O Brasil e a Desesperança (DESGRAÇA e DEGREDO)
Ceci Juruá*
Uma das palavras que mais se escuta hoje, nos diálogos sobre o futuro político do Brasil, é desesperança. Também
na imprensa escrita, sobretudo naquela onde se exprime um pensamento
crítico, o sentimento de desesperança tem presença constante nos artigos
ali publicados.
Há muitas razões para isto, não se
trata de uma fantasia ou de uma paranoia, ou outro tipo qualquer de
desequilíbrio mental ou afetivo. As dívidas se acumulam em um grande
número de famílias, e não são dividas pequenas, muitas vezes são
impagáveis. Outro dia, por exemplo, encontrei um artesão, um
carpinteiro, que me contou estar sendo cobrado da quantia de R$ 80 mil
por dívida de um cartão de crédito que deixou de pagar há meia dúzia de
anos. Nem moradia este senhor tem, não há condições de pagamento
portanto.
Em outras rodas comenta-se também que
as fontes de renda secaram. São lojistas cujas vendas caíram em mais de
50%. São viúvas e aposentados que complementam pensões e
aposentadorias com aluguéis de imóveis, mas grande parte destes imóveis
estão hoje desocupados, por falta de poder de compra daqueles que
estariam interessados. E são os mais de 20 milhões de desempregados e
ocupantes de empregos precários no Brasil de hoje. Cifra inimaginável há alguns anos atrás.
Dividas, perda de fontes de renda
complementar e desemprego, seriam dificuldades sanáveis se outro fosse o
governo do Brasil. Mas este que aí está não oferece segurança alguma
ao cidadão e às cidadãs do Brasil. É um governo alienado das
dificuldades do seu povo. É um governo que se mostra capaz de alienar
nossas fontes de riqueza com a maior irresponsabilidade, caso do
petróleo. Um governo alienado, inclusive, de suas responsabilidades
constitucionais, conforme se pode comprovar analisando o projeto de
entrega a estrangeiros da base de Alcântara.
Mas além de razões objetivas, como as
mencionadas acima, cabe ainda especular se as esperanças que tínhamos,
quanto ao nosso futuro e quanto ao futuro do Brasil, eram bem
fundamentadas, ou simplesmente vazias de comprovação empírica. Em
outras palavras, trata-se de distinguir entre esperanças e ilusões.
Hoje é correto supor que muitas de
nossas esperanças não eram mais do que ilusões. A fé e a esperança em um
futuro com democracia por exemplo. Mera ilusão justificada pela
desinformação, ou ignorância, quanto ao número de golpes de Estado
perpetrados em nosso país nesses quase duzentos anos de emancipação
política. Foram mais de trinta golpes. Nos 49 anos de reinado de Pedro
II, por exemplo, a titularidade exclusiva do monarca em matéria de
Poder Moderador permitiu que ele dissolvesse a Assembléia Geral em 10
ocasiões. Praticamente a cada cinco anos.
Também se desvaneceram as esperanças em
um tipo de política diferente a partir do surgimento do PT. Mas aí de
novo tratou-se mais de uma ilusão, por parte daqueles que não atentaram
para a mudança no financiamento das campanhas eleitorais, mudança
ocorrida em 1997 por iniciativa de um deputado paulista do PMDB. E
ainda, como esperar uma política diferente, um funcionamento mais
democrático, mais ético, dos aparelhos de Estado quando a economia foi
submetida a um violento processo de desnacionalização? Foi o que
ocorreu a partir de 1990, em nossa querida Pátria. Foi invadida pelo
capital estrangeiro, pelas Altas Finanças mundiais. O golpe foi apenas o
desfecho.
Mais do que desesperança, portanto, o sentimento geral que predomina na sociedade brasileira, deveria ser denominado A grande desilusão, ou Desilusão em massa. Para
alguns estudiosos da psicologia humana, a desilusão é mais difícil de
suportar do que a desesperança. Com a palavra portanto psicólogos e
psicanalistas.
*Ceci Juruá, economista e pesquisadora
da história econômica e política do Brasil, doutora em políticas
públicas, membro do Conselho Consultivo da CNTU. (RJ, em 25 de janeiro
de 2017)
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