Professor cobra reflexão sobre falhas nas provas da OAB: “Não é admissível que tantos candidatos sejam prejudicados”
Da Redação - Katiana Pereira
Professor - João Aguirre
“Lastimo que não tenha havido a humildade de reconhecer os erros com a invalidação de questões que continham gravíssimas falhas”, analisou. Aguirre acredita ainda que os problemas apresentados no X exame e que se repetiram no XI, faz com que a expectativa para a prova da 2ª seja a pior possível.
Um levantamento feito pela FGV Projetos aponta que dos 361 mil candidatos que se inscreveram entre a primeira e a oitava edição do Exame de Ordem Unificado, apenas 66.923 foram aprovados de primeira (18,5%). Ao todo, foram recebidas no período 892.709 inscrições.
Aguire, que é doutor em Direito Civil pela USP e Mestre em Direito Civil pela PUC/SP, afirma que o exame aplicado no domingo (18), trouxe algumas questões passíveis de recurso por parte dos bacharéis e possível anulação. O doutor explicou que, das nove questões que são passíveis de anulação, duas contêm erros graves.
Confira alguns dos principais trechos da entrevista.
Olhar Jurídico - Um recente levantamento do FGV Projetos apontou que apenas 18,55 % dos bacharéis passam de primeira no exame de Ordem da OAB. A que o senhor atribui essa baixa aprovação?
Professor João Aguirre - Entendo que o Exame de Ordem encontra-se afastado de seu real escopo que é aferir se o candidato possui o conhecimento básico para um advogado em inicio de carreira. Some-se a isso o fato de o XI Exame de Ordem apresentar diversas falhas em sua prova de 1ª fase e chaga-se ao resultado inexpressivo de aprovações.
Olhar Jurídico - Os constantes erros nas provas do exame de Ordem da OAB, elaboradas pela FGV Projetos, abre precedente para se questionar a seriedade dessas provas?
Professor João Aguirre - Não questiono em absoluto a seriedade e a idoneidade da Fundação Getúlio Vargas, Instituição renomada e que sempre prestou relevantes serviços ao país, mas lamento profundamente os inúmeros erros ocorridos na X e XI edição do Exame de Ordem, que acabaram por prejudicar vários alunos. Também lastimo que não tenha havido a humildade de reconhecer os erros com a invalidação de questões que continham gravíssimas falhas. Não é admissível que diversos candidatos sejam prejudicados em razão de tantos erros na elaboração e aplicação da prova.
Olhar Jurídico - Que leitura o senhor faz dos problemas ocorridos nos últimos Exames de Ordem. A partir deles, como que o senhor projeta a segunda fase e como essa projeção vai impactar no curso que ministra?
Professor João Aguirre - Creio que os problemas ocorridos na 1ª e 2ª fase do X Exame da Ordem atingiram uma dimensão tamanha que impõem a Fundação Getúlio Vargas um exercício de reflexão, pois não é admissível que tantos candidatos sejam prejudicados por suas falhas. Na 1ª fase, várias questões com erros grosseiros não foram anuladas.
Na aplicação da prova de 2ª fase criou-se um tumulto com a interpretação subjetiva de uma regra relacionada aos vade mecuns que poderiam ou não ser utilizados, ocasionando situações em que em um mesmo local, candidatos foram proibidos de utilizar o código em uma sala, mas na sala vizinha, nada ocorreu. Para piorar, o gabarito da prova da 2ª fase gerou ainda mais prejuízos nas diversas áreas.
Olhar Jurídico – Quais foram esses prejuízos?
Professor João Aguirre - Duas questões foram anuladas na prova de Direito Civil. Sete possíveis peças foram aceitas em tributário, algo inconcebível num exame dessa magnitude. Além disso, a prova de Administrativo e a de Penal também continham gravíssimos erros que tornavam imperiosas a sua anulação. Infelizmente, esses problemas não se limitavam ao X exame, mas apareceram também no XI, com número muito expressivo por erros graves. Tudo isso faz com que a expectativa para a prova da 2ª seja a pior possível.
Olhar Jurídico – Com sua experiência, o senhor acredita que essas falhas desanimam os bacharéis?
Professor João Aguirre - Na qualidade de bacharel eu estaria bastante desanimado em razão da falta de qualidade e de cuidado na elaboração da prova da OAB.
Olhar Jurídico - É cada vez maior o número de acadêmicos e bacharéis em Direito que recorrem aos cursos especializados, com os que são ofertados pela LFG, Damásio e outros, para conseguirem passar no exame. Isso é reflexo da baixa qualidade no ensino das faculdades de Direito, que não preparam os estudantes para o exame?
Professor João Aguirre - Entendo que a prova da OAB exige um prazo diferenciado e conhecimento específico que pode ser suprido por cursos de qualidade como a LFG cursos.
Olhar Jurídico - Quais as dúvidas mais comuns dos alunos nos cursos preparatórios?
Professor João Aguirre - Temos a missão de preparar o candidato de forma mais adequada e cuidadosa para que logre o objetivo de passar no Exame de Ordem e começar a exercer a carreira de advogado. As dúvidas são várias, de conteúdo, forma, mas também sobre como ultrapassar os obstáculos criados por uma prova mal elaborada.
Olhar Jurídico - Sob a identificação das peças, qual o nível de dificuldade exigido pela FGV nas últimas edições?
Professor João Aguirre - Um nível de dificuldade bastante grande e, às vezes, impossível de ser enfrentada pelo candidato dada a ausência de informações fundamentais no enunciado do problema, como ocorreu no X Exame com a prova de Direito Penal.
Olhar Jurídico - O senhor entende que Exame de Ordem deve ser mantido pela OAB, ou deve ser transferido para o Estado, como defende o senador Cristovam Buarque?
Professor João Aguirre - Entendo que o Exame de Ordem deve ser mantido pela OAB, entidade da qual me orgulho de pertencer, mas que a prova deve ser melhor elaborada.
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