segunda-feira, 14 de agosto de 2017

Dennis Nilsen, o necrófilo escocês

Dennis Nilsen, o necrófilo escocês


Por Bernardo de Azevedo e Souza e Henrique Saibro

Eu queria parar [de matar], mas não conseguia. Não tinha outra emoção ou felicidade” (Dennis Nilsen)
A PERSONALIDADE
Dennis Andrew Nilsen nasceu na Escócia, na cidade de Fraserburgh, em novembro de 1945, em um ambiente familiar nada afetivo. O casamento dos seus pais durou apenas sete anos – muito em razão do alcoolismo do genitor. O jovem Nilsen, juntamente com a sua mãe e seus dois irmãos, morava na casa de seus avós maternos.
Dennis possuía uma relação muito estreita e amorosa com o seu avô. Era quem confiava, se inspirava e admirava. Os dois eram grudados. Nilsen era o neto preferido do ancião da casa. Entretanto, por causas naturais – dado o avanço da idade –, o avô acabou falecendo. Mas o que traumatizou Dennis não foi a morte do seu avô por si só, senão a forma como ficou sabendo. Não é necessário ter um filho pequeno para ter noção de que, em se tratando de acontecimentos complicados, como, por exemplo, a morte de um ente querido, todo cuidado é pouco ao dar a notícia à criança. E foi o que a mãe de Nilsen não teve. Para você ter uma ideia, ela, sem contar ao menino sobre o falecimento, o levou ao encontro do corpo do seu avô – já sem vida e com o aspecto sombrio peculiar de um defunto. Posteriormente, Dennis ressaltou que teria morrido por dentro diante daquela cena.
A infância de Nilsen foi recheada de abalos psíquicos. Com oito anos, quase morreu afogado no mar. Foi salvo por um adolescente. Ocorre que quem lhe salvou não era, exatamente, um herói. É que, por mais que salvo, Dennis estava desacordado e, enquanto isso, quem lhe salvou masturbou-se sobre ele. Foi se dar conta do ocorrido quando acordou e verificou que havia esperma na sua barriga. Aos dez anos, viu a sua mãe casar-se novamente, dessa vez dando à luz mais quatro filhos. No final das contas, Nilsen acabou sendo negligenciado, passando a ser uma criança carente e solitária – sentimento que perdurou até a vida adulta.
Na adolescência não há relatos acerca da sua vida sexual, mas sempre se sentiu atraído por jovens do mesmo sexo. Aos 16 anos, alistou-se e serviu ao exército, onde exerceu a função de cozinheiro. Foi aí que absorveu a expertise do corte de faca, própria de um açougueiro – que, futuramente, veio a ser extremamente útil para suas práticas criminosas. Também foi na milícia que passou a consumir sobremaneira álcool.
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Dennis Nilsen durante a juventude
No período do serviço militar, dormia em um quarto privativo, onde iniciou a masturbar-se compulsivamente. Suas fantasias sexuais acabaram se tornando macabras, na medida em que percebia que chegava somente ao clímax quando se imaginava copulando com um defunto. Maquiava-se a fim de simular sangue, para dar tons mais realísticos à sua imaginação. Aos 27 anos, dedicou a sua vida a tornar-se policial. Ficou maravilhado com as aulas de necropsia. Tão deslumbrado que largou a carreira. Aulas expositivas não eram suficientes para saciar a compulsão daquele adulto assombrado por traumas na infância. Ele queria, bem dizer, botar a mão na massa.
Aos 33 anos, Dennis começou a matar. E muito.
OS CRIMES
Nilsen, como já dito anteriormente, era muito solitário e, sobretudo, carente. Como tinha muita dificuldade de se relacionar com outras pessoas, era difícil suprir essa lacuna existencial. Mas não faltavam tentativas de sua parte. Sua vida noturna resumia-se a conhecer homens em pubs e levá-los para a sua casa – tudo, ressalte-se, regado a muito álcool. Em casa, mantinha relações sexuais com seus parceiros, mas, quando acordava, estava sozinho. Nada de carinho; nada de afeto. Somente sexo.
Inconformado com tal situação, seus novos companheiros, curiosamente, passaram a permanecer sob a sua companhia, mas, dessa vez, estavam mortos. Para evitar o abandono matutino, estrangulava o seu parceiro enquanto dormia. Sem vida, podia acariciá-lo, tomar banho juntos, ver televisão e falar sobre a sua vida pessoal. Quando batia a vontade, masturbava-se e copulava com o cadáver. Era o que sempre quis. Seus dias de solidão estavam acabados.
Quando tinha que ir trabalhar, escondia o corpo embaixo de tábuas na sua sala e, ao voltar à residência, retirava novamente o defunto para preencher o seu vazio. Para evitar o cheiro horrível de carniça, passava desodorante pela casa. A partir do momento em que o corpo entrava em decomposição, esquartejava-o com manuseio de um facão extremamente afiado e fervia a cabeça de sua vítima em uma grande panela que possuía – para facilitar o retiro da carne. Igualmente, guardava pedaços de corpos no seu jardim, escondia-os pela casa (roupeiro, armários, gavetas), incinerava-os, ou descartava-os pela privada.
Aliás, por ter descartado tantos restos mortais na patente que veio a ser descoberto pela polícia. Certo dia, no edifício em que morava, os seus vizinhos não conseguiam mais dar descarga e chamaram um encanador (Michael Cattran). Quando Cattran se dirigiu, com uma lanterna, à caixa de inspeção do esgoto, não acreditou no que viu. Era a cena mais sinistra por ele já presenciada. Havia mais de trinta pedaços de carne interrompendo o fluxo da latrina. E não pareciam meras sobras de churrasco. Assustado, o encanador resolveu voltar outro dia com o seu supervisor.
Nilsen, aproveitando a deixa de Cattran, desceu à caixa de inspeção e recolheu os restos mortais e, sem saber onde deixá-los, os descartou no jardim do edifício. Ocorre que, para seu infortúnio, dois vizinhos estavam lhe vigiando. Noutro dia, quando Cattran retornou com o seu colega, praticamente não havia mais pedaços de carne por lá. Os mesmos vizinhos, então, desconfiaram de Dennis e chamaram a polícia.
Peter Jay, inspetor-chefe de polícia acionado pelo chamado, submeteu os pedaços de carne que ainda estavam bloqueando a latrina ao dr. David Bowen, catedrático da Universidade de Londres. Os resultados periciais demonstraram que se tratava de carne humana. A polícia, então, se dirigiu ao apartamento de Nilsen e lhe pressionaram para dizer onde estava o resto do corpo; no mesmo instante, com muita frieza e naturalidade, Dennis respondeu: “em sacos plásticos, no armário perto da porta”. Jay ainda indagou: “estamos falando de um ou dois corpos?” Dennis, sarcástico, riu e respondeu: “quinze ou dezesseis”.
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Nilsen é preso pelas autoridades policiais 
A CONFISSÃO 
Em sede policial, Nilsen confessou quase todos os seus crimes, ajudando as autoridades policiais a identificar parte das vítimas. O escocês relatou as “técnicas” utilizadas com precisão. Sem demonstrar qualquer remorso, sanou todas dúvidas e questionamentos, tanto sobre o modus operandi quanto acerca da veracidade das informações. Após mais de 30 horas de depoimento, a polícia conseguiu juntar os pedaços dos corpos das vítimas. Um dos corpos encontrados assegurou a prisão de Nilsen para a continuidade das investigações.
Nilsen permaneceu recluso na prisão de Brixton, distrito de Londres, até a data de seu julgamento. Nesse intervalo, as autoridades policiais encontraram mais de mil fragmentos de ossos no jardim que lhe pertenceu.
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A polícia encontrou inúmeros fragmentos de ossos humanos no jardim
A confissão (antes e durante a delegacia), a descrição detalhada dos crimes (nas mais de 30 horas de depoimento) e as provas materiais encontradas (os sacos de corpos no armário e os ossos no jardim) foram destacadas no relatório final do inquérito. A acusação foi então formalizada, imputando a Dennis Nilsen a prática de seis homicídios e duas tentativas de homicídio. Ao escocês só restava agora aguardar o julgamento pelo tribunal do júri.
O JULGAMENTO 
O julgamento iniciou em 24 de outubro de 1983, com uma intensa cobertura televisiva. Dennis Nilsen ficou assustado com a reação da mídia aos seus crimes. Seu desejo era apenas ser visto como um homem comum, pois assim se considerava. A Acusação, representada pelo Promotor Alan Green, debruçou suas forças sobre as declarações fornecidas por Nilsen em sede policial, sustentando que ele sabia exatamente o que estava fazendo, e que não havia qualquer indício de doença mental. Green arrolou três vítimas que escaparam dos ataques: Carl Stotter, Douglas Stewart e Paul Nobbs. Os depoimentos causaram graves danos à tese defensiva.
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O necrófilo escocês sendo conduzido ao julgamento
Diante do cenário claramente prejudicial, o procurador de Nilsen, Ralph Haeems, tentou diminuir a credibilidade dos depoimentos, alegando que as testemunhas não souberam explicar detalhes fundamentais do caso, e que Stewart, particularmente, tinha vendido a história para a mídia. Após as considerações sobre as testemunhas, a Defesa enfatizou aos jurados que Nilsen era doente mental e merecia ser absolvido dos crimes imputados.
Para comprovar a tese defensiva, o advogado Haeems convocou três psiquiatras para depor em juízo. O primeiro deles, James MacKeith, referiu que Dennis Nilsen sofria de uma desordem de personalidade (sem indicar o nome). Já o segundo, Patrick Gallwey, diagnosticou-o como fronteiriço e esquizofrênico.
Apesar da contradição na nomenclatura utilizada, até aí tudo parecia estar bem à Defesa. Foi quando a terceira testemunha, Paulo Bowden, declarou não ter encontrado as evidências indicadas pelos psiquiatras anteriores, bem como que Nilsen era extremamente manipulador. O estrago à tese defensiva estava consolidado.
O julgamento encerrou-se em 3 de novembro de 1983. Os jurados retiraram-se para decidir e chegaram ao veredicto no dia seguinte. Dennis Nilsen foi considerado culpado de todas as acusações imputadas pela Acusação e sentenciado à prisão perpétua (sem possibilidade de condicional).
A PRISÃO 
Condenado a passar o resto da vida na prisão, Nilsen foi encaminhado à penitenciária de segurança máxima Wormwood Scrubs, em Londres. Nela, recebeu sua própria unidade celular, onde permanecia boa parte de suas horas diárias, sendo-lhe permitido, durante os banhos de sol, o contato com os demais detentos. Em dezembro de 1983, foi atacado com uma lâmina de barbear por outro detento (Albert Moffatt), sofrendo ferimentos no rosto e no peito. Diante do ataque, teve de ser transferido para outra penitenciária.
Entre os anos 1983 a 2003, o Dennis Nilsen foi transferido diversas vezes, passando pelos presídios ingleses Wakefield (West Yorkshire), Parkhurst (Isle of Wight), Whitemoor (Cambridgeshire). Por fim, foi encaminhado à penitenciária de segurança máxima Full Sutton, em East Yorkshire (Inglaterra), onde atualmente cumpre sua pena.
Dennis Nilsen Crime Murder
Nilsen em um de seus últimos registros fotográficos
Aos 70 anos, e sem perspectivas para sair da prisão, Dennis Nilsen ocupa-se escrevendo suas ideias, pensamentos e memórias. Recentemente formalizou um pedido para publicar sua autobiografia, mas autoridades britânicas vedaram a iniciativa. Apesar da recusa, Nilsen revela que a obra fornecerá relatos e informações inéditas. A expectativa do escocês é que a autobiografia venha a público após sua morte.

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