Parque Nacional dos Lagos Plitvice
Ao organizar uma viagem para o Canadá, a Mirian se deparou com uma foto da Croácia que
virou sua cabeça e provocou uma mudança de planos na hora. Foi difícil
conseguir selecionar quais destinos visitar entre tantos lugares
interessantes, mas depois de muito pesquisar e negociar com seus
companheiros de aventura, ela conseguiu fechar um roteiro redondinho de
15 dias pelo país que virou a sensação do verão europeu. A Mirian viajou
com o marido e o filho em agosto de 2015 e voltou encantada com o que
encontrou por lá. Vai pela Mirian:
Texto e fotos: Mirian di Nizo
Croácia em 15 dias: definindo o itinerário
A Croácia entrou nos meus planos há pelo menos 15 anos, numa conversa
com um amigo que, mesmo sem nunca ter ido, conhecia muito e falava
desse país com um brilho contagiante nos olhos.
De lá para cá, eu e meu marido nos tornamos verdadeiros amantes das
viagens, mas sempre colocamos os destinos mais renomados na frente,
aqueles que fazem parte da lista de todos os mortais dos
“lugares no mundo que não se pode morrer sem conhecer”, na Europa e Estados Unidos com uma única saída mais “exótica” para a Rússia.
Dezoito países depois, no momento em que pesquisávamos sobre nossa viagem da vez para o
Canadá, me deparei com uma imagem no Instagram que instantaneamente me fez rever os planos: era o
Parque Nacional dos Lagos Plitvice, na
Croácia.
Feita a devida mudança de planos, não sem antes reunir uma lista enorme
de razões para conquistar o marido para a mesma empreita, comecei a
planejar os 15 dias de férias mais deslumbrantes que tivemos na vida.
Como organizadora oficial das viagens lá em casa, de cara minha maior
dificuldade foi decidir quais cidades cortar do cardápio de desejos.
Apesar de ser um país bem pequeno em território e população, pouco maior
que o estado do Rio de Janeiro, minha primeira lista alcançou o número
impossível de 15 lugares indispensáveis.
Meu bom senso, aliado à força dos bons argumentos do parceiro de
viagem, que lembrou que tínhamos apenas 15 dias de férias, me
convenceram que teria que “cortar na carne”. Normalmente sou muito
prática, corto e ponto, mas com a Croácia vivi dias de “sofrência”
intermináveis, colocando e tirando coisas da lista, até chegar ao número
reduzidíssimo de 5 “cidades-base”, suficientes para curtir bem as
escolhidas, seus arredores e com tempo para fazer os traslados de uma
base para outra (sem nada de descanso, para desespero do marido). Assim,
por ordem geográfica, partindo do norte para o sul, permaneceram:
Zagreb,
Zadar (já contando com um bate-volta para os
Lagos Plitvice),
Split, a
Ilha de Hvar e finalmente
Dubrovnik.
Um pouco de história
Só para situar, a Croácia fez parte da Iugoslávia durante boa parte
do século XX e recuperou sua independência na guerra que acabou apenas
em 1991. Mas não se vê sinal do conflito por qualquer lugar que se
passe, exceto nos museus que contam um pouco de sua incrível história de
séculos de ocupações, que deixaram uma herança cultural riquíssima,
principalmente do período do Império Otomano e da tomada por Veneza. Há
vestígios de atividade humana na Croácia de mais de 3.000 anos.
Zagreb
Igreja de São Marcos em Zagreb
A primeira cidade que visitamos,
Zagreb, tornou-se
capital da Croácia apenas em 1991, antes fazia parte da Iugoslávia
quando a capital era Belgrado na Sérvia. Normalmente menosprezada pelos
turistas sempre em busca das praias do Mar Adriático, era a cidade que
eu tinha mais dúvidas e foi escolhida apenas por ser a capital e
principal porta de entrada do país. Por sorte permaneceu nos planos!
Ela é jovem, tem uma vida noturna pujante, com ruas e calçadas elegantes
repletas de bares com mesas nas calçadas, lojinhas, restaurantes
típicos e muitos, muitos museus e monumentos históricos perdidos entre
Gonji Grad e
Donji Grad, como são conhecidas respectivamente, a cidade Alta e Cidade Baixa.
Em Zagreb, descobrimos que foram os croatas os inventores da gravata.
Os franceses se apaixonaram pelo adereço e só disseminaram e deram uma
melhoradinha na moda que persiste até hoje. Umas das atrações mais
procuradas na Cidade Alta é a
Rua Tkalciceva (não me
peçam pela pronúncia, please?), charmosa, repleta de turistas e locais
procurando espaço em um dos atraentes cafés e restaurantes com mesas ao
ar livre. É um dos points mais animados do dia e da noite de Zagreb.
Outro destaque entre os turistas é a
Igreja de São Marcos,
gótica, com seu telhado colorido que forma os brasões de armas da
Croácia, tornou-se um dos símbolos do país. Perto dali, fica o
Museu dos Relacionamentos Terminados
(em inglês, The Museum of Broken Relationships), uma espécie de “museu
do amor ao contrário”, reúne os mais divertidos e, às vezes, tristes,
objetos e relatos que fizeram parte de relações amorosas que chegaram ao
fim. Entre eles, algumas descrições são divertidíssimas, como a
encontrada ao lado de uma cinta-liga, que dizia: "Eu nunca a usei.
Talvez o casamento tivesse durado mais se eu tivesse usado". Após 2 dias
inteiros na capital, partimos para Zadar.
Zadar
Saudação ao Sol em Zadar
Zadar entrou para o roteiro devido aos dois pontos turísticos mais recomendados durante o planejamento: o
Órgão do Mar (Sea Organ) e o
Saudação ao Sol (The Greeting to the Sun).
O Sea Organ é uma construção simples e ao mesmo tempo incrível feita
pelo homem (no caso, o arquiteto e artista local Nikola Basic), que
conta com uma ajudinha da natureza para se tornar única no mundo.
Basicamente, são tubulações gigantes encravadas numa escadaria de pedras
à beira mar. O ar é empurrado pela força da água para dentro dos tubos,
produzindo sons aleatórios e contínuos. Como o som depende do volume de
água, da velocidade e do tempo entre uma onda e outra, nunca se ouvirá a
mesma melodia. É um espetáculo sem fim, orquestrado pela mãe natureza e
pela imaginação do homem.
Perto do pôr do sol, que no verão pode ser às 9 da noite, o show fica
ainda mais bonito. A beleza do crepúsculo no horizonte, aliado àquela
música um tanto quanto melancólica, leva uma verdadeira multidão de
pessoas para o local. Como disse o legendário cineasta britânico Alfred
Hitchcock quando passou pela cidade
“enquanto o sol se põe, um
silêncio contemplador toma conta das pessoas e tudo que se pode ouvir é a
música do Adriático, tocada pelo Órgão do Mar”. Já eu, digo que,
enquanto estamos ali, sentadinhos, quietinhos, apreciando este
maravilhoso espetáculo de verdadeira conexão do homem com a natureza, é
impossível não deixar rolar uma lágrima contente de agradecimento por...
sei lá, por qualquer coisa que você acredite.
A Saudação ao Sol (The Greeting to the Sun), também não decepciona.
Muito próximo ao “órgão”, um círculo gigante no chão, formado por 300
placas de vidro, armazena a energia solar durante o dia. Quando
anoitece, é só apreciar o jogo de luzes e cores. Mais uma loucura da
mente fértil do Nikola Basic.
Zeleni Trg em Zadar
Além dessas duas atrações, Zadar é mais uma das diversas cidades
muradas que se pode encontrar na Croácia. Dentro de seis portões reside
todo o burburinho de lojas, restaurantes, bares e a coleção magnífica
das ruínas do Fórum Romano, remanescente do período em que a Croácia
pertencia a
Veneza.
Parque Nacional dos Lagos Plitvice
Parque Nacional dos Lagos Plitvice
Aproveitando os 3 dias que ficamos em Zadar, fizemos um bate-volta
para um dos destinos mais impressionantes e visitados da Croácia, o
Plitvicka Jezera,
ou, em bom português, Parque Nacional dos Lagos Plitvice. Foi ver uma
simples foto deste local que nos fez mudar nossa ideia de destino de
viagem inicial (ok, o Canadá continua nos planos). Ao chegarmos neste
que é o maior entre os oito parques nacionais presentes no país,
descobrimos a nacionalidade de Deus: definitivamente ele é croata.
Trilhas pelo Parque Nacional dos Lagos Plitvice
Com uma área de quase 300 quilômetros quadrados, o parque entrou para
a lista de Patrimônio Natural da Humanidade pela UNESCO em 1979. Não é
para menos: são 16 lagos conectados por trilhas, ladeadas pelas mais
lindas paisagens e cachoeiras. O mais impactante é a cor da água,
cristalina, às vezes verde, às vezes azul céu, às vezes
turquesa...enfim, de deixar qualquer caribenho de queixo caído.
Logo na entrada do parque os visitantes recebem um mapa com as
diversas trilhas possíveis de serem percorridas. Como tínhamos apenas 1
dia, escolhemos um dos percursos mais leves de 5 quilômetros que levamos
impressionantes sete horas para percorrer, dadas às inúmeras paradas
que fizemos pelo caminho e que resultaram em algo como umas mil fotos.
Aviso de amiga: caso tenha interesse em viajar para a Croácia, e não
quiser ficar chorosa como eu, este parque merece mais de um dia de
visita.
Parque Nacional dos Lagos Plitvice
- Tel. +385 0 53 751 015 | Todos os dias das 7h às 20h | de 55 a 180
kn adulto, dependendo do período do ano. Descontos proporcionais são
aplicados para os passes de dois dias. Consultar o site oficial.
Split
Slipt
A próxima parada foi
Split. Segunda maior cidade da
Croácia e a mais importante entre as Dálmatas. Hein? Dálmatas? Sim, não
sei se os lindos cachorros brancos com pintas pretas têm algo a ver com
isso, mas essa estreita faixa litorânea, entre as montanhas e o
Adriático, é conhecida como Dalmácia. Então, quem nasce ali é dálmata.
Olhando para o mapa, Split fica bem no centro dessa faixa litorânea do
país. Em frente a ela, no mar Adriático, centenas de ilhas paradisíacas
estão disponíveis:
Hvar,
Vis,
Brac e
Korcula são as mais famosas, mas não são as únicas.
Split respira história antiga e o principal símbolo da cidade é o incrível e preservadíssimo
Palácio de Diocleciano,
que nos dias atuais tornou-se outra cidade murada. Diocleciano foi o
imperador romano que governou entre 293 e 305 d.C. O burburinho de Split
é grande dentro do palácio. Se for no verão, prepare-se, parece que
você está na estação Sé do metrô de São Paulo.
Aconselho se hospedar lá dentro das muralhas mesmo e ficar ao lado
das várias ruazinhas de paralelepípedos, becos, lojas, restaurantes,
bares, praças e monumentos que contam mais de 2.000 anos de história,
como a
Catedral de São Domingos e a estátua de Gregório de Nin.
Hvar
Hvar
Hvar
De Split, pegando um ferry de pouco mais de duas horas até chegarmos numa das ilhas mais festejadas da Croácia,
Hvar (pronuncia-se Ruár). Bem perto do porto, a praça
Svetog Stjepana é
onde pulsa toda a vida da cidade, com suas baladas que saem porta afora
dos minúsculos bares e avançam até as 11h do dia seguinte.
Dali de Hvar, pequenas embarcações fazem bate-volta para as ilhas nos arredores. Fizemos um passeio para a famosa
Gruta Azul na
Ilha de Biševo.
O barco passa por dentro da impressionante gruta, com águas de azul
intenso. No mesmo passeio, vamos parando por outras atrações
imperdíveis, como a
Gruta Verde, a
Ilha de Vis e a
Ilha de Palmizana.
Fortaleza de Sponjola em Hvar
Foi em Hvar que pisei pela primeira vez na praia da Croácia. “Praia” é
só modo de falar, porque não tem areia, somente pedras, mas quando digo
pedras eu digo pedregulhos mesmo, grandes, pontudos, mal se consegue
andar. Por isso, as esteiras que os croatas usam são emborrachadas
(parecem aqueles tapetinhos de fazer Yoga) e, necessariamente, você
precisa comprar uma espécie de papete, também emborrachada, se quiser
andar até chegar na água. Para piorar, apesar do calor que bate os 40
graus facilmente no verão, o mar trinca de gelado. Mesmo com tudo isso,
foi impossível resistir àquela água cristalina e de azul profundo.
Saímos com muitos arranhões, mas sem nenhum arrependimento.
Dubrovnik
Nossa última parada foi
Dubrovnik. Para essa etapa,
reservamos 4 dias, pois além da cidade ter muitos atrativos, dali se
pode fazer passeios rápidos para outros pontos interessantes ao redor,
como
Trogir e até mesmo para países, como
Montenegro e
Bósnia.
Foi a única cidade que decidimos não ficar dentro das muralhas, de
tanto que ouvimos que as escadarias eram gigantescas para chegar aos
hotéis (na verdade, habitações transformadas em hotéis).
Um dos primeiros passeios que fizemos foi pegar o teleférico até o
Monte Srd (a pronúncia é algo perto de Sârdj). Ele voltou a funcionar há
pouco tempo, pois foi destruído em 1991, durante a guerra. Com 412 m de
altura, o percurso dura menos de cinco minutos, mas a vista fica para
sempre. Dá para ver toda a cidade murada, o mar, as ilhas e as montanhas
da
Bósnia e Herzegovina que ficam muito próximas da cidade.
Teleférico de Dubrovnik
- Frana Supila 35a, 20000 | +385 20 325 393 | Todos os dias a partir das 9h, de junho a agosto até às 00h | 120 kn adulto
De volta à terra, o que “importa” mesmo em Dubrovnik fica exatamente
dentro das muralhas antigas, que mais lembram os labirintos e ruelas de
Veneza. Aliás, Dubrovnik é toda veneziana, tanto em sua arquitetura
quanto na gastronomia. Não é mera coincidência. A cidade pertenceu à
Veneza lá pelos idos dos séculos XIII e XIV.
O mais imperdível entre tudo o que se pode fazer na cidade é
percorrer as muralhas que circundam todo o castelo/cidade. Boa parte
construídas entre os séculos XV e XVI, alguns trechos existiam bem antes
disso. Com até 25 metros de altura em alguns pontos, hoje elas cercam
toda a Velha Dubrovnik, num percurso de cerca de 2 quilômetros. Você
literalmente caminha por cima do muro. A visão é a mais deslumbrante que
se pode esperar, de um verdadeiro e único castelo medieval. Para ficar
igualzinho aos castelos dos filmes e desenhos animados, falta apenas a
pontezinha sobre o rio cheio de crocodilos.
Muralhas de Dubrovnik
- Gunduliceva Poljana, 2| +385 20 324 641 | Aberto todos os dias,
exceto Natal, a partir das 8h | entrada franca com o Dubrovnik City Card
E por falar em filme, as cenas das cidades de Qarth, a Fortaleza
Vermelha e a Baía da Água Negra, locais de algumas das intrigas e
batalhas da série Game of Thrones, foram todas filmadas em cenários
reais de Dubrovnik. Passeios guiados lotados de turistas visitam os
cenários reais várias vezes ao dia.
Dubrovnik é um lugar para se perder, para flanar, caminhar pela
Placa Ulica
(ou Stradun), a principal rua da cidade, com suas pedras que brilham
como que enceradas diariamente. É um lugar ímpar, que combina a beleza
natural do mar em seus calcanhares, com arquitetura e história únicas.
E, como em quase tudo na Croácia, não existe decepção e você não precisa
se preocupar com roteiros. É só viajar!
Teleférico de Dubrovnik
Mirian, obrigada pelo super relato!
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