu adoecimento foi rápido e imprevisível. Neste período, sem saber o que fazer (já que até o conforto de sua religião era indiferente), ela buscou a terapia para superar o processo de luto.

Razão 6: Livrar-se de sintomas incômodos

Ao ler livros de psicologia clínica, com relatos clínicos, podemos ver centenas de exemplos de sintomas estranhos, esquisitos, bizarros e até pouco comuns. Mas no dia-a-dia do consultório os sintomas psíquicos são frequentes e parecidos. Porém, para quem está com um sintoma, o sinto-mal (como diz Lacan) é muito ruim e atrapalha em muitas áreas, como na área profissional, de relacionamentos, área espiritual, etc.
Um sintoma comum que vemos no consultório nos dias de hoje são os pensamentos obsessivos, pensamentos repetidos e repetitivos, com os quais a pessoa não consegue lidar nem se safar. Quando, ao fazer a terapia, a pessoa finalmente consegue se livrar destes sintomas terríveis, a terapia chega ao seu fim.

Razão 7: Mudança no destino

Destino aqui não quer dizer nada místico. Podemos mudar tranquilamente para uma mudança nas condições de vida. Por exemplo, um paciente procura a terapia porque não sabe o que quer fazer em sua profissão. Não quer continuar na carreira, está desempregado e não sabe como se reencontrar. Quando (por uma mudança do “destino”) surge uma novíssima oportunidade – dentro da mesma carreira – mas com outras formas de atuação, a terapia está concluída. Neste caso, não quer dizer que são situações externas que vão fazer com que o processo terapêutico acabe, mas, ao ter a sua situação mudada, a nova possibilidade de vivência exterior acaba com a tensão interna anterior.

Razão 8: Encontrar ou reencontrar sua religião

Jung, ao contrário de muitos pesquisadores mais céticos, acreditava que todo ser humano tinha uma tendência a se encontrar espiritualmente. Falei sobre esta questão em outro texto. Você pode ler aqui – Psicologia e Deus
Um grande problema que aparece na clínica é a respeito do sentido da vida, do sentido da existência, sobre o que acontece depois da morte e outras perguntas do gênero. Como é a religião o âmbito que oferece respostas a tais perguntas, quando, por si mesmo, o paciente encontra ou reencontra sua própria orientação religiosa, ele encontra o sentido para a sua vida. É muito comum, nestes momentos, vermos sintomas antigos ou que estão difíceis de serem reparados, desaparecerem por completo.

Razão 8: Encontrar a própria filosofia

Esta última razão é muito próxima da anterior. A diferença reside que encontrar a própria filosofia faz com que a dependência de uma instituição externa (como uma religião, um credo ou uma seita) não seja mais necessária. Pode ser que uma filosofia individual, um modo de encarar a vida e a relação com os demais se encaixe perfeitamente em uma orientação já existente em práticas ou ensinamentos religiosos. Nem sempre é o caso e é por isso que Jung o cita.
Por exemplo, um paciente, perdido em todos os sentidos, pode encontrar sua filosofia de vida na arte. Sendo um artista ou vivenciando a arte de outras pessoas, ele pode encontrar um jeito, uma ética ligada à estética, que será adequada para si mesmo.
De modo que estas são as principais causas e os principais fins que vivenciamos no nosso dia-a-dia como psicólogos clínicos.

Psicólogo Clínico e Online (CRP 06/145929), Mestre (UFSJ), Doutor (UFJF), Instrutor de Mindfulness e Pós-Doutorando (Unifesp), Coach e Presidente do Instituto Felipe de Souza. Como Professor no site Psicologia MSN venho ministrando dezenas de Cursos de Psicologia, através de textos e Vídeos em HD. Faça como centenas de alunos e aprenda psicologia através de Cursos em Vídeo e Ebooks! Loja de Vídeos e Ebooks. Você pode também agendar uma sessão de Coaching Online via Skype, Relacionamentos ou Carreira (faculdade), fazer o Programa de 8 Semanas de Mindfulness Online e Orientação Profissional Online. E não se esqueça de se inscrever em nosso Canal no Youtube! Email - psicologiamsn@gmail.com - Atendimento presencial na Av. Paulista: Agendar - Whatsapp (11) 9 8415-6913

Dependência emocional: 5 formas para ser menos dependente

A dependência emocional acontece quando alguém depende de outro para ser feliz, para se sentir bem, para se sentir amada, para tomar suas próprias decisões. Pode ser um sofrimento leve e quase imperceptível ou até um transtorno mental que exige tratamento. O começo da mudança acontece quando a pessoa consegue se valorizar. Como diz Osho: “Se você é capaz de ser feliz quando está sozinho, você aprendeu o segredo de ser feliz”. 
Olá amigos!
Uma querida leitora do site, a Michele, me sugeriu este tema – Dependência Emocional. Para quem nunca ouviu falar nisso, nós podemos começar compreendendo o que é pela palavra dependência. Quando dizemos que uma pessoa é um dependente químico, nós estamos dizendo que a pessoa precisa de uma substância (como álcool, maconha, cocaína, nicotina) para se sentir bem e, ao mesmo tempo, a substância é fundamental, ou seja, a pessoa depende dela. Por este motivo, falamos em uma pessoa dependente de substância.
Na dependência emocional, podemos encontrar semelhanças nestes dois fatores:
– para se sentir bem a pessoa precisa de outra pessoa, como o namorado ou marido;
– a necessidade da presença é tanta que devemos dizer que a pessoa sente que precisa, que depende, da outra para viver. E, assim, pode fazer toda sorte de sacrifícios para manter o relacionamento, ainda que o mesmo possa estar indo de mal a pior.
Bem, esta é uma definição básica, uma analogia com a dependência química, para que comecemos a entender o que é a dependência emocional.

O que é dependência emocional?

Segundo a Mental Health America, uma associação americana sem fins lucrativos, “a co-dependência ou a dependência emocional é uma condição emocional ou comportamental que afeta a habilidade do indivíduo de ter um relacionamento saudável e mutualmente satisfatório”. Por esta definição, começamos a ver que a dependência emocional terá impactos negativos não só para a pessoa que sofre, mas também para o seu parceiro ou parceira.
Uma definição mais clara e ligada à psicologia diz que a co-dependência ou a dependência emocional é “uma condição psicológica ou um relacionamento no qual a pessoa é controlada ou manipulada por outra que é afetada por uma condição patológica”. Neste sentido, a dependência emocional já poderia ser considerada uma condição patológica, que exige cuidados e tratamento. Nem sempre é o caso, porém, é importante considerar a possibilidade de se tratar de um transtorno mental. Segundo o DSM-5, os critérios diagnósticos para o Transtorno de Personalidade Dependente são:

Transtorno de Personalidade Dependente – DSM-5

Uma necessidade difusa e excessiva de ser cuidado que leva a comportamentos de submissão e apego que surge no início da vida adulta e esta´presenta em vários contextos, conforme indicado por cinco (ou mais) dos seguintes:
1) Tem dificuldades em tomar decisões cotidianas sem uma quantidade excessiva de conselhos e reasseguramento de outros.
2) Precisa que outros assumam responsabilidade pela maior parte das principais áreas de sua vida
3) Tem dificuldade em manifestar desacordo com outros devido a medo de perder apoio ou aprovação (Nota: não incluir os medos reais de retaliação).
4) Apresenta dificuldade em iniciar projetos ou fazer coisas por conta própria (devido a falta de autoconfiança em seu julgamento ou em suas capacidade do que a falta de motivação ou energia).
5) Vai a extremos para obter carinho e apoio de outros, a ponto de voluntariar-se para fazer coisas desagradáveis.
6) Sente-se desconfortável ou desamparo quando sozinho devido a temores exagerados de ser incapaz de cuidar de si mesmo.
7) Busca com urgência outro relacionamento como fonte de cuidado e amparo logo após término de um relacionamento íntimo.
8) Tem preocupações irreais com medos de ser abandonado à própria sorte.

5 formas para se tornar menos dependente

Sendo ou não um transtorno mental, exigindo ou não um tratamento mais especializado, as dicas a seguir podem ajudar qualquer um a ser menos dependente. E, como pode ajudar a diminuir o sofrimento causado pela dependência, julguei ser útil para compartilhar. As dicas foram dadas neste artigo aqui (em inglês).
1) Consciência da dependência emocional
A consciência da dependência emocional é o primeiro passo para começar a superar os sentimentos. Sem ter consciência do que está acontecendo, tudo vai continuar como está e o sofrimento tenderá a continuar. Ao passo que se uma mudança for buscada, ela pode ocorrer com a criação de mais autoestima, autovalorização e/ou com a ajuda de psicoterapia.
2) Reconheça o seu valor
Reconheça o seu valor-próprio e trabalhe para aumentar a autoestima, que pode ser melhorada com o foco em pensamentos positivos sobre si mesmo, percebendo suas limitações bem como suas conquistas, estabelecendo metas e objetivos, ajudando outros e fazendo o que te faz sentir bem. Aceite as suas decisões e observe a sua capacidade de fazer o que é melhor para você (e solicite ajuda se você precisar).
3) Perceba que você tem o controle de si
Perceba que você tem o controle de si, incluindo seus sentimentos, emoções e ações. Algumas vezes acontecem eventos na vida que são incontroláveis, mas você precisa perceber o que você pode controlar. Não permita que outra pessoa controle o caminho que você deve seguir.
4) Reconheça as suas necessidades emocionais
Reconheça as suas necessidades emocionais e não dependa de uma única pessoa. Ou seja, trabalhe para construir uma rede de relacionamentos (amizades, colegas, familiares) e também considere a importância de fazer terapia. Afinal, na terapia podemos falar coisas que não falaríamos em outros tipos de relacionamento.
Leia também – 9 razões para fazer terapia
5) Não programe o seu dia-a-dia dependendo da outra pessoa
Perceba que você também possui necessidades que são importantes e você precisa ter controle da sua própria vida e fazer as suas coisas independente dos outros. Você pode se comprometer e reconhecer as necessidades do outro, mas você tem que se lembrar igualmente que você tem que viver sua vida, para além do relacionamento.
Você pode gostar de: A psicologia da solidão

Conclusão

Alguns especialistas gostam de fazer a diferença nos relacionamentos amorosos entre:
– amar o modo como a outra pessoa é;
– amar o fato de estar sendo amada, ou seja, depender do amor do outro para ser feliz.
No primeiro caso, há admiração e respeito. No segundo, há a possibilidade de se transformar em uma dependência emocional. Como dissemos no início, a dependência emocional consiste em depender da outra pessoa para ser feliz. Como se dissesse “Se a outra pessoa não me ama ou não mostra que me ama, eu não sou feliz”. Assim, começam todas as tentativas e jogos para ser amada e continuar sendo amada, ainda que o relacionamento possa estar péssimo.
É comum, na dependência emocional, que a pessoa deixe de lado a sua própria vida. Trabalho. Estudos. Amigos. Grandes amigos. Tudo para se dedicar integralmente ao relacionamento.
Nem sempre se trata de um transtorno mental como o que foi catalogado pelo DSM-5 como Transtorno da Personalidade Dependente. Entretanto, como todo e qualquer sofrimento, é possível encontrar uma forma de superá-lo. A terapia com um profissional da psicologia pode ajudar e o progresso começará a aparecer quando a pessoa entender que o modo como sente é independente do que os outros fazem ou deixam de fazer. Como diz Osho: “Se você é capaz de ser feliz quando está sozinho, você aprendeu o segredo de ser feliz”.

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Psicólogo Clínico e Online (CRP 06/145929), Mestre (UFSJ), Doutor (UFJF), Instrutor de Mindfulness e Pós-Doutorando (Unifesp), Coach e Presidente do Instituto Felipe de Souza. Como Professor no site Psicologia MSN venho ministrando dezenas de Cursos de Psicologia, através de textos e Vídeos em HD. Faça como centenas de alunos e aprenda psicologia através de Cursos em Vídeo e Ebooks! Loja de Vídeos e Ebooks. Você pode também agendar uma sessão de Coaching Online via Skype, Relacionamentos ou Carreira (faculdade), fazer o Programa de 8 Semanas de Mindfulness Online e Orientação Profissional Online. E não se esqueça de se inscrever em nosso Canal no Youtube! Email - psicologiamsn@gmail.com - Atendimento presencial na Av. Paulista: Agendar - Whatsapp (11) 9 8415-6913

Dependência Emocional e Transtornos Psiquiátricos

Dependência Emocional e Transtornos Psiquiátricos

No dia-a-dia, trabalhando continuamente em psicoterapia com pessoas que sofrem de Dependência Emocional (o mesmo que Codependência), noto que muitos destes pacientes chegam em estado de sofrimento tão grave que necessitam também de cuidados psiquiátricos. A maior parte tem queixas de insônia, forte ansiedade, angústia, falta de energia, desânimo, crises de choro frequentes, negativismo, dificuldade importante de tomar decisões, e vários em tal desespero que cultivam idéias suicidas ou já fizeram tentativas de suicídio.

O que surgiu primeiro?

Em psiquiatria, quando um indivíduo tem dois ou mais transtornos psiquiátricos simultaneamente, chamamos a condição de Comorbidade e a Codependência se encaixa bem nesta categoria, porque costuma caminhar junto com outros distúrbios psiquiátricos sérios. Os envolvidos buscam entender, naturalmente, o que está acontecendo e geralmente sou questionada sobre quem veio primeiro, a Dependência emocional ou outros transtornos e tenho notado que ocorrem várias possibilidades. Em muitos casos, a Codependência é primária. Uma situação bem comum, que exemplifica isto, é a da pessoa que sofre deste mal e, estando envolvida num relacionamento destrutivo, desenvolve o transtorno misto de depressão e ansiedade. Outro exemplo comum é o da mulher que se divorcia, não aceita a separação, começa a usar calmantes e medicamentos para insônia e adquire a dependência de psicotrópicos ou que começa a usar bebidas alcoólicas em demasia e evolui para a Dependência do Álcool. Por outro lado, há casos em que a Codependência caminha paralelamente com um transtorno de personalidade, como por exemplo, o Limítrofe ou Borderline. Nestas situações, é difícil esclarecer quem veio primeiro. Pelas observações clínicas, o mais provável é o desenvolvimento conjunto e intrincado das duas condições, ou seja, uma condição agrava a outra e vice-versa.
Na Codependência, além dos relatados acima, vários outros traços ou distúrbios psiquiátricos costumam ser observados, como a Dependência de outras drogas, Dependência de jogos, ou de compras, ou de internet, ou de redes sociais; a compulsão por alimentos, bulimia, outros transtornos de personalidade, transtorno do pânico, transtorno do estresse pós-traumático, etc. Além destes, também é comum o surgimento ou agravamento das doenças psicossomáticas, outro tópico significativo na vida destes pacientes, já tão sofridos.

Quais as consequências?

O que vemos claramente, na Codependência, é que, no decorrer dos anos, a vivência de relacionamentos destrutivos, muitas vezes numa sequência infindável, leva à degradação da psiquê do indivíduo, através de frequentes perdas, frustrações, culpa, vergonha, medo, raiva, sentimento de impotência, de perda do controle da vida, de inadequação e de inferioridade, que podem causar prejuízos em todas as áreas da vida porque vão lesando a autoestima, a autoimagem e a autoconfiança da pessoa.

Como tratar de modo eficaz?

O que agrava toda esta situação é que os diagnósticos demoram a ser feitos (quando são feitos) e a resistência que muitos destes pacientes colocam ao tratamento psicoterápico e ainda mais ao psiquiátrico. Por isto, é necessário que a pessoa que sofre da Codependência estude e busque compreender ao máximo este distúrbio, assim como os outros relacionados, para que se conscientize da necessidade de tratar tudo o que é necessário. Isto dificulta muito o sucesso do tratamento pois um distúrbio alimenta o outro. Por isto, nossa sugestão é que o indivíduo busque profissionais realmente capacitados nas duas áreas e que confie nas indicações terapêuticas deles, para que as mudanças necessárias ocorram e que ele possa trilhar o caminho de retorno a uma condição mais saudável e de poder sobre si mesmo.

Solicitamos a gentileza de, ao publicar este artigo, citar a fonte:

Autora: Dra. Elizabeth Zamerul Ally, médica psiquiatra, psicoterapeuta, especialista em Dependência Química e Codependência www.dependenciaecodependencia.com.br

quinta-feira, 26 de julho de 2018

Tabacaria


Tabacaria

Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.

Janelas do meu quarto,
Do meu quarto de um dos milhões do mundo que ninguém sabe quem é
(E se soubessem quem é, o que saberiam?),
Dais para o mistério de uma rua cruzada constantemente por gente,
Para uma rua inacessível a todos os pensamentos,
Real, impossivelmente real, certa, desconhecidamente certa,
Com o mistério das coisas por baixo das pedras e dos seres,
Com a morte a pôr humidade nas paredes e cabelos brancos nos homens,
Com o Destino a conduzir a carroça de tudo pela estrada de nada.

Estou hoje vencido, como se soubesse a verdade.
Estou hoje lúcido, como se estivesse para morrer,
E não tivesse mais irmandade com as coisas
Senão uma despedida, tornando-se esta casa e este lado da rua
A fileira de carruagens de um comboio, e uma partida apitada
De dentro da minha cabeça,
E uma sacudidela dos meus nervos e um ranger de ossos na ida.

Estou hoje perplexo como quem pensou e achou e esqueceu.
Estou hoje dividido entre a lealdade que devo
À Tabacaria do outro lado da rua, como coisa real por fora,
E à sensação de que tudo é sonho, como coisa real por dentro.

Falhei em tudo.
Como não fiz propósito nenhum, talvez tudo fosse nada.
A aprendizagem que me deram,
Desci dela pela janela das traseiras da casa,
Fui até ao campo com grandes propósitos.
Mas lá encontrei só ervas e árvores,
E quando havia gente era igual à outra.
Saio da janela, sento-me numa cadeira. Em que hei-de pensar?

Que sei eu do que serei, eu que não sei o que sou?
Ser o que penso? Mas penso ser tanta coisa!
E há tantos que pensam ser a mesma coisa que não pode haver tantos!
Génio? Neste momento
Cem mil cérebros se concebem em sonho génios como eu,
E a história não marcará, quem sabe?, nem um,
Nem haverá senão estrume de tantas conquistas futuras.
Não, não creio em mim.
Em todos os manicómios há doidos malucos com tantas certezas!
Eu, que não tenho nenhuma certeza, sou mais certo ou menos certo?
Não, nem em mim...
Em quantas mansardas e não-mansardas do mundo
Não estão nesta hora génios-para-si-mesmos sonhando?
Quantas aspirações altas e nobres e lúcidas -
Sim, verdadeiramente altas e nobres e lúcidas -,
E quem sabe se realizáveis,
Nunca verão a luz do sol real nem acharão ouvidos de gente?
O mundo é para quem nasce para o conquistar
E não para quem sonha que pode conquistá-lo, ainda que tenha razão.
Tenho sonhado mais que o que Napoleão fez.
Tenho apertado ao peito hipotético mais humanidades do que Cristo,
Tenho feito filosofias em segredo que nenhum Kant escreveu.
Mas sou, e talvez serei sempre, o da mansarda,
Ainda que não more nela;
Serei sempre o que não nasceu para isso;
Serei sempre só o que tinha qualidades;
Serei sempre o que esperou que lhe abrissem a porta ao pé de uma parede sem porta
E cantou a cantiga do Infinito numa capoeira,
E ouviu a voz de Deus num poço tapado.
Crer em mim? Não, nem em nada.
Derrame-me a Natureza sobre a cabeça ardente
O seu sol, a sua chuva, o vento que me acha o cabelo,
E o resto que venha se vier, ou tiver que vir, ou não venha.
Escravos cardíacos das estrelas,
Conquistámos todo o mundo antes de nos levantar da cama;
Mas acordámos e ele é opaco,
Levantámo-nos e ele é alheio,
Saímos de casa e ele é a terra inteira,
Mais o sistema solar e a Via Láctea e o Indefinido.

(Come chocolates, pequena;
Come chocolates!
Olha que não há mais metafísica no mundo senão chocolates.
Olha que as religiões todas não ensinam mais que a confeitaria.
Come, pequena suja, come!
Pudesse eu comer chocolates com a mesma verdade com que comes!
Mas eu penso e, ao tirar o papel de prata, que é de folhas de estanho,
Deito tudo para o chão, como tenho deitado a vida.)

Mas ao menos fica da amargura do que nunca serei
A caligrafia rápida destes versos,
Pórtico partido para o Impossível.
Mas ao menos consagro a mim mesmo um desprezo sem lágrimas,
Nobre ao menos no gesto largo com que atiro
A roupa suja que sou, sem rol, pra o decurso das coisas,
E fico em casa sem camisa.

(Tu, que consolas, que não existes e por isso consolas,
Ou deusa grega, concebida como estátua que fosse viva,
Ou patrícia romana, impossivelmente nobre e nefasta,
Ou princesa de trovadores, gentilíssima e colorida,
Ou marquesa do século dezoito, decotada e longínqua,
Ou cocote célebre do tempo dos nossos pais,
Ou não sei quê moderno - não concebo bem o quê -,
Tudo isso, seja o que for, que sejas, se pode inspirar que inspire!
Meu coração é um balde despejado.
Como os que invocam espíritos invocam espíritos invoco
A mim mesmo e não encontro nada.
Chego à janela e vejo a rua com uma nitidez absoluta.
Vejo as lojas, vejo os passeios, vejo os carros que passam,
Vejo os entes vivos vestidos que se cruzam,
Vejo os cães que também existem,
E tudo isto me pesa como uma condenação ao degredo,
E tudo isto é estrangeiro, como tudo.)

Vivi, estudei, amei, e até cri,
E hoje não há mendigo que eu não inveje só por não ser eu.
Olho a cada um os andrajos e as chagas e a mentira,
E penso: talvez nunca vivesses nem estudasses nem amasses nem cresses
(Porque é possível fazer a realidade de tudo isso sem fazer nada disso);
Talvez tenhas existido apenas, como um lagarto a quem cortam o rabo
E que é rabo para aquém do lagarto remexidamente.

Fiz de mim o que não soube,
E o que podia fazer de mim não o fiz.
O dominó que vesti era errado.
Conheceram-me logo por quem não era e não desmenti, e perdi-me.
Quando quis tirar a máscara,
Estava pegada à cara.
Quando a tirei e me vi ao espelho,
Já tinha envelhecido.
Estava bêbado, já não sabia vestir o dominó que não tinha tirado.
Deitei fora a máscara e dormi no vestiário
Como um cão tolerado pela gerência
Por ser inofensivo
E vou escrever esta história para provar que sou sublime.

Essência musical dos meus versos inúteis,
Quem me dera encontrar-te como coisa que eu fizesse,
E não ficasse sempre defronte da Tabacaria de defronte,
Calcando aos pés a consciência de estar existindo,
Como um tapete em que um bêbado tropeça
Ou um capacho que os ciganos roubaram e não valia nada.

Mas o dono da Tabacaria chegou à porta e ficou à porta.
Olhou-o com o desconforto da cabeça mal voltada
E com o desconforto da alma mal-entendendo.
Ele morrerá e eu morrerei.
Ele deixará a tabuleta, e eu deixarei versos.
A certa altura morrerá a tabuleta também, e os versos também.
Depois de certa altura morrerá a rua onde esteve a tabuleta,
E a língua em que foram escritos os versos.
Morrerá depois o planeta girante em que tudo isto se deu.
Em outros satélites de outros sistemas qualquer coisa como gente
Continuará fazendo coisas como versos e vivendo por baixo de coisas como tabuletas,
Sempre uma coisa defronte da outra,
Sempre uma coisa tão inútil como a outra,
Sempre o impossível tão estúpido como o real,
Sempre o mistério do fundo tão certo como o sono de mistério da superfície,
Sempre isto ou sempre outra coisa ou nem uma coisa nem outra.

Mas um homem entrou na Tabacaria (para comprar tabaco?),
E a realidade plausível cai de repente em cima de mim.
Semiergo-me enérgico, convencido, humano,
E vou tencionar escrever estes versos em que digo o contrário.

Acendo um cigarro ao pensar em escrevê-los
E saboreio no cigarro a libertação de todos os pensamentos.
Sigo o fumo como uma rota própria,
E gozo, num momento sensitivo e competente,
A libertação de todas as especulações
E a consciência de que a metafísica é uma consequência de estar mal disposto.

Depois deito-me para trás na cadeira
E continuo fumando.
Enquanto o Destino mo conceder, continuarei fumando.

(Se eu casasse com a filha da minha lavadeira
Talvez fosse feliz.)
Visto isto, levanto-me da cadeira. Vou à janela.

O homem saiu da Tabacaria (metendo troco na algibeira das calças?).
Ah, conheço-o: é o Esteves sem metafísica.
(O dono da Tabacaria chegou à porta.)
Como por um instinto divino o Esteves voltou-se e viu-me.
Acenou-me adeus gritei-lhe Adeus ó Esteves!, e o universo
Reconstruiu-se-me sem ideal nem esperança, e o dono da Tabacaria sorriu.

Álvaro de Campos, in "Poemas"
Heterónimo de Fernando Pessoa
// Consultar versos e eventuais rimas


Ausência - Vinicius de Moraes


Eu deixarei que morra em mim o desejo de amar os teus olhos que são doces. Porque nada te poderei dar senão a mágoa de me veres eternamente exausto. No entanto a tua presença é qualquer coisa como a luz e a vida. E eu sinto que em meu gesto existe o teu gesto e em minha voz a tua voz. Não te quero ter porque em meu ser tudo estaria terminado. Quero só que surjas em mim como a fé nos desesperados. Para que eu possa levar uma gota de orvalho nesta terra amaldiçoada. Que ficou sobre a minha carne como uma nódoa do passado. Eu deixarei... tu irás e encostarás a tua face em outra face. Teus dedos enlaçarão outros dedos e tu desabrocharás para a madrugada. Mas tu não saberás que quem te colheu fui eu, porque eu fui o grande íntimo da noite. Porque eu encostei minha face na face da noite e ouvi a tua fala amorosa. Porque meus dedos enlaçaram os dedos da névoa suspensos no espaço. E eu trouxe até mim a misteriosa essência do teu abandono desordenado. Eu ficarei só como os veleiros nos portos silenciosos. Mas eu te possuirei mais que ninguém porque poderei partir. E todas as lamentações do mar, do vento, do céu, das aves, das estrelas. Serão a tua voz presente, a tua voz ausente, a tua voz serenizada.

Político brasileiro mais bem-sucedido de seu tempo, Lula ascendeu de operário de fábrica a líder do País

Luiz Inácio Lula da Silva
Político brasileiro mais bem-sucedido de seu tempo, Lula ascendeu de operário de fábrica a líder do País

Luiz Inácio Lula da Silva


Com sensibilidade social e frio cálculo político, Lula agradou diversas classes sociais e de renda. Tornou-se maior do que o próprio partido e terminou mandato com aprovação inédita
Há uma máxima vigente na história das leis do poder segundo a qual toda vida política termina invariavelmente em fracasso. É como se existisse uma curva descendente inevitável a ser percorrida pelo político. Em condições democráticas, então, ser mais popular no fim do que no início de um prolongado período no poder é um feito raríssimo. Obra e graça de poucos. Luiz Inácio Lula da Silva parece ser um dos poucos governantes do mundo que pode vangloriar-se de uma conquista assim. O ex-metalúrgico que deixou a Presidência da República em 1º de janeiro de 2011 (data em que transferiu a faixa presidencial para sua pupila e sucessora Dilma Rousseff) com estupendos 87% de aprovação popular é, por este quesito, o político brasileiro mais bem-sucedido de seu tempo. Mais: quase dois anos depois de encerrar seus dois mandatos, ainda continua com soberba influência. Sobre cidadãos e, sobretudo, entre os políticos – a presidente da República incluída.

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O triunfo de Lula durante e depois de sua passagem pelo Palácio do Planalto se deve a uma soma virtuosa de fatores: durante seu governo, houve aumento real do salário mínimo, dezenas de milhões de brasileiros passaram a comprar o que não podiam antes – o essencial para viver – e parcela significativa da população dispôs de bolsas estatais para vencer a luta contra a miséria. Tudo isso sem que, na outra ponta da sociedade, os mais ricos e poderosos tenham deixado de ganhar. Em termos econômicos, o governo de Lula conseguiu agradar diversas classes sociais e de renda. Como prometera anos antes, em campanha, Lula promoveu o que acadêmicos há muito tempo chamaram de conciliação de classes. Sem rupturas.

A economia é quase sempre determinante nos rumos de um País e de um governante, mas ela não explica sozinha a popularidade de Lula. Seus dons pessoais jamais podem ser dispensados. Ele exibiu uma mescla de sensibilidade social e frio cálculo político. Ou, como Dilma Rousseff certa vez formulou, Lula soube, e sabe, combinar uma espécie de avaliação racional com inteligência emocional. Acrescente-se na receita do sucesso a conjugação entre uma personalidade carismática e a capacidade de organização coletiva. Em outras palavras, a sua cinematográfica trajetória individual de vida se combinou à façanha sindical e partidária que marcou o Brasil a partir do fim dos anos 70. Sua ascensão de operário de fábrica a líder do País incluiu a insurgência como sindicalista e a formação e consolidação do Partido dos Trabalhadores – durante anos o PT foi sinônimo de Lula, e Lula sinônimo do PT, até que Lula, uma vez presidente, tornou-se muito maior do que o próprio partido.

“Ele é o cara”

No início da primavera londrina, em abril de 2009, Lula estava no intervalo de uma reunião do G-20 – grupo de países emergentes criado em agosto de 2003 – quando o presidente dos EUA, Barack Obama, aproximou-se para cumprimentá-lo. “This is the guy”, disse Obama aos que estavam em torno, apontando o brasileiro. “I love this guy. The most popular politician on Earth. Because of his good looks”. Em bom português: “Amo esse cara, o político mais popular do planeta, porque ele é bonitão”. Lá estava o dirigente do império capitalista, num linguajar incomum na política (“this is the guy”) para sublinhar a popularidade do “cara”: o líder de uma nação pobre que, enfim, emergia em status e poder internacionais; o presidente-operário que dirimia o Brasil da crise que vergava países poderosos.

Obama demonstrava um quê de inveja, mas também uma certa condescendência com um presidente que também soube ser ofensivo somente até certo ponto. Enquanto a convulsão econômica atingia em cheio os países ricos, Lula conduzia o processo de criação de um novo mercado no Brasil, chamando a atenção dentro e fora do País. As principais vozes da imprensa norte-americana e europeia viram nele alguém que não resvalava para as atitudes tradicionais da esquerda e do populismo. Diferentemente do que Hugo Chávez fazia na Venezuela, diziam eles, Lula seguia a ordem, sem mobilização, nacionalizações ou expropriações. Uma lua de mel com o Brasil que culminou com a famigerada capa da revista britânica The Economist, em novembro de 2009, com o título “Brasil takes off”: “O Brasil decola”, afirmava a revista, com a imagem do Cristo Redentor decolando rumo aos céus como um foguete.

À míngua na política e na economia 

Feito ainda mais notável para Lula quando se lembra do início claudicante do seu governo. Eleito em 2002 com 61% dos votos, seu primeiro mandato partiu de um início melancólico e, em pelo menos dois momentos, por pouco não se tornou um desastre. No primeiro, em 2003, por motivos econômicos. No segundo, dois anos depois, as razões foram políticas. Herdando uma grave crise econômica, com taxas de juros nominais acima dos 20%, dívida pública elevadíssima, déficit em conta duas vezes maior do que a média da América Latina e com o real tendo perdido metade do seu valor durante a corrida eleitoral, Lula chegou ao Planalto com o País sob desconfiança intensa. Para reverter o quadro, o governo adotou a ortodoxia, elevou ainda mais os juros e fez cortes no investimento público. Os preços e o desemprego subiram, e o crescimento caiu à metade. Enquanto os partidários de Fernando Henrique Cardoso sublinhavam – e ironizavam – a continuidade entre os dois, parte dos petistas anunciava o desencanto com o governo e abandonava o barco.

O pior, no entanto, ainda estava por vir. Na primavera de 2005, emergia o episódio que seria batizado como Mensalão, e Lula ingressava num calvário político que macularia a imagem do PT, abalaria o governo e expurgaria do poder aliados próximos, como José Dirceu e José Genoino, além do publicitário Duda Mendonça. A chamada grande imprensa, que já torcia o nariz para seu governo, seria inclemente, amplificando ainda mais a crise. Mas a reeleição em 2006 escancararia a capacidade de sobrevivência de Lula, por meio da recuperação do crescimento econômico a partir da segunda metade do mandato, dos resultados já evidentes do Bolsa Família, da política de recuperação do salário mínimo e do descolamento entre aquilo que diziam jornais e revistas e o que se pensava nas ruas e na maior pluralidade da informação da internet.

Dois personagens dos dramas medievais são usualmente utilizados para trazer notícias da Corte: o arauto e o mensageiro. Funcionário graduado do governante, o arauto faz soar as trombetas e ler as proclamações reais uma audiência selecionada. Faz chegar aos súditos o que o soberano determinou. O mensageiro, por outro lado, leva notícias do reino ao rei. Em sociedades modernas, a imprensa cumpre tais funções. Tanto informa o governante sobre o que se passa no País como diz aos cidadãos o que o governante pretende fazer. Do primeiro para o segundo mandato, Lula pendeu para o lado arauto da imprensa. Logo depois das eleições de 2006, perguntaram se ele se arrependia de algo. Não ter falado mais à imprensa, respondeu o presidente. Equívoco que não repetiu no segundo mandato.

O vendaval do mensalão reeditaria o cerco mediático que, décadas antes, atormentara a vida de alguns presidentes. A candidatura à reeleição quase foi às cordas. Mas o jogo mudou visivelmente no segundo mandato. O resultado já se sabe. O número de pobres caiu de 50 milhões para 30 milhões no curto espaço de seis anos. Mais de 13 milhões de famílias foram beneficiadas pelo Bolsa Família, a um custo menor do que 1% do PIB. Os gastos com educação triplicaram a partir de 2005. O número de estudantes universitários duplicou. A boa sorte no exterior – pelo menos até eclodir a crise financeira global de 2008 – ajudou a encorpar o crescimento do País. A diplomacia e o presidente brasileiros encarnavam uma altivez renascida nos fóruns internacionais. O PAC, Programa de Aceleração do Crescimento, injetava ânimo e dinheiro público no espírito do empresariado. Os ganhos entre financistas continuava. “Foi preciso um torneiro mecânico, metido a socialista, para fazer o país virar capitalista”, gabou-se Lula certa vez.

Do pau de arara ao Lulismo

A declaração acima exibe a sustentação do pacto social proposto por Lula e um laço com a própria história que ele nunca abandonou: a conciliação a ser promovida por alguém que soube manter como ninguém a imagem de homem do povo e de sindicalista, mesmo ocupando o mais alto posto do poder. Lula, no fundo, nunca foi socialista. Pelo menos não um socialista no sentido clássico. O resto, porém, é verdade. Menino do sertão pernambucano, passou fome e privações. Foi de pau de arara com a mãe e os irmãos para São Paulo. Morou nos fundos de um bar. Usou o mesmo banheiro que a freguesia. Ascendeu graças ao curso de torneiro mecânico no Senai. Virou metalúrgico. Perdeu o dedo num acidente na fábrica. Ingressou no movimento operário. Passou a líder sindical capaz de mobilizar multidões e ser perseguido pela ditadura militar. Aprendeu na mesa de bar que nacionalismo é uma virtude.

Lula tentou três vezes chegar à Presidência da República. Perdeu para Fernando Collor de Mello em 1989 e duas vezes para Fernando Henrique Cardoso – em 1994 e 1998. Somente na quarta percebeu que, com suas origens e seus discurso, tenderia a perder mais uma vez ou, se vencesse, seria um candidato natural a engrossar a lista dos governantes brasileiros apeados do poder de uma forma ou de outra. Uniu-se então a um partido de centro-direita, anunciou um candidato a vice de extração empresarial, assinou uma carta-compromisso com garantias ao capital e declarou-se o candidato da paz e do amor. Mais tarde perderia boa parte de seus eleitores tradicionais, decepcionados com as crises políticas e as denúncias em torno do mensalão, mas compensou essas perdas com a conquista do voto dos mais pobres. Se até 2002 seus eleitores eram sobretudo aqueles de nível superior de escolarização, dos estados mais urbanizados e industrializados, Lula passou a contar com a adesão dos mais pobres e excluídos. O Lulismo substituía o Petismo.

Lulismo foi como seu ex-porta voz, o cientista político André Singer, chamou o subproletariado que abrange quase a metade da população. Para ele, são pessoas movidas principalmente por duas emoções: a esperança de que o Estado possa moderar a desigualdade e o medo de que os movimentos sociais possam gerar a desordem. A instabilidade é um fantasma para os pobres, seja qual for a forma que ela assuma – a luta armada, a inflação dos preços ou as ações da indústria. Enquanto Lula se mostrou identificado com a esquerda e a possibilidade de colocar a ordem em risco, foi preterido igualmente pelos muito pobres e pelos muito ricos.

Para outros, Lulismo passou a ser sinônimo do carisma exibido por Lula. Uma espécie de variante do bonapartismo, expressão cunhada por Karl Marx no livro “O 18 Brumário de Luís Bonaparte” para definir o líder que paira acima dos conflitos das classes. Ou uma variação do varguismo, referência a outro líder que também emanou da base empobrecida da sociedade, concedeu atenção especial ao salário mínimo e entendia como ninguém dos códigos populares. Mas se Getulio Vargas foi um golpista e depois ditador até voltar democraticamente eleito e suicidar-se em 1954, Lula cresceu politicamente ancorado exclusivamente nas instituições democráticas. Saiu, nunca é demais repetir, com uma aprovação popular inédita, capaz de eleger uma noviça na política e ajudar a transformá-la na continuidade do Lulismo. Uma continuidade, porém, com vida, identidade e força próprias, mesmo sem negar seu arquiteto.