quinta-feira, 31 de janeiro de 2019

O Brasil e a Desesperança (DESGRAÇA e DEGREDO)

Ceci Juruá*
Uma das palavras que mais se escuta hoje, nos diálogos sobre o futuro político do Brasil, é desesperança.  Também na imprensa escrita, sobretudo naquela onde se exprime um pensamento crítico, o sentimento de desesperança tem presença constante nos artigos ali publicados.
Há muitas razões para isto, não se trata de uma fantasia ou de uma paranoia, ou outro tipo qualquer de desequilíbrio mental ou afetivo.  As dívidas se acumulam em um grande número de famílias, e não são dividas pequenas, muitas vezes são impagáveis.  Outro dia, por exemplo, encontrei um artesão, um carpinteiro, que me contou estar sendo cobrado da quantia de R$ 80 mil por dívida de um cartão de crédito que deixou de pagar há meia dúzia de anos. Nem moradia este senhor tem, não há condições de pagamento portanto.
Em outras rodas comenta-se também que as fontes de renda secaram.  São lojistas cujas vendas caíram em mais de 50%.  São viúvas e aposentados que complementam pensões e aposentadorias com aluguéis de imóveis, mas grande parte destes imóveis estão hoje desocupados, por falta de poder de compra daqueles que estariam interessados.  E são os mais de 20 milhões de desempregados e ocupantes de empregos precários no Brasil de hoje. Cifra inimaginável há alguns anos atrás.
Dividas, perda de fontes de renda complementar e desemprego,  seriam dificuldades sanáveis se outro fosse o governo do Brasil.  Mas este que aí está não oferece segurança alguma ao cidadão e às cidadãs do Brasil.  É um governo alienado das dificuldades do seu povo.  É um governo que se mostra capaz de alienar nossas fontes de riqueza com a maior irresponsabilidade, caso do petróleo. Um governo alienado, inclusive, de suas responsabilidades constitucionais, conforme se pode comprovar analisando o projeto de entrega a  estrangeiros da base de Alcântara.
Mas além de razões objetivas, como as mencionadas acima, cabe ainda especular se as esperanças que tínhamos, quanto ao nosso futuro e quanto ao futuro do Brasil, eram bem fundamentadas, ou simplesmente vazias de comprovação empírica.  Em outras palavras, trata-se de distinguir entre esperanças e ilusões.
Hoje é correto supor que muitas de nossas esperanças não eram mais do que ilusões. A fé e a esperança em um futuro com democracia por exemplo.  Mera ilusão justificada pela desinformação, ou ignorância, quanto ao número de golpes de Estado perpetrados em nosso país nesses quase duzentos anos de emancipação política.  Foram mais de trinta golpes.  Nos 49 anos de reinado de Pedro II, por exemplo, a titularidade exclusiva do monarca em matéria de Poder Moderador permitiu que ele dissolvesse a Assembléia Geral em 10 ocasiões. Praticamente a cada cinco anos.
Também se desvaneceram as esperanças em um tipo de política diferente a partir do surgimento do PT.  Mas aí de novo tratou-se mais de uma ilusão, por parte daqueles que não atentaram para a mudança no financiamento das campanhas eleitorais, mudança ocorrida em 1997 por iniciativa de um deputado paulista do PMDB.  E ainda, como esperar uma política diferente, um funcionamento mais democrático, mais ético,  dos aparelhos de Estado quando a economia foi submetida a um violento processo de desnacionalização?   Foi o que ocorreu a partir de 1990, em nossa querida Pátria.  Foi invadida pelo capital estrangeiro, pelas Altas Finanças mundiais.  O golpe foi apenas o desfecho.
Mais do que desesperança, portanto, o sentimento geral que predomina na sociedade brasileira, deveria ser denominado A grande desilusão, ou Desilusão em massa.  Para alguns estudiosos da psicologia humana, a desilusão é mais difícil de suportar do que a desesperança.  Com a palavra portanto psicólogos e psicanalistas.
 *Ceci Juruá, economista e pesquisadora da história econômica e política do Brasil, doutora em políticas públicas, membro do Conselho Consultivo da CNTU.  (RJ, em 25 de janeiro de 2017)

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