sexta-feira, 17 de julho de 2020

O medo, a vida, a morte - Gilberto Gil e o Conflito


O medo, a vida, a morte

Gilberto Gil passou a maior parte do ano de 2016 com insuficiência renal e hipertensão, problemas relacionados. Precisou ser internado seguidas vezes para exames e tratamento, e ao se apresentar com Caetano Veloso e Anitta na abertura das Olimpíadas do Rio, tinha o rosto inchado das medicações.
Foi a primeira vez em que vieram a público problemas de saúde de Gil. Ele tinha à época 74 anos. Mas a questão da finitude da vida se apresentou a ele bem mais cedo. O jovem Gil já cantava: A morte é rainha que reina sozinha / Não precisa do nosso chamado / Recado / Pra chegar. E na repetição final, a palavra recado é trocada por medo. Nada que de que se espantar, o medo da morte, mesmo que na juventude nos sintamos imortais. Porém, décadas depois, Gil afirmou categoricamente: Não tenho medo da morte.

A primeira gravação de Não tenho medo da morte é a do álbum Banda Larga Cordel, de 2008, ano em que Gil completou 66 anos. Seu mote é a diferenciação conceitual entre a morte como um estado, posterior ao ato individual de morrer, o acontecimento em si.
A persona pública de Gil não dá a impressão de ser vulnerável ao medo. Ao contrário, ele foi intrépido ao longo de suas carreira, gerando com Caetano um movimento inovador na música brasileira, portando-se dignamente diante da prisão e do exílio pela Ditadura Militar, passando do fazer artístico ao político, aceitando o poder e realizando boas coisas com ele, e acima de tudo mantendo sua obra e sua vida sempre em íntima relação. Tudo leva a enxergar um destemido, um intimorato. Porém, esta impressão é desmanchada candidamente pelo próprio Gil. Pois ele não tem medo da morte, mas sim de morrer. Gil, como tudo que é humano, tem medo. Pois o medo também é constituinte indispensável do humano.
Na medicina tradicional chinesa, sete emoções são ligadas a sete órgãos do corpo. O medo particularmente está relacionado às funções renais. Segundo ela, crianças inseguras fazem xixi na cama, pessoas apavoradas perdem o controle da bexiga e se urinam. E o medo constante de toda uma vida, não aceito, mal resolvido ou não digerido psiquicamente, somatiza-se em falhas no funcionamento renal. Exatamente o que aconteceu com Gil.
O arranjo de cordas de Jacques Morelenbaum para Não tenho medo da morte me deixou intrigado desde a primeira vez que ouvi, por me lembrar o de alguma outra canção de Gil, que demorei para identificar. Vasculhei sua discografia de cima a baixo até topar com ela bem debaixo do nariz: um de seus maiores sucessos, Não chore mais. Embora a frase da introdução de Morelembaum seja bem diferente da de Lincoln Olivetti nos anos 1980, algo na sonoridade, os glissandos de ambas, remeteram meus ouvidos imediatamente de uma à outra. Esta relação, por sutil que seja, não deixa de ser carregada de significado. Não chore mais é uma canção de otimismo diante dos anos de chumbo da Ditadura, de boas lembranças sendo o que traz forças para enfrentar a dura realidade. A leveza com que enfrenta o assunto contamina a gravação de Não tenho medo da morte e lhe empresta um pouco de seu otimismo, mesmo diante do inevitável, da iniludível.
Mas este otimismo pode ser algo exagerado, ou mesmo inapropriado. Pois o otimismo diz respeito ao futuro, e trata-se aqui exatamente do fim de todos os futuros. A primeira gravação de Não tenho medo da morte é talvez leve demais, suave demais, não dá à finitude o peso que indubitávelmente tem. Gil teve a chance de mudar o enfoque sobre o assunto no álbum Concerto de cordas & máquinas de ritmo, de 2012. E o fez de forma surpreendente.

Para esta gravação, Gil despojou sua canção de quase tudo. Toda a instrumentação é reduzida a uma percussão esparsa no próprio violão e uma nota – só um bordão, uma vez a cada fim de estrofe. E é só. A própria harmonia se vai. Nudez absoluta. Para falar do momento da morte, aqui Gil literaliza na interpretação o próprio momento em que se está inteiramente só e todo e qualquer assessório é inútil. Do mundo nada se leva, e morrer não tem companhia. O canto soturno das duas primeiras estrofes contribui para a sensação de desolação, mas para as duas seguintes, ele passa à oitava superior. O movimento ascendente deixa escapar, afinal, uma visão positiva, mas que aqui não soa gratuita e sim respaldada pelo movimento anterior. Depois de encarar (esteticamente, oitava abaixo) o aspecto terrível da questão, Gil permite-se, apenas na própria voz, a sugestão de um possível consolo ou esperança.
A letra de Não tenho medo da morte é cristalina, uma pequena dissertação sobre o tema da morte e seu enfrentamento que dispensa maiores explicações. Mas o tema complementar do medo parece ter ficado ainda pendente de desenvolvimento por Gil. E o resultado foi, dois anos depois da primeira gravação de Não tenho medo da morte, o surgimento de seu espelho.

Não tenho medo da vida está no álbum Fé na festa, o que pode ser um bocado enganoso, pois a canção não tem nada de festiva, muito embora seja um xote (sua irmã espelhada também, embora menos evidente no arranjo). As estruturas são idênticas: os versos de abertura da primeira e terceira estrofe são os mesmos, apenas com a óbvia troca da palavra morte por vida. E a temática a princípio é também similar: assim como diferencia a morte do ato de morrer, agora distingue vida em si do viver e seus alfazeres, Porém, ao colocar a questão no espelho, Gil acaba em boa medida também invertendo a abordagem. E se na primeira canção o sentimento resultante era de uma certa serenidade apesar da morte não ser uma escolha, mas uma imposição, aqui, ao tratar a vida igualmente como algo compulsório e o viver com sua carga de sofrimento inerente, o resultado ironicamente acaba sendo bem menos otimista que sua em antecessora. Das quatro estrofes, três terminam retratando o sofrimento como inerente ao ato de viver.
Na época do lançamento do álbum conceitual Quanta, que trata das relações entre religião e ciência, Gil comentou numa entrevista que cuidara de compensar nas composições a aridez dos temas escolhidos. Que, diante da complexidade dos assuntos, preferira canções de estrutura mais direta, mais simples, a ponto de privilegiar rimas em ão, permitindo ao ouvinte focar no que ele tinha a dizer. A dupla de canções Não tenho medo da morte/vida parecem seguir este preceito. A primeira é o desenvolvimento de um raciocínio perfeitamente articulado, a segunda mais disperso, mas em ambos os casos o foco no discurso prevalece sobre a estrutura harmônico-melódica, a prioridade desta é conquistar o ouvido rapidamente, abrindo caminho para o outro. E efetivamente ambas permanecem dentro da tonalidade mais estrita entre primeiro, sexto e quarto graus, e têm melodias sem grandes saltos e repetidas a cada estrofe, sem sequer refrões para interromper o raciocínio que se desenvolve. É como se Gil, capaz de enormes complexidades e já tendo mostrado isto em tantos anos e tantas canções, seguisse agora o exemplo de seu mestre Dorival Caymmi, retratado por ele em Buda Nagô, no sentido da simplicidade – que de certa forma corresponde também a a um estado natural de tranquilidade diante da vida e da morte, de transcendência a elas, que é o que ele busca nestas duas canções, como na vida.
E como o processo se dá paralelamente na vida e na obra, ao trazer Gil sua vida integrada a sua música, o processo prossegue em sua doença e influencia diretamente o que ele canta. Já quase recuperado dos problemas renais e de hipertensão associados, Gil divulgou a gravação caseira (aqui a de um programa de entrevistas) de uma canção feita por ele em homenagem à médica que o tratou fazendo-lhe uma biópsia no coração.
Ela mandou arrancar quatro pedacinhos do meu coração
Depois mandou examinar os quatro pedacinhos
Um para saber se eu sinto medo
Um para saber se eu sinto dor
Um para saber os meus segredos
Um para saber se eu sinto amor

É de se notar que o primeiro dos exames poéticos listados por Gil é justamente o medo. Gil assume abertamente a psicossoma, toma o medo que de sua mente passou a seu corpo e o expurga em verso, invertendo o trajeto do sentimento à matéria e tornando-o em novamente sentimento – mas outro, resultante de uma canção de gratidão. A estrofe que se inicia com medo termina com amor.
Mas a ação mais direta e frontal de Gil contra o medo, não da vida e da morte, mas de viver e morrer, é também a mais singela, para além das considerações filosóficas de suas duas canções-espelho: O ato puro e simples de fazer uma canção para sua bisneta recém-nascida. E Gil, assim como o medo passou ao corpo e depois ao verso, passa da palavra ao ato, mas este ato é também palavra.

Em um antigo anúncio de Natal da Unicef, Gil contava a a história de um rei que conversava com seu filho e herdeiro à janela do castelo, e mostrava a imensidão do reino, até onde a vista alcançava. O príncipe então perguntou: Pai, um dia tudo isto será meu? E a resposta foi: Não, filho. Você, assim como eu, estará apenas tomando emprestado tudo isto a seus filhos.
A decisão de Gil em fazer esta canção em específico neste momento de sua vida, a atitude prática de, próximo da morte, apontar para a vida que se perpetua em seus herdeiros, apostar na renovação da vida como razão para enfrentar abertamente seus medos, viver e morrer, quer dizer algo por si. E a alegria com que Gil faz os últimos acordes da canção, saboreando a cadência harmônica e o acorde final suavemente em suspensão, recusando-se a um final definitivo, dizem ainda mais, sem a necessidade de outras considerações.

quinta-feira, 16 de julho de 2020

O Tétrico Fim de Elion Jorge


O Tétrico Fim de Elion Jorge

       
    *RaymundoEvangelhista




De origem modesta e pacata, singularismo próprio dos que não foram mimados em berço de ouro, porém, com a mente fértil e de uma inteligência esplêndida, brotou como um rio. Titã, como todos os vultos nacionais que respiraram os ares daquela terra, que nada tem a ver com os forasteiros que por ali passam, que por ali vivem a monopolizar, a escravizar, depois que saem da fome à mordomia. Creio que, Elion, como simplesmente era conhecido naquelas plagas, foi vítima de uns desses imigrantes gananciosos, pretensiosos burocratas que a nossa querida terra abriga, sacia a fome, engorda e enriquece. Elion era um jovem de bons presságios. A sua maior conquista seria tornar-se engenheiro civil. Mas como a muralha da universidade  é de uma altura incalculável para a maioria - impossível de penetrar-se, Elion ficou de fora, privado do conhecimento, - privado do saber. Assim como muitos intelectuais são atirados ao leu da mediocridade e abstinência, não passara de um mero matemático, físico e biólogo escondido atrás das cortinas negras de um teatro cínico e invisível, - Santo Antônio de Jesus. Funcionário de uma instituição financeira por muito tempo, Banco do Brasil, laborando em sua terra natal, transfere-se para Valença. Um dia o infortúnio fê-lo retornar à cidade das Palmeiras Colonial. Aí começou a sua desgraça. Em visita ao antigo local de trabalho fora estupidamente agredido por guarda-costas que por pouco não lhe desferiu tiros momentos em que tentara convencer a uma mente mesquinha uma alternativa para solucionar determinado problema. Problema esse, criado pela severidade da mordomia e prolixidade burocrática. A surpresa e impacto emocional causados pelo desemprego injusto se lhe tornou um homem destruído e arrasado; perdido e só. Em um mundo que os amigos existem enquanto somos. Há muito tempo afastado de sua terra natal, Santo Antônio de Jesus, fugia não das faces dos calhordas, - alicerces da sua destruição. Mas sim, para transparecer a sua querida mãe, D. Helena, o sofrimento e dor que feriam-lhe o coração. Entretanto como a vida nos impele, às vezes, de agir quando não queremos, Elion retorna a terra natal. Morre D. Helena. Passa o tempo. A luta para conseguir provar a sua integridade moral, a dor do desemprego, a orfandade e a solidão transformaram-lhe de um homem alegre e sorridente, em um homem deprimido e só. Dois de novembro de 1979. Dia de finados. A natureza abraça-se ao homem chorando profundamente. O ceu da baía é triste. É noite nos mares. A balsa que transporta passageiros Salvador a Bom Despacho está cheia. O som grave e estridente em mi bemol ecoa no infinito saindo das trombetas do ferryboat. É dada a partida. Em pleno mar, - travessia, um baque! Caíra um corpo. Foi um homem. Muitos viram. Até mesmo um seu conhecido. Foi Jorge Elion. Seus documentos provam o seu desaparecimento. Pois, sobraram para justificar a sua ausência dos postos do INSS, e dos Palácios da Justiça. Com o canto triste da natureza e soar dos atabaques, os peixes fazem a festa alimentando-se de carne humana. Depois desse jantar tardio esses mesmos peixes serão pescados. E certamente alimentarão os gananciosos do Recôncavo, -  da Baía de Todos os Santos. Até mesmo os antropófagos forasteiros da cidade de Santo Antônio de Jesus.





*Raimundo José Evangelista da Silva é filho da cidade de Santo Antônio de Jesus-BA, Prof. de Língua Portuguesa e Literaturas de Língua Portuguesa pela UCSal, com Especialização em Linguística Textual pelo Instituto Anísio Teixeira e Instituto de Letras da UFBa. É Bacharel em Direito pela Faculdade Baiana de Ciências, com Especialização em Advocacia Criminal pela Faculdade Verbo Jurídico - Porto Alegre. É Poeta e Cronista, tendo 5 livros publicados. Publicou em vários jornais. É ativista e tem um blog intitulado: Blogger Raimundo Evangelista.


Ciência política


Ciência política

A ciência política é o campo das ciências sociais que estuda as estruturas que moldam as regras de convívio entre as pessoas em agrupamentos. A ciência política dedica-se a entender e moldar as noções de Estado, governo e organização política, e pode estudar também outras instituições que interferem direta ou indiretamente na organização política, como ONGs, Igreja, empresas etc. Alguns teóricos restringem o objeto de estudo da ciência política ao Estado, outros defendem que o seu objeto é mais amplo, sendo o poder, em geral, aquilo que deve ser estudado por essa área.

O que é ciência política?

Existe uma grande área de estudos dentro das ciências humanas denominada ciências sociais. As ciências sociais são compostas pela sociologia, antropologia, psicologia social, economia e ciência política. A ciência política é a parte das ciências sociais que se dedica a tentar entender, exclusivamente, as formações políticas estruturais que o ser humano criou para garantir o convívio pacífico em grandes sociedades.
Herbert Baxter Adams foi o primeiro intelectual a pronunciar o termo ciência política.
Herbert Baxter Adams foi o primeiro intelectual a pronunciar o termo ciência política.
A ciência política é responsável por entender e moldar as questões relativas ao poder na sociedade, estabelecendo normas e preceitos para o pleno funcionamento das instituições sociais, da economia, do Estado e do sistema jurídico. Fica a cargo da ciência política a provisão intelectual e teórica de meios de ação do ser humano e das instituições que beneficiem a vida coletiva.

História da ciência política

Desde a Antiguidade clássica, o ser humano criou mecanismos de poder para garantir alguma estrutura de organização social. Apesar de ainda não existir uma ciência política na Grécia ou Roma antigas, textos de legisladores, governantes e filósofos, como Platão e Aristóteles, demonstram esforços intelectuais para entender e organizar o meio político.
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Durante o Renascimento, o filósofo e teórico político Nicolau Maquiavel desenvolveu estudos sobre o modo como um governante deve agir, expondo suas teorias no livro O príncipe, que é uma fonte bibliográfica fundamental para os estudos de ciência política. No século XVI, o jurista e teórico político francês Jean Bodin deu significativas contribuições para o entendimento dos mecanismos absolutistas.
No século XVII, notamos a importância das teorias do filósofo e teórico político Thomas Hobbes, também em defesa das estruturas políticas absolutistas. Ainda no século XVII, é o filósofo inglês John Locke quem imprime um grande salto nos estudos de teoria política, defendendo um liberalismo político necessário para permitir a evolução econômica da sociedade. Esse liberalismo não era compatível com a antiga política absolutista.
No século XVIII, os teóricos do iluminismo francês, filósofos como Montesquieu e Voltaire, foram responsáveis por uma renovação nas teorias políticas, defendendo uma noção de Estado mais justa, que expandisse a cidadania a um maior número de pessoas. São dessa época a defesa das liberdades individuais e a noção de tripartição do poder político dentro de um Estado democrático (ideia criada por Montesquieu).
No entanto, a delimitação da ciência política como campo autônomo e sistematicamente organizado somente ocorreu na segunda metade do século XIX, no contexto do nascimento das ciências sociais, em especial da sociologia e da antropologia. Até então, o que os teóricos políticos haviam feito pendia mais para especulações filosóficas do que para uma ciência.
Foi o filósofo francês Auguste Comte quem postulou a necessidade de uma ciência humana capaz de estudar rigorosamente a sociedade a fim de estabelecer mecanismos de progresso social. Com a evolução dos métodos relativos a essa ciência, que se deram com os estudos do filósofo, sociólogo e economista alemão Karl Marx e do filósofo e sociólogo francês Émile Durkheim, outros pensadores começaram a buscar novas delimitações que saíssem do eixo específico da sociologia e aprofundassem-se em temas semelhantes, mas específicos de suas áreas.
Essas novas subdivisões eram a antropologia, que surge, pela primeira vez, dos estudos de teóricos como os ingleses Edward Burnet Tylor e Herbert Spencer, e a ciência política, termo criado pelo historiador estadunidense Herbert Baxter Adams, em 1880.
Desde então, a ciência política estabeleceu-se como campo autônomo de estudo, tendo se fixado primeiro nos Estados Unidos e se desenvolvido bastante na França e na Alemanha. No Brasil, a ciência política somente passou a ser sistematicamente estudada e praticada autonomamente, sem estar formalmente vinculada ao estudo de sociologia, a partir da segunda metade do século XX.

A importância da ciência política

A ciência política lida com a atuação política de governos e estadistas.
A ciência política lida com a atuação política de governos e estadistas.
A ciência política é de extrema importância para o avanço do estudo dos mecanismos de poder. A atuação de políticos, sejam do poder Executivo, sejam do poder Legislativo, de juristas e de economistas ou pessoas ligadas ao grande mercado financeiro está diretamente ligada ao poder. Entender o poder é necessário para que haja avanço nas instituições políticas e para que se evitem os abusos de poder perpetrados pelo Estado, por governos ou por instituições financeiras. Para que os avanços nesse campo sejam efetivos, existem quatro conceitos básicos:
  • Cidade: são as primeiras instituições políticas que agruparam seres humanos por meio de uma estrutura jurídica bem definida. Com o nascimento da pólis (cidade-estado), na Grécia Antiga, surge a preocupação com a política.
  • Cidadania: é de extrema importância, enquanto noção, para a ciência política, e ela existe em qualquer formação política, variando apenas a abrangência do poder permitido por esse dispositivo. Na aristocracia, a cidadania é garantida a uma minoria escolhida supostamente por suas qualidades; na oligarquia, a um grupo maior que o aristocrático, escolhido pelo poder financeiro. No absolutismo, a cidadania restringe-se à figura do monarca. Na democracia, ela é distribuída entre todos que podem participar do sistema político.
  • Direitos: (civis e políticos) são objetos de estudos da ciência política em conjunto com a ciência jurídica (direito).
  • Estado: uma das mais importantes noções da ciência política, pois é ela que tenta entender as formas e estruturas políticas mais notáveis do tratamento político social.
Todos esses conceitos estão diretamente ligados à noção fundamental da ciência política de poder.

O curso de Ciência Política

Dentro dos cursos superiores de ciências sociais, existem as habilitações que concedem o bacharelado em Ciência Política. Também existem os cursos superiores em Ciência Política autônomos, ou seja, que não estão ligados diretamente a um instituto de Ciências Sociais.
A grade básica do curso compreende disciplinas como teorias políticas, estruturas políticas, teorias de Estado, tipos de governo, entre outras. Também compõem a grade básica dos cursos matérias relacionadas ao direito, à economia, à sociologia, à filosofia e uma grande parte de estudos vinculados à história.
Publicado por: Francisco Porfírio

Safo e as lésbicas da ilha de Lesbos

Literatura e cultura do Oriente Médio e do Mediterrâneo

 publicado em literatura por

 

Cassandra Gomes Hochberg

Safo e as lésbicas da ilha de Lesbos

Safo de Lesbos revolucionou a visão grega sobre como se comporta a mulher, dando origem aos termos lesbianismo e safismo. Na antiguidade estes termos carregavam conotações diferentes das de hoje, que foram manchadas por pensamentos e sentimentos medievais
Safo best.jpg
Safo, uma das primeiras poetisas do mundo ocidental e a mais conhecida da Grécia antiga, nasceu por volta do ano 630 AC na ilha de Lesbos, na Grécia. Foi considerada por Platão como a mais sábia e a musa grega. Seu nome e reputação deram origem aos termos safismo e lesbianismo. Na Grécia antiga, o termo lésbica se referia a ‘mulheres da ilha de Lesbos’ e o verbo no grego antigo lesbiar, significava ‘imitar as mulheres de Lesbos.’
O que faziam estas mulheres?
As mulheres de Lesbos ganharam notoriedade devido à mais ilustre figura da ilha, a poetisa Safo. Integrante da alta sociedade e extremamente culta, Safo organizou a primeira academia de mulheres, onde ensinava música, dança e poesia. Nestas sociedades, as mulheres eram consideradas hetaira, companheiras, e não meramente estudantes. Estas se ocupavam em estudar, compor e declamar poesias, atividades estritamente masculinas para a época. Safo e suas companheiras se inspiraram nas grandes obras, como o Ilíada e a Odisséia de Homero, e criaram um novo ponto de vista na obra grega: aquele da mulher.
As obras gregas são marcadas por grandes figuras femininas, como as deusas Atenas e Afrodite, e as mortais Penélope, Helena, Andrômaca e muitas outras. Mas todas são construídas sob a ótica masculina. O mundo feminino da Grécia Antiga é um mundo entre quatro paredes, domiciliar, ao lado do tear, a espera do retorno do marido ou lamentando pela morte de entes em batalhas. Safo, por outro lado, fala sobre a experiência de ser mulher e mostra o mundo dos sentimentos, da cultura, da admiração à natureza, aos homens e às mulheres. Lesbiar, ou imitar as mulheres de Lesbos, significava deixar o ambiente domicilar e adentrar o mundo da cultura, debate e sexualidade restrito apenas aos homens.
“Alguns homens dizem ser as cavalarias, outros dizem ser os soldados, e outros dizem ser as naus a coisa mais bela sobre a terra negra. Mas eu digo que o mais belo é o que amamos” - Safo - safo best 2.jpg
Safo, a lésbica
Safo e suas companheiras eram lésbicas, pois nasceram na ilha de Lesbos. Agora, se mantinham relações sexuais com outras mulheres é uma pergunta muito debatida por historiadores da Grécia antiga. Os poemas de Safo continham descrições eróticas e declarações de amor às suas companheiras, principalmente Átis, que foi retirada da academia por seus pais devida à reputação cada vez mais liberal e até rebelde que o grupo recebia. Porém, o grupo também era conhecido por compor poemas para os casamentos das integrantes, assim que terminassem seus estudos.
Safo e suas companheiras lésbicas não ganharam notoriedade na época devido apenas à homossexualidade. Os habitantes da Grécia Antiga não se chocavam com declarações homoeróticas, pois estas eram normativas. Na idade média, devido às íntimas descrições, Safo foi tachada primeiro como prostituta, como uma louca que só pensa em sexo, e grande parte dos seus textos foram queimados por monges e padres medievais. Podemos responsabilizar o pensamento atrasado medieval não apenas pela destruição dos trabalhos de quem Platão chamava A Musa Sábia, mas também pela conotação negativa que foi dado às mulheres que amam e se relacionam sexualmente uma com as outras, e à homosexualidade em geral. A triste realização de que em pleno século XXI ainda nos deparamos com opiniões fortemente baseadas em construções medievais não é novidade. Mas o retorno a raiz dos conceitos ajuda a quebrar dogmas e sentimentos construídos independente de razão.
A notoriedade de Safo na antiguidade foi devida ao fato de ser uma mulher muito ousada e independente, que escrevia abertamente sobre o sexo e que admirava as mulheres.
"Quantos pensamentos inquietos me lembram A estéril Átis e eu desejo a esbelta Tristeza devora minha alma. De longe chega à nós O som do seu choro agudo, e não é Ignorado, pois a noite os que ouvem levam À nós pelos mares correntes” - Safo - Safo1.jpg
Safo no contexto da Grécia Antiga
Mesmo que Safo, sendo mulher, conseguiu se destacar entre os sábios da Grécia Antiga, a mesma era ainda uma sociedade machista e relativamente misoginia. As mulheres eram consideradas muitas vezes como uma maldição, um mal necessário. Obras como Teogonia, de Hesíodo, uma espécie de Genesis da Grécia Antiga, reconta a criação das mulheres com o mito de Pandora. Pandora, a primeira mulher da humanidade, foi criada como um castigo para os homens que tentaram roubar a tocha de fogo de Zeus. Zeus então amaldiçoou os homens da forma mais perversa de todas: criando as mulheres. Antes os homens viviam em paz e serenidade, Hesíodo conta, até o surgimento de Pandora, que abriu a sua caixa e espalhou apenas sofrimento, tirando dos homens o sossego, gastando suas reservas, fazendo fofocas e os obrigando a ter que trabalhar o resto da vida. A visão mais positiva das mulheres que podemos encontrar nas obras gregas clássicas como Homero é aquela da boa esposa, a mulher submissa que não discute com o marido e não sai de casa, que o objetivo principal é organizar o domicílio e economizar.
Portanto, Safo revolucionou o mundo grego primeiramente por ser ousada e culta e devido à criação da nova mulher: uma mulher que também pode estudar as obras clássicas, criar poemas, organizar sociedades que debatem algo além das obrigações domiciliares e principalmente, apreciar a existência das mulheres, as colocando como um presente, e não uma maldição, dos deuses gregos
Cassandra Gomes Hochberg é engenheira por formação, escritora e nômade por vocação. Mas o que gosta mesmo é de ler, de bater boca sobre política e do Oriente Médio. Tenta ser romancista e escreve sobre literatura e cultura..
Saiba como escrever na obvious.

A Eterna Maravilha do Planeta Azul - CROÁCIA


Croácia em 15 dias: o roteiro da Mirian


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Viaje na Viagem
por Viaje na Viagem
Lagos Plitvice - Park Plitvi_ka Jezera
Parque Nacional dos Lagos Plitvice
Ao organizar uma viagem para o Canadá, a Mirian se deparou com uma foto da Croácia que virou sua cabeça e provocou uma mudança de planos na hora. Foi difícil conseguir selecionar quais destinos visitar entre tantos lugares interessantes, mas depois de muito pesquisar e negociar com seus companheiros de aventura, ela conseguiu fechar um roteiro redondinho de 15 dias pelo país que virou a sensação do verão europeu. A Mirian viajou com o marido e o filho em agosto de 2015 e voltou encantada com o que encontrou por lá. Vai pela Mirian:
Texto e fotos: Mirian di Nizo

Croácia em 15 dias: definindo o itinerário

A Croácia entrou nos meus planos há pelo menos 15 anos, numa conversa com um amigo que, mesmo sem nunca ter ido, conhecia muito e falava desse país com um brilho contagiante nos olhos.
De lá para cá, eu e meu marido nos tornamos verdadeiros amantes das viagens, mas sempre colocamos os destinos mais renomados na frente, aqueles que fazem parte da lista de todos os mortais dos “lugares no mundo que não se pode morrer sem conhecer”, na Europa e Estados Unidos com uma única saída mais “exótica” para a Rússia.
Dezoito países depois, no momento em que pesquisávamos sobre nossa viagem da vez para o Canadá, me deparei com uma imagem no Instagram que instantaneamente me fez rever os planos: era o Parque Nacional dos Lagos Plitvice, na Croácia. Feita a devida mudança de planos, não sem antes reunir uma lista enorme de razões para conquistar o marido para a mesma empreita, comecei a planejar os 15 dias de férias mais deslumbrantes que tivemos na vida.
Como organizadora oficial das viagens lá em casa, de cara minha maior dificuldade foi decidir quais cidades cortar do cardápio de desejos. Apesar de ser um país bem pequeno em território e população, pouco maior que o estado do Rio de Janeiro, minha primeira lista alcançou o número impossível de 15 lugares indispensáveis.
Meu bom senso, aliado à força dos bons argumentos do parceiro de viagem, que lembrou que tínhamos apenas 15 dias de férias, me convenceram que teria que “cortar na carne”. Normalmente sou muito prática, corto e ponto, mas com a Croácia vivi dias de “sofrência” intermináveis, colocando e tirando coisas da lista, até chegar ao número reduzidíssimo de 5 “cidades-base”, suficientes para curtir bem as escolhidas, seus arredores e com tempo para fazer os traslados de uma base para outra (sem nada de descanso, para desespero do marido). Assim, por ordem geográfica, partindo do norte para o sul, permaneceram: Zagreb, Zadar (já contando com um bate-volta para os Lagos Plitvice), Split, a Ilha de Hvar e finalmente Dubrovnik.

Um pouco de história

Só para situar, a Croácia fez parte da Iugoslávia durante boa parte do século XX e recuperou sua independência na guerra que acabou apenas em 1991. Mas não se vê sinal do conflito por qualquer lugar que se passe, exceto nos museus que contam um pouco de sua incrível história de séculos de ocupações, que deixaram uma herança cultural riquíssima, principalmente do período do Império Otomano e da tomada por Veneza. Há vestígios de atividade humana na Croácia de mais de 3.000 anos.

Zagreb

Zagreb Igreja de São Marcos Crkva sv. Marka
Igreja de São Marcos em Zagreb
A primeira cidade que visitamos, Zagreb, tornou-se capital da Croácia apenas em 1991, antes fazia parte da Iugoslávia quando a capital era Belgrado na Sérvia. Normalmente menosprezada pelos turistas sempre em busca das praias do Mar Adriático, era a cidade que eu tinha mais dúvidas e foi escolhida apenas por ser a capital e principal porta de entrada do país. Por sorte permaneceu nos planos! Ela é jovem, tem uma vida noturna pujante, com ruas e calçadas elegantes repletas de bares com mesas nas calçadas, lojinhas, restaurantes típicos e muitos, muitos museus e monumentos históricos perdidos entre Gonji Grad e Donji Grad, como são conhecidas respectivamente, a cidade Alta e Cidade Baixa.
Em Zagreb, descobrimos que foram os croatas os inventores da gravata. Os franceses se apaixonaram pelo adereço e só disseminaram e deram uma melhoradinha na moda que persiste até hoje. Umas das atrações mais procuradas na Cidade Alta é a Rua Tkalciceva (não me peçam pela pronúncia, please?), charmosa, repleta de turistas e locais procurando espaço em um dos atraentes cafés e restaurantes com mesas ao ar livre. É um dos points mais animados do dia e da noite de Zagreb.
Outro destaque entre os turistas é a Igreja de São Marcos, gótica, com seu telhado colorido que forma os brasões de armas da Croácia, tornou-se um dos símbolos do país. Perto dali, fica o Museu dos Relacionamentos Terminados (em inglês, The Museum of Broken Relationships), uma espécie de “museu do amor ao contrário”, reúne os mais divertidos e, às vezes, tristes, objetos e relatos que fizeram parte de relações amorosas que chegaram ao fim. Entre eles, algumas descrições são divertidíssimas, como a encontrada ao lado de uma cinta-liga, que dizia: "Eu nunca a usei. Talvez o casamento tivesse durado mais se eu tivesse usado". Após 2 dias inteiros na capital, partimos para Zadar.
Museu dos Relacionamentos Terminados
  • Cirilometodska ul. 2 | +385 1 4851 021 | Todos os dias das 9h às 21h, fechado no Natal, Ano Novo, Páscoa e Dia de Todos os Santos | 30 kn

Zadar

Zadar The Greeting to the Sun Saudação ao Sol
Saudação ao Sol em Zadar
Zadar entrou para o roteiro devido aos dois pontos turísticos mais recomendados durante o planejamento: o Órgão do Mar (Sea Organ) e o Saudação ao Sol (The Greeting to the Sun).
O Sea Organ é uma construção simples e ao mesmo tempo incrível feita pelo homem (no caso, o arquiteto e artista local Nikola Basic), que conta com uma ajudinha da natureza para se tornar única no mundo. Basicamente, são tubulações gigantes encravadas numa escadaria de pedras à beira mar. O ar é empurrado pela força da água para dentro dos tubos, produzindo sons aleatórios e contínuos. Como o som depende do volume de água, da velocidade e do tempo entre uma onda e outra, nunca se ouvirá a mesma melodia. É um espetáculo sem fim, orquestrado pela mãe natureza e pela imaginação do homem.
Perto do pôr do sol, que no verão pode ser às 9 da noite, o show fica ainda mais bonito. A beleza do crepúsculo no horizonte, aliado àquela música um tanto quanto melancólica, leva uma verdadeira multidão de pessoas para o local. Como disse o legendário cineasta britânico Alfred Hitchcock quando passou pela cidade “enquanto o sol se põe, um silêncio contemplador toma conta das pessoas e tudo que se pode ouvir é a música do Adriático, tocada pelo Órgão do Mar”. Já eu, digo que, enquanto estamos ali, sentadinhos, quietinhos, apreciando este maravilhoso espetáculo de verdadeira conexão do homem com a natureza, é impossível não deixar rolar uma lágrima contente de agradecimento por... sei lá, por qualquer coisa que você acredite.
A Saudação ao Sol (The Greeting to the Sun), também não decepciona. Muito próximo ao “órgão”, um círculo gigante no chão, formado por 300 placas de vidro, armazena a energia solar durante o dia. Quando anoitece, é só apreciar o jogo de luzes e cores. Mais uma loucura da mente fértil do Nikola Basic.
Zadar - Zeleni Trg - Fórum Romano
Zeleni Trg em Zadar
Além dessas duas atrações, Zadar é mais uma das diversas cidades muradas que se pode encontrar na Croácia. Dentro de seis portões reside todo o burburinho de lojas, restaurantes, bares e a coleção magnífica das ruínas do Fórum Romano, remanescente do período em que a Croácia pertencia a Veneza.

Parque Nacional dos Lagos Plitvice

Lagos Plitvice Park Plitvika Jezera
Parque Nacional dos Lagos Plitvice
Aproveitando os 3 dias que ficamos em Zadar, fizemos um bate-volta para um dos destinos mais impressionantes e visitados da Croácia, o Plitvicka Jezera, ou, em bom português, Parque Nacional dos Lagos Plitvice. Foi ver uma simples foto deste local que nos fez mudar nossa ideia de destino de viagem inicial (ok, o Canadá continua nos planos). Ao chegarmos neste que é o maior entre os oito parques nacionais presentes no país, descobrimos a nacionalidade de Deus: definitivamente ele é croata.
Lagos Plitvice Park Plitvika Jezera
Trilhas pelo Parque Nacional dos Lagos Plitvice
Com uma área de quase 300 quilômetros quadrados, o parque entrou para a lista de Patrimônio Natural da Humanidade pela UNESCO em 1979. Não é para menos: são 16 lagos conectados por trilhas, ladeadas pelas mais lindas paisagens e cachoeiras. O mais impactante é a cor da água, cristalina, às vezes verde, às vezes azul céu, às vezes turquesa...enfim, de deixar qualquer caribenho de queixo caído.
Logo na entrada do parque os visitantes recebem um mapa com as diversas trilhas possíveis de serem percorridas. Como tínhamos apenas 1 dia, escolhemos um dos percursos mais leves de 5 quilômetros que levamos impressionantes sete horas para percorrer, dadas às inúmeras paradas que fizemos pelo caminho e que resultaram em algo como umas mil fotos. Aviso de amiga: caso tenha interesse em viajar para a Croácia, e não quiser ficar chorosa como eu, este parque merece mais de um dia de visita.
Parque Nacional dos Lagos Plitvice
  • Tel. +385 0 53 751 015 | Todos os dias das 7h às 20h | de 55 a 180 kn adulto, dependendo do período do ano. Descontos proporcionais são aplicados para os passes de dois dias. Consultar o site oficial.

Split

Split
Slipt
A próxima parada foi Split. Segunda maior cidade da Croácia e a mais importante entre as Dálmatas. Hein? Dálmatas? Sim, não sei se os lindos cachorros brancos com pintas pretas têm algo a ver com isso, mas essa estreita faixa litorânea, entre as montanhas e o Adriático, é conhecida como Dalmácia. Então, quem nasce ali é dálmata. Olhando para o mapa, Split fica bem no centro dessa faixa litorânea do país. Em frente a ela, no mar Adriático, centenas de ilhas paradisíacas estão disponíveis: Hvar, Vis, Brac e Korcula são as mais famosas, mas não são as únicas.
Split respira história antiga e o principal símbolo da cidade é o incrível e preservadíssimo Palácio de Diocleciano, que nos dias atuais tornou-se outra cidade murada. Diocleciano foi o imperador romano que governou entre 293 e 305 d.C. O burburinho de Split é grande dentro do palácio. Se for no verão, prepare-se, parece que você está na estação Sé do metrô de São Paulo.
Aconselho se hospedar lá dentro das muralhas mesmo e ficar ao lado das várias ruazinhas de paralelepípedos, becos, lojas, restaurantes, bares, praças e monumentos que contam mais de 2.000 anos de história, como a Catedral de São Domingos e a estátua de Gregório de Nin.
Hvar
Hvar

Hvar

Hvar
Hvar
De Split, pegando um ferry de pouco mais de duas horas até chegarmos numa das ilhas mais festejadas da Croácia, Hvar (pronuncia-se Ruár). Bem perto do porto, a praça Svetog Stjepana é onde pulsa toda a vida da cidade, com suas baladas que saem porta afora dos minúsculos bares e avançam até as 11h do dia seguinte.
Dali de Hvar, pequenas embarcações fazem bate-volta para as ilhas nos arredores. Fizemos um passeio para a famosa Gruta Azul na Ilha de Biševo. O barco passa por dentro da impressionante gruta, com águas de azul intenso. No mesmo passeio, vamos parando por outras atrações imperdíveis, como a Gruta Verde, a Ilha de Vis e a Ilha de Palmizana.
Hvar - Fortaleza de Sponjola
Fortaleza de Sponjola em Hvar
Foi em Hvar que pisei pela primeira vez na praia da Croácia. “Praia” é só modo de falar, porque não tem areia, somente pedras, mas quando digo pedras eu digo pedregulhos mesmo, grandes, pontudos, mal se consegue andar. Por isso, as esteiras que os croatas usam são emborrachadas (parecem aqueles tapetinhos de fazer Yoga) e, necessariamente, você precisa comprar uma espécie de papete, também emborrachada, se quiser andar até chegar na água. Para piorar, apesar do calor que bate os 40 graus facilmente no verão, o mar trinca de gelado. Mesmo com tudo isso, foi impossível resistir àquela água cristalina e de azul profundo. Saímos com muitos arranhões, mas sem nenhum arrependimento.

Dubrovnik

Dubrovnik - Hotel Neptun
Dubrovnik: Hotel Neptun
Nossa última parada foi Dubrovnik. Para essa etapa, reservamos 4 dias, pois além da cidade ter muitos atrativos, dali se pode fazer passeios rápidos para outros pontos interessantes ao redor, como Trogir e até mesmo para países, como Montenegro e Bósnia.
Foi a única cidade que decidimos não ficar dentro das muralhas, de tanto que ouvimos que as escadarias eram gigantescas para chegar aos hotéis (na verdade, habitações transformadas em hotéis).
Um dos primeiros passeios que fizemos foi pegar o teleférico até o Monte Srd (a pronúncia é algo perto de Sârdj). Ele voltou a funcionar há pouco tempo, pois foi destruído em 1991, durante a guerra. Com 412 m de altura, o percurso dura menos de cinco minutos, mas a vista fica para sempre. Dá para ver toda a cidade murada, o mar, as ilhas e as montanhas da Bósnia e Herzegovina que ficam muito próximas da cidade.
Teleférico de Dubrovnik
  • Frana Supila 35a, 20000 | +385 20 325 393 | Todos os dias a partir das 9h, de junho a agosto até às 00h | 120 kn adulto
De volta à terra, o que “importa” mesmo em Dubrovnik fica exatamente dentro das muralhas antigas, que mais lembram os labirintos e ruelas de Veneza. Aliás, Dubrovnik é toda veneziana, tanto em sua arquitetura quanto na gastronomia. Não é mera coincidência. A cidade pertenceu à Veneza lá pelos idos dos séculos XIII e XIV.
O mais imperdível entre tudo o que se pode fazer na cidade é percorrer as muralhas que circundam todo o castelo/cidade. Boa parte construídas entre os séculos XV e XVI, alguns trechos existiam bem antes disso. Com até 25 metros de altura em alguns pontos, hoje elas cercam toda a Velha Dubrovnik, num percurso de cerca de 2 quilômetros. Você literalmente caminha por cima do muro. A visão é a mais deslumbrante que se pode esperar, de um verdadeiro e único castelo medieval. Para ficar igualzinho aos castelos dos filmes e desenhos animados, falta apenas a pontezinha sobre o rio cheio de crocodilos.
Muralhas de Dubrovnik
  • Gunduliceva Poljana, 2| +385 20 324 641 | Aberto todos os dias, exceto Natal, a partir das 8h | entrada franca com o Dubrovnik City Card
E por falar em filme, as cenas das cidades de Qarth, a Fortaleza Vermelha e a Baía da Água Negra, locais de algumas das intrigas e batalhas da série Game of Thrones, foram todas filmadas em cenários reais de Dubrovnik. Passeios guiados lotados de turistas visitam os cenários reais várias vezes ao dia.
Dubrovnik é um lugar para se perder, para flanar, caminhar pela Placa Ulica (ou Stradun), a principal rua da cidade, com suas pedras que brilham como que enceradas diariamente. É um lugar ímpar, que combina a beleza natural do mar em seus calcanhares, com arquitetura e história únicas. E, como em quase tudo na Croácia, não existe decepção e você não precisa se preocupar com roteiros. É só viajar!
Dubrovnik - Zicara - liga o Centro Histórico ao Monte Srd
Teleférico de Dubrovnik
Mirian, obrigada pelo super relato!

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84 comentários

Daniella Lucas
Daniella LucasPermalinkResponder
LAGOS PLIVTICE
O lugar é muito bonito!
Chegamos em um sabado a tarde, viemos de carro saindo de Zagreb. Fizemos o download do mapa no Google Maps e viemos tranquilamente...ouvimos relatos de outras pessoas que usaram outros app e se perderam. Se você colocar o parque no google maps ele vai te levar ate um ponto da estrada que ja esta dentro do parque, mas não na entrada, não se apavore, siga em frente mais um pouco e você chegara na entrada 1 do parque e mais um pouco a entrada 2.
Estávamos em 1 casal e nosso plano era fazer a parte de cima do parque (Trilha E) no que restava do sábado, por isso fomos direto pra entrada 2, que fica mais perto desta trilha e no domingo fazer a maior caminhada na parte de baixo do parque, o que inclui a maior cachoeira.(Trilha B)
Para 2 pessoas, com os 2 dias de visitação, pagamos 320 kn (+-50 €) nas entradas.
Fizemos a trilha E, com duração de +- 2 horas...vc vai bem devagar contemplando a natureza, vendo as inúmeras quedas d'água...tudo isso caminhando por decks de madeira sob a água ou por caminhos beirando os lagos. Tudo muito tranquilo, silencioso e muito fácil, não tem muitas subidas íngremes e podemos ver muita gente de idade fazendo a caminhada.
Nessa primeira " tarde" gastamos 32 kn (+-5 €) de estacionamento.
No dia seguinte, domingo, levantamos cedo, mas o tempo estava chuvoso e gelado (+-10°C). Mesmo assim colocamos capa de chuva e fomos para o parque disposto a fazer a parte de baixo. A chuva atrapalhar um pouco, mas a beleza continua lá!!! Devido a chuva ter aumentado e ficarmos com medo de ficar resfriados (tinhamos mais dias de viagem), optamos por fazer uma trilha menor (Trilha A / +- 1,5km), mas que ainda passa pela cachoeira principal. Valeu muito a pena a cachoeira principal é incrível, com um tempo ensolarado deve ser melhor ainda !
Nesse segundo dia, como fizemos a trilha curta e ja voltamos para o hotel, gastamos 16 kn (+-2€) de estacionamento.
O parque é muito bem sinalizado, limpo e tranquilo.
Dica: se precisar ir no banheiro, vá nos disponíveis no começo das trilhas no meio do percurso não há banheiros e nem lanchonetes.
Vale muito a pena o passeio !!!
WALTER ARMANDO MARTINELLI
Adorei os relatos, pretendemos ir em final de agosto e parte de setembro usando carro a questão é : é fácil entrar e estacionar o carro nas cidades muradas e nos locais de passeio a pé ? Existem estacionamentos seguros? pois as malas ficarão no carro Att
A Bóia
A BóiaPermalinkResponder
Olá, Walter! Em viagens pela Europa, nunca deixe nenhuma bagagem aparecendo no carro. Tente evitar ao máximo paradas em cidades com o carro carregado com bagagem. Existem quadrilhas especializadas em identificar os carros alugados e procurar vestígios de bagagem.
Vamos compartilhar sua pergunta no Perguntódromo. Havendo resposta, aparecerá aqui.
Amanda Sanchez
Amanda SanchezPermalinkResponder
Oi, Walter!
Não é fácil estacionar, não! Dentro das cidades só podem entrar carros locais, que tenham autorização. Sério, é ilegal. Além disso o número de vagas é completamente insuficiente para o número de carros.
Utilizei estacionamento privado dos hotéis quando disponível (alguns gratuitos e outros pagos, chegando a 20 euros por dia) e também estacionamentos públicos.
ESTACIONAMENTOS PÚBLICOS:
Nos estacionamentos públicos é preciso comprar o ticket numa máquina (algumas aceitam cartão, outras só kunas - geralmente há mais de um tipo de máquina em cada estacionamento, dê uma procurada) e deixar este ticket visível no painel do carro.
O valor é proporcional ao tempo que você irá deixar o carro e há um tempo máximo para ficar estacionado, geralmente 3 horas. Porém, o horário de uso do ticket não costuma incluir o período noturno, então se você comprar 3 horas e deixar o carro faltando uma hora para "fechar" o estacionamento ainda terá 2 horas de uso pela manhã. O horário de retirada do carro vai aparecer impresso no seu ticket.
Quanto às malas, não recomendo. O único lugar que deixei as malas no carro foi no estacionamento dos Lagos Plitvice e não tive problemas. Nas ruas e estacionamentos públicos eu evitaria!

Bucareste

Bucareste

Após sair de Bran, na Transilvânia, percorri 184 km até chegar em Bucareste. A capital da Romênia ainda tem algumas cicatrizes do regime comunista do ditador Nicolae Ceausescu. No entanto, ela está em transformação e tentanto se reinventar. Não é à toa que o jornal espanhol El País a considerou "uma das cidades europeias mais atrativas ainda a ser explorada pelos turistas".
Bucareste já foi chamada de "A Pequena Paris", devido a forte influência francesa. Ainda existem algumas remanescências dessa época. Uma delas é uma réplica do Arco do Triunfo (Arcul de Triumf, em romeno). Neste local, inicialmente, foi construido um arco de madeira para comemorar a independência da Romênia. No entanto, depois de uma substituição e de uma demolição, foi construído o arco atual, que possui 27 metros de altura.
romenia-bucareste-arco-triunfo-site.jpgArco do Triunfo, em Bucareste
Uma das características desta cidade são seus belos parques. Este arco fica junto a uma das entradas do parque Herastrau (Herastrau Park), também conhecido por parque Rei Michael I. Ele é um imenso parque localizado no lado norte da cidade ao redor do lago Herastrau, um dos lagos formados pelo rio Colentina.
Como estou em ritmo de treinamento para a maratona de Atenas, em novembro, durante o período em que estive por aqui estacionei o batimóvel nesta área. Assim, antes das visitas, aproveitava para treinar.
Na primeira noite, aproveitei para visitar três pontos turísticos famosos da cidade. O primeiro foi o Palácio do Parlamento ou, simplesmente, o Parlamento da Romênia (Palatul Parlamentului, em romano), que é, sem dúvida, o cartão postal de Bucareste.
Esta megalomaníaca obra foi construída na gestão do ditador comunista Nicolae Ceausescu, o qual exigiu que todos os materiais usados na construção (mármore, granitos, madeiras, etc) fossem nacionais. Ele é o maior palácio do mundo e o segundo maior edifício, ficando atrás apenas do Pentágono, nos EUA.
Outra das remanescências da chamada "A Pequena Paris" é a grande avenida que chega até o palácio, a qual foi inspirada na Champs-Élysées. Ela chama-se Bulevardul Unirii. Com seus prédios clássicos do período comunista, em seu centro, as fontes dividem espaço com os carros.
romenia-bucareste-parlamento-2.jpg
Palácio do Parlamento, em Bucareste
O segundo, foi o prédio do Banco Nacional da Romênia. Perfeitamente simétrico, este lindo edifício, em estilo renascentista francês, possue, em sua entrada, duas estátuas e uma coluna grega. Já, nos cantos do prédio, outras quatro que simbolizam a Agricultura, a Justiça, a Indústria e o Comércio.
romenia-bucareste-palacio-site.jpgBanco Nacional da Romênia
Para finalizar as visitas noturnas, fui assistir ao show das "Águas Dançantes", na praça Unirii (Unirii Square) ou praça do Chafariz, como é popularmente conhecida. Um detalhe: o show somente acontece nos finais de semana.
Neste evento, com duração aproximada de uma hora, as "águas coloridas" das fontes parecem realmente  "dançarem" ao som, em alto decibéis, de músicas populares e clássicas. Centenas de famílias, inclusive com crianças de colo, dirigem-se à praça para assisti-lo. Vale a pena assistir. É muito lindo! 
romenia-bucareste-fonte-site.jpgFonte das Águas Dançantes, em Bucareste
Outro passeio imperdível em Bucareste é o do Centro Histórico (Distrito Lispcani) e foi para lá que fui no dia seguinte. Logo na entrada, encontra-se a estátua da Loba Capitolina (Lupa Capitolina), doada pela cidade de Roma à Bucareste. Segundo a lenda, ela teria amamentado Rômulo e seu irmão gêmeo, Remo.
Esta famosa estátua é um símbolo para a origem divina do fundador de Roma (Rômulo), o filho do deus da guerra Marte. Ela também simboliza e a reivindicação da eternidade, da cidade e do império. 
romenia-bucareste-romulo-e-remo-site.jpgA Loba Capitolina e os gêmeos Rômulo e Remo
Continuei meu passeio pelas ruelas do pequeno, mas simpático centro histórico, até chegar à região da antiga Corte Principesca (Curtea Veche), a qual foi construída, no século XV, por Vlad Tepes, "O Empalador" ou Vlad Drácula.
As ruínas estão fechadas para reforma, mas, mesmo de longe foi possível perceber que, lá dentro, encontra-se uma estátua deste que, para muitos romenos, foi um grande herói por ter combatido o império Otomano, no entanto, para outros, foi um apenas um dos mais cruéis e sanguinários monarcas e, talvez por isso, seu nome está associado às estórias do Conde Drácula.
romenia-bucareste-estatua-site.jpgEstátua de Vlad Tepes, o "Empalador", em Bucareste
Ao lado, fica a linda igreja de Santo Antônio (Biserica Curtea Veche). Esta igreja ortodoxa é considerada a igreja mais antiga da cidade, sendo que no seu interior existem afrescos do século XVI. Foi nela que os príncipes romenos foram coroados. 
romenia-bucareste-igreja-santo-antonio-site.jpgIgreja de Santo Antonio, em Bucareste
Continuei caminhando até chegar na famosa e moderna livraria Carrosel da Luz (Carturesti Carusel), com seis andares, ela está instalada em antigo edifício do século XIX.
De acordo com o site Bored Panda, é possível encontrar nesta belíssima livraria mais de 10 mil livros, além de 5 mil CDs e DVDs. Na cave há um espaço multimédia e no primeiro andar foi instalada uma galeria de arte moderna.
romenia-bucareste-livraria-inteior-site.jpgInterior da livraria Carossel da Luz
Após, entrei na rua Stavropoleos. Aqui fica uma pequena, mas lindíssima igrejinha cujo nome é igreja de Stavropoleos (Biserica Stavropoleos, em romeno). Ela foi construída em estilo brâncovenesc (construções do Renascimento romeno, da época do príncipe Constantin Brâncoveanu). Os patronos da igreja são os Arcanjos Miguel e Gabriel.

romenia-bucareste-igrejinha-site.jpgIgreja de Stavropoleos, em Bucareste
O seu interior também é lindo. No teto da cúpula, existe esta belíssima imagem de Jesus Cristo.
romenia-bucareste-teto-igreja-site.jpgImagem de Jesus, no teto da igreja de de Stavropoleos 
Na mesma rua, está localizada uma das cervejarias mais antigas de Bucareste, a centenária Caru cu Bere. Este bar e restaurante foi inaugurado em 1879 e transferido para o local atual, um edifício de revitalização gótica projetado pelo arquiteto austríaco Siegfrid Kofczinsky.
romenia-bucareste-cervejaria-site.jpgCervejaria Caru cu bere, em Bucareste

quarta-feira, 15 de julho de 2020

Impacto das epidemias na história da humanidade: uma breve reflexão


Impacto das epidemias na história da humanidade: uma breve reflexão

Ao longo de milênios enfrentamos epidemias em situação bem menos favorável e chegamos até aqui. Ou seja, superamos a peste, a cólera, a varíola, a poliomielite




Fiocruz Amazônia/Reprodução
(foto: Fiocruz Amazônia/Reprodução)

Vivemos um momento de grande tensão nos dias atuais na eminência de uma epidemia. As informações e notícias sobre a evolução da epidemia invadem as redes sociais e os noticiários de todas os meios de comunicação.

Exacerba-se o temor, a sensação de finitude, a insegurança existencial e o medo do amanhã. Mas, toda esta angústia se justifica? Afinal, ao longo de milênios enfrentamos epidemias em situação bem menos favorável e chegamos até aqui. Ou seja, superamos a peste, a cólera, a varíola, a poliomielite etc., em momentos históricos onde não dispúnhamos de praticamente recurso algum para tratar essas doenças.

A humanidade vem sobrevivendo a despeito da ignorância, agressividade e espirito animalesco que permeia muitas de nossas condutas. Guerras são o fruto da epidemia da insensatez, que dizima mais que vírus e bactéria.
Este é o assunto desta semana. O que de positivo aprendemos com as epidemias ao longo da história da humanidade. Como as epidemias influenciaram hábitos e mudaram padrões de comportamento. Enfim, o que os vírus e bactérias nos ensinaram ao longo de nossa evolução?
As doenças infecciosas condicionaram a existência humana de várias maneiras. Seja dizimando populações, promovendo êxodos, propiciando miscigenação, fortalecendo ou enfraquecendo povos, as doenças infecciosas implacavelmente influenciaram o destino da humanidade.
Assim como a humanidade, as doenças infecciosas nasceram na África. Fugindo de doenças, intempéries e guerras, o  homem saiu da África em direção a Europa, Ásia  e demais continentes.

A criação de cidades facilitou a transmissão das doenças infecciosas, criando também as epidemias. Grandes aglomerações, guerras e desastres naturais precedem geralmente grandes epidemias. O progresso da humanidade, de certa forma, facilitou a disseminação das doenças.
Estamos hoje reescrevendo a história da humanidade utilizando conhecimentos oriundos da arqueologia, aliados a técnicas de biologia molecular que nos ajudam a identificar a relação das doenças infecciosas à história da humanidade.
O resgate de microrganismos que infectaram animais ancestrais ajuda a esclarecer nossa existência e nos preparar para o futuro. Podemos entender doenças que cometeram desde hominídeos até o homem moderno.
Os microrganismos identificados em sítios arqueológicos mostram nossa rota migratória pelo planeta e o caos instaurado por eles em determinados momentos da história.
Mas, quem são os verdadeiros responsáveis por estas epidemias? Os vírus? Os fungos? As bactérias? Os desastres naturais? As guerras? O modelo econômico? O porco, o frango, o rato, o piolho? ou o próprio homem e suas decisões?

Pois bem, o que estes microrganismos causadores de grandes epidemias nos deixaram de legado, se é que podemos chamar de legado?
Comecemos pelo vírus da Varíola, que causou epidemias no século 16 ao século 18. As populações indígenas das Américas foram devastadas por epidemias tanto de varíola, quanto pelo sarampo, quanto pelo vírus da Influenza. Trazidas pelos colonizadores europeus, devastou as populações indígenas das Américas.
Entretanto a varíola foi uma das primeiras doenças infecciosas erradicadas pela tecnologia humana, possivelmente a poliomielite e o sarampo também serão nas  próximas décadas. A varíola, que atualmente encontra-se erradicada do planeta, teve o início do seu controle a partir dos trabalhos realizados pelo médico e pesquisador Inglês Edward Jenner ainda no século 18.
Jenner inoculou o vírus da varíola bovina em seres humanos, repetindo prática que aprendera na Ásia. Vista inicialmente com ceticismo na Inglaterra, esse procedimento passou a ser praticado em toda Europa, sendo fundamental para o controle dessa doença nos dias atuais.
Aprendemos aqui, a importância do intercâmbio de informações e de ousarmos cientificamente. A epidemia de varíola e o seu subsequente controle evidenciou a nossa capacidade de superar as doenças infecciosas, por mais catastróficas que elas sejam.
Da mesma forma, as epidemias de Gripe de 1918 (Gripe Espanhola), 1957 (Gripe Asiática) e de 1968 (Gripe de Hong Kong), causaram mais 750 mil óbitos.
Para combater essas epidemias, foram desenvolvidas vacinas, antivirais e programas especiais de prevenção pelos governos de todo o mundo. Apesar de todo o conhecimento acumulado ao longo de quase um século e de toda tecnologia disponível, o vírus da Influenza ainda se associa a cerca de 2 milhões de óbitos por ano em todo o mundo.
O que aprendemos com essa epidemia?! Não basta termos vacinas e medicamentos, se estes não chegam para todos, particularmente para as populações mais vulneráveis.

Outra epidemia viral com a qual estamos convivendo nos dias atuais é a Aids. Apesar de dispormos de métodos diagnósticos, prevenção e tratamento altamente eficazes, milhares de pessoas ainda se infectam e morrem todos os anos por essa doença surgida na década de 80 do século passado.
Aprendemos em todos os sentidos com a Aids. Quebramos tabus e passamos a lidar de forma mais honesta com as diferentes opções sexuais. As pesquisas científicas em busca de medicamentos para tratamento do vírus da Aids nos deram drogas fantásticas para o tratamento da Hepatite C, para a qual temos hoje cura em mais de 95% dos casos.
Descobrimos que os ancestrais do vírus da Aids, retrovírus primitivos incrustados em nosso DNA são responsáveis pela fixação do óvulo no útero e impedem que o sistema imunológico feminino rejeite o embrião. Ou seja, curiosamente, devemos a nossa existência a parentes distantes do vírus da Aids.

Outra epidemia que teve profunda influência na história da humanidade, foi a epidemia de infecção fúngica que acometeu os dinossauros, milhares de anos antes da nossa existência na superfície terrestre.
Estudos de paleato-patologia mostram que as alterações climáticas provocadas pela queda do asteroide na Península de Yucatán, no México, favoreceu o crescimento e a proliferação de fungos os quais foram responsáveis pela infecção generalizada de dinossauros extinguindo-os da face do planeta. Portanto, herdamos o planeta às custas da infecção fúngica em dinossauros. Além do do vinho, do pão e da cerveja herdamos o planeta a partir da epidemia fúngica sobre sobre os quais não conseguiríamos conviver na superfície do planeta.
Mais recentemente, no século 14, a peste, doença que dizimou cerca de um terço da população mundial, foi responsável por profundas transformações culturais, religiosas e econômicas, resultando num momento histórico fundamental para a nossa história conhecido como Renascimento. Os desígnios divinos foram sendo questionados e paulatinamente substituídos pelo livre arbítrio. Ou seja, o conceito de que podemos mudar o nosso destino a partir de ações efetivas foi profundamente influenciado por uma devastadora epidemia.
Assim como a peste, a cólera foi impiedosa com a humanidade. Entretanto, os estudos do epidemiologista John Snow na Inglaterra no século 19 mostraram que as péssimas condições sanitárias eram responsáveis pelo problema. Infelizmente, o conhecimento se transforma em prática de forma lenta, principalmente quando dependem de políticas públicas. Até hoje, mais da metade da população mundial ainda vive em condições propícias a epidemias relacionadas a deficiências sanitárias elementares.
Virus, bactérias, fungos e outros microrganismos responsáveis pelo nosso sofrimento e angústia servem para nos acordar de nossa alienação existencial. Somos responsáveis pelo nosso destino. Prestar atenção no que é fundamental, prevenir e educar em tempos de calmaria, se é que é esses momentos existam, nos tornam mais preparados para enfrentar a dura e prazeirosa missão de existir.
Virus, fungos, bactérias e outros microrganismos nos ensinam a duras penas, sermos mais solidários e humanos.

Enfrentemos pois, mais esta epidemia, que não será a última, com dignidade e a certeza que sairemos dela com perdas, mas ganhos e ensinamentos importantes que nos tornaram mais aptos a sobrevivência em tempos futuros.
Evoluir e mudar, este é o papel dos vírus na natureza. Eles não são nossos inimigos, mas professores...

Antonio Gramsci, o homem filósofo | Gianni Fresu e Marcos Del Roio

terça-feira, 14 de julho de 2020

Rosa Adry (evangelhista da silva)

Rosa Adry


Tu és para mim uma prece.
Oro curvado aos teus pés
E rogo-te em nome do Amor
Que embala o nosso viver,
A eterna fidelidade de Amar.

E nesta amplitude de querer e possuir,
Triste e desesperado,
Ajoelho-me apaixonado,
Clamando o teu corpo - alucinado prazer
Envolvido no calor da tua boca e desejo.

E neste bailar das nossas vidas,
Aninhado ao teu lindo e alucinante corpo,
Oh doce Nina!... Aninha!... Nininha do céu
Rosa Adry dos dias meus,
Vem, bela e formosa Menina/Mulher.

A ti, suplico exaustivamente
O silêncio de minha dor,
E o desespero da minha paixão.
E nesta Tempestade de Amor e Tudo, e Nada,
Desmaio e morro sobre o teu corpo e encanto, minha Doce Amada.

E enquanto tu celebras a tua alegria
Em saudosa sinfonia de Aniversário de Natalício,
Eu, morto e esquecido, vou rasgando um papel
Mofado e amarelado: "um contrato de casamento",
Para construir uma união estável onde possamos Viver e Amar.

Serena, brava, ousada e cheirosa é a minha Menina...
Beijo-te e degluto a saliva para me alimentar...
Desta forma, Minha Nininha, vivemos a transição
De um mundo tortuoso e cheio de indiferença,
Para mergulharmos no oceano de vida, Amor e Amar.

Saudade



                                                                                            


  


Que saudade
tenho de nascer.
Nostalgia
de esperar por um nome
como quem volta
à casa que nunca ninguém habitou.
Não precisas da vida, poeta.
Assim falava a avó.
Deus vive por nós, sentenciava.
E regressava às orações.
A casa voltava
ao ventre do silêncio
e dava vontade de nascer.
Que saudade
tenho de Deus.