quinta-feira, 25 de julho de 2019

Irã ameaça cortar importações agrícolas do Brasil se cargueiros não forem reabastecidos


País exporta US$ 1,3 bilhão para nação islâmica que é maior compradora de milho brasileiro
Por
Estadão Conteúdo
Embarcações aguardam combustível para levar carga de milho a seu país de origem
Embarcações aguardam combustível para levar carga de milho a seu país de origem
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O Irã ameaçou cortar as importações do Brasil se a Petrobras não reabastecer os dois cargueiros iranianos carregados de milho que estão parados desde junho no Porto de Paranaguá por falta de combustível. A estatal alega que as embarcações são alvo de sanções americanas e teme ser punida. Em entrevista à agência Bloomberg, o embaixador do Irã em Brasília, Seyed Ali Saghaeyan, disse que entrou em contato com as autoridades brasileiras na terça-feira para informar que seu país buscará novos parceiros para comprar milho, soja e carne se o governo não resolver a situação. O comércio brasileiro com o Irã é superavitário. No primeiro semestre de 2019, segundo dados oficiais, o Brasil importou US$ 26 milhões em produtos iranianos e vendeu US$ 1,3 bilhão. O principal produto da relação é o milho, responsável por 36% das vendas. A soja vem atrás, com 34%.
No caso do milho, o Irã é o maior comprador do Brasil. Apenas em 2018, as vendas brasileiras ao exterior totalizaram 22 milhões de toneladas, das quais 6,4 milhões foram para o Irã. "Eu disse para os brasileiros que eles devem resolver essa questão - e não os iranianos", frisou Saghaeyan. "Se (a situação) não for solucionada, talvez as autoridades em Teerã desejarão tomar decisões já que (o mercado de produtos agrícolas) é um mercado livre e outros países estão disponíveis."
Em novembro, o Departamento do Tesouro dos EUA incluiu na sua lista negra cerca de 200 navios - cargueiros e petroleiros iranianos ou ligados ao Irã. Entre eles o Bavand e o Termeh, que estão presos no Paraná. O resto da frota continua circulando pelo mundo, carregando e descarregando aparentemente sem problemas. O embaixador iraniano confirmou que seu país analisa a possibilidade de enviar combustível para os dois navios, mas essa seria uma opção demorada e cara. "Países grandes e independentes, como Brasil e Irã, devem trabalhar juntos sem interferência de terceiros ou de outro país", afirmou Saghaeyan, que teria pedido uma reunião com o chanceler brasileiro, Ernesto Araújo, mas ainda não obteve resposta.
Consultadas pelo jornal O Estado de S. Paulo, associações que representam exportadores brasileiros disseram que a suspensão das importações seria grave, por ser um mercado importante. Para a Federação da Agricultura do Estado do Paraná (Faep), a recusa da Petrobras em fornecer combustível aos navios iranianos seria catastrófica para o setor agrícola do Brasil. "Além de ser o maior importador de milho brasileiro, o Irã é um dos principais compradores de produtos importantes para o País e para o Estado do Paraná, como soja e carne bovina", afirmou a Faep.
Segundo Welber Barral, ex-secretário de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, a crise com o Irã foi mal gerida pelo governo. "Ao declarar alinhamento com o presidente dos EUA, Donald Trump, Jair Bolsonaro acabou transformando uma questão comercial em uma questão política", avaliou. De acordo com Barral, a solução da crise foi desnecessária. "A Petrobras tinha optado por não abastecer os cargueiros iranianos para afastar a possibilidade de ser punida no mercado americano. Quando Bolsonaro falou que estava alinhado com os EUA, criou uma crise que teria de ser resolvida pelo mecanismo comercial."

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