sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Atarde Online
20/10/2010 às 11:58
| ATUALIZADA EM: 21/10/2010 ÀS 09:15 | COMENTÁRIOS (13)

Cinco pessoas são condenadas por explosão de fábrica


Valmar Hupsel Filho e Arivaldo Silva l A Tarde*

Mário Fróes, filho de Osvaldo, assumiu responsabilidade pela fábrica
Mário Fróes, filho de Osvaldo, assumiu responsabilidade
 
A Justiça condenou, no final da noite de quarta-feira, 20, cinco dos envolvidos na explosão de uma fábrica clandestina de fogos de artifício que matou 64 pessoas em Santo Antônio de Jesus, em 1998. O julgamento que aconteceu durante todo o dia na 2ª Vara do Tribunal do Júri, no Fórum Ruy Barbosa, em Salvador, teve o seu resultado após as 23 horas.
O dono da fábrica, Osvaldo Prazeres Bastos, recebeu pena menor, de 9 anos, por ter mais de 70 anos. Os outros quatro condenados são os filhos dele Mário Fróes Prazeres Bastos, Ana Cláudia Almeida Reis Bastos, Helenice Fróes Bastos Lyrio e Adriana Fróes Bastos de Cerqueira, que pegaram pena de dez anos e 6 meses. Foram absolvidos outros três réus: Berenice Prazeres Bastos da Silva, também da família, e os ex-funcionários Elísio de Santana Brito e Raimundo da Conceição Alves.
“Estou satisfeita porque antes de morrer vi ele (sic), que dizia que a justiça não acontece para quem tem dinheiro, sentar-se no banco dos réus. Outras mães morreram antes, mas depois de 11 anos e 10 meses estou aqui”, disse a vice-presidente do Movimento 11 de Dezembro, Maria Balbina dos Santos. Vestidos com camisas pretas com os dizeres “Justiça já”, parentes das vítimas acompanharam o julgamento. “Ele”, a quem Balbina se refere, é Osvaldo Prazeres Bastos, conhecido como “Vardo dos Fogos”, dono da fábrica.
Julgamento - No início do julgamento, “Vardo dos Fogos” teve uma crise de choro, queda de pressão arterial e foi amparado por uma enfermeira. “Ele teve um princípio de infarto há cerca de 60 dias”, disse o filho Gilson Bastos. Ele informou que Osvaldo, que tem 72 anos e é diabético, foi internado no Hospital Santa Izabel.
Para defender o pai, Mário Fróes, que é réu primário, disse ser o responsável pela fábrica. Ao depor, negou que trabalhavam crianças no local e disse que cerca de 17 dias antes da explosão militares fiscalizaram a fábrica e elogiaram a estrutura e organização do local. “Quando ia fiscalização, eles mandavam a gente correr”, disse uma das sobreviventes, Maria Joelma Santos, que trabalhou dos 12 aos 18 anos na fábrica dos Bastos.
Ela guarda no corpo e na alma lembranças da explosão. “Fico assustada quando tem fogos de artifício”, disse ela, que teve queimaduras de terceiro grau no braço, costas, perna, cabeça e rosto.
O julgamento começou por volta das 9h desta quarta-feira, com atraso de 1h. Além de Osvaldo, seus familiares Mário Fróes Prazeres Bastos, Ana Cláudia Almeida Reis Bastos, Helenice Fróes Bastos Lírio, Adriana Froés Bastos de Cerqueira, Berenice Prazeres Bastos da Silva, Elísio de Santana Brito e Raimundo da Conceição Alves, todos ligados à fábrica. O júri foi realizado sob o comando do juiz Moacyr Pitta Lima, da 2ª Vara Crime.
Três testemunhas de acusação, entre elas a funcionária da fábrica Maria Joelma, que sobreviveu ao acidente mas perdeu uma irmã na explosão, foram ouvidas pelo juiz. Além delas, testemunhas de defesa e os réus também prestaram seus depoimentos.
O julgamento, que foi transferido de Santo Antônio de Jesus para Salvador em 2009, foi acompanhado pela Organização dos Estados Americanos (OEA), que denunciou o Brasil à Comissão Interamericana de Direitos Humanos devido à morosidade para julgar o caso. Por conta disso, um representante da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República esteve presente no Fórum.
Caso - O acidente aconteceu na manhã do dia 11 de dezembro de 1998. A explosão, que matou 64 pessoas, entre elas duas crianças, aconteceu no galpão da fábrica clandestina, que possuía mais de 1.500 kg de fogos. Cinco pessoas sobreviveram à explosão com ferimentos graves.
De acordo com Iraci da Silva, de 53 anos, que perdeu a filha Ana Claudia da Silva na explosão, muitas crianças trabalhavam com fogos de artifício na época do acidente em Santo Antônio de Jesus. "Minha filha trabalhava com fogos desde os 7 anos, na época do acidente ela tinha 21. Lá em Santo Antônio era normal ver crianças trabalhando com fogos. Depois do acidente, começou a diminuir", afirma.
* Com redação de Yuri Barreto / A Tarde On Line

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