sábado, 23 de julho de 2022

Chico Buarque - Minha História


 

Lágrimas e Saudades


Lágrimas e Saudades


[evangelhista da silva]


É fim de tarde de um sábado de lembranças

resta-me saudades e nada mais...

é um dia de sábado desligado

que me sobra sem vida

em rastros de adeus.


Ao ouvir estas canções saudosas é inexplicavél

descrever o meu sentimento de saudades

ouvir canções assim vivo em melancolia

entre amigos imortais que jazem

em confusa paz e esperança.


Hoje, neste sábado cemiterial sinto a ausência

de todos que pegaram o trem da morte

e eu sigo relutando em manter-me

eternamente vivo nesta vida

por certo imprestável.


Ao mesmo tempo que se me ponho de castigo

à espera de um trem amargo e assassino

persisto na esperança de que neste

intervalo surja-me uma puta

para embrigar-me de sexo.


Assim vivo se me perdendo na imaginação

e continuo a pensar e recordar o vivido

na insistência de não renunciar

por imposição da morte

a vida.


Assim continuo, inplacavelmente, aqui sentado

em um banco duro da estação ferroviária

aguardo a Maria Fumaça ou o 25

que se encontram em atraso

há 67 anos.


Bom seria que um deles, a Maria Fumaça, ou o 25

chegasse logo e nesse momento de ânsia

todos os meus amigos desembarcassem

mas a lógica se me impõe ficar

e aguardar o comboio

literalmente vazio.


Nesta estação estarão obrigados a parar por certo

e por consequência as portas irão se abrir

e nenhum dos meus amigos descerá

eu é que irei navegar nos trilhos

rumo a lugar incerto

sem pensamento

e sem vida.











 Santo Antônio de Jesus, 23/07/2022, às 18h55min.

A medicina aprova a hipnose

 

A medicina aprova a hipnose

Hospitais usam o método no tratamento de sintomas de doenças como cancro, asma ou insónia…
Primeiro foi a acupuntura. Agora, é a vez de a hipnose ser finalmente reconhecida e adotada pela medicina. O método começa a figurar entre o arsenal de recursos oferecidos por instituições de renome no mundo todo. É usado, por exemplo, no Memorial Sloan- Kettering Cancer Center e no M. D. Anderson Cancer Center, dois dos mais importantes centros de tratamento e pesquisa da doença, para diminuir efeitos colaterais da quimioterapia, como a fadiga e a dor. Também é utilizada no Hospital de Liège, na Bélgica, como opção de analgesia. No Brasil não é diferente. Já faz parte da rotina de serviços de primeira grandeza como o Hospital A. C. Camargo, de São Paulo, especializado na luta contra o câncer, e ganhou espaço no Hospital das Clínicas de São Paulo (HC/SP), a instituição que serve de escola para os estudantes da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP). As indicações também são amplas.
Só para citar algumas, além do câncer: dor crônica, transtorno do pânico, asma, tensão pré-menstrual, enxaqueca, analgesia em procedimentos dentários, alergias, problemas digestivos de fundo nervoso, fobias e insônia.
Esta entrada definitiva da hipnose pela porta da frente da medicina não ocorreu por acaso. O movimento está sustentado por uma gama de estudos comprovando sua eficácia nas mais variadas enfermidades. Um dos mais recentes foi conduzido na Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, e provou que o método pode ser usado com sucesso no diagnóstico de crianças com epilepsia. Os cientistas queriam saber se as oito participantes tinham mesmo crises da doença ou manifestavam os sintomas - muito parecidos com os provocados pela enfermidade - por causa de outros fatores, como stress profundo. Eles levaram as crianças a um estado hipnótico e as fizeram imaginar que estavam tendo uma crise. Enquanto isso, elas eram monitoradas por aparelhos de exame de imagem. Em todas, as áreas ativadas durante o transe não foram as tradicionalmente associadas à epilepsia. A conclusão foi a de que as crianças de fato não tinham a doença. Agora, os cientistas querem ensinar os pequenos a evitar as crises usando a hipnose.
Outro trabalho de resultado expressivo foi apresentado no congresso do Colégio Americano de Pneumologia, realizado no final do ano passado nos Estados Unidos. Coordenado por médicos do Massachusetts General Hospital, o estudo revelou que pacientes hospitalizados com doenças cardíacas submetidos a apenas uma sessão de hipnose tinham maiores chances de vencer a luta contra o tabagismo após seis meses do que aqueles que usavam adesivos para repor a nicotina. "Constatamos que a hipnoterapia está entre as melhores opções terapêuticas contra o cigarro", afirmou Faysal Hasan, líder do trabalho. No Beth Israel Deaconess Medical Center e na Faculdade de Medicina de Harvard (EUA), pesquisadores constataram que a técnica tornou mais confortável e menos dolorosa a realização de biópsia de nódulos de mama. "A hipnose ajuda muito a diminuir o stress das mulheres que precisam passar por essa experiência", disse Elvira Lang, professora de radiologia de Harvard. No Brasil, as pesquisas sobre os possíveis benefícios também começam a proliferar. Na Faculdade de Medicina da USP, campus de Ribeirão Preto, os médicos verificaram seu efeito como terapia auxiliar contra a dor de cabeça persistente. "Os resultados foram muito promissores. A hipnose pode ser um tratamento coadjuvante nesses casos", afirma o neurologista José Geraldo Speciali, professor do departamento de neurologia da universidade.
Conclusões como essas estão motivando investigações mais profundas sobre os mecanismos pelos quais o método produz resultados. A explicação mais plausível obtida até agora é a de que a hipnose provoca modificações profundas no funcionamento do cérebro, alterações essas documentadas por exames de imagem precisos e sofisticados. Os achados derrubam por terra, de vez, a associação equivocada da técnica com algo místico, esotérico. Não é nada disso. Hoje, o conceito médico de hipnose é claro: trata-se de um estado alterado de consciência induzido por profissionais capacitados. Nesse estado, há mudanças nos padrões das ondas cerebrais e várias estruturas do órgão são ativadas com maior intensidade, em especial as relacionadas à memória e às emoções.
O objetivo é atingir um nível máximo de atenção para extrair da mente o que for preciso para ajudar no tratamento, aproveitando que as condições cerebrais obtidas deixam o paciente com maior abertura para ser sugestionado. "A pessoa desvia a atenção dos estímulos externos e a crítica diminui. Ela passa a entender e aceitar melhor as sugestões dadas pelo hipnólogo", explica o médico Osmar Colás, coordenador do grupo de estudos de hipnose do departamento de psicobiologia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Um trabalho muito interessante comprovou quanto os indivíduos de fato ficam abertos à sugestão, chegando a enganar o próprio cérebro nesse processo. O neuropsicólogo Stephen Kosslyn, da Universidade de Harvard, induziu voluntários hipnotizados a enxergarem cor em um painel totalmente cinza. Nos exames de imagem, verificou que as áreas cerebrais ativadas foram exatamente as acionadas para a percepção de cores variadas. "Isso prova que o cérebro se comporta de acordo com as sugestões", afirmou o cientista à ISTOÉ.
Um exemplo prático desse processo pode ser visto nos passos tomados para o tratamento da dor. "É preciso fazer com que o paciente saia do foco da dor. Por meio da hipnose, ele deve ser levado a se concentrar em estímulos de relaxamento e sensações prazerosas, fazendo com que se esqueça o máximo possível da sensação de desconforto", explica a psiquiatra Célia Lídia Costa, do Hospital A. C. Camargo. Mas essa não é a única possibilidade. "Pode-se modificar a percepção de uma dor intensa para uma sensação de peso ou formigamento ou reduzir o tamanho da área dolorida para apenas uma parte", diz o clínico e psicoterapeuta João Figueiró, do Centro Multidisciplinar de Dor do HC/SP. De acordo com David Spiegel, pesquisador do Instituto de Neurociência da Universidade de Stanford, a alteração no entendimento do que ocorre também traz outro benefício, além de maior conforto: "O método reduz a ansiedade que normalmente acompanha os episódios de dor", afirmou o cientista à ISTOÉ. Um alerta importante: os profissionais sérios jamais tratam dores cujas causas não tenham sido identificadas.
Contra as fobias, o mecanismo de mudança do entendimento é o mesmo. "Se a pessoa tem medo de avião, peço que se visualize em um aeroporto entrando na aeronave. Ela vivenciará esse momento de forma nítida e sem medo", diz o psicólogo José Roberto Leite, da Unifesp. No caso de sua aplicação para tratar o stress pós-traumático, o objetivo é ajudar o indivíduo a modificar sua visão do evento responsável pelo trauma - um assalto, por exemplo. "Procuramos dar um novo significado ao que aconteceu, para que a sensação de medo ou ansiedade associada ao fato não apareça mais", explica o médico Luiz Carlos Motta, presidente da Sociedade Brasileira de Hipnose e Hipniatria. O treinamento constante permite que o indivíduo aprenda a se autohipnotizar nos momentos necessários para superar as situações desencadeantes dos problemas.
O momento atual da hipnose marca uma virada importante para uma ferramenta cuja história foi pontuada por altos e baixos. Um dos primeiros registros de sua utilização é na Antigüidade, pelos egípcios. No entanto, o olhar mais científico só começou no século 18, com pesquisas feitas pelo médico austríaco Franz Mesmer. No século seguinte, o inglês James Braid definiu o transe como um "estado de sono do sistema nervoso". Por isso, cunhou o termo hipnose, que vem do grego Hypnos, o deus do sono. Posteriormente, porém, Braid se arrependeu da criação ao verificar que hipnose e sono são coisas diferentes. No século XX, o austríaco Sigmund Freud, o criador da psicanálise, usou o recurso no tratamento da histeria, mas o abandonou. O resgate da técnica só veio anos depois, na Primeira Guerra Mundial, como opção de analgesia durante cirurgias realizadas nos campos de batalha.
Durante todos esses anos, entretanto, charlatões se apropriaram do método e o usaram como um rentável atrativo para shows em circos e programas de televisão. Infelizmente, para muita gente essa ainda é a idéia de hipnose. No entanto, basta conhecer um profissional sério e que usa a técnica com finalidade médica para esquecer a imagem caricata de um hipnotizador de aparência exótica, capaz de transformar seu paciente em um zumbi. Primeiro porque o pêndulo deixou de ser o instrumento preferido da maioria dos médicos. Hoje, grande parte das induções é feita por meio de relaxamento dirigido por palavras ou toque em pontos específicos da face, entre outras técnicas (usam-se ainda, é verdade, recursos como um pingente de cristal, nos casos em que o paciente responde bem a estímulos visuais). Outro equívoco é imaginar que qualquer um pode ser hipnotizado de uma hora para outra, mesmo contra sua vontade. "Pessoas muito sensíveis podem entrar no estado hipnótico sem perceber, mas é raro. Normalmente, quem não quer, resiste, e não entra em transe. Além disso, aquele que deseja sair do estado hipnótico pode demorar um pouco, mas consegue", diz o médico Colás.

Colaborou Adriana Prado
Fonte: http://www.istoe.com.br/reportagens/11418_A+MEDICINA+APROVA+A+HIPNOSE

Céu de Santo Amaro


 

quarta-feira, 20 de julho de 2022

Menina/Mulher

        



Menina/Mulher



[evangelhista da silva]


                                                     

Em dia incerto caminhava eu à toa

perdidamente, - era noite...

olhei para os céus 

a observar a lua

e as estrelas

era ela!


Era um raio multicor de um abismo sem igual

desaparecera entre as estrelas que bailavam

a sorrir... e se fazia noite  em mim

e ela surgiu inesperadamente

sorrateiramente a falar

tudo, tudo e nada. 



Contava ela a sua trajetória de vida

enfim, a sua destreza de ser

um raio que surge e se vai

Inexplicavelmente...

para aonde ir

não sei.


Eis que de repente ela cai em prantos e risos

tempestuosamente a narrar um fato: 

confesso-lhe de joelhos ao chão

que eu não sei cantar, sorrir

ou sonhar... nesta vida

tão somente choro.


Vivo em permanente desencontro

entre mim mesma e o mundo

em pleno desalinho insano

sem amor que possa dar

ou receber... assim

se me vou indo.


Na certeza de que só irei me encontrar

quando eu se me permitir ser 

os encantos meus em mim

para embelezar a vida

triste e sofrida

do meu ser.



Santo Antônio de Jesus, 20/07/2022, às 22h47min

 


 










sábado, 2 de julho de 2022

PRIMAVERA


PRIMAVERA


[evangelhista da silva]



Ei!



vem ver a minha rua

está brilhando de amor

o sol está feliz a conversar comigo

ele canta, e dança, e ri a me abraçar.



E estou imensamente feliz e saudoso então.



Ei!




vem cá, vem...

o dia de hoje está sem palavras

cheio de poesia e canção de saudades

certeza tenho de que outros dias assim virão.



Virão com as primaveras do amanhã.



Ei!




menina bonita dos encantos meus

vem ver a minha rua em festa

vem danada sorrir comigo

vem doce amada.



A noite certamente virá e estaremos felizes.




Ei!




mulher danada de bonita

tu és para mim o sol da minha vida

esculpida em luz, e versos, e misticidade

vem danada que a noite o sol continuará em festa.



Santo Antônio de Jesus, 22 de setembro de 2021, Às 11h51min 


Reforma regulamentar da 'OCDE' pode inviabilizar função da 'OAB'

Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico publicou o relatório “Regulatory Reform in Brazil”, no qual estabelece melhorias e conformações necessárias a diversos setores de bens e serviços da economia brasileira.

                                                                      

Notícias Jurídicas

Renovadas diariamente de segunda a sexta

Reforma regulamentar da OCDE pode inviabilizar função da OAB

Na última semana, a OCDE – Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico publicou o relatório “Regulatory Reform in Brazil”, no qual estabelece melhorias e conformações necessárias a diversos setores de bens e serviços da economia brasileira.

Em texto publicado nesta semana, Gabriel Rodrigues Teixeira, autor da coluna Migalhas para Estudantes, ressaltou a urgência de se debater as medidas apresentadas pela OCDE como necessárias à desburocratização regulamentar do Brasil, pois o cumprimento à risca das medidas hoje apontadas como necessárias significaria a completa transformação da OAB e da advocacia como hoje é praticada.

“Se as sugestões apresentadas no relatório se concretizarem em demandas obrigatórias para a entrada do Brasil na OCDE, não é difícil imaginar mudanças profundas na advocacia e na atuação da OAB no âmbito federal.”

Entenda a seguir lendo a coluna na íntegra:

Em janeiro deste ano, passada quase meia década desde a primeira manifestação oficial favorável por parte de autoridades brasileiras, o conselho de ministros da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) aprovou que negociações formais visando a entrada do Brasil no grupo fossem realizadas.

Fundada em 1961, a OCDE é composta pelas maiores economias do mundo – entre os atuais dez países de maiores PIBs, apenas Brasil, Índia e China não são membros – e, com o passar dos anos, tornou-se espaço relevante nas discussões econômicas internacionais. Dessa forma, o ingresso do Brasil no grupo é considerado por muitos um passo fundamental para a formação de vantajosos acordos comerciais com países desenvolvidos e a atração de investimentos externos.

A parte da negociação formal trata-se, pois, de uma etapa fundamental do processo de admissão: os países postulantes à OCDE devem se adequar a padrões estabelecidos pela organização – denominados por ela “melhores práticas internacionais” – referentes a aspectos de ordem econômica, social, legal e política.

No último 21 de junho a OCDE publicou o relatório “Regulatory Reform in Brazil”, no qual estabelece melhorias e conformações necessárias a diversos setores de bens e serviços da economia brasileira. As medidas sugeridas neste relatório provavelmente serão os futuros postulados administrativos aos quais o Brasil deverá se submeter para sacramentar sua tão desejada entrada no famoso “Clube dos Países Ricos”.

É urgente debater as medidas apresentadas pela OCDE como necessárias à desburocratização regulamentar do Brasil, pois o cumprimento à risca das medidas hoje apontadas como necessárias significaria a completa transformação da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e da advocacia como hoje é praticada.

O debate é urgente e relevante porque se estima em 2 a 5 anos para que o Brasil implemente, ou não, as mudanças sugeridas.

A partir da página 25 do relatório são citadas as seguintes medidas que se referem às profissões liberais e especificamente à advocacia no Brasil:

Fonte: Migalhas



sexta-feira, 24 de junho de 2022

Estatinas e Teorias na Cardiologia - Dr. Eduardo Almeida - PhD em Medicina. OS CARDIOLOGISTAS EM COMUNHÃO COM A INDÚSTRIA FARMACÊUTICA NOS MATA O CORAÇAO.


 

Ingenuidade


Ingenuidade



(evangelhista da silva)



                                                      Quero uma mulher que me procure                                                         se  dispa e me escute
caia na cama, no chão, na lama, na grama
e não se cale, grite! grite! grite!



Fale insistidamente que é minha propriedade
que me quer e logo se vá e tão logo se volte
eternamente virgem, sempre que a saudade reclamar
no desvario de me consumir.



E, quando estiver ao meu lado,
esqueça o passado e entregue-se-me
à fúria apaixonada fingindo que me quer.



E nestes momentos de puro sexo
cheiroso, ardente, lento e abrupto
                                                     só nós dois interpretaremos a vida                                                    
para cair no delírio eterno de gozar.



Lauro de Freitas, 06 de abril de 1999.








terça-feira, 21 de junho de 2022

Sinos Mudos Soaram À Meia Noite


Grande velho e histórico famoso sino da igreja Zygmunt em Cracóvia, Polônia


Sinos Mudos Soaram À Meia Noite





*Raymundo Evangelhista________________________________________________




Caros leitores, imaginar que perpassa em vossa mente neste instante, é algo, talvez, inusitado. Apesar de que tudo de muito ainda mais absurdo acontecia em terras de Tupinambás e Negros remanescentes. Santo Antônio de Jesus, como era conhecida aquela maloca, era um repositório de tudo o que não presta. Já se nos bastava a presença de estrangeiros que por lá chegavam para saquear e sacanear com os nativos, - a nossa gente. Ouçam atentamente o triste fim de um povo: - Era noite de inverno. Chovia copiosamente como que a prenunciar um dilúvio. Os filhos daquelas plagas que ainda estão vivos podem contar a história. Assim narrou-me o fato, Frederico Costa, meu amigo mais velho. Foi uma coisa do outro mundo, Seu moço, os sinos da Igreja da Praça dos Tupinambás não mais dobravam. Estavam em silêncio há mais de trinta anos. Um certo padre, muito escroto, depois de retirar o sineiro, (aquele que esticava as cordas para fazer os sinos soarem ao longo do infinito), transformou os sinos em um relógio eletrônico que ficou quebrado para sempre. Os sinos, Seu moço, foram vendidos para o ferro velho a troco de banana. Pois bem, Seu moço, eu durmo com as galinhas. Você sabe muito bem disso. Eu tenho lhe falado. Bem, mais tarde eu acostumo acordar para beber água. Naquela noite mística e chuvosa, os galos não cantavam; e os cachorros não latiam. Era um silêncio profundo. Só me restava naquele momento ouvir a poesia cantada pela chuva ao cair no telhado da nossa choupana. De repente, Seu moço, uma badalada, duas, três, e eu arrepiado como um gato assombrado... quatro, cinco, seis, sete, e eu se me perguntava que estava acontecendo meu Deus... Eram os sinos da igreja... e continuava. Não parava não. Oito, nove, dez, onze, doze. Doze badaladas. Os sinos, Seu moço, anunciavam que era meia noite. Peguei do meu relógio de bolso e conferi. Abri a porta e pude ver Tolentino, D. Helena, Zé Pilingocha, e outras pessoas assombradas. Isso sem falar nas crianças que não entendiam nada, visto que dormiam profundamente. Imaginava eu que era o fim do mundo. Lá, no centro da cidade, o tumulto era generalizado. Com os meus aprendizados espíritas absorvidos por meu amigo, irmão e camarada, Estêvão, que você conheceu aqui em nossa casinha, me tornara destemido. Eu fui ver. E vi. Homens, sob a chuva, de camisola e calcinha que pediam socorro desesperadamente. Tudo aquilo não passava de um comportamento histérico. Era um terror infundado sem motivo. Bastava ter um pouco de calma para entender a fenomenologia do fato inusitado. Eu parecia um pinto molhado. Não tinha medo. Eu queria tão somente encontrar meios para explicar o porquê do soar dos sinos em doze badaladas à meia noite. Não havia um cientista sequer desses nossos dias, aqui na cidade, que tagarela de tudo que pudesse explicar. Isso me faz lembrar o escritor José de Alencar em seu livro Senhora quando enaltece a personagem principal Aurélia: "Não havia porém em Aurélia sequer o ridículo pedantismo de certas moças que, tendo colhido em leituras superficiais algumas noções vagas, se intrometem a tagarelar de tudo." Seu moço, é muito bonita esta  descrição feita pelo autor a personagem. Sim, como eu ia falando. Na verdade eu não queria àquela hora incomodar o meu amigo Estêvão. Estêvão sim, só Estêvão levar-me-ia a entender tal fenômeno. Em meio a tanto conflito, se não bastasse, o centro da maloca encheu de políciais, corpo de bombeiros e ambulâncias como se estivessemos em um estado de guerra. Eu percorri dezenas de buracos a observar o comportamento das pessoas. O pavor era tanto que muitos não resistiram a inexplicação do fenômeno e morreram do coração. Infartaram. Outros enloqueceram. Logo logo surgiram Chefes Políticos de Religiões dando palpites: o padre falara que foram os anjos anunciando boas novas para o nosso povo; o pastor disse que era satanás, o diabo, amedrontando as ovelhas perdidas;  o pai de santo, todo de branco, disse que jogou os búzios  e falou em maus agouros; o espírita comedido arguiu que poderia ter sido um irmão obsessor anunciando o desabamento da Igreja de Roma; o chefe de polícia, de pronto, saiu a procura de algum larápio que por ventura poderia ter tentado furtar o cofre de ouro que fica no subsolo da igreja. E assim, por volta das 02h da madrugada, daquela sexta feira, enquanto os bachareis, mestres, doutores, pós-doutores e demais figuras folclóricas, em suas teses filosóficas, levantavam a sua argumentação... Eis que uma bola de fogo do tamanho do Planeta Azul desce dos céus. Só me restou sair correndo e cansando até chegar a casa. O pânico generalizou. Era o fim do mundo mesmo. Eu corria e olhava para o universo. A bola de fogo descia lentamente. Peguei meus filhos e fui parar de carona, em cima de um caminhão de bananas, na Ilha de Itaparica. Por lá chegando às 4h30min da madrugada. Soube que de Santo Antônio de Jesus só houvera sobrado o Bairro da Joeirana. Tão somente aquele lugar. Lá onde houve uma explosão de fogos, em 11 de dezembro de 1998, matando 64 seres humanos: homens, mulheres, jovens e crianças pretas.


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*Raimundo José Evangelista da Silva nasceu em Santo Antônio de Jeus. É poeta, escritor, professor e bel. em direito. Graduou-se em Letras e Literaturas de Língua Portuguesa pela Universidade Católica do Salvador em 1989, logo especializando-se em Linguística Textual pela UFBA e Instituto Anísio Teixeira em 1993. Bacharel em Direito pela FABAC - Faculdade Baiana de Ciências - Lauro de Freitas/BA em 2011. Especializou-se em Advocacia Criminal pela Faculdade Verbo Jurídico/RS em 2018. Tem 5 livros de poemas publicados. Crônicas, contos e poemas publicados em seu Blogger/Raymundo Evangelhista, Recanto das Letras, Pensador, Jornal A Tarde, Jornal da Bahia, Tribuna da Bahia, Facebook, Instagram e Twitter.




sábado, 18 de junho de 2022

José (por ele mesmo) - Carlos Drummond de Andrade

                     



E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
e agora, você?
você que é sem nome,
que zomba dos outros,
você que faz versos,
que ama, protesta?
e agora, José?

Está sem mulher,
está sem discurso,
está sem carinho,
já não pode beber,
já não pode fumar,
cuspir já não pode,
a noite esfriou,
o dia não veio,
o bonde não veio,
o riso não veio,
não veio a utopia
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou,
e agora, José?

E agora, José?
Sua doce palavra,
seu instante de febre,
sua gula e jejum,
sua biblioteca,
sua lavra de ouro,
seu terno de vidro,
sua incoerência,
seu ódio — e agora?

Com a chave na mão
quer abrir a porta,
não existe porta;
quer morrer no mar,
mas o mar secou;
quer ir para Minas,
Minas não há mais.
José, e agora?

Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse
a valsa vienense,
se você dormisse,
se você cansasse,
se você morresse...
Mas você não morre,
você é duro, José!

Sozinho no escuro
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
sem cavalo preto
que fuja a galope,
você marcha, José!
José, para onde?

(Carlos Drummond de Andrade)