Professor Aguinaldo Severino
Comprei esse livro ainda em abril, mas os serviços alfandegários
brasileiros, ineficientes e canalhas como sabem ser, me fizeram
recebê-lo apenas em julho.
Em
“Free Women, Free Men” encontramos 36 ensaios robustos, onde Camille
Paglia apresenta sua visão bastante particular e provocadora sobre
feminismo, sexo e gênero. Mais precisamente, encontramos no livro os
três primeiros capítulos de seu livro mais contundente, “Personas
Sexuais”, de 1990; três transcrições de palestras ou conferências
acadêmicas; três resenhas literárias; cinco transcrições de entrevistas;
vinte e dois ensaios independentes, publicados originalmente em
revistas e jornais americanos e ingleses.
O conjunto também pode ser dividido cronologicamente, em dois grandes
blocos: dezenove são textos relativamente antigos, dos anos 1990,
associados a repercussão de “Personas Sexuais”, e quatorze mais
recentes, dos anos 2010.
O leitor não precisa ler os ensaios do livro sequencialmente, na
ordem em que foram editados. Há uma natural repetição de temas e
informações, mas isso não chega a aborrecer o leitor. É inegável que
cada um deles se defende sozinho e oferece um festival de associações
(“Personas Sexuais” é imbatível, qualquer pessoa honesta
intelectualmente que trabalhe com esses assuntos não pode furtar-se de
lê-lo).
Alguns ensaios são panfletos marcadamente políticos, mais agressivos,
incisivos, categóricos; em outros o tom é mais professoral, acadêmico,
frio, mas sem condescendência. Há vários ensaios em que Camille defende
seus argumentos sobre política sexual, mídia e o papel das universidades
como foro de discussão; noutros encontramos abordagens acadêmicas sobre
a história do feminismo, estética, cultura pop, a história das lutas
pelas liberdades civis nos Estados Unidos.
No
fundo seu tema principal não é exatamente o feminismo, a luta por
igualdade de gênero, mas sim a cultura, a evolução da cultura como
núcleo central de coesão entre seres humanos de diferentes lugares do
planeta, origens étnicas e gêneros.
É interessante como ela antecipa, nos artigos dos anos 1990, a
ascensão de uma geração de acadêmicos dedicados aos temas de feminismo e
gênero que não alcançaram uma formação adequada, fatalmente
contaminados por retóricas foucaultianas, lacanianas, desconstrutivistas
e marxistas.
“Free Women, Free Men: Sex, Gender, Feminism”, Camille Paglia,
New York: Pantheon Books / Penguin Random House, 1a. edição (2017)
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